Pedro J. Bondaczuk
O leitor já se sentiu, alguma vez, um “estorvo” para alguém com quem convivesse e de quem dependesse? Eu já, e posso assegurar que se trata de uma situação horrível que, dependendo da intensidade e do tempo de duração, deixa marcas indeléveis, e para sempre, em nossa mente e nas nossas emoções! Há pessoas sem nenhuma sensibilidade e que não escondem quando se sentem atrapalhadas, ou “estorvadas”, pelos que têm a obrigação de cuidar, ou com as quais tenham qualquer espécie de compromisso. Julgam-se vítimas, quando na verdade são as agressoras, e das mais desumanas e cruéis.
São pais, por exemplo, que não conseguem compreender filhos (que julgam “problemáticos”) e que se desmancham em críticas e mais críticas, contumazes, sucessivas e persistentes, sobretudo quando se tratam de adolescentes, sem lhes apontar rumos a seguir e sem a grandeza de elogiar um único ato positivo deles.
São pessoas que tratam mal os idosos, jogando-lhes na cara que atrapalham suas vidas, esquecidas de tudo o que estes lhes fizeram de bom quando podiam trabalhar, e trabalhavam, sem tempo sequer para descanso e lazer. Esse é o pagamento que recebem, num momento da vida em que são, e se sentem vulneráveis, fragilizados e dependentes!
São maridos ou esposas que manifestam arrependimento pelo mau casamento que fizeram e que se tratam com hostilidade e com rancor. Criam, em torno de si, um clima de ódio, agridem-se mutuamente, por palavras e atos, e, não raro, podem chegar, até, ao extremo do homicídio. Os jornais trazem, diariamente, casos e mais casos que têm esse dramático desfecho.
São mulheres que têm alguma gravidez indesejada e que, por essa razão, hostilizam, quando não agridem, abandonam ou até mesmo matam o fruto de uma transa desastrada. São incapazes de compreender o milagre da concepção, não importa se desejado ou acidental. Com isso, contrariam a própria natureza. Essas pessoas sequer parecem humanas (e, de fato, não são, a despeito de aparentarem ser). São piores do que os mais broncos e ferozes animais.
Como se vê, as situações desse tipo são múltiplas, as mais diversas possíveis e poderíamos citar milhares e milhares de exemplos que, ademais, são desnecessários, pois certamente o leitor já viu muitos casos desse tipo ao longo da sua vida.
Pior é quando quem é considerado “estorvo” está fragilizado por absoluta dependência ao indivíduo que o considera dessa maneira: é criança, idoso, doente ou tenha alguma deficiência física (ou mental), de locomoção, visão ou audição, não importa. Nesses casos, a hostilidade e o menosprezo de que são alvos descambam para a crueldade. Mas casos desse tipo são muito mais comuns e corriqueiros do que se pensa.
E como se sentem as vítimas dessa atitude? Sentem-se impotentes, humilhadas, infelizes e desesperançadas. São atingidas, sobretudo, no que têm de mais íntimo e precioso, seu amor próprio, que fica em baixa. Quando (ou se) conseguem se livrar dessa incômoda e cruel dependência, ficam com marcas indeléveis dessa horrível sensação, a de serem “estorvos”, para sempre em suas mentes e em seus sentimentos.
"Tudo no mundo é vaidade", constatou Salomão nos últimos anos de vida, ele que foi abençoado com sabedoria, beleza, fortuna e poder e que, ao cabo da existência, percebeu o quanto de inutilidade havia em tudo isso. Só quem sabe gostar de si mesmo, na medida certa, sem descambar para os excessos, é capaz de amar alguém. Afinal, Cristo colocou essa auto-estima como parâmetro, ao ordenar: "ame o próximo como a si mesmo".
Ao recuperarem a auto-estima, esses injustiçados, humilhados e ofendidos, considerados “estorvos”, adquirem uma incrível capacidade de amar. Mostram-se carinhosos, solícitos, fiéis e leais. Claro que há os que nunca se recuperam. Estes, contudo, são exceções, que existem em todas as regras. Quem considera seu semelhante, por qualquer motivo, real ou imaginário, um “estorvo”, é um insatisfeito.
A insatisfação, destaquemos, desde que sadia e moderada, não é, intrinsicamente, um mal. Pelo contrário. É a mola propulsora das realizações humanas, seja em que campo for. É um dos raros comportamentos do homem que atravessou todos os ciclos de civilização e está mais vivo do que nunca.
Os gregos, por exemplo, nunca se contentaram com suas extraordinárias conquistas intelectuais. Com isso, criaram o teatro, a filosofia e a poesia, desenvolveram a escultura e a arquitetura e produziram outros tantos frutos do intelecto. Já a insatisfação romana era basicamente sensorial. Mas, também, alcançava os comportamentos. Resultou na criação de leis que se constituíram em bases, em fundamentos do Direito, como o conhecemos hoje. A insatisfação dos povos da Idade Média era espiritual, a da prevalência do espírito, no sentido transcendental, sobre os sentidos. Legaram-nos, em contrapartida, muitas e importantes reflexões espirituais.
E o homem contemporâneo, é insatisfeito? Mais do que nunca! A este, no entanto, materialista por excelência, nenhum bem satisfaz de maneira suficiente. É essa insatisfação, aliás, que move a economia, gerando necessidades (reais ou imaginárias), que as pessoas empreendedoras e dinâmicas buscam, em vão, satisfazer. Agora, estar insatisfeito com um semelhante e, pior, que esteja fragilizado e, pior ainda, considerá-lo um “estorvo” (mesmo que, de fato, seja) é um comportamento irracional, desumano, cruel e doentio.
Pessoas que se comportam dessa maneira, na verdade, estão insatisfeitas é consigo próprias e, sobretudo, com a vida. Não dizem, mas certamente consideram que são impotentes para conquistarem o sucesso, a estima e, por conseqüência, a felicidade e lançam a culpa da sua competência em quem não a tem. Têm, no fundo do cérebro, piscando, como lâmpada de néon, o que Franz Kafka colocou na boca de um personagem: “Minha barca é muito frágil”. E, de fato é, como ademais a de todos nós, humanos.
Só que a nau destes insensatos naufraga à primeira e mais leve borrasca da vida, sem que saibam, ou queiram, fazer seja lá o que for para se salvar. São fatalistas. Atribuem suas desgraças aos que os cercam, quando não a um hipotético destino. E, por não se fazerem merecedoras, raramente contam com qualquer espécie de ajuda. Não sabem viver, são infelizes e só espalham ao seu redor, por onde quer que passem, infelicidade, ressentimentos e rancor. Elas, sim, são “estorvos”. Para si e para a humanidade. São a banda podre da espécie.
O leitor já se sentiu, alguma vez, um “estorvo” para alguém com quem convivesse e de quem dependesse? Eu já, e posso assegurar que se trata de uma situação horrível que, dependendo da intensidade e do tempo de duração, deixa marcas indeléveis, e para sempre, em nossa mente e nas nossas emoções! Há pessoas sem nenhuma sensibilidade e que não escondem quando se sentem atrapalhadas, ou “estorvadas”, pelos que têm a obrigação de cuidar, ou com as quais tenham qualquer espécie de compromisso. Julgam-se vítimas, quando na verdade são as agressoras, e das mais desumanas e cruéis.
São pais, por exemplo, que não conseguem compreender filhos (que julgam “problemáticos”) e que se desmancham em críticas e mais críticas, contumazes, sucessivas e persistentes, sobretudo quando se tratam de adolescentes, sem lhes apontar rumos a seguir e sem a grandeza de elogiar um único ato positivo deles.
São pessoas que tratam mal os idosos, jogando-lhes na cara que atrapalham suas vidas, esquecidas de tudo o que estes lhes fizeram de bom quando podiam trabalhar, e trabalhavam, sem tempo sequer para descanso e lazer. Esse é o pagamento que recebem, num momento da vida em que são, e se sentem vulneráveis, fragilizados e dependentes!
São maridos ou esposas que manifestam arrependimento pelo mau casamento que fizeram e que se tratam com hostilidade e com rancor. Criam, em torno de si, um clima de ódio, agridem-se mutuamente, por palavras e atos, e, não raro, podem chegar, até, ao extremo do homicídio. Os jornais trazem, diariamente, casos e mais casos que têm esse dramático desfecho.
São mulheres que têm alguma gravidez indesejada e que, por essa razão, hostilizam, quando não agridem, abandonam ou até mesmo matam o fruto de uma transa desastrada. São incapazes de compreender o milagre da concepção, não importa se desejado ou acidental. Com isso, contrariam a própria natureza. Essas pessoas sequer parecem humanas (e, de fato, não são, a despeito de aparentarem ser). São piores do que os mais broncos e ferozes animais.
Como se vê, as situações desse tipo são múltiplas, as mais diversas possíveis e poderíamos citar milhares e milhares de exemplos que, ademais, são desnecessários, pois certamente o leitor já viu muitos casos desse tipo ao longo da sua vida.
Pior é quando quem é considerado “estorvo” está fragilizado por absoluta dependência ao indivíduo que o considera dessa maneira: é criança, idoso, doente ou tenha alguma deficiência física (ou mental), de locomoção, visão ou audição, não importa. Nesses casos, a hostilidade e o menosprezo de que são alvos descambam para a crueldade. Mas casos desse tipo são muito mais comuns e corriqueiros do que se pensa.
E como se sentem as vítimas dessa atitude? Sentem-se impotentes, humilhadas, infelizes e desesperançadas. São atingidas, sobretudo, no que têm de mais íntimo e precioso, seu amor próprio, que fica em baixa. Quando (ou se) conseguem se livrar dessa incômoda e cruel dependência, ficam com marcas indeléveis dessa horrível sensação, a de serem “estorvos”, para sempre em suas mentes e em seus sentimentos.
"Tudo no mundo é vaidade", constatou Salomão nos últimos anos de vida, ele que foi abençoado com sabedoria, beleza, fortuna e poder e que, ao cabo da existência, percebeu o quanto de inutilidade havia em tudo isso. Só quem sabe gostar de si mesmo, na medida certa, sem descambar para os excessos, é capaz de amar alguém. Afinal, Cristo colocou essa auto-estima como parâmetro, ao ordenar: "ame o próximo como a si mesmo".
Ao recuperarem a auto-estima, esses injustiçados, humilhados e ofendidos, considerados “estorvos”, adquirem uma incrível capacidade de amar. Mostram-se carinhosos, solícitos, fiéis e leais. Claro que há os que nunca se recuperam. Estes, contudo, são exceções, que existem em todas as regras. Quem considera seu semelhante, por qualquer motivo, real ou imaginário, um “estorvo”, é um insatisfeito.
A insatisfação, destaquemos, desde que sadia e moderada, não é, intrinsicamente, um mal. Pelo contrário. É a mola propulsora das realizações humanas, seja em que campo for. É um dos raros comportamentos do homem que atravessou todos os ciclos de civilização e está mais vivo do que nunca.
Os gregos, por exemplo, nunca se contentaram com suas extraordinárias conquistas intelectuais. Com isso, criaram o teatro, a filosofia e a poesia, desenvolveram a escultura e a arquitetura e produziram outros tantos frutos do intelecto. Já a insatisfação romana era basicamente sensorial. Mas, também, alcançava os comportamentos. Resultou na criação de leis que se constituíram em bases, em fundamentos do Direito, como o conhecemos hoje. A insatisfação dos povos da Idade Média era espiritual, a da prevalência do espírito, no sentido transcendental, sobre os sentidos. Legaram-nos, em contrapartida, muitas e importantes reflexões espirituais.
E o homem contemporâneo, é insatisfeito? Mais do que nunca! A este, no entanto, materialista por excelência, nenhum bem satisfaz de maneira suficiente. É essa insatisfação, aliás, que move a economia, gerando necessidades (reais ou imaginárias), que as pessoas empreendedoras e dinâmicas buscam, em vão, satisfazer. Agora, estar insatisfeito com um semelhante e, pior, que esteja fragilizado e, pior ainda, considerá-lo um “estorvo” (mesmo que, de fato, seja) é um comportamento irracional, desumano, cruel e doentio.
Pessoas que se comportam dessa maneira, na verdade, estão insatisfeitas é consigo próprias e, sobretudo, com a vida. Não dizem, mas certamente consideram que são impotentes para conquistarem o sucesso, a estima e, por conseqüência, a felicidade e lançam a culpa da sua competência em quem não a tem. Têm, no fundo do cérebro, piscando, como lâmpada de néon, o que Franz Kafka colocou na boca de um personagem: “Minha barca é muito frágil”. E, de fato é, como ademais a de todos nós, humanos.
Só que a nau destes insensatos naufraga à primeira e mais leve borrasca da vida, sem que saibam, ou queiram, fazer seja lá o que for para se salvar. São fatalistas. Atribuem suas desgraças aos que os cercam, quando não a um hipotético destino. E, por não se fazerem merecedoras, raramente contam com qualquer espécie de ajuda. Não sabem viver, são infelizes e só espalham ao seu redor, por onde quer que passem, infelicidade, ressentimentos e rancor. Elas, sim, são “estorvos”. Para si e para a humanidade. São a banda podre da espécie.
No comments:
Post a Comment