Pedro J. Bondaczuk
(CONTINUAÇÃO)
LOUCURA OU TRAIÇÃO?
Por três anos, Ezra Pound apresentou programas na rádio oficial italiana, exaltando Benito Mussolini, Adolf Hitler e, o que é pior, defendendo a chamada “solução final”, ou seja, a eliminação física dos judeus. Esse anti-semitismo, inclusive, soava sumamente estranho para quem se dizia determinado a agir em “defesa desesperada do indivíduo, em uma sociedade que a indústria o tornava cada vez mais sem rosto”.
Por isso, não foi de se estranhar quando o governo dos Estados Unidos, tão logo o país entrou na guerra contra as potências do Eixo, passasse a considerar o poeta rebelde, oficialmente, como traidor da pátria. Em 1943, o Tribunal Distrital de Colúmbia acusou Ezra Pound de traição e determinou a sua captura. Na ocasião, ele não atinou com as conseqüências dessa decisão, à qual não deu a mínima importância. Estas, porém, o poeta viria a conhecer a partir de maio de 1945, após a vitória aliada na Europa, quando teve que se render às tropas norte-americanas em Gênova.
Após a captura, o poeta foi, imediatamente, enviado para um campo de concentração (“Disciplinary Training Center”), onde permaneceu encerrado em uma gaiola de aço, como bicho (as chamadas gorilla cage), por três semanas. Nesse centro de detenção, Ezra Pound permaneceu por meio ano.
Todavia, a opinião pública norte-americana fazia enorme pressão para que ele fosse extraditado e julgado, em seu país natal, por traição. E em novembro de 1945, Ezra Pound foi enviado para os Estados Unidos. Em 1946, com os nervos em frangalhos, foi conduzido a um tribunal, mas sofreu um colapso nervoso, que causou a interrupção do seu julgamento. Em razão dessa circunstância, a corte houve por bem considerá-lo incapaz, sem condições mentais de responder pelos seus atos. Em contrapartida, determinou sua internação no Hospital Psiquiátrico Santa Elizabeth, em Washington.
Ezra Pound permaneceu nessa instituição por quase 13 anos, até 1958, quando recebeu alta e voltou para a Itália, país que tanto amava e considerava sua pátria de adoção. Ali, reuniu-se à esposa e à filha, dos quais havia ficado separado por tanto tempo.
Em uma de suas raras entrevistas, antes de morrer, o poeta defendeu-se da acusação de traição. “Não traí, absolutamente, os Estados Unidos: de acordo com a concepção jurídica norte-americana, quando não há intenção malévola, não há crime”, justificou.
O escritor Ernest Hemmingway, que a despeito de ter lutado em lado contrário ao de Pound, durante a Segunda Guerra, muito devia a ele em sua carreira literária, saiu em defesa do poeta, em entrevista que deu à revista italiana Época, em 1957. “Ezra é um grande poeta e o proclamo com orgulho. Deixemos de perseguir os nossos poetas. Modifiquemos a mentalidade norte-americana, segundo a qual um homem deve ser castigado sempre que se recuse a se conformar com a massa. Pound cometeu um erro. Se aplicássemos os mesmos critérios aplicados contra ele na Idade Média, Dante deveria ter passado a vida toda em um manicômio, pelos seus erros de julgamento e pelo seu orgulho”, afirmou o romancista na ocasião.
O confinamento no hospital psiquiátrico, no entanto, não inibiu a criatividade do poeta. Foi nessa instituição, aliás, que Ezra Pound teve um dos mais férteis e prolíficos períodos criativos. Foi confinado no Santa Elizabeth, em Washington, por exemplo, que acabou agraciado com o Prêmio Bollingen, em 1949, pelos seus “Cantos Pisanos”.
Um ano antes de sair da instituição, o poeta manifestou interesse em lecionar no Brasil, desejo que foi expresso em carta, datada de 21 de dezembro de 1957, escrita ao Grupo Noigandres. Membros desse movimento de concretistas brasileiros, como Décio Pignatari e os irmãos Haroldo e Augusto Campos, vinham se correspondendo com Pound desde 1952, ano em que foi editada a sua primeira revista-livro (em novembro), enviada ao escritor norte-americano, que a elogiou muito.
(CONTINUA)
(CONTINUAÇÃO)
LOUCURA OU TRAIÇÃO?
Por três anos, Ezra Pound apresentou programas na rádio oficial italiana, exaltando Benito Mussolini, Adolf Hitler e, o que é pior, defendendo a chamada “solução final”, ou seja, a eliminação física dos judeus. Esse anti-semitismo, inclusive, soava sumamente estranho para quem se dizia determinado a agir em “defesa desesperada do indivíduo, em uma sociedade que a indústria o tornava cada vez mais sem rosto”.
Por isso, não foi de se estranhar quando o governo dos Estados Unidos, tão logo o país entrou na guerra contra as potências do Eixo, passasse a considerar o poeta rebelde, oficialmente, como traidor da pátria. Em 1943, o Tribunal Distrital de Colúmbia acusou Ezra Pound de traição e determinou a sua captura. Na ocasião, ele não atinou com as conseqüências dessa decisão, à qual não deu a mínima importância. Estas, porém, o poeta viria a conhecer a partir de maio de 1945, após a vitória aliada na Europa, quando teve que se render às tropas norte-americanas em Gênova.
Após a captura, o poeta foi, imediatamente, enviado para um campo de concentração (“Disciplinary Training Center”), onde permaneceu encerrado em uma gaiola de aço, como bicho (as chamadas gorilla cage), por três semanas. Nesse centro de detenção, Ezra Pound permaneceu por meio ano.
Todavia, a opinião pública norte-americana fazia enorme pressão para que ele fosse extraditado e julgado, em seu país natal, por traição. E em novembro de 1945, Ezra Pound foi enviado para os Estados Unidos. Em 1946, com os nervos em frangalhos, foi conduzido a um tribunal, mas sofreu um colapso nervoso, que causou a interrupção do seu julgamento. Em razão dessa circunstância, a corte houve por bem considerá-lo incapaz, sem condições mentais de responder pelos seus atos. Em contrapartida, determinou sua internação no Hospital Psiquiátrico Santa Elizabeth, em Washington.
Ezra Pound permaneceu nessa instituição por quase 13 anos, até 1958, quando recebeu alta e voltou para a Itália, país que tanto amava e considerava sua pátria de adoção. Ali, reuniu-se à esposa e à filha, dos quais havia ficado separado por tanto tempo.
Em uma de suas raras entrevistas, antes de morrer, o poeta defendeu-se da acusação de traição. “Não traí, absolutamente, os Estados Unidos: de acordo com a concepção jurídica norte-americana, quando não há intenção malévola, não há crime”, justificou.
O escritor Ernest Hemmingway, que a despeito de ter lutado em lado contrário ao de Pound, durante a Segunda Guerra, muito devia a ele em sua carreira literária, saiu em defesa do poeta, em entrevista que deu à revista italiana Época, em 1957. “Ezra é um grande poeta e o proclamo com orgulho. Deixemos de perseguir os nossos poetas. Modifiquemos a mentalidade norte-americana, segundo a qual um homem deve ser castigado sempre que se recuse a se conformar com a massa. Pound cometeu um erro. Se aplicássemos os mesmos critérios aplicados contra ele na Idade Média, Dante deveria ter passado a vida toda em um manicômio, pelos seus erros de julgamento e pelo seu orgulho”, afirmou o romancista na ocasião.
O confinamento no hospital psiquiátrico, no entanto, não inibiu a criatividade do poeta. Foi nessa instituição, aliás, que Ezra Pound teve um dos mais férteis e prolíficos períodos criativos. Foi confinado no Santa Elizabeth, em Washington, por exemplo, que acabou agraciado com o Prêmio Bollingen, em 1949, pelos seus “Cantos Pisanos”.
Um ano antes de sair da instituição, o poeta manifestou interesse em lecionar no Brasil, desejo que foi expresso em carta, datada de 21 de dezembro de 1957, escrita ao Grupo Noigandres. Membros desse movimento de concretistas brasileiros, como Décio Pignatari e os irmãos Haroldo e Augusto Campos, vinham se correspondendo com Pound desde 1952, ano em que foi editada a sua primeira revista-livro (em novembro), enviada ao escritor norte-americano, que a elogiou muito.
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