Tuesday, August 28, 2007

Adaptando-se às mudanças


Pedro J. Bondaczuk

A palavra "mudança" freqüenta o discurso de todos os políticos e economistas e os textos de todos os filósofos (com maior ou menor ênfase), principalmente deste início de milênio, como se "mudar" alguém ou alguma coisa fosse a maior das novidades. Evidentemente, não é. Tudo muda a cada segundo, desde o princípio dos tempos, que ninguém sabe e jamais saberá quando foi.

Não apenas as pessoas e seus comportamentos se alteram (para melhor ou pior) a cada instante, como também os objetos inanimados sofrem essas alterações. O universo é dinâmico. A vida também o é. Ao terminar esta frase, por exemplo, nada mais será exatamente igual ao que era quando ela foi iniciada, embora aparentemente nada de diferente haja ocorrido.

Nesse exato momento, pessoas terão nascido em alguma parte do mundo, outras terão morrido, amores foram declarados, relacionamentos foram desfeitos, idéias nasceram, outras foram esquecidas e assim por diante. A Terra estará alterada: por fenômenos naturais (ventos, vulcões, terremotos etc.) ou pela ação do homem.

Estará, no mínimo, alguns microgramas mais pesada, por exemplo, em virtude do acúmulo de poeira extraplanetária, proveniente de alguns dos milhares de meteoros que atingem o Planeta diariamente e que se decompõem ao penetrar na atmosfera, chegando ao solo em forma de invisíveis partículas de pó. Que, no entanto, são concretas, mesmo que não as vejamos. São matéria. E ao longo dos anos, dos séculos e dos milênios tornam-se não apenas visíveis, mas ponderáveis. Cidades e mais cidades, que existiram num passado não tão remoto, estão soterradas a dois, a cinco ou até a mais metros, à espera de arqueólogos que as localizem e as desenterrem. Esse acúmulo ocorre também com a energia proveniente a cada instante do espaço.

O poeta inglês Percy Bysshe Shelley compôs magistrais versos, que retratam, em palavras, este dinamismo universal, este moto contínuo (diria perpétuo) de mudanças, que se processam quer em nosso organismo, quer no planetazinho que habitamos, quer na imensidão universal, que mais se amplia à medida que os instrumentos de captação de imagens siderais de que o homem lança mão aumentam a sua capacidade de alcance. Diz o escritor: "Mundos após mundos estão sempre rolando/desde sua criação até seu fim,/como as borbulhas num rio,/brilhando, rompendo-se, levadas embora".

As distâncias cósmicas são tão grandes, para nossos restritíssimos sentidos, que mesmo a luz viajando a 300 mil quilômetros por segundo, o brilho de estrelas surgidas quando da formação da Terra (ou alguns bilhões de anos antes ou depois) chega até nós na presente geração. A maioria das que vemos brilhar, atualmente, no céu, já não existe há milhões de milênios. Uma infinidade delas está nascendo neste momento, em alguma parte do universo, e jamais tomaremos conhecimento desse nascimento. Nossa vida é curta demais. É irrisória, em termos de tempo, embora a alguns pareça demasiado longa e penosa. E tudo muda, embora os desavisados jurem que tudo está sempre na mesma.

O filósofo grego Heráclito já havia constatado essa mutabilidade vertiginosa. "Não se pode pisar duas vezes nos mesmos rios, pois as águas novas estão sempre fluindo sobre ti", já dizia, há alguns séculos antes do nascimento de Cristo. E quanto o mundo mudou, desde que este gênio passou sobre a Terra! Civilizações nasceram e morreram, guerras as mais diversas foram travadas, seres iluminados passaram pelo Planeta proporcionando importantes saltos evolutivos, feras sanguinárias (em forma de gente) abreviaram a vida de centenas de milhares de indivíduos, até que igualmente "mudassem". Voltassem ao pó, de onde todos procedemos e para onde todos voltaremos, e a qualquer instante.

Não temos, pois, condições de deter nenhuma mudança. O processo foge de nosso controle. O que podemos fazer é apenas nos adaptarmos a elas. O homem, se quiser legar um mundo melhor às gerações futuras, deve interferir positivamente no meio ambiente, preservando o mais que possa os delicados e frágeis ecossistemas. Precisa respeitar as leis da natureza, que regem a sua própria existência. Hoje a Terra corre o risco do chamado "efeito-estufa", perigoso aquecimento planetário, capaz de provocar uma catástrofe de dimensões imprevisíveis para todos os seres vivos. O Planeta, se isso acontecer, tem condições de se regenerar. A vida? Jamais!

O cientista Isaac Asimov, no entanto, publicou, pouco antes da sua morte, um livro que em português recebeu o título de "Escolha a Catástrofe", ridicularizando o catastrofismo então vigente. Demonstrou, mediante explicações lógicas, que a natureza possui mecanismos para se livrar daqueles que alteram o seu curso. Ou seja, "se defende" dos depredadores.

No caso do efeito-estufa, lembrou que, desde que não seja abrupto, pode ser até benéfico para o Planeta. Explicou que a Terra gira num espaço gélido e escuro e que perde calor neste processo de deslocamento. Talvez, se não houvesse um aquecimento artificial, provocado pela enorme quantidade de gás carbônico lançado diariamente na atmosfera pelo escapamento dos automóveis – fenômeno típico deste século – estaríamos entrando, ou prestes a entrar, em nova era glacial. E essa alteração climática poderia criar condições nefastas, ou até mesmo impossíveis à existência da vida.

As pessoas não-dogmáticas, com sede e fome de conhecimento, que se mantêm permanentemente ligadas ao mundo, dispostas a aprender tudo o que possam, são as que têm as maiores chances de mudar, sem que tais mudanças impliquem em traumas. Claro que a incerteza dita o destino humano. Agora estamos vivos. No segundo seguinte, poderemos não estar mais. E a vida – embora espiritualistas garantam que não, baseados apenas nas próprias convicções – não tem reprise. Se tivesse, a humanidade não estaria privada dos gênios e santos que com suas ações e exemplos fizeram o homem evoluir e que tanta falta fazem hoje, como Sidarta Gauthama, Maomé, São Francisco de Assis, Mahatma Gandhi, Madre Teresa de Calcutá e tantos e tantos outros, que assumiram missões de grandeza, santidade e sabedoria e as cumpriram sem vacilar.

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