Wednesday, August 22, 2007

O "Santo Graal"


Pedro J. Bondaczuk


A busca da felicidade é o maior empenho do homem, em todos os tempos, embora poucos saibam, de fato, o que os faz felizes ou tenham a mais leve noção do significado desse conceito, que é vago e carregado de equívocos, diferente para cada pessoa. Filósofos, escritores, poetas e psicólogos têm apontado, através dos séculos, caminhos vários na busca desse "tosão de ouro", desse "Santo Graal", desse ideal sem forma, sem que eles próprios, na maioria das vezes, o tenham encontrado.
O indivíduo feliz é aquele que encontra razões para viver até o seu último sopro de vida. Ou, pelo menos, esta é uma das faces desse diamante multifacetado chamado de "felicidade". O mundo não é mau, como ouvimos e lemos amiúde, desde tenra infância. A existência não é ruim, um vale de dores e de lágrimas, como asseguram furibundos e fanáticos pregadores ascéticos. A felicidade não é uma ocorrência rara e virtualmente ilusória. Nós é que complicamos a vida.
Nossa vaidade, nossa arrogância e nossa prepotência contra o próximo é que, como a mola, voltam para nós com a mesma força com que as destinamos aos outros e nos oprimem, nos machucam e nos humilham. Corremos o tempo todo atrás de sombras e não percebemos a substância parada bem diante dos nossos narizes...
Lembro, a título de esclarecimento, que Santo Graal é uma expressão medieval que designa, normalmente, o cálice supostamente usado por Jesus Cristo na ceia que antecedeu sua prisão, seu arremedo de julgamento e sua conseqüente crucificação. Sua busca fascinou (e ainda fascina) pessoas das mais variadas personalidades e atividades, como aventureiros, pesquisadores e, sobretudo, religiosos, mundo afora.
Está presente em inúmeras lendas, que atravessaram séculos e chegaram aos nossos dias. Existem muitos questionamentos a respeito, sobre a sua natureza, formato e, até mesmo, existência. É, realmente, um cálice? Onde está? Com quem? De fato existe? Ninguém ousa, ou sabe responder.
Mas, voltemos ao tema, objeto desta crônica. Um dos maiores pecados que uma pessoa pode cometer, se não o maior, é o de não ser feliz. É o de alimentar rancores, inveja, cobiça e egoísmo, em detrimento dos sentimentos nobres, das emoções sadias e dos atos de grandeza. A felicidade, ao contrário do que muitos pensam, não consiste na posse de bens materiais e nem na companhia de pessoas que os sirvam e bajulem. Estes até podem contribuir para que sejamos felizes, mas, sozinhos, não nos proporcionam essa desejada bem-aventurança.
A felicidade não é nada concreto, visível ou palpável, mas um conceito, uma postura, um comportamento. É, por exemplo, a satisfação com o que se tem. É a alegria com as aparentemente pequenas coisas da vida que, no entanto, são as que realmente contam. É saber se emocionar com o nascer e o pôr-do-sol, o desabrochar de uma flor, o sorriso de uma criança e, sobretudo, nutrir genuína gratidão pelo privilégio de viver.
Há pessoas que deixam de usufruir a felicidade por não a saberem sequer identificar. Contam, por exemplo, com uma família unida e amorosa; são cercadas de afeto de múltiplos amigos, mas não sabem dar valor a esse magno privilégio, alheias ao fato de que a maioria não conta com essa bênção. Apostam na infelicidade e findam por, de fato, serem infelizes.
Devemos ser pródigos em agradecimentos e parcimoniosos em reclamações. Caso contrário... Seremos rematados tolos de chutar nossa felicidade para um lugar em que jamais a conseguiremos alcançar. Ninguém, em lugar algum, é feliz o tempo todo. Isso não existe. Sempre haverá uma preocupação, uma angústia, um contratempo, um desgosto qualquer, pequeno ou grande, para nos atormentar. Isso, contudo, não pode influir em nosso humor, não pelo menos por muito tempo. A felicidade é constituída de “momentos”, mais ou menos duradouros, de acordo com nossas ações e, também, da nossa percepção.
Há pessoas que perdem não apenas um minuto, mas horas sem fim, dias, meses, anos, quando não a vida toda, acalentando mágoas, chateações e desejos de vingança, abdicando da possibilidade de serem felizes. Vale a pena abrir mão de tanto por tão pouco? Claro que não! Se há um tema que sempre vai gerar infinitas especulações, este é o da felicidade. Pessoas de todas as partes, profissões e condições sociais têm sua “receita” pessoal para serem felizes. Todas são válidas, pois a maioria é fruto de uma experiência própria. Nenhuma, porém, é absoluta. Também tenho a minha “fórmula” que, como as demais, é passível de contestação.
Creio que o caminho mais curto para a felicidade é sabermos valorizar o que temos e o que de bom nos acontece. É gozarmos de boa saúde, termos uma família amorosa e unida e uma infinidade de amigos, leais, solícitos e presentes. É conservarmos o bom-humor nas piores circunstâncias e encararmos a vida por uma ótica sempre otimista.
Tenhamos, pois, fé no futuro e façamos a nossa parte para tornar o mundo melhor, mais solidário e mais justo. Sejamos, sempre, a “cabeça” do corpo social, jamais a “cauda”. E ousemos exercitar nosso talento, não no sentido de buscar glória ou fortuna, mas de justificar a nossa existência. Não tenhamos, sobretudo, medo de sermos felizes. Só assim teremos condições de conquistar e, mais do que isso, de usufruir, desse tão procurado Santo Graal, que está ao alcance das nossas mãos, mesmo que não venhamos a nos dar conta disso. Simples assim!

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