Pedro J. Bondaczuk
(CONTINUAÇÃO)
ARREMEDO DE JUSTIÇA
“O Processo” narra um caso insólito e absurdo, envolvendo um procurador de banco, chamado Joseph K. O personagem em questão acaba envolvido, e destruído, por uma burocracia burra e tacanha, que predominava na sociedade em que vivia. O enredo é uma crítica (figurada, simbólica), ao que de fato ocorria no meio social do escritor, na Praga da sua juventude.
Certo dia, Joseph K., tão logo acordou, recebeu em sua casa a visita de dois agentes de polícia. Estes foram comunicar-lhe que era réu de um processo judicial e que por essa razão estava sendo detido para julgamento. O homem insistiu em apregoar inocência, assegurou que não havia feito nada de errado e que deveria haver algum engano ou erro de identidade. Em vão.
No tribunal, para onde foi conduzido, reinava absoluta anarquia. Todos deblateravam e ninguém se entendia. Apesar de falarem a mesma língua, parecia que cada qual falava um idioma próprio e particular. O juiz encarregado do caso confundiu Joseph K. com um pintor de paredes. O réu aproveitou a confusão para fazer um longo discurso em defesa própria. Denunciou, entre outras coisas, a monstruosidade que era todo aquele aparato judicial.
O tribunal não conseguiu, sequer, identificar quem era de fato o verdadeiro e suposto infrator que pretendia punir. E nem caracterizou o delito que fora cometido. As palavras do réu, sua sólida e lógica argumentação e toda a sua retumbante retórica, no entanto, não surtiram efeitos, se mostraram inúteis, caíram em ouvidos moucos. Joseph não conseguiu fazer com que o absurdo processo fosse detido e arquivado, por absoluta inconsistência.
O advogado do procurador justificou o insólito julgamento com este incompreensível e confuso argumento: “A hierarquia da Justiça compreende graus infinitos, entre os quais se perdem os próprios indiciados”. Em suma, ninguém encontrou uma forma para deter o processo, apesar da sua inconsistência e absurdo. Ele havia começado, não importa se por equívoco e, portanto, teria que prosseguir até o desfecho.
Ninguém explicou coisa alguma ao réu, mas o caso teve continuidade, arrastando-se, mediante trâmites burocráticos (mas sem sentido) nas várias instâncias do aparato judiciário, por um longo tempo. No fim das contas, Joseph K. acabou por morrer nas mãos de dois funcionários, como sendo o pintor de paredes que nunca foi. Mas o sistema queria que ele fosse. E isso teve que ser! Afinal, “a hierarquia da Justiça nunca se engana, mesmo quando está de fato enganada”.
(CONTINUA)
(CONTINUAÇÃO)
ARREMEDO DE JUSTIÇA
“O Processo” narra um caso insólito e absurdo, envolvendo um procurador de banco, chamado Joseph K. O personagem em questão acaba envolvido, e destruído, por uma burocracia burra e tacanha, que predominava na sociedade em que vivia. O enredo é uma crítica (figurada, simbólica), ao que de fato ocorria no meio social do escritor, na Praga da sua juventude.
Certo dia, Joseph K., tão logo acordou, recebeu em sua casa a visita de dois agentes de polícia. Estes foram comunicar-lhe que era réu de um processo judicial e que por essa razão estava sendo detido para julgamento. O homem insistiu em apregoar inocência, assegurou que não havia feito nada de errado e que deveria haver algum engano ou erro de identidade. Em vão.
No tribunal, para onde foi conduzido, reinava absoluta anarquia. Todos deblateravam e ninguém se entendia. Apesar de falarem a mesma língua, parecia que cada qual falava um idioma próprio e particular. O juiz encarregado do caso confundiu Joseph K. com um pintor de paredes. O réu aproveitou a confusão para fazer um longo discurso em defesa própria. Denunciou, entre outras coisas, a monstruosidade que era todo aquele aparato judicial.
O tribunal não conseguiu, sequer, identificar quem era de fato o verdadeiro e suposto infrator que pretendia punir. E nem caracterizou o delito que fora cometido. As palavras do réu, sua sólida e lógica argumentação e toda a sua retumbante retórica, no entanto, não surtiram efeitos, se mostraram inúteis, caíram em ouvidos moucos. Joseph não conseguiu fazer com que o absurdo processo fosse detido e arquivado, por absoluta inconsistência.
O advogado do procurador justificou o insólito julgamento com este incompreensível e confuso argumento: “A hierarquia da Justiça compreende graus infinitos, entre os quais se perdem os próprios indiciados”. Em suma, ninguém encontrou uma forma para deter o processo, apesar da sua inconsistência e absurdo. Ele havia começado, não importa se por equívoco e, portanto, teria que prosseguir até o desfecho.
Ninguém explicou coisa alguma ao réu, mas o caso teve continuidade, arrastando-se, mediante trâmites burocráticos (mas sem sentido) nas várias instâncias do aparato judiciário, por um longo tempo. No fim das contas, Joseph K. acabou por morrer nas mãos de dois funcionários, como sendo o pintor de paredes que nunca foi. Mas o sistema queria que ele fosse. E isso teve que ser! Afinal, “a hierarquia da Justiça nunca se engana, mesmo quando está de fato enganada”.
(CONTINUA)
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