Friday, August 17, 2007

Escritor que é sinônimo de "absurdo" - IV


Pedro J. Bondaczuk

(CONTINUAÇÃO)

POUCOS, MAS FIÉIS, AMIGOS

Franz Kafka sempre se mostrou extremamente cuidadoso e seletivo com suas amizades. Mas os poucos amigos que conquistou, soube conservar por toda a vida. Foi o caso, por exemplo, de Max Brod, que conheceu nos primeiros anos de universidade, e que viria a ser o editor de suas obras póstumas. Ou de Oscar Pollak, de quem recebeu grande influência e cuja morte prematura o levou a uma profunda depressão.
Mas nunca se isolou do convívio com pessoas da sua idade, mesmo não se entrosando com elas. Quando jovem, freqüentou os lugares da moda de Praga. Seus hábitos e comportamento eram os mais normais e prosaicos possíveis. Se alguém dissesse às pessoas que o conheciam na ocasião que Franz era um tipo mórbido, dos que buscam se auto-punir por delitos imaginários, ninguém acreditaria. Mas era assim.
Sabia cativar os outros, embora raramente permitisse o aprofundamento de uma amizade até que esta se tornasse mais íntima. Nadava muito bem e apreciava a natação enquanto esporte, à qual se dedicou, com sucesso, por algum tempo. Fumava com elegância, mas sempre com moderação. E era adepto do regime vegetariano.
Tinha por hábito tomar apenas banhos frios, que considerava mais saudáveis. Apesar de aparentar normalidade em suas idéias e atitudes, todavia, Kafka não conseguia enganar seus raros amigos. Estes percebiam a luta que travava contra a solidão, com a qual jamais se conformou. É verdade que não se tratava de um exibicionista e por isso não fazia alarde dos seus sofrimentos. Era extremamente recatado e discreto em relação ao que sentia.
Talvez por isso, seus trabalhos literários só ganharam transparência e destaque público depois da sua morte. Em vida, o escritor publicou poucos textos, na verdade cinco: os contos do livro “Contemplação”; o primeiro capítulo do romance “América” (transformado em conto com o título de “O Foguista”); o conto “A Condenação”; a novela “A Metamorfose” e os contos do livro “Um Médico Rural”.
Prêmios? Quase nenhum. Aliás, pelo que se sabe, recebeu somente um, assim mesmo por interferência do poeta Carl Sterneheim. Esse escritor, muito popular na época, ficou encantado, e ao mesmo tempo intrigado, com a força de expressão de Kafka, em quem vislumbrava um imenso talento em potencial. O tempo se encarregaria de mostrar que, de fato, tinha “faro” para descobrir autores de qualidade.
O trabalho premiado, com o Prêmio Fontane, foi o primeiro capítulo do romance “América”, que Franz transformou no conto “O Foguista”, em 1915. E foi só. Quem publicou a maioria das obras póstumas de Kafka foi o seu amigo Max Brod, que não deixou que a memória desse extraordinário escritor viesse a morrer com ele.

(CONTINUA)

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