Pedro J. Bondaczuk
(CONTINUAÇÃO)
NEM CHECO, NEM ALEMÃO
Franz Kafka nasceu em Praga, em 3 de julho de 1883, numa época em que a federação da Checoslováquia sequer existia, embora houvesse forte sentimento nacionalista entre a população. O território da atual República Checa, o da Boêmia, fazia parte, então, do Império Austro-Húngaro, cujo idioma oficial era o alemão.
Seu pai, Hermann, era o típico ditador doméstico. Seus modos despóticos e rudes marcaram profundamente a delicada e sensível personalidade do jovem intelectual, que daí por diante, pelo resto da vida, se opôs (psicologicamente) a tudo o que lembrasse autoridade, embora a temesse e se sentisse forçado a se submeter a ela.
O que amenizava um pouco o ambiente doméstico em que cresceu eram os modos carinhosos e gentis da mãe, mulher calma, amorosa e compreensiva, sempre disposta a se contrapor aos modos rudes e ao temperamento brutal e explosivo do problemático marido.
Apesar do sobrenome checo (“kafka” significa “gralha” nesse idioma e o estabelecimento comercial do seu pai tinha essa ave como símbolo), Franz foi educado na rígida cultura germânica. Só falava o alemão. Escrevia seus textos nessa língua e por isso tinha dificuldades, praticamente intransponíveis, para se relacionar com a juventude inquieta e idealista da Praga de seu tempo, pela qual era rejeitado.
Era segregado pelos moços da sua idade, não por suas idéias e ações, mas por simbolizar o odioso dominador, numa época em que o nacionalismo aflorava por todo o território checo. O irônico era que sequer se sentia alemão. Kafka cresceu vivendo uma situação anômala e desagradável. Era rejeitado, por motivos opostos, pelos dois segmentos que compunham a sociedade de Praga.
Os nacionalistas checos viam nele um “adesista”, portanto um traidor, que compactuava com a Alemanha e com tudo o que de detestável ela representava. A alta burguesia, de origem germânica, por seu turno, repelia-o como um inferior, um “colonizado”.
Franz Kafka fez todos os seus estudos em escolas alemãs, assimilando, portanto, a sua influência cultural e estética. Em 1901, aos 18 anos de idade, ingressou na Universidade de Praga, onde cursou Direito, embora achasse que essa não fosse a sua verdadeira vocação. Mas era a vontade do pai, à qual se viu forçado a se submeter.
Ainda adolescente, produziu seus primeiros textos, peças teatrais para “consumo exclusivamente doméstico”. Quem as encenavam eram as irmãs, com ele na função de “diretor”. Nunca entendeu a literatura como profissão. Era a sua paixão, sua catarse, seu meio de fuga de uma realidade que considerava desagradável e hostil. Tanto é que por toda a sua vida trabalhou para se sustentar. Seus livros se tornaram sucesso somente vários anos depois da sua morte.
O primeiro emprego de Franz foi o de balconista, na loja do pai, função para a qual não levava nenhum jeito. Nunca teve vocação para o comércio e se sentia infeliz nessa tarefa. Ainda mais sob o domínio desse pai feroz e dominador. Foi, também, empregado no Instituto de Seguro Operário contra Acidentes de Trabalho, em Praga, entre outros tantos trabalhos que teve de exercer ao longo da vida.
(CONTINUA)
(CONTINUAÇÃO)
NEM CHECO, NEM ALEMÃO
Franz Kafka nasceu em Praga, em 3 de julho de 1883, numa época em que a federação da Checoslováquia sequer existia, embora houvesse forte sentimento nacionalista entre a população. O território da atual República Checa, o da Boêmia, fazia parte, então, do Império Austro-Húngaro, cujo idioma oficial era o alemão.
Seu pai, Hermann, era o típico ditador doméstico. Seus modos despóticos e rudes marcaram profundamente a delicada e sensível personalidade do jovem intelectual, que daí por diante, pelo resto da vida, se opôs (psicologicamente) a tudo o que lembrasse autoridade, embora a temesse e se sentisse forçado a se submeter a ela.
O que amenizava um pouco o ambiente doméstico em que cresceu eram os modos carinhosos e gentis da mãe, mulher calma, amorosa e compreensiva, sempre disposta a se contrapor aos modos rudes e ao temperamento brutal e explosivo do problemático marido.
Apesar do sobrenome checo (“kafka” significa “gralha” nesse idioma e o estabelecimento comercial do seu pai tinha essa ave como símbolo), Franz foi educado na rígida cultura germânica. Só falava o alemão. Escrevia seus textos nessa língua e por isso tinha dificuldades, praticamente intransponíveis, para se relacionar com a juventude inquieta e idealista da Praga de seu tempo, pela qual era rejeitado.
Era segregado pelos moços da sua idade, não por suas idéias e ações, mas por simbolizar o odioso dominador, numa época em que o nacionalismo aflorava por todo o território checo. O irônico era que sequer se sentia alemão. Kafka cresceu vivendo uma situação anômala e desagradável. Era rejeitado, por motivos opostos, pelos dois segmentos que compunham a sociedade de Praga.
Os nacionalistas checos viam nele um “adesista”, portanto um traidor, que compactuava com a Alemanha e com tudo o que de detestável ela representava. A alta burguesia, de origem germânica, por seu turno, repelia-o como um inferior, um “colonizado”.
Franz Kafka fez todos os seus estudos em escolas alemãs, assimilando, portanto, a sua influência cultural e estética. Em 1901, aos 18 anos de idade, ingressou na Universidade de Praga, onde cursou Direito, embora achasse que essa não fosse a sua verdadeira vocação. Mas era a vontade do pai, à qual se viu forçado a se submeter.
Ainda adolescente, produziu seus primeiros textos, peças teatrais para “consumo exclusivamente doméstico”. Quem as encenavam eram as irmãs, com ele na função de “diretor”. Nunca entendeu a literatura como profissão. Era a sua paixão, sua catarse, seu meio de fuga de uma realidade que considerava desagradável e hostil. Tanto é que por toda a sua vida trabalhou para se sustentar. Seus livros se tornaram sucesso somente vários anos depois da sua morte.
O primeiro emprego de Franz foi o de balconista, na loja do pai, função para a qual não levava nenhum jeito. Nunca teve vocação para o comércio e se sentia infeliz nessa tarefa. Ainda mais sob o domínio desse pai feroz e dominador. Foi, também, empregado no Instituto de Seguro Operário contra Acidentes de Trabalho, em Praga, entre outros tantos trabalhos que teve de exercer ao longo da vida.
(CONTINUA)
No comments:
Post a Comment