Apesar de ser constatação óbvia, ao alcance do mais bronco dos mortais, muitos ainda se fazem de desentendidos e se esquecem que do mundo nada levamos. E nem viemos a ele para levar qualquer coisa, mas para deixar: idéias, obras, princípios e exemplos. Corre-se atrás de “riquezas” que não passam de quinquilharias e desperdiça-se um tempo precioso com o ato mesquinho de juntar, de acumular e de gozar de falsos e ilusórios prazeres sensoriais, em detrimento do essencial. Viemos nus ao mundo e será dessa forma despojada que um dia o deixaremos. O profeta Maomé constata, com simplicidade e sabedoria: “A verdadeira riqueza de um homem é o bem que ele faz no mundo”. E isso não basta? Claro que sim! Não somente é o bastante, como até sobeja. Afinal, só os atos de bondade nos garantem a única imortalidade possível: a da memória. O resto... são vidros, que confundimos com diamantes.
Friday, August 31, 2007
Hora da verdade
Pedro J. Bondaczuk
O ensaísta francês Stendhal (e para quem não se lembra, ou não sabe, este era o pseudônimo de Marie Henri Beyle, nascido em Grenoble, autor de um dos grandes clássicos da literatura mundial, “O Vermelho e o Negro”), constatou que muitas pessoas – eu diria a maioria – se deixam enterrar vivas, por jamais dizerem a que vieram ao mundo. Não trabalham e, quando o fazem, se contentam com tarefas rotineiras, mecânicas, automáticas e nada criativas, como as executadas pelo célebre Carlitos no filme “Tempos Modernos”. Ou não estudam e, quando o fazem, não se empenham a fundo para, de fato, aprender. Limitam-se a ficar de olho somente no diploma, como se este fosse a sua redenção. Enfim, não fazem nada que preste aos outros, nem às próprias famílias. Vegetam, vida afora, como se fossem meros passageiros da espaçonave Terra. Não são! Ninguém é, pois esta não os comporta. Todos, indistintamente, fazendo ou não nossa parte, somos tripulantes dessa nave frágil e misteriosa, que singra o espaço com destino que ignoramos qual seja.
O mais estranho de tudo é que muitas dessas pessoas são privilegiadas pela natureza, dotadas de rara inteligência, ou de força descomunal, ou de energia fora do comum, ou de talentos que poucos têm, mas parecem sequer se dar conta disso. Ou, quando se dão, desperdiçam esses dotes em atividades inúteis, vazias, sem sentido. Alguns, por exemplo, aplicam sua excepcional inteligência na tarefa inócua da acumulação de bens. Passam por cima de tudo e de todos na ânsia de “ter”. Mas não o suficiente para a sobrevivência ou a manutenção da família, o que, até, seria admissível. De forma obsessiva, doentia, avarenta e mesquinha, ajuntam mais, muito mais do que o necessário para viver e a própria capacidade de gastar.
Há os que, na hora da verdade, diante da iminência da morte, se dão conta da tolice que cometeram. Só que, na maioria dos casos, essa descoberta se revela tardia. Descobrem que desperdiçaram a vida por nada. Estes sempre estiveram enterrados vivos e nunca perceberam. Muitos, contudo, nem nesse momento extremo admitem, ou concluem, que cometeram esse fatal erro de avaliação.
Há, por outro lado, os que usam a força física com que foram dotados (e que um dia também decresce até se extinguir), ou a beleza (ilusória e que tem tempo contado) ou a energia (que igualmente se esgota) para oprimir, humilhar, agredir, dominar e se sobrepor aos que foram menos dotados pela natureza e que requerem sua ajuda e proteção e não sua arrogância e prepotência. Em geral, essas pessoas, ao ficarem velhas (quando ficam), são as que mais sofrem. Afinal, só lamenta uma grande perda quem teve o que perder.
Há muitas e muitas outras situações em que os envolvidos se enterram vivos. Enterram corações. Enterram cérebros. Enterram emoções. Enterram inteligências. Enterram talentos. Enterram todo o seu potencial e não conseguem, com sua atitude, mais do que rancores, ou ressentimentos, ou a ira alheia ou, quando muito, a piedade dos que os cercam. São perdedores, embora tivessem tudo para vencer.
Os vencedores, por seu turno, às vezes não são tão inteligentes, ou tão fortes, ou tão belos, ou tão enérgicos. São dotados, todavia, entre outras virtudes, de uma característica insuperável: o entusiasmo. São os que muitas vezes tardam a estabelecer objetivos, mas que, quando o fazem, nomeiam aqueles que sejam compatíveis com a sua capacidade e, sobretudo, factíveis. Além disso não se limitam a meramente querer que eles se concretizem: se empenham, a fundo, com cérebro, corpo e alma, na sua busca. E esbanjam, sobretudo, três palavrinhas, muito curtas, porém fundamentais: sim, não e oba.
A primeira, é de aceitação de tudo o que seja positivo, construtivo e sadio. A segunda, é de recusa dos maus sentimentos, más emoções e maus comportamentos, próprios e/ou alheios. E, finalmente, a terceira, utilizam para exprimir o encantamento, a alegria e o entusiasmo pelas vitórias conquistadas, por menores que sejam.
Os vencedores também experimentam inúmeros fracassos no meio caminho. Estão muito longe da perfeição e têm plena consciência disso. Mas fazem das próprias vulnerabilidades, fraquezas e deficiências armas poderosas para o sucesso. Honoré de Balzac, por exemplo, era uma pessoa extremamente perdulária. Vivia atolado em dívidas e, não raro, os credores entravam em sua casa e retiravam todos os seus móveis, em troca de suas dívidas. Por causa desse fator, no entanto, premido pelas circunstâncias, colocou o máximo de empenho no que sabia fazer de melhor: escrever. Endividado até a alma, escreveu, escreveu e escreveu furiosamente, com vigor e entusiasmo. E nos legou, entre tantas obras, os 35 volumes da “Comédia Humana”.
Fedor Dostoievski, por seu turno, era um jogador inveterado. Não podia ter dinheiro nas mãos que logo se dirigia a Montecarlo e lá deixava tudo o que havia ganhado com imenso sacrifício. Mas nunca usou sua desgraça e nem suas desventuras e defeitos pessoais como desculpas para não fazer nada. Recusou-se a se deixar enterrar vivo (mesmo quando foi enviado para um campo de trabalhos forçados na Sibéria). Com isso, legou à humanidade obras marcantes como “Crime e Castigo”, “Irmãos Karamazov” e “Recordação da Casa dos Mortos”, entre outras. Estes, e tantos outros, souberam vencer seus vícios, fraquezas e, principalmente, o desânimo (e a conseqüente tentação da apatia), com a poderosa, quase invencível arma do entusiasmo. E se eles puderam...
O ensaísta francês Stendhal (e para quem não se lembra, ou não sabe, este era o pseudônimo de Marie Henri Beyle, nascido em Grenoble, autor de um dos grandes clássicos da literatura mundial, “O Vermelho e o Negro”), constatou que muitas pessoas – eu diria a maioria – se deixam enterrar vivas, por jamais dizerem a que vieram ao mundo. Não trabalham e, quando o fazem, se contentam com tarefas rotineiras, mecânicas, automáticas e nada criativas, como as executadas pelo célebre Carlitos no filme “Tempos Modernos”. Ou não estudam e, quando o fazem, não se empenham a fundo para, de fato, aprender. Limitam-se a ficar de olho somente no diploma, como se este fosse a sua redenção. Enfim, não fazem nada que preste aos outros, nem às próprias famílias. Vegetam, vida afora, como se fossem meros passageiros da espaçonave Terra. Não são! Ninguém é, pois esta não os comporta. Todos, indistintamente, fazendo ou não nossa parte, somos tripulantes dessa nave frágil e misteriosa, que singra o espaço com destino que ignoramos qual seja.
O mais estranho de tudo é que muitas dessas pessoas são privilegiadas pela natureza, dotadas de rara inteligência, ou de força descomunal, ou de energia fora do comum, ou de talentos que poucos têm, mas parecem sequer se dar conta disso. Ou, quando se dão, desperdiçam esses dotes em atividades inúteis, vazias, sem sentido. Alguns, por exemplo, aplicam sua excepcional inteligência na tarefa inócua da acumulação de bens. Passam por cima de tudo e de todos na ânsia de “ter”. Mas não o suficiente para a sobrevivência ou a manutenção da família, o que, até, seria admissível. De forma obsessiva, doentia, avarenta e mesquinha, ajuntam mais, muito mais do que o necessário para viver e a própria capacidade de gastar.
Há os que, na hora da verdade, diante da iminência da morte, se dão conta da tolice que cometeram. Só que, na maioria dos casos, essa descoberta se revela tardia. Descobrem que desperdiçaram a vida por nada. Estes sempre estiveram enterrados vivos e nunca perceberam. Muitos, contudo, nem nesse momento extremo admitem, ou concluem, que cometeram esse fatal erro de avaliação.
Há, por outro lado, os que usam a força física com que foram dotados (e que um dia também decresce até se extinguir), ou a beleza (ilusória e que tem tempo contado) ou a energia (que igualmente se esgota) para oprimir, humilhar, agredir, dominar e se sobrepor aos que foram menos dotados pela natureza e que requerem sua ajuda e proteção e não sua arrogância e prepotência. Em geral, essas pessoas, ao ficarem velhas (quando ficam), são as que mais sofrem. Afinal, só lamenta uma grande perda quem teve o que perder.
Há muitas e muitas outras situações em que os envolvidos se enterram vivos. Enterram corações. Enterram cérebros. Enterram emoções. Enterram inteligências. Enterram talentos. Enterram todo o seu potencial e não conseguem, com sua atitude, mais do que rancores, ou ressentimentos, ou a ira alheia ou, quando muito, a piedade dos que os cercam. São perdedores, embora tivessem tudo para vencer.
Os vencedores, por seu turno, às vezes não são tão inteligentes, ou tão fortes, ou tão belos, ou tão enérgicos. São dotados, todavia, entre outras virtudes, de uma característica insuperável: o entusiasmo. São os que muitas vezes tardam a estabelecer objetivos, mas que, quando o fazem, nomeiam aqueles que sejam compatíveis com a sua capacidade e, sobretudo, factíveis. Além disso não se limitam a meramente querer que eles se concretizem: se empenham, a fundo, com cérebro, corpo e alma, na sua busca. E esbanjam, sobretudo, três palavrinhas, muito curtas, porém fundamentais: sim, não e oba.
A primeira, é de aceitação de tudo o que seja positivo, construtivo e sadio. A segunda, é de recusa dos maus sentimentos, más emoções e maus comportamentos, próprios e/ou alheios. E, finalmente, a terceira, utilizam para exprimir o encantamento, a alegria e o entusiasmo pelas vitórias conquistadas, por menores que sejam.
Os vencedores também experimentam inúmeros fracassos no meio caminho. Estão muito longe da perfeição e têm plena consciência disso. Mas fazem das próprias vulnerabilidades, fraquezas e deficiências armas poderosas para o sucesso. Honoré de Balzac, por exemplo, era uma pessoa extremamente perdulária. Vivia atolado em dívidas e, não raro, os credores entravam em sua casa e retiravam todos os seus móveis, em troca de suas dívidas. Por causa desse fator, no entanto, premido pelas circunstâncias, colocou o máximo de empenho no que sabia fazer de melhor: escrever. Endividado até a alma, escreveu, escreveu e escreveu furiosamente, com vigor e entusiasmo. E nos legou, entre tantas obras, os 35 volumes da “Comédia Humana”.
Fedor Dostoievski, por seu turno, era um jogador inveterado. Não podia ter dinheiro nas mãos que logo se dirigia a Montecarlo e lá deixava tudo o que havia ganhado com imenso sacrifício. Mas nunca usou sua desgraça e nem suas desventuras e defeitos pessoais como desculpas para não fazer nada. Recusou-se a se deixar enterrar vivo (mesmo quando foi enviado para um campo de trabalhos forçados na Sibéria). Com isso, legou à humanidade obras marcantes como “Crime e Castigo”, “Irmãos Karamazov” e “Recordação da Casa dos Mortos”, entre outras. Estes, e tantos outros, souberam vencer seus vícios, fraquezas e, principalmente, o desânimo (e a conseqüente tentação da apatia), com a poderosa, quase invencível arma do entusiasmo. E se eles puderam...
Thursday, August 30, 2007
TOQUE DE LETRA
Pedro J. Bondaczuk
(Fotos: Arquivo, site oficial da Ponte Preta, Gaspar Nóbrega/VIPCOMM e Gazeta Photo)
TRINCA DE EMPATES
A Ponte Preta completou, na terça-feira, uma trinca de empates, ao não sair do 1 a 1, com o Paulista de Jundiaí, no Majestoso. Antes, havia empatado, pelo mesmo placar, com o Remo, também no Moisés Lucarelli, e com o Gama, no Mane Garrincha, em Brasília, oportunidade em que perdeu um caminhão de gols e voltou para Campinas com um único pontinho na sacola, deixando escapar por entre os dedos os outros dois. O torcedor otimista encara numa boa esses resultados. “Afinal, não perdeu”, dirá, não sem forte dose de razão. Não deixa de ser verdade, mas apenas em parte. O time somou mais três pontos na competição, é certo. Mas o pontepretano realista vê de outra maneira o que aconteceu nas três últimas rodadas. A Ponte Preta, na verdade, perdeu seis preciosos pontos, nos três últimos jogos, quatro dos quais em seus domínios. E, numa competição equilibrada, como é o Campeonato Brasileiro da Série B deste ano, esse é um prejuízo difícil de ser recuperado. Empatar, numa competição de pontos corridos, nunca é um bom negócio. Seria preferível vencer uma partida e, mesmo que perdesse as outras duas, ainda ficaria no lucro. Por que? Muito simples. Embora fazendo os mesmos três pontos ganhos, somaria uma vitória no cartel. E estas contam, e muito, como critérios de desempate, no final do campeonato. Recorde-se que, para esse fim, os empates não valem absolutamente nada. Daí a justa bronca da torcida pontepretana com os três últimos resultados da Macaca. A Ponte Preta permaneceu invicta, é fato. Mas patinou na tabela e despencou para a décima colocação.
PROIBIDO PARA CARDÍACO
O Guarani deste ano transformou-se num time proibido para torcedor cardíaco. Desde o Campeonato Paulista da Série A-2, quando conseguiu o acesso apenas na última rodada e com uma providencial mãozinha da Portuguesa, especializou-se em dar sustos e mais sustos em sua torcida. Na primeira fase do Campeonato Brasileiro da Série C, deixou para os últimos minutos, e do derradeiro jogo, o que deveria ter feito nas partidas anteriores. Arrancou a classificação, no Brinco, em cima do laço, aos 44 minutos do Segundo Tempo, quando tudo parecia perdido, contra o até então desconhecido Jaguaré, do Espírito Santo, com aquele golzinho providencial e salvador de Tales. Domingo passado, ao empatar, em casa, com o Crac de Catalão, o Bugre ficou na obrigação de derrotar, ontem, o Rio Claro, igualmente no Brinco de Ouro, para não amargar uma prematura desclassificação. E começou o jogo levando um gol do adversário. Só aí se deu conta do desastre que estava se desenhando. Reagiu e fez 3 a 1, para alívio da sua torcida. Agora joga, no sábado, no Estádio Serra Dourada, em Goiânia, por um simples empate com o Vila Nova (a quem afundou, no ano passado, para a Série C, ao aplicar, em Goiás, uma goleada, por 5 a 1). Tem tudo para vencer e se classificar para a fase seguinte da competição. Espera-se, porém, que a classificação venha, desta vez, sem sustos. Caso contrário, os torcedores bugrinos, que sejam cardíacos, dificilmente conseguirão resistir a mais uma “forte emoção”.
CHEGADA DE REFORÇOS
A diretoria da Ponte Preta, decepcionada com a performance do time no Primeiro Turno do Campeonato Brasileiro da Série B (levando em conta o plantel que tem) resolveu sair às compras, com o objetivo de reforçar a equipe para a conquista do tão sonhado (e cada vez mais difícil) acesso à elite do futebol do País. Dois já chegaram. Um deles, inclusive, o zagueiro André Gaúcho, procedente do Ipatinga, já participou (e bem) de duas partidas. O outro, Chumbinho, acaba de chegar ao Majestoso, ansioso por estrear. A diretoria quer, ainda, mais um zagueiro e um meia armador para substituir Heverton em alguma eventualidade, cujos nomes vêm sendo mantidos em segredo, a sete chaves. Vários dos jogadores contratados no final do Campeonato Paulista decepcionaram, pelo menos até aqui. Michel, por exemplo, que começou a competição com a corda toda, nos últimos jogos se mostrou apático, sem combatividade e sem nenhuma lucidez. Leo Mineiro, de quem se falavam maravilhas, igualmente não disse, ainda, a que veio. A decepção maior é o armador Márcio Guerreiro, que não mostrou, até o momento, porque tem esse apelido. Não guerreia coisa nenhuma. Já Alê e Alex Silva pelo menos têm dado conta do recado quando são chamados a substituir algum dos titulares. Minha expectativa maior é em relação a Chumbinho. Jovem ainda, o atleta já tem passagens por grandes clubes do País e do Exterior, como São Paulo, Corinthians, Vasco e Kashima Antlers do Japão. Caso renda o que dele se espera, pode fazer uma dupla arrasadora com Alex Terra (esse sim uma contratação de peso, do alto dos dez gols que marcou em apenas nove jogos). Tanto pode barrar Wanderley (que, aliás, vem subindo muito de produção), quanto ser um terceiro atacante, nos jogos em que a Macaca tiver que encarar alguma retranca. Enfim... futebol para mostrar Chumbinho tem. Basta que tenha vontade (e competência) para tanto.
PROIBIDO DE ERRAR
Depois da derrota que sofreu no final de semana passado, em Caieiras, para o Força Sindical, por 2 a 0, o Campinas está absolutamente proibido de errar, se quiser se classificar para a fase decisiva do Campeonato Paulista da Série B. Tem que vencer seus próximos três jogos, contra Penapolense, Jabaquara e Radium de Mococa, para não depender de eventuais tropeços dos adversários. Difícil? Nem tanto, se o Águia corrigir sua instabilidade e dominar os nervos. Ademais, enfrenta dois desses adversários em seus domínios, no Cerecamp, onde tem dado, em várias ocasiões, vexames imensos. Aliás, é por causa deles que o Campinas ainda não está na Série A-3. Tem, portanto, não apenas que passar por cima do Jabaquara e do Radium, em seus domínios, como ainda se superar e atropelar a Penapolense, em Penápolis. Se fizer tudo isso, não apenas se classificará para a fase decisiva, como entrará nela cheio de moral. Se tropeçar... Bem, daí só restará montar um novo time para o Campeonato Paulista da Série B de 2008.
SUPER-CRAQUE DESENCANTA
Há muito que Ronaldinho Gaúcho, um dos raros super-craques do futebol mundial, que no Barcelona só falta fazer chover, devia uma atuação convincente com a camisa da Seleção Brasileira. É verdade que (ao contrário do que afirmam nossos medíocres cronistas esportivos) mesmo quando joga mal, o jogador é fundamental à equipe nacional. Basta sua presença em campo para que os adversários se preocupem (com acerto) com ele e coloquem dois ou três zagueiros, ou volantes, para cuidarem da sua marcação. No amistoso contra a Argélia, todavia, disputado em Montpelier, na França, Ronaldinho Gaúcho mostrou porque é um dos atletas mais cobiçados e valorizados do mundo. Entrou somente no Segundo Tempo e, com duas geniais jogadas, dessas de cinema, para serem gravadas e repetidas milhares de vezes, decidiu o jogo em favor do Brasil. E o adversário, para os mal-informados, não era uma seleçãozinha qualquer. A Argélia é hoje uma das melhores, se não a melhor seleção da África. Joga um futebol solto, ofensivo, atrevido e, de lambuja, vistoso. Deu um trabalho enorme para os comandados de Dunga. Só que não tinha Ronaldinho Gaúcho, ao contrário do Brasil. Deu no que deu. Ou seja, Seleção Brasileira 2 x Argélia 0.
MURALHA TRICOLOR
À medida em que as rodadas do Campeonato Brasileiro da Série A se sucedem, e o São Paulo se distancia dos seus concorrentes na tabela de classificação, mais e mais fica evidente a eficiência da defesa tricolor, que está fazendo história na competição. Há vários jogos já que o setor defensivo são-paulino não toma um único gol. O Náutico, no domingo, bem que tentou. Mas além de não conseguir furar a muralha do São Paulo, levou, de quebra, sonora goleada, por 5 a 0, com direito a novo gol do goleiro-artilheiro, Rogério Ceni. Ontem, o Palmeiras pressionou, pressionou, mas nada. Não conseguiu superar a eficiência da zaga do favoritíssimo ao bi-campeonato nacional. Como quem não faz, toma... Levou um gol de Jorge Wagner, em jogada muito bem trabalhada com o grandalhão Aloísio. Pasmem, senhores, em 21 jogos, contra os melhores times do País, a defesa do São Paulo levou apenas sete gols! Acompanho futebol há quase 60 anos e nunca vi isso antes. Só um desastre, desses inconcebíveis, portanto, vai evitar que a taça de campeão brasileiro da temporada deixe de ir, de novo, para o Morumbi.
MARCA CENTENÁRIA
Esta coluna de hoje atinge marca histórica. É a centésima a ser divulgada no “O Escrevinhador”. Durante algum tempo, foi publicada em alguns jornais de bairro de Campinas, sem muita visibilidade, portanto. Ao trazê-la para o blog, pretendi dar-lhe maior abrangência. Ou seja, embora tratando, basicamente, dos times de Campinas, quis que ela deixasse de circular, apenas, na “minha aldeia”, e ganhasse o mundo. E parece que ganhou. Lancei-a na internet às vésperas da Copa do Mundo da Alemanha e acompanhei, com observações bastante pessoais, todos os jogos do Mundial, inclusive depois da prematura eliminação da Seleção Brasileira da competição. Embora eu seja jornalista profissional, a “Toque de Letra” não é uma coluna jornalística. Falta-lhe a imparcialidade, para que ganhe essa característica. Nunca escondi de ninguém (e nem há porque esconder) que sou torcedor apaixonado da Ponte Preta. Meus comentários, portanto, trazem o vezo do torcedor, não do cronista esportivo. Reservo-me o direito, pois, de ser parcial, não raro parcialíssimo, e sempre puxar a sardinha para a minha brasa. Ainda assim, conto com a leitura e com os comentários de integrantes de outras torcidas (que não a do meu time do coração) e espero voltar a postar uma nota, semelhante a esta, quando a coluna completar a 200ª edição, e a 300ª e a 1.000ª , e assim por diante. Aguardem-me!!!
RESPINGOS...
· Paulo César Carpeggiani foi demitido (injustamente, por sinal) do Corinthians após a goleada sofrida pelo time, em pleno Pacaembu, para o Cruzeiro, por 3 a 0. No jogo seguinte... bem, foi o que se viu ontem. Outro vexame alvinegro, que desta vez foi goleado pelo limitado Atlético Mineiro, de Emerson Leão, no Mineirão, por 5 a 2. O problema corintiano, portanto, não era o treinador. É de time mesmo!
· Outro que deu vexame, na rodada de ontem, foi o Internacional, de Abel Braga. Levou uma sapatada, de 4 a 1, do Fluminense, em pleno Beira-Rio. Como se vê, o problema do Colorado não era o Alexandre Gallo, como os torcedores apregoavam.
· Espetacular a atuação do sérvio Petkovic, com a camisa do Santos, na goleada santista, domingo, em Natal, sobre o América, por 4 a 1. Além de fazer um belo gol, o veterano armador ainda deu outros três, feitinhos, para os companheiros completarem. Esse conhece!!.
· O Atlético Paranaense está em perigosa curva descendente. Entrou na zona do rebaixamento, de onde dificilmente conseguirá fugir. O clube acaba de contratar Ney Franco, para tentar o milagre de salvá-lo da degola. Será que o ex-treinador do Flamengo é o Mandrake, para fazer tamanha mágica?
· Quem está surpreendendo todo o mundo, neste Campeonato Brasileiro, é o Vasco, do técnico Celso Roth. A equipe cruzmaltina está no encalço do Cruzeiro e quer porque quer ser pelo menos vice-campeã. Já o título... a menos que ocorra uma improvável reviravolta, tudo indica que este já tem dono: o São Paulo, do incrível Rogério Ceni.
· E fim de papo por hoje. Entre em contato, para críticas e sugestões.
pedrojbk@hotmail.com
(Fotos: Arquivo, site oficial da Ponte Preta, Gaspar Nóbrega/VIPCOMM e Gazeta Photo)
TRINCA DE EMPATES
A Ponte Preta completou, na terça-feira, uma trinca de empates, ao não sair do 1 a 1, com o Paulista de Jundiaí, no Majestoso. Antes, havia empatado, pelo mesmo placar, com o Remo, também no Moisés Lucarelli, e com o Gama, no Mane Garrincha, em Brasília, oportunidade em que perdeu um caminhão de gols e voltou para Campinas com um único pontinho na sacola, deixando escapar por entre os dedos os outros dois. O torcedor otimista encara numa boa esses resultados. “Afinal, não perdeu”, dirá, não sem forte dose de razão. Não deixa de ser verdade, mas apenas em parte. O time somou mais três pontos na competição, é certo. Mas o pontepretano realista vê de outra maneira o que aconteceu nas três últimas rodadas. A Ponte Preta, na verdade, perdeu seis preciosos pontos, nos três últimos jogos, quatro dos quais em seus domínios. E, numa competição equilibrada, como é o Campeonato Brasileiro da Série B deste ano, esse é um prejuízo difícil de ser recuperado. Empatar, numa competição de pontos corridos, nunca é um bom negócio. Seria preferível vencer uma partida e, mesmo que perdesse as outras duas, ainda ficaria no lucro. Por que? Muito simples. Embora fazendo os mesmos três pontos ganhos, somaria uma vitória no cartel. E estas contam, e muito, como critérios de desempate, no final do campeonato. Recorde-se que, para esse fim, os empates não valem absolutamente nada. Daí a justa bronca da torcida pontepretana com os três últimos resultados da Macaca. A Ponte Preta permaneceu invicta, é fato. Mas patinou na tabela e despencou para a décima colocação.
PROIBIDO PARA CARDÍACO
O Guarani deste ano transformou-se num time proibido para torcedor cardíaco. Desde o Campeonato Paulista da Série A-2, quando conseguiu o acesso apenas na última rodada e com uma providencial mãozinha da Portuguesa, especializou-se em dar sustos e mais sustos em sua torcida. Na primeira fase do Campeonato Brasileiro da Série C, deixou para os últimos minutos, e do derradeiro jogo, o que deveria ter feito nas partidas anteriores. Arrancou a classificação, no Brinco, em cima do laço, aos 44 minutos do Segundo Tempo, quando tudo parecia perdido, contra o até então desconhecido Jaguaré, do Espírito Santo, com aquele golzinho providencial e salvador de Tales. Domingo passado, ao empatar, em casa, com o Crac de Catalão, o Bugre ficou na obrigação de derrotar, ontem, o Rio Claro, igualmente no Brinco de Ouro, para não amargar uma prematura desclassificação. E começou o jogo levando um gol do adversário. Só aí se deu conta do desastre que estava se desenhando. Reagiu e fez 3 a 1, para alívio da sua torcida. Agora joga, no sábado, no Estádio Serra Dourada, em Goiânia, por um simples empate com o Vila Nova (a quem afundou, no ano passado, para a Série C, ao aplicar, em Goiás, uma goleada, por 5 a 1). Tem tudo para vencer e se classificar para a fase seguinte da competição. Espera-se, porém, que a classificação venha, desta vez, sem sustos. Caso contrário, os torcedores bugrinos, que sejam cardíacos, dificilmente conseguirão resistir a mais uma “forte emoção”.
CHEGADA DE REFORÇOS
A diretoria da Ponte Preta, decepcionada com a performance do time no Primeiro Turno do Campeonato Brasileiro da Série B (levando em conta o plantel que tem) resolveu sair às compras, com o objetivo de reforçar a equipe para a conquista do tão sonhado (e cada vez mais difícil) acesso à elite do futebol do País. Dois já chegaram. Um deles, inclusive, o zagueiro André Gaúcho, procedente do Ipatinga, já participou (e bem) de duas partidas. O outro, Chumbinho, acaba de chegar ao Majestoso, ansioso por estrear. A diretoria quer, ainda, mais um zagueiro e um meia armador para substituir Heverton em alguma eventualidade, cujos nomes vêm sendo mantidos em segredo, a sete chaves. Vários dos jogadores contratados no final do Campeonato Paulista decepcionaram, pelo menos até aqui. Michel, por exemplo, que começou a competição com a corda toda, nos últimos jogos se mostrou apático, sem combatividade e sem nenhuma lucidez. Leo Mineiro, de quem se falavam maravilhas, igualmente não disse, ainda, a que veio. A decepção maior é o armador Márcio Guerreiro, que não mostrou, até o momento, porque tem esse apelido. Não guerreia coisa nenhuma. Já Alê e Alex Silva pelo menos têm dado conta do recado quando são chamados a substituir algum dos titulares. Minha expectativa maior é em relação a Chumbinho. Jovem ainda, o atleta já tem passagens por grandes clubes do País e do Exterior, como São Paulo, Corinthians, Vasco e Kashima Antlers do Japão. Caso renda o que dele se espera, pode fazer uma dupla arrasadora com Alex Terra (esse sim uma contratação de peso, do alto dos dez gols que marcou em apenas nove jogos). Tanto pode barrar Wanderley (que, aliás, vem subindo muito de produção), quanto ser um terceiro atacante, nos jogos em que a Macaca tiver que encarar alguma retranca. Enfim... futebol para mostrar Chumbinho tem. Basta que tenha vontade (e competência) para tanto.
PROIBIDO DE ERRAR
Depois da derrota que sofreu no final de semana passado, em Caieiras, para o Força Sindical, por 2 a 0, o Campinas está absolutamente proibido de errar, se quiser se classificar para a fase decisiva do Campeonato Paulista da Série B. Tem que vencer seus próximos três jogos, contra Penapolense, Jabaquara e Radium de Mococa, para não depender de eventuais tropeços dos adversários. Difícil? Nem tanto, se o Águia corrigir sua instabilidade e dominar os nervos. Ademais, enfrenta dois desses adversários em seus domínios, no Cerecamp, onde tem dado, em várias ocasiões, vexames imensos. Aliás, é por causa deles que o Campinas ainda não está na Série A-3. Tem, portanto, não apenas que passar por cima do Jabaquara e do Radium, em seus domínios, como ainda se superar e atropelar a Penapolense, em Penápolis. Se fizer tudo isso, não apenas se classificará para a fase decisiva, como entrará nela cheio de moral. Se tropeçar... Bem, daí só restará montar um novo time para o Campeonato Paulista da Série B de 2008.
SUPER-CRAQUE DESENCANTA
Há muito que Ronaldinho Gaúcho, um dos raros super-craques do futebol mundial, que no Barcelona só falta fazer chover, devia uma atuação convincente com a camisa da Seleção Brasileira. É verdade que (ao contrário do que afirmam nossos medíocres cronistas esportivos) mesmo quando joga mal, o jogador é fundamental à equipe nacional. Basta sua presença em campo para que os adversários se preocupem (com acerto) com ele e coloquem dois ou três zagueiros, ou volantes, para cuidarem da sua marcação. No amistoso contra a Argélia, todavia, disputado em Montpelier, na França, Ronaldinho Gaúcho mostrou porque é um dos atletas mais cobiçados e valorizados do mundo. Entrou somente no Segundo Tempo e, com duas geniais jogadas, dessas de cinema, para serem gravadas e repetidas milhares de vezes, decidiu o jogo em favor do Brasil. E o adversário, para os mal-informados, não era uma seleçãozinha qualquer. A Argélia é hoje uma das melhores, se não a melhor seleção da África. Joga um futebol solto, ofensivo, atrevido e, de lambuja, vistoso. Deu um trabalho enorme para os comandados de Dunga. Só que não tinha Ronaldinho Gaúcho, ao contrário do Brasil. Deu no que deu. Ou seja, Seleção Brasileira 2 x Argélia 0.
MURALHA TRICOLOR
À medida em que as rodadas do Campeonato Brasileiro da Série A se sucedem, e o São Paulo se distancia dos seus concorrentes na tabela de classificação, mais e mais fica evidente a eficiência da defesa tricolor, que está fazendo história na competição. Há vários jogos já que o setor defensivo são-paulino não toma um único gol. O Náutico, no domingo, bem que tentou. Mas além de não conseguir furar a muralha do São Paulo, levou, de quebra, sonora goleada, por 5 a 0, com direito a novo gol do goleiro-artilheiro, Rogério Ceni. Ontem, o Palmeiras pressionou, pressionou, mas nada. Não conseguiu superar a eficiência da zaga do favoritíssimo ao bi-campeonato nacional. Como quem não faz, toma... Levou um gol de Jorge Wagner, em jogada muito bem trabalhada com o grandalhão Aloísio. Pasmem, senhores, em 21 jogos, contra os melhores times do País, a defesa do São Paulo levou apenas sete gols! Acompanho futebol há quase 60 anos e nunca vi isso antes. Só um desastre, desses inconcebíveis, portanto, vai evitar que a taça de campeão brasileiro da temporada deixe de ir, de novo, para o Morumbi.
MARCA CENTENÁRIA
Esta coluna de hoje atinge marca histórica. É a centésima a ser divulgada no “O Escrevinhador”. Durante algum tempo, foi publicada em alguns jornais de bairro de Campinas, sem muita visibilidade, portanto. Ao trazê-la para o blog, pretendi dar-lhe maior abrangência. Ou seja, embora tratando, basicamente, dos times de Campinas, quis que ela deixasse de circular, apenas, na “minha aldeia”, e ganhasse o mundo. E parece que ganhou. Lancei-a na internet às vésperas da Copa do Mundo da Alemanha e acompanhei, com observações bastante pessoais, todos os jogos do Mundial, inclusive depois da prematura eliminação da Seleção Brasileira da competição. Embora eu seja jornalista profissional, a “Toque de Letra” não é uma coluna jornalística. Falta-lhe a imparcialidade, para que ganhe essa característica. Nunca escondi de ninguém (e nem há porque esconder) que sou torcedor apaixonado da Ponte Preta. Meus comentários, portanto, trazem o vezo do torcedor, não do cronista esportivo. Reservo-me o direito, pois, de ser parcial, não raro parcialíssimo, e sempre puxar a sardinha para a minha brasa. Ainda assim, conto com a leitura e com os comentários de integrantes de outras torcidas (que não a do meu time do coração) e espero voltar a postar uma nota, semelhante a esta, quando a coluna completar a 200ª edição, e a 300ª e a 1.000ª , e assim por diante. Aguardem-me!!!
RESPINGOS...
· Paulo César Carpeggiani foi demitido (injustamente, por sinal) do Corinthians após a goleada sofrida pelo time, em pleno Pacaembu, para o Cruzeiro, por 3 a 0. No jogo seguinte... bem, foi o que se viu ontem. Outro vexame alvinegro, que desta vez foi goleado pelo limitado Atlético Mineiro, de Emerson Leão, no Mineirão, por 5 a 2. O problema corintiano, portanto, não era o treinador. É de time mesmo!
· Outro que deu vexame, na rodada de ontem, foi o Internacional, de Abel Braga. Levou uma sapatada, de 4 a 1, do Fluminense, em pleno Beira-Rio. Como se vê, o problema do Colorado não era o Alexandre Gallo, como os torcedores apregoavam.
· Espetacular a atuação do sérvio Petkovic, com a camisa do Santos, na goleada santista, domingo, em Natal, sobre o América, por 4 a 1. Além de fazer um belo gol, o veterano armador ainda deu outros três, feitinhos, para os companheiros completarem. Esse conhece!!.
· O Atlético Paranaense está em perigosa curva descendente. Entrou na zona do rebaixamento, de onde dificilmente conseguirá fugir. O clube acaba de contratar Ney Franco, para tentar o milagre de salvá-lo da degola. Será que o ex-treinador do Flamengo é o Mandrake, para fazer tamanha mágica?
· Quem está surpreendendo todo o mundo, neste Campeonato Brasileiro, é o Vasco, do técnico Celso Roth. A equipe cruzmaltina está no encalço do Cruzeiro e quer porque quer ser pelo menos vice-campeã. Já o título... a menos que ocorra uma improvável reviravolta, tudo indica que este já tem dono: o São Paulo, do incrível Rogério Ceni.
· E fim de papo por hoje. Entre em contato, para críticas e sugestões.
pedrojbk@hotmail.com
REFLEXÃO DO DIA
Nada há que se compare, em termos de genuíno prazer, à sensação de havermos cumprido o que nos cabia fazer. Ou seja, de termos feito nosso dever com diligência, afinco, dedicação e competência. Aliás, há outro, sim, e único. É a certeza de havermos realizado um bem, qualquer que seja, a algum semelhante – conhecido ou estranho, parente ou não –, que tenha qualquer necessidade (material ou espiritual): uma dádiva, um auxílio, uma palavra de apreço, uma orientação ou um exemplo. Cumprirmos nosso dever e fazermos o bem são fontes inesgotáveis de alegria. Quem duvidar, basta experimentar. São satisfações “democráticas”, ao alcance de todos, e não nos exigem nada de excepcional. Em contrapartida, nos dão compensação inigualável. Eduardo Girão constatou: “Há duas fontes perenes de alegria pura: o bem realizado e o dever cumprido”. Pena que tão poucos enxerguem o óbvio e prefiram apostar na cobiça, na inveja, no rancor e no egoísmo.
Um trem para as estrelas
Pedro J. Bondaczuk
O trem tem grande importância em minha vida. Não tanto como meio de transporte de média e longa distância, pois para esse fim não troco o avião por nenhum outro. Mas as velhas locomotivas a carvão, soltando fagulhas e fumaça pelo caminho, com seu apito lamuriento; os vagões de madeira de segunda classe, abarrotados de pessoas cansadas e sonolentas e de malas, sacolas e embrulhos atravancando os corredores e as bucólicas estações interioranas estão marcados, de forma indelével, na minha memória.
Foi em uma composição desse tipo que deixei para sempre minha terra natal, a distante Horizontina, no Rio Grande do Sul, há 57 anos, quando meus pais vieram para São Paulo para tentar melhor sorte. Foi, também, em trens de subúrbio da antiga Santos a Jundiaí, mais modernos e suntuosos, de aço, com bancos estofados e movidos a eletricidade, que pude conhecer pessoas humildes, observar seus comportamentos e feições, captar pedaços de suas conversas, fixar tipos e criar, dessa forma, os personagens dos meus contos urbanos, que têm vida por terem sido transplantados diretamente da realidade para a ficção.
Inúmeras vezes, em seus trilhos de aço, fiz verdadeiras "viagens para as estrelas", parodiando um filme nacional de relativo sucesso que tem esse nome. Muitos dos meus poemas foram escritos entre sacolejos e balanços desses veículos, com o corpo no seu interior; com os sentidos ligados nas imagens, cheiros e sons; mas com a cabeça perdida nas nuvens, no espaço, no éter infinito, entre cometas velozes, planetas, estrelas, galáxias e buracos negros.
Lembro-me que, quando adolescente, em meus fins de semana, ou em ocasiões de festa, como o Natal e o Ano Novo, costumava sair de casa logo cedo, rumo à estação de São Caetano, onde residia. Comprava uma passagem para o ponto final do subúrbio, ora para Paranapiacaba da Serra, ora para Francisco Morato. Chegado ao destino, descia, dava uma volta na praça, parava em algum bar para um café ou sanduíche, e repetia a dose, em sentido inverso.
Nunca disse à família onde ia nessas ocasiões, deixando pairar no ar uma incômoda suspeita da sua parte. Meus pais não entenderiam... Houve dias de fazer o trajeto por dez vezes, ficando por doze horas no interior de vagões. Claro, com os olhos bem abertos e os ouvidos atentos a todas as conversas, murmúrios, risadas, choros de criança etc. "Diversão tola", dirão, certamente, alguns. Pode ser. Mas era a forma que eu conhecia de observar pessoas sem que estas reclamassem ou sequer se dessem conta que eram observadas. Eram outros tempos, todavia, mais amenos e sem os riscos de assaltos e acidentes de hoje, sem a violência que nos atormenta e ameaça.
Os trens são, sobretudo, poéticos. Vários dos monstros sagrados da poesia mundial escreveram sobre e dentro deles. E pensar que é um veículo historicamente tão novo, tão recente, mais "jovem" do que o Brasil! A primeira locomotiva foi inventada na Inglaterra em 1825, por George Stephenson. Completa, portanto, neste 2006, 181 anos.
Em nosso País é mais recente ainda. Foi em 1854 que o visionário – um dos brasileiros mais extraordinários e pouco lembrados que já existiram – Irineu Evangelista de Sousa, o Barão de Mauá, inaugurou a primeira linha, ligando o Rio de Janeiro a Petrópolis, estrada-de-ferro posteriormente incorporada pela Leopoldina Railway.
Esse ousado empresário, que em seu tempo era um dos três homens mais ricos do mundo, participou de outros empreendimentos ferroviários, que embora não caibam nesta crônica, sou tentado a citar. Um foi a construção, em 1855, da Recife and São Francisco Railway Company. No ano seguinte, financiou a Santos a São Paulo, transferida depois para a São Paulo Railway. Não se satisfez.
Em 1858, bancou a Estrada de Ferro Central do Brasil, cortando o Vale do Paraíba, ligando a então capital do País à Paulicéia. Em 1860, contribuiu para que nascesse a Bahia and São Francisco Railway Company. Grande brasileiro esse Barão de Mauá! Foi daqueles raros que fazem e não se limitam a criticar políticos, governos e o próprio povo a que pertence.
Dói no coração, a alguém tão ligado aos trens, ver a situação de petição de miséria de virtualmente todas as ferrovias do País, mesmo após a sua privatização, colocada entre nós como verdadeira panacéia para todos os males. Nesse aspecto, também estamos na contramão da história.
Afinal, são os velozes, modernos, seguros e confortáveis TGVs que circulam no fantástico (e falido) Eurotúnel, que faz a ligação, por baixo do Canal da Mancha, entre a França e a Grã-Bretanha. Dá uma inveja enorme quando vejo os bólidos, que chegam a trafegar a até 400 quilômetros horários sobre trilhos, no Japão e em muitas partes da Europa, como a Alemanha e a França.
Em todos os países de Primeiro Mundo (e nos mais sensatos do Terceiro), esse meio de transporte é cuidado, preservado, modernizado e ampliado. Enquanto isso, nossos trens e estações vão se transformando em nada mais do que sucata. São cada vez mais inseguros, raros e decadentes. Menos, evidentemente, o "expresso para as estrelas" das minhas lembranças de menino...
Foi em uma composição desse tipo que deixei para sempre minha terra natal, a distante Horizontina, no Rio Grande do Sul, há 57 anos, quando meus pais vieram para São Paulo para tentar melhor sorte. Foi, também, em trens de subúrbio da antiga Santos a Jundiaí, mais modernos e suntuosos, de aço, com bancos estofados e movidos a eletricidade, que pude conhecer pessoas humildes, observar seus comportamentos e feições, captar pedaços de suas conversas, fixar tipos e criar, dessa forma, os personagens dos meus contos urbanos, que têm vida por terem sido transplantados diretamente da realidade para a ficção.
Inúmeras vezes, em seus trilhos de aço, fiz verdadeiras "viagens para as estrelas", parodiando um filme nacional de relativo sucesso que tem esse nome. Muitos dos meus poemas foram escritos entre sacolejos e balanços desses veículos, com o corpo no seu interior; com os sentidos ligados nas imagens, cheiros e sons; mas com a cabeça perdida nas nuvens, no espaço, no éter infinito, entre cometas velozes, planetas, estrelas, galáxias e buracos negros.
Lembro-me que, quando adolescente, em meus fins de semana, ou em ocasiões de festa, como o Natal e o Ano Novo, costumava sair de casa logo cedo, rumo à estação de São Caetano, onde residia. Comprava uma passagem para o ponto final do subúrbio, ora para Paranapiacaba da Serra, ora para Francisco Morato. Chegado ao destino, descia, dava uma volta na praça, parava em algum bar para um café ou sanduíche, e repetia a dose, em sentido inverso.
Nunca disse à família onde ia nessas ocasiões, deixando pairar no ar uma incômoda suspeita da sua parte. Meus pais não entenderiam... Houve dias de fazer o trajeto por dez vezes, ficando por doze horas no interior de vagões. Claro, com os olhos bem abertos e os ouvidos atentos a todas as conversas, murmúrios, risadas, choros de criança etc. "Diversão tola", dirão, certamente, alguns. Pode ser. Mas era a forma que eu conhecia de observar pessoas sem que estas reclamassem ou sequer se dessem conta que eram observadas. Eram outros tempos, todavia, mais amenos e sem os riscos de assaltos e acidentes de hoje, sem a violência que nos atormenta e ameaça.
Os trens são, sobretudo, poéticos. Vários dos monstros sagrados da poesia mundial escreveram sobre e dentro deles. E pensar que é um veículo historicamente tão novo, tão recente, mais "jovem" do que o Brasil! A primeira locomotiva foi inventada na Inglaterra em 1825, por George Stephenson. Completa, portanto, neste 2006, 181 anos.
Em nosso País é mais recente ainda. Foi em 1854 que o visionário – um dos brasileiros mais extraordinários e pouco lembrados que já existiram – Irineu Evangelista de Sousa, o Barão de Mauá, inaugurou a primeira linha, ligando o Rio de Janeiro a Petrópolis, estrada-de-ferro posteriormente incorporada pela Leopoldina Railway.
Esse ousado empresário, que em seu tempo era um dos três homens mais ricos do mundo, participou de outros empreendimentos ferroviários, que embora não caibam nesta crônica, sou tentado a citar. Um foi a construção, em 1855, da Recife and São Francisco Railway Company. No ano seguinte, financiou a Santos a São Paulo, transferida depois para a São Paulo Railway. Não se satisfez.
Em 1858, bancou a Estrada de Ferro Central do Brasil, cortando o Vale do Paraíba, ligando a então capital do País à Paulicéia. Em 1860, contribuiu para que nascesse a Bahia and São Francisco Railway Company. Grande brasileiro esse Barão de Mauá! Foi daqueles raros que fazem e não se limitam a criticar políticos, governos e o próprio povo a que pertence.
Dói no coração, a alguém tão ligado aos trens, ver a situação de petição de miséria de virtualmente todas as ferrovias do País, mesmo após a sua privatização, colocada entre nós como verdadeira panacéia para todos os males. Nesse aspecto, também estamos na contramão da história.
Afinal, são os velozes, modernos, seguros e confortáveis TGVs que circulam no fantástico (e falido) Eurotúnel, que faz a ligação, por baixo do Canal da Mancha, entre a França e a Grã-Bretanha. Dá uma inveja enorme quando vejo os bólidos, que chegam a trafegar a até 400 quilômetros horários sobre trilhos, no Japão e em muitas partes da Europa, como a Alemanha e a França.
Em todos os países de Primeiro Mundo (e nos mais sensatos do Terceiro), esse meio de transporte é cuidado, preservado, modernizado e ampliado. Enquanto isso, nossos trens e estações vão se transformando em nada mais do que sucata. São cada vez mais inseguros, raros e decadentes. Menos, evidentemente, o "expresso para as estrelas" das minhas lembranças de menino...
Wednesday, August 29, 2007
REFLEXÃO DO DIA
De nada valem palavras, por mais sábias, peritas, sensatas e lógicas que sejam, para influenciar alguém para o cultivo de valores e a prática de virtudes, se estas não vierem acompanhadas de ações. Um único exemplo vale muito mais do que milhões de textos, de conselhos, de prédicas, de sermões e de orientações, por mais profundos e verdadeiros que pareçam e que, principalmente, sejam. Palavras, afinal, perdem-se ao vento, como folhas secas no outono. O Prêmio Nobel da Paz de 1952, Albert Schweitzer, afirmou: “Dar o exemplo não é a melhor maneira de influenciar os outros: é a única”. A atitude do “faça o que falo e não o que faço”, bastante comum mundo afora, não tem qualquer eficácia prática. Não passa de perda de tempo e de esforços, e não trará benefícios a quem quer que seja. Apenas agindo, teremos condições de fazer nossa verdadeira obrigação. Ou seja, a de contribuir para tornar o mundo um pouco melhor.
Herdeira do Simbolismo
Pedro J. Bondaczuk
“Minha família anda longe,/com trajos de circunstância:/uns convertem-se em flores,/outros em pedra, água, líquen;/alguns, de tanta distância,/nem têm vestígios que indiquem/uma certa orientação...”. Estes versos, intimistas, sonoros, vibrantes (e sobretudo originais) são de Cecília Meirelles, cujo centenário de nascimento foi comemorado (discretamente, pois merecia muito mais pelo que representa para a Literatura Brasileira) em 2002.
Nascida no Estado do Rio de Janeiro, foi professora por vocação, dedicando-se, de corpo e alma, ao magistério, que exerceu com entusiasmo e com aplicação por longos anos, e poetisa por destino e missão, autora de uma volumosa, sólida e preciosa obra poética, de 23 livros de poesia (uma façanha no Brasil) e que só não foi mais extensa dada a sua morte prematura, aos 63 anos de idade, em 1964.
Aliás, tenho por essa escritora um carinho todo especial, marcado por uma circunstância bastante particular em minha vida. Meu primeiro trabalho jornalístico assinado, há 42 anos, em um jornal diário de Santo André, no Grande ABC, foi exatamente o seu necrológio, publicado em outubro de 1964.
Claro que gostaria de ter escrito, nessa minha estréia, outro tipo de texto a seu respeito, que não este, dada a minha apreciação (diria veneração) por seu estilo elegante e inovador e sua temática mística e profunda. Cecília abordou os temas que (por sua influência, não canso de afirmar e de reiterar) são os que sempre procurei explorar em minha já longa e acidentada carreira literária, marcada pela obscuridade (já que sempre fui visto como jornalista e não como escritor): a fugacidade do tempo, a precariedade das coisas, os mistérios e delírios do amor e as especulações sobre a eternidade, entre outros.
Preferia, portanto, na ocasião, ter podido abordar assuntos como o lançamento de um novo livro seu, que viria se somar à sua então já vasta e preciosa produção literária, por exemplo. Ou a conquista de mais um importante prêmio, dos tantos que Cecília conquistou. Talvez o Nobel, quem sabe, a exemplo de uma outra mestra, como ela, com destino, temática e forma de escrever que guardam mais semelhanças do que diferenças, no caso a chilena Lucila Godoy Alcayaga, conhecida mundialmente por seu pseudônimo, Gabriela Mistral, agraciada com essa tão cobiçada láurea em 1945.
Poderia ser, talvez, a cobertura de alguma homenagem prestada por seus inúmeros discípulos, em reconhecimento ao seu trabalho, o que não seria de se estranhar, dada sua exemplar dedicação ao magistério. Queria ter podido, enfim, abordar qualquer outra coisa, que não fosse a sua morte. O “destino” (ou, para ser mais coerente com o que acredito, o “acaso”), todavia, não quis que fosse assim. Coube-me a ingrata tarefa de estrear na grande imprensa com um texto pungente e comovido, relatando, exatamente, o seu “encantamento” (pois acredito, como Guimarães Rosa, que “o poeta nunca morre: fica encantado”).
Fui designado para escrever seu necrológio, conforme o editor-chefe do jornal me explicou, pela veneração que tinha por Cecília Meirelles. Ninguém, na redação, conhecia mais a seu respeito e sobre a sua obra, do que eu. E não por razões profissionais, mas puramente pelo prazer estético que a leitura dos seus versos me proporcionava (e, claro, ainda me proporciona). Sabia de cor dezenas e dezenas de seus poemas, que até hoje recito automaticamente, sem titubear, a despeito dos cada vez mais freqüentes lapsos de memória, frutos do meu envelhecimento. As circunstâncias, portanto, tornaram-nos “íntimos”, mesmo sem jamais termos nos encontrado uma única vez e, por conseqüência, nunca termos nos conhecido pessoalmente. Essa, por sinal, é uma das grandes frustrações da minha vida.
A obra de Cecília Meirelles caracteriza-se pela coerência, pela linearidade e pela uniformidade. Três constantes podem ser observadas em todas as suas poesias: o oceano, o espaço e a solidão. Seus versos (salvo raras exceções), são curtos, leves, com um ritmo suave e musical, onde as imagens, com uma riqueza luxuriante, tornam-nos extremamente acessíveis e claros, conduzindo o leitor a uma visualização imediata daquilo que a autora pretendeu transmitir.
Por causa dessa concisão, ela é considerada como a grande herdeira do Simbolismo dentro do movimento Modernista. Mais do que isso, é elo de ligação entre essas duas vertentes literárias, aparentemente antagônicas, uma ponte natural de uma escola para a outra. Apesar disso, seu primeiro livro, “Espectros”, publicado quando tinha somente 18 anos de idade (em 1917), é nitidamente de influência parnasiana.
Cinco anos depois, a partir de 1922, Cecília passou a integrar a chamada Corrente Espiritualista da poesia moderna. Ou seja, aderiu, e se tornou uma das principais expoentes, à ala católica do movimento modernista, que tinha nas revistas “Árvore Nova”, “Terra do Sol” e “Festa” seus veículos de divulgação por excelência.
A melhor definição para a passagem dessa fantástica poeta entre nós, porém, é ela própria que dá, nos versos finais do poema “Memória”, com que abrimos estas (saudosas) considerações: “Vejo as asas, sinto os passos/de meus anjos e palhaços,/numa ambígua trajetória/de que sou o espelho e a história./Murmuro para mim mesma:/”É tudo imaginação!”/Mas sei que tudo é memória...”
“Minha família anda longe,/com trajos de circunstância:/uns convertem-se em flores,/outros em pedra, água, líquen;/alguns, de tanta distância,/nem têm vestígios que indiquem/uma certa orientação...”. Estes versos, intimistas, sonoros, vibrantes (e sobretudo originais) são de Cecília Meirelles, cujo centenário de nascimento foi comemorado (discretamente, pois merecia muito mais pelo que representa para a Literatura Brasileira) em 2002.
Nascida no Estado do Rio de Janeiro, foi professora por vocação, dedicando-se, de corpo e alma, ao magistério, que exerceu com entusiasmo e com aplicação por longos anos, e poetisa por destino e missão, autora de uma volumosa, sólida e preciosa obra poética, de 23 livros de poesia (uma façanha no Brasil) e que só não foi mais extensa dada a sua morte prematura, aos 63 anos de idade, em 1964.
Aliás, tenho por essa escritora um carinho todo especial, marcado por uma circunstância bastante particular em minha vida. Meu primeiro trabalho jornalístico assinado, há 42 anos, em um jornal diário de Santo André, no Grande ABC, foi exatamente o seu necrológio, publicado em outubro de 1964.
Claro que gostaria de ter escrito, nessa minha estréia, outro tipo de texto a seu respeito, que não este, dada a minha apreciação (diria veneração) por seu estilo elegante e inovador e sua temática mística e profunda. Cecília abordou os temas que (por sua influência, não canso de afirmar e de reiterar) são os que sempre procurei explorar em minha já longa e acidentada carreira literária, marcada pela obscuridade (já que sempre fui visto como jornalista e não como escritor): a fugacidade do tempo, a precariedade das coisas, os mistérios e delírios do amor e as especulações sobre a eternidade, entre outros.
Preferia, portanto, na ocasião, ter podido abordar assuntos como o lançamento de um novo livro seu, que viria se somar à sua então já vasta e preciosa produção literária, por exemplo. Ou a conquista de mais um importante prêmio, dos tantos que Cecília conquistou. Talvez o Nobel, quem sabe, a exemplo de uma outra mestra, como ela, com destino, temática e forma de escrever que guardam mais semelhanças do que diferenças, no caso a chilena Lucila Godoy Alcayaga, conhecida mundialmente por seu pseudônimo, Gabriela Mistral, agraciada com essa tão cobiçada láurea em 1945.
Poderia ser, talvez, a cobertura de alguma homenagem prestada por seus inúmeros discípulos, em reconhecimento ao seu trabalho, o que não seria de se estranhar, dada sua exemplar dedicação ao magistério. Queria ter podido, enfim, abordar qualquer outra coisa, que não fosse a sua morte. O “destino” (ou, para ser mais coerente com o que acredito, o “acaso”), todavia, não quis que fosse assim. Coube-me a ingrata tarefa de estrear na grande imprensa com um texto pungente e comovido, relatando, exatamente, o seu “encantamento” (pois acredito, como Guimarães Rosa, que “o poeta nunca morre: fica encantado”).
Fui designado para escrever seu necrológio, conforme o editor-chefe do jornal me explicou, pela veneração que tinha por Cecília Meirelles. Ninguém, na redação, conhecia mais a seu respeito e sobre a sua obra, do que eu. E não por razões profissionais, mas puramente pelo prazer estético que a leitura dos seus versos me proporcionava (e, claro, ainda me proporciona). Sabia de cor dezenas e dezenas de seus poemas, que até hoje recito automaticamente, sem titubear, a despeito dos cada vez mais freqüentes lapsos de memória, frutos do meu envelhecimento. As circunstâncias, portanto, tornaram-nos “íntimos”, mesmo sem jamais termos nos encontrado uma única vez e, por conseqüência, nunca termos nos conhecido pessoalmente. Essa, por sinal, é uma das grandes frustrações da minha vida.
A obra de Cecília Meirelles caracteriza-se pela coerência, pela linearidade e pela uniformidade. Três constantes podem ser observadas em todas as suas poesias: o oceano, o espaço e a solidão. Seus versos (salvo raras exceções), são curtos, leves, com um ritmo suave e musical, onde as imagens, com uma riqueza luxuriante, tornam-nos extremamente acessíveis e claros, conduzindo o leitor a uma visualização imediata daquilo que a autora pretendeu transmitir.
Por causa dessa concisão, ela é considerada como a grande herdeira do Simbolismo dentro do movimento Modernista. Mais do que isso, é elo de ligação entre essas duas vertentes literárias, aparentemente antagônicas, uma ponte natural de uma escola para a outra. Apesar disso, seu primeiro livro, “Espectros”, publicado quando tinha somente 18 anos de idade (em 1917), é nitidamente de influência parnasiana.
Cinco anos depois, a partir de 1922, Cecília passou a integrar a chamada Corrente Espiritualista da poesia moderna. Ou seja, aderiu, e se tornou uma das principais expoentes, à ala católica do movimento modernista, que tinha nas revistas “Árvore Nova”, “Terra do Sol” e “Festa” seus veículos de divulgação por excelência.
A melhor definição para a passagem dessa fantástica poeta entre nós, porém, é ela própria que dá, nos versos finais do poema “Memória”, com que abrimos estas (saudosas) considerações: “Vejo as asas, sinto os passos/de meus anjos e palhaços,/numa ambígua trajetória/de que sou o espelho e a história./Murmuro para mim mesma:/”É tudo imaginação!”/Mas sei que tudo é memória...”
Tuesday, August 28, 2007
REFLEXÃO DO DIA
Muitas vezes, quando encontramos alguém necessitado, a quem poderíamos (e deveríamos) ajudar, passamos ao largo, e dizemos, a nós mesmos, para aplacar nossas já entorpecidas consciências: “não tenho nada com isso. Que o governo ou as instituições filantrópicas cuidem dele”. As coisas, porém, não são tão simples assim. Todos temos obrigações com todos. Solidariedade não é só questão de bondade, mas de bom-senso e de prudência até. Sempre que ajudamos alguém, sem que tenhamos sido solicitados a agir assim, contribuímos para a implantação e disseminação de uma mentalidade positiva que, provavelmente, um dia, irá nos beneficiar, caso venhamos a necessitar. G. K. Chesterton constatou: “Estamos todos num mesmo barco, em mar tempestuoso, e devemos uns aos outros uma terrível lealdade”. E devemos mesmo, quer admitamos, quer não. Por falta dessa consciência é que o mundo é repleto de tantas injustiças, de misérias, violência e dor.
Adaptando-se às mudanças
Pedro J. Bondaczuk
A palavra "mudança" freqüenta o discurso de todos os políticos e economistas e os textos de todos os filósofos (com maior ou menor ênfase), principalmente deste início de milênio, como se "mudar" alguém ou alguma coisa fosse a maior das novidades. Evidentemente, não é. Tudo muda a cada segundo, desde o princípio dos tempos, que ninguém sabe e jamais saberá quando foi.
Não apenas as pessoas e seus comportamentos se alteram (para melhor ou pior) a cada instante, como também os objetos inanimados sofrem essas alterações. O universo é dinâmico. A vida também o é. Ao terminar esta frase, por exemplo, nada mais será exatamente igual ao que era quando ela foi iniciada, embora aparentemente nada de diferente haja ocorrido.
Nesse exato momento, pessoas terão nascido em alguma parte do mundo, outras terão morrido, amores foram declarados, relacionamentos foram desfeitos, idéias nasceram, outras foram esquecidas e assim por diante. A Terra estará alterada: por fenômenos naturais (ventos, vulcões, terremotos etc.) ou pela ação do homem.
Estará, no mínimo, alguns microgramas mais pesada, por exemplo, em virtude do acúmulo de poeira extraplanetária, proveniente de alguns dos milhares de meteoros que atingem o Planeta diariamente e que se decompõem ao penetrar na atmosfera, chegando ao solo em forma de invisíveis partículas de pó. Que, no entanto, são concretas, mesmo que não as vejamos. São matéria. E ao longo dos anos, dos séculos e dos milênios tornam-se não apenas visíveis, mas ponderáveis. Cidades e mais cidades, que existiram num passado não tão remoto, estão soterradas a dois, a cinco ou até a mais metros, à espera de arqueólogos que as localizem e as desenterrem. Esse acúmulo ocorre também com a energia proveniente a cada instante do espaço.
O poeta inglês Percy Bysshe Shelley compôs magistrais versos, que retratam, em palavras, este dinamismo universal, este moto contínuo (diria perpétuo) de mudanças, que se processam quer em nosso organismo, quer no planetazinho que habitamos, quer na imensidão universal, que mais se amplia à medida que os instrumentos de captação de imagens siderais de que o homem lança mão aumentam a sua capacidade de alcance. Diz o escritor: "Mundos após mundos estão sempre rolando/desde sua criação até seu fim,/como as borbulhas num rio,/brilhando, rompendo-se, levadas embora".
As distâncias cósmicas são tão grandes, para nossos restritíssimos sentidos, que mesmo a luz viajando a 300 mil quilômetros por segundo, o brilho de estrelas surgidas quando da formação da Terra (ou alguns bilhões de anos antes ou depois) chega até nós na presente geração. A maioria das que vemos brilhar, atualmente, no céu, já não existe há milhões de milênios. Uma infinidade delas está nascendo neste momento, em alguma parte do universo, e jamais tomaremos conhecimento desse nascimento. Nossa vida é curta demais. É irrisória, em termos de tempo, embora a alguns pareça demasiado longa e penosa. E tudo muda, embora os desavisados jurem que tudo está sempre na mesma.
O filósofo grego Heráclito já havia constatado essa mutabilidade vertiginosa. "Não se pode pisar duas vezes nos mesmos rios, pois as águas novas estão sempre fluindo sobre ti", já dizia, há alguns séculos antes do nascimento de Cristo. E quanto o mundo mudou, desde que este gênio passou sobre a Terra! Civilizações nasceram e morreram, guerras as mais diversas foram travadas, seres iluminados passaram pelo Planeta proporcionando importantes saltos evolutivos, feras sanguinárias (em forma de gente) abreviaram a vida de centenas de milhares de indivíduos, até que igualmente "mudassem". Voltassem ao pó, de onde todos procedemos e para onde todos voltaremos, e a qualquer instante.
Não temos, pois, condições de deter nenhuma mudança. O processo foge de nosso controle. O que podemos fazer é apenas nos adaptarmos a elas. O homem, se quiser legar um mundo melhor às gerações futuras, deve interferir positivamente no meio ambiente, preservando o mais que possa os delicados e frágeis ecossistemas. Precisa respeitar as leis da natureza, que regem a sua própria existência. Hoje a Terra corre o risco do chamado "efeito-estufa", perigoso aquecimento planetário, capaz de provocar uma catástrofe de dimensões imprevisíveis para todos os seres vivos. O Planeta, se isso acontecer, tem condições de se regenerar. A vida? Jamais!
O cientista Isaac Asimov, no entanto, publicou, pouco antes da sua morte, um livro que em português recebeu o título de "Escolha a Catástrofe", ridicularizando o catastrofismo então vigente. Demonstrou, mediante explicações lógicas, que a natureza possui mecanismos para se livrar daqueles que alteram o seu curso. Ou seja, "se defende" dos depredadores.
No caso do efeito-estufa, lembrou que, desde que não seja abrupto, pode ser até benéfico para o Planeta. Explicou que a Terra gira num espaço gélido e escuro e que perde calor neste processo de deslocamento. Talvez, se não houvesse um aquecimento artificial, provocado pela enorme quantidade de gás carbônico lançado diariamente na atmosfera pelo escapamento dos automóveis – fenômeno típico deste século – estaríamos entrando, ou prestes a entrar, em nova era glacial. E essa alteração climática poderia criar condições nefastas, ou até mesmo impossíveis à existência da vida.
As pessoas não-dogmáticas, com sede e fome de conhecimento, que se mantêm permanentemente ligadas ao mundo, dispostas a aprender tudo o que possam, são as que têm as maiores chances de mudar, sem que tais mudanças impliquem em traumas. Claro que a incerteza dita o destino humano. Agora estamos vivos. No segundo seguinte, poderemos não estar mais. E a vida – embora espiritualistas garantam que não, baseados apenas nas próprias convicções – não tem reprise. Se tivesse, a humanidade não estaria privada dos gênios e santos que com suas ações e exemplos fizeram o homem evoluir e que tanta falta fazem hoje, como Sidarta Gauthama, Maomé, São Francisco de Assis, Mahatma Gandhi, Madre Teresa de Calcutá e tantos e tantos outros, que assumiram missões de grandeza, santidade e sabedoria e as cumpriram sem vacilar.
A palavra "mudança" freqüenta o discurso de todos os políticos e economistas e os textos de todos os filósofos (com maior ou menor ênfase), principalmente deste início de milênio, como se "mudar" alguém ou alguma coisa fosse a maior das novidades. Evidentemente, não é. Tudo muda a cada segundo, desde o princípio dos tempos, que ninguém sabe e jamais saberá quando foi.
Não apenas as pessoas e seus comportamentos se alteram (para melhor ou pior) a cada instante, como também os objetos inanimados sofrem essas alterações. O universo é dinâmico. A vida também o é. Ao terminar esta frase, por exemplo, nada mais será exatamente igual ao que era quando ela foi iniciada, embora aparentemente nada de diferente haja ocorrido.
Nesse exato momento, pessoas terão nascido em alguma parte do mundo, outras terão morrido, amores foram declarados, relacionamentos foram desfeitos, idéias nasceram, outras foram esquecidas e assim por diante. A Terra estará alterada: por fenômenos naturais (ventos, vulcões, terremotos etc.) ou pela ação do homem.
Estará, no mínimo, alguns microgramas mais pesada, por exemplo, em virtude do acúmulo de poeira extraplanetária, proveniente de alguns dos milhares de meteoros que atingem o Planeta diariamente e que se decompõem ao penetrar na atmosfera, chegando ao solo em forma de invisíveis partículas de pó. Que, no entanto, são concretas, mesmo que não as vejamos. São matéria. E ao longo dos anos, dos séculos e dos milênios tornam-se não apenas visíveis, mas ponderáveis. Cidades e mais cidades, que existiram num passado não tão remoto, estão soterradas a dois, a cinco ou até a mais metros, à espera de arqueólogos que as localizem e as desenterrem. Esse acúmulo ocorre também com a energia proveniente a cada instante do espaço.
O poeta inglês Percy Bysshe Shelley compôs magistrais versos, que retratam, em palavras, este dinamismo universal, este moto contínuo (diria perpétuo) de mudanças, que se processam quer em nosso organismo, quer no planetazinho que habitamos, quer na imensidão universal, que mais se amplia à medida que os instrumentos de captação de imagens siderais de que o homem lança mão aumentam a sua capacidade de alcance. Diz o escritor: "Mundos após mundos estão sempre rolando/desde sua criação até seu fim,/como as borbulhas num rio,/brilhando, rompendo-se, levadas embora".
As distâncias cósmicas são tão grandes, para nossos restritíssimos sentidos, que mesmo a luz viajando a 300 mil quilômetros por segundo, o brilho de estrelas surgidas quando da formação da Terra (ou alguns bilhões de anos antes ou depois) chega até nós na presente geração. A maioria das que vemos brilhar, atualmente, no céu, já não existe há milhões de milênios. Uma infinidade delas está nascendo neste momento, em alguma parte do universo, e jamais tomaremos conhecimento desse nascimento. Nossa vida é curta demais. É irrisória, em termos de tempo, embora a alguns pareça demasiado longa e penosa. E tudo muda, embora os desavisados jurem que tudo está sempre na mesma.
O filósofo grego Heráclito já havia constatado essa mutabilidade vertiginosa. "Não se pode pisar duas vezes nos mesmos rios, pois as águas novas estão sempre fluindo sobre ti", já dizia, há alguns séculos antes do nascimento de Cristo. E quanto o mundo mudou, desde que este gênio passou sobre a Terra! Civilizações nasceram e morreram, guerras as mais diversas foram travadas, seres iluminados passaram pelo Planeta proporcionando importantes saltos evolutivos, feras sanguinárias (em forma de gente) abreviaram a vida de centenas de milhares de indivíduos, até que igualmente "mudassem". Voltassem ao pó, de onde todos procedemos e para onde todos voltaremos, e a qualquer instante.
Não temos, pois, condições de deter nenhuma mudança. O processo foge de nosso controle. O que podemos fazer é apenas nos adaptarmos a elas. O homem, se quiser legar um mundo melhor às gerações futuras, deve interferir positivamente no meio ambiente, preservando o mais que possa os delicados e frágeis ecossistemas. Precisa respeitar as leis da natureza, que regem a sua própria existência. Hoje a Terra corre o risco do chamado "efeito-estufa", perigoso aquecimento planetário, capaz de provocar uma catástrofe de dimensões imprevisíveis para todos os seres vivos. O Planeta, se isso acontecer, tem condições de se regenerar. A vida? Jamais!
O cientista Isaac Asimov, no entanto, publicou, pouco antes da sua morte, um livro que em português recebeu o título de "Escolha a Catástrofe", ridicularizando o catastrofismo então vigente. Demonstrou, mediante explicações lógicas, que a natureza possui mecanismos para se livrar daqueles que alteram o seu curso. Ou seja, "se defende" dos depredadores.
No caso do efeito-estufa, lembrou que, desde que não seja abrupto, pode ser até benéfico para o Planeta. Explicou que a Terra gira num espaço gélido e escuro e que perde calor neste processo de deslocamento. Talvez, se não houvesse um aquecimento artificial, provocado pela enorme quantidade de gás carbônico lançado diariamente na atmosfera pelo escapamento dos automóveis – fenômeno típico deste século – estaríamos entrando, ou prestes a entrar, em nova era glacial. E essa alteração climática poderia criar condições nefastas, ou até mesmo impossíveis à existência da vida.
As pessoas não-dogmáticas, com sede e fome de conhecimento, que se mantêm permanentemente ligadas ao mundo, dispostas a aprender tudo o que possam, são as que têm as maiores chances de mudar, sem que tais mudanças impliquem em traumas. Claro que a incerteza dita o destino humano. Agora estamos vivos. No segundo seguinte, poderemos não estar mais. E a vida – embora espiritualistas garantam que não, baseados apenas nas próprias convicções – não tem reprise. Se tivesse, a humanidade não estaria privada dos gênios e santos que com suas ações e exemplos fizeram o homem evoluir e que tanta falta fazem hoje, como Sidarta Gauthama, Maomé, São Francisco de Assis, Mahatma Gandhi, Madre Teresa de Calcutá e tantos e tantos outros, que assumiram missões de grandeza, santidade e sabedoria e as cumpriram sem vacilar.
Monday, August 27, 2007
REFLEXÃO DO DIA
Apesar da nossa fragilidade física (o animal humano perde, e muito, em força para o leão, o elefante ou o tigre; em audição, para o morcego e em visão, para o lince e a águia, por exemplo) nossos horizontes, através do pensamento e da imaginação, são ilimitados. Podemos, em fração infinitésima de segundos, nos transportar, instantaneamente, pela força do nosso cérebro, a algum planeta distante, de uma estrela situada nos confins do Universo e cuja luz chegará à Terra somente bilhões de anos depois que esta não mais existir. Basta pensar nisso, que o “milagre” ocorrerá de imediato. Quão maravilhoso, e divino, é o poder do nosso cérebro! Por isso, não há disparate na afirmação do antropólogo Gregory Bateson, quando diz: “Os limites do nosso corpo não são os limites da nossa mente”. Não mesmo! Os limites mentais situam-se no infinito, embora fisicamente nos limitemos a um espaço ridiculamente pequeno.
Obra que fica
Pedro J. Bondaczuk
O homem, mesmo que não se dê conta, persegue, no decorrer da sua vida útil, (aquele período que sucede à adolescência em que já se sente preparado para mostrar a que veio ao mundo), a imortalidade. Não a física, obviamente, porquanto esta, todos sabem de sobejo, é absolutamente impossível. Busca-se, sim, imortalizar a memória, a lembrança, o nome. Alguns, limitam-se a sonhar com a notoriedade, esquecidos de que ela tem um preço, em geral altíssimo. Outros, dedicam a vida na perseguição desse objetivo. Isso é válido? Não sei!
Para conseguir esse status de “imortais”, as pessoas precisam, todavia, fazer algo de excepcional: erigir uma obra, praticar um ato inusitado de heroísmo, ter amor ilimitado por alguém, salvar uma vida etc. Para ser notável é preciso, antes de tudo, ser notado. Do contrário, de nada valerá sua notoriedade. Mas essa não pode e não deve ser obtida, como ocorre em alguns casos, pelo fato da pessoa ser alguma aberração, ou por assumir uma postura patética, ou pelo insólito da sua aparência, ou pelo ridículo da sua figura. Nestes casos, ela consegue, de fato, despertar a atenção alheia, mas por alguns irrisórios instantes. Acaba esquecida e ignorada pouco tempo depois.
Todos temos em nós um artista, um cientista, um atleta ou um filósofo (não importa) embora muitas vezes não nos pareça que seja assim. Ocorre que alguns sufocam esses pendores naturais, voltados que estão para coisas aparentemente mais importantes, mais "sérias" e que, na verdade, quando submetidas a uma análise lógica mínima, se revelam supérfluas, triviais, fantasiosas e absolutamente dispensáveis. Só a arte dá dimensões divinas ao ser humano. É por seu intermédio que ele verdadeiramente se revela em toda a sua grandeza e transcendência.
Criar, seja o que for, também é descobrir. É, sobretudo, ousar. É ter coragem para aceitar o risco do ridículo. É desafiar o sistema vigente com alguma novidade. É enriquecer o patrimônio da própria humanidade. Mas é colher os frutos, desse supremo ato, com humildade.
Ressalte-se que o sucesso (e cada um tem sua visão particular do que ele seja) embora dependa de circunstâncias, tem, também, elementos de autodisciplina, de determinação, de clarividência e de muita, muitíssima vontade. Consideramos que ser bem-sucedido seja marcar o nome na história com algum feito benéfico para a humanidade. De fato é, pelo menos na maioria dos casos. Mas nem sempre é o que ocorre. É mister ressaltar que nem é necessário ser reconhecido pelo nome para que se seja “eterno”.
Quem descobriu a maneira de produzir fogo à hora em que desejasse e precisasse, por exemplo, se eternizou nessa descoberta. O mesmo aconteceu com o inventor da roda, que tanto contribuiu para o desenvolvimento da civilização. Não se sabe quem foi, mas se tem certeza da sua existência. E sua imortalidade reside nesta invenção.
Reitero, porém, que as grandes obras, tanto as legadas pelos antepassados, quanto as produzidas pelas pessoas da presente geração – que se constituem em preciosos e perpétuos patrimônios da humanidade – não são, apenas, as materiais, concretas, palpáveis, visíveis e manipuláveis. Não se restringem, portanto, ao âmbito da ciência, da tecnologia, das artes ou da indústria.
Não se prestam a avaliações só pelos critérios econômicos, pelo quanto as pessoas que as desejam estão dispostas a pagar para tê-las. Isso conta, evidentemente, numa civilização consumista, como a nossa, mas não é o essencial. Atos de solidariedade, de grandeza, de dedicação ao próximo e de desprendimento (cada vez mais raros nestes tempos “bicudos” que vivemos), podem imortalizar os que os praticam e fazê-los respeitados, admirados e, sobretudo, reverenciados através dos anos, dos séculos e dos milênios. Concordo, pois, plenamente, com a observação do eminente arquiteto francês, Le Corbusier, quando afirma: “Aquilo que fica das atividades humanas não é o que serve, mas o que emociona”. Melhor ainda, claro, é quando têm ambas as características. Ou seja, que tenha utilidade e que, ao mesmo tempo, provoque emoções.
Embora seja o óbvio, raramente nos damos conta que do mundo nada levaremos, quando viermos a morrer, mas apenas “deixaremos”: obras, idéias, conceitos, exemplos, lembranças etc. Se bons ou maus, só o tempo irá mostrar. Muitas das pessoas especiais, abnegadas e nobres (diria, a grande maioria), que dedicaram suas vidas a ajudar e a socorrer o próximo, não deixaram nem mesmo registros pessoais do que fizeram (ou por modéstia, ou por falta de convicção do valor dos seus atos ou, apenas, por não terem tempo para isso).
Não nos legaram nenhum escrito, nenhuma autobiografia e nem mesmo um simples diário. Foram, porém, imortalizadas por artistas de renome, como personagens de romances, de contos ou de peças teatrais ou como fontes de inspiração de crônicas, ensaios e biografias, pela impressão que deixaram, tamanha a magnitude do que fizeram. Limitaram-se a agir, sem se preocupar com o que os outros pensavam. Por isso, “emocionaram”. E tornaram-se, por conseqüência, imortais...
O homem, mesmo que não se dê conta, persegue, no decorrer da sua vida útil, (aquele período que sucede à adolescência em que já se sente preparado para mostrar a que veio ao mundo), a imortalidade. Não a física, obviamente, porquanto esta, todos sabem de sobejo, é absolutamente impossível. Busca-se, sim, imortalizar a memória, a lembrança, o nome. Alguns, limitam-se a sonhar com a notoriedade, esquecidos de que ela tem um preço, em geral altíssimo. Outros, dedicam a vida na perseguição desse objetivo. Isso é válido? Não sei!
Para conseguir esse status de “imortais”, as pessoas precisam, todavia, fazer algo de excepcional: erigir uma obra, praticar um ato inusitado de heroísmo, ter amor ilimitado por alguém, salvar uma vida etc. Para ser notável é preciso, antes de tudo, ser notado. Do contrário, de nada valerá sua notoriedade. Mas essa não pode e não deve ser obtida, como ocorre em alguns casos, pelo fato da pessoa ser alguma aberração, ou por assumir uma postura patética, ou pelo insólito da sua aparência, ou pelo ridículo da sua figura. Nestes casos, ela consegue, de fato, despertar a atenção alheia, mas por alguns irrisórios instantes. Acaba esquecida e ignorada pouco tempo depois.
Todos temos em nós um artista, um cientista, um atleta ou um filósofo (não importa) embora muitas vezes não nos pareça que seja assim. Ocorre que alguns sufocam esses pendores naturais, voltados que estão para coisas aparentemente mais importantes, mais "sérias" e que, na verdade, quando submetidas a uma análise lógica mínima, se revelam supérfluas, triviais, fantasiosas e absolutamente dispensáveis. Só a arte dá dimensões divinas ao ser humano. É por seu intermédio que ele verdadeiramente se revela em toda a sua grandeza e transcendência.
Criar, seja o que for, também é descobrir. É, sobretudo, ousar. É ter coragem para aceitar o risco do ridículo. É desafiar o sistema vigente com alguma novidade. É enriquecer o patrimônio da própria humanidade. Mas é colher os frutos, desse supremo ato, com humildade.
Ressalte-se que o sucesso (e cada um tem sua visão particular do que ele seja) embora dependa de circunstâncias, tem, também, elementos de autodisciplina, de determinação, de clarividência e de muita, muitíssima vontade. Consideramos que ser bem-sucedido seja marcar o nome na história com algum feito benéfico para a humanidade. De fato é, pelo menos na maioria dos casos. Mas nem sempre é o que ocorre. É mister ressaltar que nem é necessário ser reconhecido pelo nome para que se seja “eterno”.
Quem descobriu a maneira de produzir fogo à hora em que desejasse e precisasse, por exemplo, se eternizou nessa descoberta. O mesmo aconteceu com o inventor da roda, que tanto contribuiu para o desenvolvimento da civilização. Não se sabe quem foi, mas se tem certeza da sua existência. E sua imortalidade reside nesta invenção.
Reitero, porém, que as grandes obras, tanto as legadas pelos antepassados, quanto as produzidas pelas pessoas da presente geração – que se constituem em preciosos e perpétuos patrimônios da humanidade – não são, apenas, as materiais, concretas, palpáveis, visíveis e manipuláveis. Não se restringem, portanto, ao âmbito da ciência, da tecnologia, das artes ou da indústria.
Não se prestam a avaliações só pelos critérios econômicos, pelo quanto as pessoas que as desejam estão dispostas a pagar para tê-las. Isso conta, evidentemente, numa civilização consumista, como a nossa, mas não é o essencial. Atos de solidariedade, de grandeza, de dedicação ao próximo e de desprendimento (cada vez mais raros nestes tempos “bicudos” que vivemos), podem imortalizar os que os praticam e fazê-los respeitados, admirados e, sobretudo, reverenciados através dos anos, dos séculos e dos milênios. Concordo, pois, plenamente, com a observação do eminente arquiteto francês, Le Corbusier, quando afirma: “Aquilo que fica das atividades humanas não é o que serve, mas o que emociona”. Melhor ainda, claro, é quando têm ambas as características. Ou seja, que tenha utilidade e que, ao mesmo tempo, provoque emoções.
Embora seja o óbvio, raramente nos damos conta que do mundo nada levaremos, quando viermos a morrer, mas apenas “deixaremos”: obras, idéias, conceitos, exemplos, lembranças etc. Se bons ou maus, só o tempo irá mostrar. Muitas das pessoas especiais, abnegadas e nobres (diria, a grande maioria), que dedicaram suas vidas a ajudar e a socorrer o próximo, não deixaram nem mesmo registros pessoais do que fizeram (ou por modéstia, ou por falta de convicção do valor dos seus atos ou, apenas, por não terem tempo para isso).
Não nos legaram nenhum escrito, nenhuma autobiografia e nem mesmo um simples diário. Foram, porém, imortalizadas por artistas de renome, como personagens de romances, de contos ou de peças teatrais ou como fontes de inspiração de crônicas, ensaios e biografias, pela impressão que deixaram, tamanha a magnitude do que fizeram. Limitaram-se a agir, sem se preocupar com o que os outros pensavam. Por isso, “emocionaram”. E tornaram-se, por conseqüência, imortais...
Sunday, August 26, 2007
REFLEXÃO DO DIA
A nós, humanos, frágeis e falíveis, é vedada a perfeição. Por mais completo que nos pareça um trabalho, manual ou intelectual, sempre haverá alguma coisa a ser burilada, revisada, corrigida e melhorada. Esse exercício de correção de obras, de idéias e até mesmo de rumos, deve se transformar em hábito, para que jamais o que fizermos ou pensarmos se torne envelhecido, defasado ou ultrapassado. Principalmente nos relacionamentos, mesmo que pareçam perfeitos, convém fazer periódicos reparos. Isaac Bashevis Singer, ganhador do Prêmio Nobel de Literatura de 1978, confessou: “Corrigir é tudo o que faço o tempo todo. Sem isso não haveria literatura ou civilização. Mesmo o amor às vezes precisa disso”. Eu diria, de minha parte, que “principalmente o amor” requer constante correção. Afinal, é como uma bela, porém, frágil flor: só manterá seu viço, sua beleza e sua vida, se for constantemente regada, adubada e podada.
Guerra dos sexos - Introdução 3
Pedro J. Bondaczuk
Espancamento de mulheres
I - No mundo
A Polícia Federal dos Estados Unidos (FBI) constatou que, naquele país, a cada 18 segundos, uma mulher é espancada por um homem. A situação é tão grave, que levou o então presidente norte-americano, Bill Clinton, em 20 de janeiro de 1995, a citar esse escandaloso dado, e apelar, por conseqüência, à população, para que pusesse fim a esse tipo criminoso de conduta. Ressaltou que se tratava de uma vergonha nacional. E mencionou a questão não em algum pronunciamento informal qualquer, mas no discurso sobre o "Estado da União".
Trata-se de um balanço anual, na abertura dos trabalhos do Congresso, em todos os anos, feito tradicionalmente pelos presidentes norte-americanos, abordando as conquistas e os problemas a resolver desse país. Mas os Estados Unidos não são os únicos a conviver com esse grave desrespeito aos direitos humanos.
Dados da União Européia, por exemplo, dão conta de que a violência doméstica afeta a pelo menos 4 milhões de mulheres na Europa Ocidental. E esses números podem ser, tranqüilamente, multiplicados por dez, já que, por medo ou por vergonha, apenas cerca de 10% das vítimas denunciam as agressões que sofrem.
No Leste europeu, a situação não é muito diferente. Pelo contrário, tende a ser até mais grave. Na Rússia, para se ter uma idéia, dados oficiais, divulgados pelo governo, registraram, apenas em 1994, 15 mil mortes de mulheres, vítimas de maus tratos dos maridos. Quantas foram as feridas? Nada foi divulgado a respeito. Quantas sofreram lesões leves, simples escoriações, que machucam mais a alma e o amor próprio do que o corpo? Podem ser calculados, sem muito esforço, aos milhões.
Países da África e da Ásia sequer admitem esse tipo de delito, de tão corriqueiros e "normais" (para eles) que são. Não há, por conseguinte, estatísticas a respeito, embora existam sucessivas denúncias de entidades de defesa dos direitos humanos, como a Anistia Internacional.
Na América Latina, são raros os países que têm estatísticas sobre casos de espancamentos de mulheres em suas casas. E as que existem não são confiáveis, por subestimarem a gravidade e a quantidade desses delitos. Ainda assim, todas as delegações, de todos os países latino-americanos, apresentaram, na IV Conferência Mundial sobre a Mulher em Pequim, a violência doméstica e a pobreza como os maiores problemas existentes na região, o que comprova que o problema é muito mais grave do que os seus respectivos governos ousam admitir.
(Trecho do meu livro, inédito, "Guerra dos Sexos")
Espancamento de mulheres
I - No mundo
A Polícia Federal dos Estados Unidos (FBI) constatou que, naquele país, a cada 18 segundos, uma mulher é espancada por um homem. A situação é tão grave, que levou o então presidente norte-americano, Bill Clinton, em 20 de janeiro de 1995, a citar esse escandaloso dado, e apelar, por conseqüência, à população, para que pusesse fim a esse tipo criminoso de conduta. Ressaltou que se tratava de uma vergonha nacional. E mencionou a questão não em algum pronunciamento informal qualquer, mas no discurso sobre o "Estado da União".
Trata-se de um balanço anual, na abertura dos trabalhos do Congresso, em todos os anos, feito tradicionalmente pelos presidentes norte-americanos, abordando as conquistas e os problemas a resolver desse país. Mas os Estados Unidos não são os únicos a conviver com esse grave desrespeito aos direitos humanos.
Dados da União Européia, por exemplo, dão conta de que a violência doméstica afeta a pelo menos 4 milhões de mulheres na Europa Ocidental. E esses números podem ser, tranqüilamente, multiplicados por dez, já que, por medo ou por vergonha, apenas cerca de 10% das vítimas denunciam as agressões que sofrem.
No Leste europeu, a situação não é muito diferente. Pelo contrário, tende a ser até mais grave. Na Rússia, para se ter uma idéia, dados oficiais, divulgados pelo governo, registraram, apenas em 1994, 15 mil mortes de mulheres, vítimas de maus tratos dos maridos. Quantas foram as feridas? Nada foi divulgado a respeito. Quantas sofreram lesões leves, simples escoriações, que machucam mais a alma e o amor próprio do que o corpo? Podem ser calculados, sem muito esforço, aos milhões.
Países da África e da Ásia sequer admitem esse tipo de delito, de tão corriqueiros e "normais" (para eles) que são. Não há, por conseguinte, estatísticas a respeito, embora existam sucessivas denúncias de entidades de defesa dos direitos humanos, como a Anistia Internacional.
Na América Latina, são raros os países que têm estatísticas sobre casos de espancamentos de mulheres em suas casas. E as que existem não são confiáveis, por subestimarem a gravidade e a quantidade desses delitos. Ainda assim, todas as delegações, de todos os países latino-americanos, apresentaram, na IV Conferência Mundial sobre a Mulher em Pequim, a violência doméstica e a pobreza como os maiores problemas existentes na região, o que comprova que o problema é muito mais grave do que os seus respectivos governos ousam admitir.
(Trecho do meu livro, inédito, "Guerra dos Sexos")
Saturday, August 25, 2007
REFLEXÃO DO DIA
Amo as pessoas simples (não confundir com as hipócritas, as falsamente modestas ou as afetadas) e humildes (não as servis, claro). Principalmente quando são vencedoras em suas atividades, celebridades, consensualmente aplaudidas e admiradas. Convenhamos, esse tipo de gente é cada vez mais raro. O que temos, e em profusão, é o inverso. Sobram por aí “celebridades” arrogantes, prepotentes, megalomaníacas e que se julgam “donas do mundo”. O poeta chileno Pedro Prado disse, referindo-se a Gabriela de Mistral: “Não façam barulho em torno dela, porque está empenhada em batalha de simplicidade”. E a laureada mestra e poetisa foi uma vencedora. Afinal, não é qualquer um que, como ela, conquista, com poesia, um Prêmio Nobel de Literatura. No entanto... foi uma pessoa de uma simplicidade até comovedora. Daí ter sido o gênio que foi. O verdadeiro sábio é, sobretudo, simples, atento à sua fragilidade humana.
Gotas de orvalho
Pedro J. Bondaczuk
Era apenas uma gota de orvalho
brilhando, gloriosa, serena,
em pétala branca, pequena,
de flor selvagem, silvestre.
A pétala, translúcida, brilhante
cresceu e se fez torrente.
Doido sonho azul e delirante!
Alguém deu corpo, de repente,
ao que era apenas desejo.
A flor selvagem, combalida,
num milagre de beleza,
renasceu, ganhou mais vida,
em tributo à natureza.
Vicejou. Virou poesia!
Rude, fero e inclemente,
o Tempo, ímpio demente
a pétala de flor sufocou.
Qual da vida os verdes anos
murcham, morrem, viram pó,
a flor desfez-se no ar
e restei atônito: desamparado...e só...
(Poema composto em São Caetano do Sul, em 15 de novembro de 1963).
Era apenas uma gota de orvalho
brilhando, gloriosa, serena,
em pétala branca, pequena,
de flor selvagem, silvestre.
A pétala, translúcida, brilhante
cresceu e se fez torrente.
Doido sonho azul e delirante!
Alguém deu corpo, de repente,
ao que era apenas desejo.
A flor selvagem, combalida,
num milagre de beleza,
renasceu, ganhou mais vida,
em tributo à natureza.
Vicejou. Virou poesia!
Rude, fero e inclemente,
o Tempo, ímpio demente
a pétala de flor sufocou.
Qual da vida os verdes anos
murcham, morrem, viram pó,
a flor desfez-se no ar
e restei atônito: desamparado...e só...
(Poema composto em São Caetano do Sul, em 15 de novembro de 1963).
Friday, August 24, 2007
REFLEXÃO DO DIA
Temos o poder, através do pensamento positivo e da imaginação sadia, de criar novos mundos, para nós e para os que nos cercam, na impossibilidade de modificar o que aí está. Mas, para que isso valha a pena, é indispensável que sejamos (e que nos sintamos) felizes. Caso contrário, só conseguiremos criar “infernos” de ressentimentos, desesperança, angústias e dores (reais e/ou imaginárias). A grande dama do gênero policial, Agatha Christie, afirmou, em entrevista, há alguns anos: “Há sempre um admirável mundo novo, mas só para algumas pessoas especiais – as felizes. Aquelas que trazem dentro de si próprias a criação desse novo mundo”. Daí minha ênfase, em tudo o que falo ou escrevo, na necessidade do bom-humor, da alegria, do pensamento positivo. Sem esses ingredientes, é impossível alguém ser feliz. E, sem felicidade, é inútil construir “mundos novos”, que seriam piores do que este que temos.
Cabeças pensantes
Pedro J. Bondaczuk
Os líderes nacionais que conduzem os seus povos às guerras deveriam se conscientizar da gravidade de seus atos. Precisariam ter noção das desgraças que vão causar. Deveriam entender (mas não entendem) a real natureza do poder que lhes é outorgado. Necessitariam ter em mente o todo, e se conscientizar que o período que vivem é mero segmento de algo muito maior, infinitamente mais amplo, que é o eterno.
Não há glória alguma em destruir, causar dor, matar. E nem há ciência.. Na verdade, não somos nada. Somos menos do que um piscar de olhos na eternidade. E, no entanto, alguns de nossos atos têm um alcance tão grande, que continuam a produzir efeitos através dos anos. Às vezes, até por séculos, muito tempo depois da nossa extinção como pessoas.
As sociedades, desde tempos imemoriais, sempre precisaram de líderes, de cabeças pensantes, de pessoas muito especiais, dotadas de iniciativa, com capacidade inata de comunicação e talento, para guiá-las. Em cima dessa necessidade é que se estruturaram as hierarquias – desde as familiares (nos clãs), às tribais e posteriormente comunitárias e nacionais.
Como ocorre com todos os animais, possivelmente até por questões genéticas, alguns indivíduos nascem com aptidões maiores do que outros. São os que normalmente constituem as elites. Quando não, se transformam em rebeldes, em contestadores, em questionadores que não se submetem ao status vigente. São os revolucionários, fatores essenciais de mudanças, para o bem e para o mal. A maioria da humanidade, no entanto, é integrada por pessoas comuns. É composta pelos que são incapazes de iniciativas ousadas ou de juízos mesmo que rudimentares.
Os grupos de pessoas, a que se convencionou denominar de “massa”, constituem, sem dúvida, forças descomunais, que tanto podem ser sumamente destrutivas, quanto construtivas. Para adquirirem a segunda (e desejável) característica, carecem de uma liderança segura, sábia, lúcida e honesta. Portanto, são sempre indivíduos (jamais o coletivo) que se tornam os verdadeiros cérebros desses amorfos grupamentos.
Morris West, no romance “O Embaixador”, faz essa constatação através de um dos seus personagens: “O segredo da vida, da sobrevivência e da melhoria está no indivíduo e não na massa. Assim, o que tiver de ser feito para melhorar o seu trabalho, ou o de qualquer outra pessoa, deverá ser feito por intermédio do íntimo dos indivíduos”. Há, até, uma disciplina que estuda o comportamento das pessoas quando em grupos: a “Psicologia das Massas”. Portanto, busque sempre no seu interior as soluções para os seus problemas e os da sua comunidade.
Os homens criativos, que têm algo a acrescentar aos grupos que integram, desde seu restrito e particular núcleo familiar à própria e gigantesca família humana, precisam contar não com uma, duas, cinco, dez ou cem "sementes", ou seja, idéias, valores e princípios norteadores de ações. Devem ter milhares delas, para espalhar por todas as partes.
Jesus Cristo, em uma de suas mais profundas parábolas, tratou desse tema. Destacou as dificuldades das mensagens espalhadas frutificarem, em virtude do "solo" (no caso a mente das pessoas que são alvos do que se pretende semear) muitas vezes não ser propício. Os tíbios, os egoístas e os acomodados, mesmo que semeiem ideais, quase sempre fracassam. E o insucesso deve-se à insuficiência de sementes. Basta que estas caiam em lugar errado para que seu empenho acabe sendo vão. Desistem. Ou querem colher frutos pessoais mesmo onde estes não existam e sejam impossíveis de existir.
O ser humano conquistou o átomo, embora não tenha feito sempre o melhor uso dessa ciência. Descobriu e mapeou os códigos genéticos, responsáveis pelas características de todos os seres. Aprendeu a duplicar animais e vegetais. O casal primitivo desobedeceu o Criador e comeu o fruto da Árvore do Bem e do Mal, como se vê. Perdeu a inocência original, embora conquistasse o potencial de saber de tudo. Ou quase tudo. Só um conhecimento, e para o seu próprio bem, lhe foi vedado e para sempre: O do mistério da essência da vida. Caso o conhecesse, provavelmente conduziria à extinção da espécie.
A modernidade, nos dias que correm, é confundida, via de regra, com permissividade, com a ruptura de todos os freios morais, que construíram as civilizações (que, bem ou mal, pelo menos se mantêm). Enquanto uma pequena parcela da humanidade usufrui as “delícias” de um consumismo desregrado e perdulário, a grande maioria passa fome. Enfrenta privações de toda a sorte, sem saber como será o amanhã, que talvez nem mesmo venha a ter.
As pessoas, no processo acelerado de massificação pelo qual o mundo passa, sequer param para pensar qual a razão de suas existências. Não especulam (salvo exceções, naturalmente) acerca do que estão fazendo sobre a face da Terra. Em suma, não se entendem e nem procuram se entender. Não se estimam e nem se desestimam. Vivem porque vivem, e pronto! E se não têm um grau de estima genuíno por si próprias... não podem, jamais, sentir qualquer coisa de realmente profundo pelos outros. São “massa” e sentem-se perdidas, desgovernadas e sem rumo na ausência de líderes conscientes, sábios, honestos e, sobretudo íntegros.
Os líderes nacionais que conduzem os seus povos às guerras deveriam se conscientizar da gravidade de seus atos. Precisariam ter noção das desgraças que vão causar. Deveriam entender (mas não entendem) a real natureza do poder que lhes é outorgado. Necessitariam ter em mente o todo, e se conscientizar que o período que vivem é mero segmento de algo muito maior, infinitamente mais amplo, que é o eterno.
Não há glória alguma em destruir, causar dor, matar. E nem há ciência.. Na verdade, não somos nada. Somos menos do que um piscar de olhos na eternidade. E, no entanto, alguns de nossos atos têm um alcance tão grande, que continuam a produzir efeitos através dos anos. Às vezes, até por séculos, muito tempo depois da nossa extinção como pessoas.
As sociedades, desde tempos imemoriais, sempre precisaram de líderes, de cabeças pensantes, de pessoas muito especiais, dotadas de iniciativa, com capacidade inata de comunicação e talento, para guiá-las. Em cima dessa necessidade é que se estruturaram as hierarquias – desde as familiares (nos clãs), às tribais e posteriormente comunitárias e nacionais.
Como ocorre com todos os animais, possivelmente até por questões genéticas, alguns indivíduos nascem com aptidões maiores do que outros. São os que normalmente constituem as elites. Quando não, se transformam em rebeldes, em contestadores, em questionadores que não se submetem ao status vigente. São os revolucionários, fatores essenciais de mudanças, para o bem e para o mal. A maioria da humanidade, no entanto, é integrada por pessoas comuns. É composta pelos que são incapazes de iniciativas ousadas ou de juízos mesmo que rudimentares.
Os grupos de pessoas, a que se convencionou denominar de “massa”, constituem, sem dúvida, forças descomunais, que tanto podem ser sumamente destrutivas, quanto construtivas. Para adquirirem a segunda (e desejável) característica, carecem de uma liderança segura, sábia, lúcida e honesta. Portanto, são sempre indivíduos (jamais o coletivo) que se tornam os verdadeiros cérebros desses amorfos grupamentos.
Morris West, no romance “O Embaixador”, faz essa constatação através de um dos seus personagens: “O segredo da vida, da sobrevivência e da melhoria está no indivíduo e não na massa. Assim, o que tiver de ser feito para melhorar o seu trabalho, ou o de qualquer outra pessoa, deverá ser feito por intermédio do íntimo dos indivíduos”. Há, até, uma disciplina que estuda o comportamento das pessoas quando em grupos: a “Psicologia das Massas”. Portanto, busque sempre no seu interior as soluções para os seus problemas e os da sua comunidade.
Os homens criativos, que têm algo a acrescentar aos grupos que integram, desde seu restrito e particular núcleo familiar à própria e gigantesca família humana, precisam contar não com uma, duas, cinco, dez ou cem "sementes", ou seja, idéias, valores e princípios norteadores de ações. Devem ter milhares delas, para espalhar por todas as partes.
Jesus Cristo, em uma de suas mais profundas parábolas, tratou desse tema. Destacou as dificuldades das mensagens espalhadas frutificarem, em virtude do "solo" (no caso a mente das pessoas que são alvos do que se pretende semear) muitas vezes não ser propício. Os tíbios, os egoístas e os acomodados, mesmo que semeiem ideais, quase sempre fracassam. E o insucesso deve-se à insuficiência de sementes. Basta que estas caiam em lugar errado para que seu empenho acabe sendo vão. Desistem. Ou querem colher frutos pessoais mesmo onde estes não existam e sejam impossíveis de existir.
O ser humano conquistou o átomo, embora não tenha feito sempre o melhor uso dessa ciência. Descobriu e mapeou os códigos genéticos, responsáveis pelas características de todos os seres. Aprendeu a duplicar animais e vegetais. O casal primitivo desobedeceu o Criador e comeu o fruto da Árvore do Bem e do Mal, como se vê. Perdeu a inocência original, embora conquistasse o potencial de saber de tudo. Ou quase tudo. Só um conhecimento, e para o seu próprio bem, lhe foi vedado e para sempre: O do mistério da essência da vida. Caso o conhecesse, provavelmente conduziria à extinção da espécie.
A modernidade, nos dias que correm, é confundida, via de regra, com permissividade, com a ruptura de todos os freios morais, que construíram as civilizações (que, bem ou mal, pelo menos se mantêm). Enquanto uma pequena parcela da humanidade usufrui as “delícias” de um consumismo desregrado e perdulário, a grande maioria passa fome. Enfrenta privações de toda a sorte, sem saber como será o amanhã, que talvez nem mesmo venha a ter.
As pessoas, no processo acelerado de massificação pelo qual o mundo passa, sequer param para pensar qual a razão de suas existências. Não especulam (salvo exceções, naturalmente) acerca do que estão fazendo sobre a face da Terra. Em suma, não se entendem e nem procuram se entender. Não se estimam e nem se desestimam. Vivem porque vivem, e pronto! E se não têm um grau de estima genuíno por si próprias... não podem, jamais, sentir qualquer coisa de realmente profundo pelos outros. São “massa” e sentem-se perdidas, desgovernadas e sem rumo na ausência de líderes conscientes, sábios, honestos e, sobretudo íntegros.
Thursday, August 23, 2007
REFLEXÃO DO DIA
Há certo equívoco em torno dos conceitos de chefia e de liderança. Muitos entendem que seja a mesma coisa, mas chefiar nem sempre implica em liderar. Chefes são meros elos de uma corrente hierárquica. Líderes, por sua vez, não se submetem a nenhuma hierarquia, a não ser às das idéias que comungam. Os primeiros são para serem obedecidos, os segundos, para serem seguidos. Ricardo Bergamin nos lembra: “Os chefes dão ordens, os líderes dão exemplos”. Ordenar implica em impor. Liderar significa convencer. Chefes são realistas e existem para manter uma certa ordem instituída, sem se importar se é justa ou injusta. Líderes, todavia, são idealistas. Sua missão é conduzir grupos de pessoas e até mesmo povos a novos caminhos, para desbravar o mundo e implantar sublimes ideais de justiça, solidariedade e liberdade. Submeto-me a chefes. Contudo, admiro, e procuro imitar, apenas, os líderes.
Barcas frágeis
Pedro J. Bondaczuk
O leitor já se sentiu, alguma vez, um “estorvo” para alguém com quem convivesse e de quem dependesse? Eu já, e posso assegurar que se trata de uma situação horrível que, dependendo da intensidade e do tempo de duração, deixa marcas indeléveis, e para sempre, em nossa mente e nas nossas emoções! Há pessoas sem nenhuma sensibilidade e que não escondem quando se sentem atrapalhadas, ou “estorvadas”, pelos que têm a obrigação de cuidar, ou com as quais tenham qualquer espécie de compromisso. Julgam-se vítimas, quando na verdade são as agressoras, e das mais desumanas e cruéis.
São pais, por exemplo, que não conseguem compreender filhos (que julgam “problemáticos”) e que se desmancham em críticas e mais críticas, contumazes, sucessivas e persistentes, sobretudo quando se tratam de adolescentes, sem lhes apontar rumos a seguir e sem a grandeza de elogiar um único ato positivo deles.
São pessoas que tratam mal os idosos, jogando-lhes na cara que atrapalham suas vidas, esquecidas de tudo o que estes lhes fizeram de bom quando podiam trabalhar, e trabalhavam, sem tempo sequer para descanso e lazer. Esse é o pagamento que recebem, num momento da vida em que são, e se sentem vulneráveis, fragilizados e dependentes!
São maridos ou esposas que manifestam arrependimento pelo mau casamento que fizeram e que se tratam com hostilidade e com rancor. Criam, em torno de si, um clima de ódio, agridem-se mutuamente, por palavras e atos, e, não raro, podem chegar, até, ao extremo do homicídio. Os jornais trazem, diariamente, casos e mais casos que têm esse dramático desfecho.
São mulheres que têm alguma gravidez indesejada e que, por essa razão, hostilizam, quando não agridem, abandonam ou até mesmo matam o fruto de uma transa desastrada. São incapazes de compreender o milagre da concepção, não importa se desejado ou acidental. Com isso, contrariam a própria natureza. Essas pessoas sequer parecem humanas (e, de fato, não são, a despeito de aparentarem ser). São piores do que os mais broncos e ferozes animais.
Como se vê, as situações desse tipo são múltiplas, as mais diversas possíveis e poderíamos citar milhares e milhares de exemplos que, ademais, são desnecessários, pois certamente o leitor já viu muitos casos desse tipo ao longo da sua vida.
Pior é quando quem é considerado “estorvo” está fragilizado por absoluta dependência ao indivíduo que o considera dessa maneira: é criança, idoso, doente ou tenha alguma deficiência física (ou mental), de locomoção, visão ou audição, não importa. Nesses casos, a hostilidade e o menosprezo de que são alvos descambam para a crueldade. Mas casos desse tipo são muito mais comuns e corriqueiros do que se pensa.
E como se sentem as vítimas dessa atitude? Sentem-se impotentes, humilhadas, infelizes e desesperançadas. São atingidas, sobretudo, no que têm de mais íntimo e precioso, seu amor próprio, que fica em baixa. Quando (ou se) conseguem se livrar dessa incômoda e cruel dependência, ficam com marcas indeléveis dessa horrível sensação, a de serem “estorvos”, para sempre em suas mentes e em seus sentimentos.
"Tudo no mundo é vaidade", constatou Salomão nos últimos anos de vida, ele que foi abençoado com sabedoria, beleza, fortuna e poder e que, ao cabo da existência, percebeu o quanto de inutilidade havia em tudo isso. Só quem sabe gostar de si mesmo, na medida certa, sem descambar para os excessos, é capaz de amar alguém. Afinal, Cristo colocou essa auto-estima como parâmetro, ao ordenar: "ame o próximo como a si mesmo".
Ao recuperarem a auto-estima, esses injustiçados, humilhados e ofendidos, considerados “estorvos”, adquirem uma incrível capacidade de amar. Mostram-se carinhosos, solícitos, fiéis e leais. Claro que há os que nunca se recuperam. Estes, contudo, são exceções, que existem em todas as regras. Quem considera seu semelhante, por qualquer motivo, real ou imaginário, um “estorvo”, é um insatisfeito.
A insatisfação, destaquemos, desde que sadia e moderada, não é, intrinsicamente, um mal. Pelo contrário. É a mola propulsora das realizações humanas, seja em que campo for. É um dos raros comportamentos do homem que atravessou todos os ciclos de civilização e está mais vivo do que nunca.
Os gregos, por exemplo, nunca se contentaram com suas extraordinárias conquistas intelectuais. Com isso, criaram o teatro, a filosofia e a poesia, desenvolveram a escultura e a arquitetura e produziram outros tantos frutos do intelecto. Já a insatisfação romana era basicamente sensorial. Mas, também, alcançava os comportamentos. Resultou na criação de leis que se constituíram em bases, em fundamentos do Direito, como o conhecemos hoje. A insatisfação dos povos da Idade Média era espiritual, a da prevalência do espírito, no sentido transcendental, sobre os sentidos. Legaram-nos, em contrapartida, muitas e importantes reflexões espirituais.
E o homem contemporâneo, é insatisfeito? Mais do que nunca! A este, no entanto, materialista por excelência, nenhum bem satisfaz de maneira suficiente. É essa insatisfação, aliás, que move a economia, gerando necessidades (reais ou imaginárias), que as pessoas empreendedoras e dinâmicas buscam, em vão, satisfazer. Agora, estar insatisfeito com um semelhante e, pior, que esteja fragilizado e, pior ainda, considerá-lo um “estorvo” (mesmo que, de fato, seja) é um comportamento irracional, desumano, cruel e doentio.
Pessoas que se comportam dessa maneira, na verdade, estão insatisfeitas é consigo próprias e, sobretudo, com a vida. Não dizem, mas certamente consideram que são impotentes para conquistarem o sucesso, a estima e, por conseqüência, a felicidade e lançam a culpa da sua competência em quem não a tem. Têm, no fundo do cérebro, piscando, como lâmpada de néon, o que Franz Kafka colocou na boca de um personagem: “Minha barca é muito frágil”. E, de fato é, como ademais a de todos nós, humanos.
Só que a nau destes insensatos naufraga à primeira e mais leve borrasca da vida, sem que saibam, ou queiram, fazer seja lá o que for para se salvar. São fatalistas. Atribuem suas desgraças aos que os cercam, quando não a um hipotético destino. E, por não se fazerem merecedoras, raramente contam com qualquer espécie de ajuda. Não sabem viver, são infelizes e só espalham ao seu redor, por onde quer que passem, infelicidade, ressentimentos e rancor. Elas, sim, são “estorvos”. Para si e para a humanidade. São a banda podre da espécie.
O leitor já se sentiu, alguma vez, um “estorvo” para alguém com quem convivesse e de quem dependesse? Eu já, e posso assegurar que se trata de uma situação horrível que, dependendo da intensidade e do tempo de duração, deixa marcas indeléveis, e para sempre, em nossa mente e nas nossas emoções! Há pessoas sem nenhuma sensibilidade e que não escondem quando se sentem atrapalhadas, ou “estorvadas”, pelos que têm a obrigação de cuidar, ou com as quais tenham qualquer espécie de compromisso. Julgam-se vítimas, quando na verdade são as agressoras, e das mais desumanas e cruéis.
São pais, por exemplo, que não conseguem compreender filhos (que julgam “problemáticos”) e que se desmancham em críticas e mais críticas, contumazes, sucessivas e persistentes, sobretudo quando se tratam de adolescentes, sem lhes apontar rumos a seguir e sem a grandeza de elogiar um único ato positivo deles.
São pessoas que tratam mal os idosos, jogando-lhes na cara que atrapalham suas vidas, esquecidas de tudo o que estes lhes fizeram de bom quando podiam trabalhar, e trabalhavam, sem tempo sequer para descanso e lazer. Esse é o pagamento que recebem, num momento da vida em que são, e se sentem vulneráveis, fragilizados e dependentes!
São maridos ou esposas que manifestam arrependimento pelo mau casamento que fizeram e que se tratam com hostilidade e com rancor. Criam, em torno de si, um clima de ódio, agridem-se mutuamente, por palavras e atos, e, não raro, podem chegar, até, ao extremo do homicídio. Os jornais trazem, diariamente, casos e mais casos que têm esse dramático desfecho.
São mulheres que têm alguma gravidez indesejada e que, por essa razão, hostilizam, quando não agridem, abandonam ou até mesmo matam o fruto de uma transa desastrada. São incapazes de compreender o milagre da concepção, não importa se desejado ou acidental. Com isso, contrariam a própria natureza. Essas pessoas sequer parecem humanas (e, de fato, não são, a despeito de aparentarem ser). São piores do que os mais broncos e ferozes animais.
Como se vê, as situações desse tipo são múltiplas, as mais diversas possíveis e poderíamos citar milhares e milhares de exemplos que, ademais, são desnecessários, pois certamente o leitor já viu muitos casos desse tipo ao longo da sua vida.
Pior é quando quem é considerado “estorvo” está fragilizado por absoluta dependência ao indivíduo que o considera dessa maneira: é criança, idoso, doente ou tenha alguma deficiência física (ou mental), de locomoção, visão ou audição, não importa. Nesses casos, a hostilidade e o menosprezo de que são alvos descambam para a crueldade. Mas casos desse tipo são muito mais comuns e corriqueiros do que se pensa.
E como se sentem as vítimas dessa atitude? Sentem-se impotentes, humilhadas, infelizes e desesperançadas. São atingidas, sobretudo, no que têm de mais íntimo e precioso, seu amor próprio, que fica em baixa. Quando (ou se) conseguem se livrar dessa incômoda e cruel dependência, ficam com marcas indeléveis dessa horrível sensação, a de serem “estorvos”, para sempre em suas mentes e em seus sentimentos.
"Tudo no mundo é vaidade", constatou Salomão nos últimos anos de vida, ele que foi abençoado com sabedoria, beleza, fortuna e poder e que, ao cabo da existência, percebeu o quanto de inutilidade havia em tudo isso. Só quem sabe gostar de si mesmo, na medida certa, sem descambar para os excessos, é capaz de amar alguém. Afinal, Cristo colocou essa auto-estima como parâmetro, ao ordenar: "ame o próximo como a si mesmo".
Ao recuperarem a auto-estima, esses injustiçados, humilhados e ofendidos, considerados “estorvos”, adquirem uma incrível capacidade de amar. Mostram-se carinhosos, solícitos, fiéis e leais. Claro que há os que nunca se recuperam. Estes, contudo, são exceções, que existem em todas as regras. Quem considera seu semelhante, por qualquer motivo, real ou imaginário, um “estorvo”, é um insatisfeito.
A insatisfação, destaquemos, desde que sadia e moderada, não é, intrinsicamente, um mal. Pelo contrário. É a mola propulsora das realizações humanas, seja em que campo for. É um dos raros comportamentos do homem que atravessou todos os ciclos de civilização e está mais vivo do que nunca.
Os gregos, por exemplo, nunca se contentaram com suas extraordinárias conquistas intelectuais. Com isso, criaram o teatro, a filosofia e a poesia, desenvolveram a escultura e a arquitetura e produziram outros tantos frutos do intelecto. Já a insatisfação romana era basicamente sensorial. Mas, também, alcançava os comportamentos. Resultou na criação de leis que se constituíram em bases, em fundamentos do Direito, como o conhecemos hoje. A insatisfação dos povos da Idade Média era espiritual, a da prevalência do espírito, no sentido transcendental, sobre os sentidos. Legaram-nos, em contrapartida, muitas e importantes reflexões espirituais.
E o homem contemporâneo, é insatisfeito? Mais do que nunca! A este, no entanto, materialista por excelência, nenhum bem satisfaz de maneira suficiente. É essa insatisfação, aliás, que move a economia, gerando necessidades (reais ou imaginárias), que as pessoas empreendedoras e dinâmicas buscam, em vão, satisfazer. Agora, estar insatisfeito com um semelhante e, pior, que esteja fragilizado e, pior ainda, considerá-lo um “estorvo” (mesmo que, de fato, seja) é um comportamento irracional, desumano, cruel e doentio.
Pessoas que se comportam dessa maneira, na verdade, estão insatisfeitas é consigo próprias e, sobretudo, com a vida. Não dizem, mas certamente consideram que são impotentes para conquistarem o sucesso, a estima e, por conseqüência, a felicidade e lançam a culpa da sua competência em quem não a tem. Têm, no fundo do cérebro, piscando, como lâmpada de néon, o que Franz Kafka colocou na boca de um personagem: “Minha barca é muito frágil”. E, de fato é, como ademais a de todos nós, humanos.
Só que a nau destes insensatos naufraga à primeira e mais leve borrasca da vida, sem que saibam, ou queiram, fazer seja lá o que for para se salvar. São fatalistas. Atribuem suas desgraças aos que os cercam, quando não a um hipotético destino. E, por não se fazerem merecedoras, raramente contam com qualquer espécie de ajuda. Não sabem viver, são infelizes e só espalham ao seu redor, por onde quer que passem, infelicidade, ressentimentos e rancor. Elas, sim, são “estorvos”. Para si e para a humanidade. São a banda podre da espécie.
Wednesday, August 22, 2007
REFLEXÃO DO DIA
Os grupos de pessoas, a que se convencionou denominar de “massa”, constituem forças descomunais, que tanto podem ser sumamente destrutivas, quanto construtivas. Para adquirirem a segunda (e desejável) característica, carecem de uma liderança segura, sábia, lúcida e honesta. Portanto, são sempre indivíduos (jamais o coletivo) que se tornam os verdadeiros cérebros desses amorfos grupamentos. Morris West, no romance “O Embaixador”, faz essa constatação: “O segredo da vida, da sobrevivência e da melhoria está no indivíduo e não na massa. Assim, o que tiver de ser feito para melhorar o seu trabalho, ou o de qualquer outra pessoa, deverá ser feito por intermédio do íntimo dos indivíduos”. Há, até, uma disciplina que estuda o comportamento das pessoas quando em grupos: a “Psicologia das Massas”. Portanto, busque sempre no seu interior as soluções para os seus problemas e os da sua comunidade. Certamente as encontrará!
O "Santo Graal"
Pedro J. Bondaczuk
A busca da felicidade é o maior empenho do homem, em todos os tempos, embora poucos saibam, de fato, o que os faz felizes ou tenham a mais leve noção do significado desse conceito, que é vago e carregado de equívocos, diferente para cada pessoa. Filósofos, escritores, poetas e psicólogos têm apontado, através dos séculos, caminhos vários na busca desse "tosão de ouro", desse "Santo Graal", desse ideal sem forma, sem que eles próprios, na maioria das vezes, o tenham encontrado.
O indivíduo feliz é aquele que encontra razões para viver até o seu último sopro de vida. Ou, pelo menos, esta é uma das faces desse diamante multifacetado chamado de "felicidade". O mundo não é mau, como ouvimos e lemos amiúde, desde tenra infância. A existência não é ruim, um vale de dores e de lágrimas, como asseguram furibundos e fanáticos pregadores ascéticos. A felicidade não é uma ocorrência rara e virtualmente ilusória. Nós é que complicamos a vida.
Nossa vaidade, nossa arrogância e nossa prepotência contra o próximo é que, como a mola, voltam para nós com a mesma força com que as destinamos aos outros e nos oprimem, nos machucam e nos humilham. Corremos o tempo todo atrás de sombras e não percebemos a substância parada bem diante dos nossos narizes...
Lembro, a título de esclarecimento, que Santo Graal é uma expressão medieval que designa, normalmente, o cálice supostamente usado por Jesus Cristo na ceia que antecedeu sua prisão, seu arremedo de julgamento e sua conseqüente crucificação. Sua busca fascinou (e ainda fascina) pessoas das mais variadas personalidades e atividades, como aventureiros, pesquisadores e, sobretudo, religiosos, mundo afora.
Está presente em inúmeras lendas, que atravessaram séculos e chegaram aos nossos dias. Existem muitos questionamentos a respeito, sobre a sua natureza, formato e, até mesmo, existência. É, realmente, um cálice? Onde está? Com quem? De fato existe? Ninguém ousa, ou sabe responder.
Mas, voltemos ao tema, objeto desta crônica. Um dos maiores pecados que uma pessoa pode cometer, se não o maior, é o de não ser feliz. É o de alimentar rancores, inveja, cobiça e egoísmo, em detrimento dos sentimentos nobres, das emoções sadias e dos atos de grandeza. A felicidade, ao contrário do que muitos pensam, não consiste na posse de bens materiais e nem na companhia de pessoas que os sirvam e bajulem. Estes até podem contribuir para que sejamos felizes, mas, sozinhos, não nos proporcionam essa desejada bem-aventurança.
A felicidade não é nada concreto, visível ou palpável, mas um conceito, uma postura, um comportamento. É, por exemplo, a satisfação com o que se tem. É a alegria com as aparentemente pequenas coisas da vida que, no entanto, são as que realmente contam. É saber se emocionar com o nascer e o pôr-do-sol, o desabrochar de uma flor, o sorriso de uma criança e, sobretudo, nutrir genuína gratidão pelo privilégio de viver.
Há pessoas que deixam de usufruir a felicidade por não a saberem sequer identificar. Contam, por exemplo, com uma família unida e amorosa; são cercadas de afeto de múltiplos amigos, mas não sabem dar valor a esse magno privilégio, alheias ao fato de que a maioria não conta com essa bênção. Apostam na infelicidade e findam por, de fato, serem infelizes.
Devemos ser pródigos em agradecimentos e parcimoniosos em reclamações. Caso contrário... Seremos rematados tolos de chutar nossa felicidade para um lugar em que jamais a conseguiremos alcançar. Ninguém, em lugar algum, é feliz o tempo todo. Isso não existe. Sempre haverá uma preocupação, uma angústia, um contratempo, um desgosto qualquer, pequeno ou grande, para nos atormentar. Isso, contudo, não pode influir em nosso humor, não pelo menos por muito tempo. A felicidade é constituída de “momentos”, mais ou menos duradouros, de acordo com nossas ações e, também, da nossa percepção.
Há pessoas que perdem não apenas um minuto, mas horas sem fim, dias, meses, anos, quando não a vida toda, acalentando mágoas, chateações e desejos de vingança, abdicando da possibilidade de serem felizes. Vale a pena abrir mão de tanto por tão pouco? Claro que não! Se há um tema que sempre vai gerar infinitas especulações, este é o da felicidade. Pessoas de todas as partes, profissões e condições sociais têm sua “receita” pessoal para serem felizes. Todas são válidas, pois a maioria é fruto de uma experiência própria. Nenhuma, porém, é absoluta. Também tenho a minha “fórmula” que, como as demais, é passível de contestação.
Creio que o caminho mais curto para a felicidade é sabermos valorizar o que temos e o que de bom nos acontece. É gozarmos de boa saúde, termos uma família amorosa e unida e uma infinidade de amigos, leais, solícitos e presentes. É conservarmos o bom-humor nas piores circunstâncias e encararmos a vida por uma ótica sempre otimista.
Tenhamos, pois, fé no futuro e façamos a nossa parte para tornar o mundo melhor, mais solidário e mais justo. Sejamos, sempre, a “cabeça” do corpo social, jamais a “cauda”. E ousemos exercitar nosso talento, não no sentido de buscar glória ou fortuna, mas de justificar a nossa existência. Não tenhamos, sobretudo, medo de sermos felizes. Só assim teremos condições de conquistar e, mais do que isso, de usufruir, desse tão procurado Santo Graal, que está ao alcance das nossas mãos, mesmo que não venhamos a nos dar conta disso. Simples assim!
A busca da felicidade é o maior empenho do homem, em todos os tempos, embora poucos saibam, de fato, o que os faz felizes ou tenham a mais leve noção do significado desse conceito, que é vago e carregado de equívocos, diferente para cada pessoa. Filósofos, escritores, poetas e psicólogos têm apontado, através dos séculos, caminhos vários na busca desse "tosão de ouro", desse "Santo Graal", desse ideal sem forma, sem que eles próprios, na maioria das vezes, o tenham encontrado.
O indivíduo feliz é aquele que encontra razões para viver até o seu último sopro de vida. Ou, pelo menos, esta é uma das faces desse diamante multifacetado chamado de "felicidade". O mundo não é mau, como ouvimos e lemos amiúde, desde tenra infância. A existência não é ruim, um vale de dores e de lágrimas, como asseguram furibundos e fanáticos pregadores ascéticos. A felicidade não é uma ocorrência rara e virtualmente ilusória. Nós é que complicamos a vida.
Nossa vaidade, nossa arrogância e nossa prepotência contra o próximo é que, como a mola, voltam para nós com a mesma força com que as destinamos aos outros e nos oprimem, nos machucam e nos humilham. Corremos o tempo todo atrás de sombras e não percebemos a substância parada bem diante dos nossos narizes...
Lembro, a título de esclarecimento, que Santo Graal é uma expressão medieval que designa, normalmente, o cálice supostamente usado por Jesus Cristo na ceia que antecedeu sua prisão, seu arremedo de julgamento e sua conseqüente crucificação. Sua busca fascinou (e ainda fascina) pessoas das mais variadas personalidades e atividades, como aventureiros, pesquisadores e, sobretudo, religiosos, mundo afora.
Está presente em inúmeras lendas, que atravessaram séculos e chegaram aos nossos dias. Existem muitos questionamentos a respeito, sobre a sua natureza, formato e, até mesmo, existência. É, realmente, um cálice? Onde está? Com quem? De fato existe? Ninguém ousa, ou sabe responder.
Mas, voltemos ao tema, objeto desta crônica. Um dos maiores pecados que uma pessoa pode cometer, se não o maior, é o de não ser feliz. É o de alimentar rancores, inveja, cobiça e egoísmo, em detrimento dos sentimentos nobres, das emoções sadias e dos atos de grandeza. A felicidade, ao contrário do que muitos pensam, não consiste na posse de bens materiais e nem na companhia de pessoas que os sirvam e bajulem. Estes até podem contribuir para que sejamos felizes, mas, sozinhos, não nos proporcionam essa desejada bem-aventurança.
A felicidade não é nada concreto, visível ou palpável, mas um conceito, uma postura, um comportamento. É, por exemplo, a satisfação com o que se tem. É a alegria com as aparentemente pequenas coisas da vida que, no entanto, são as que realmente contam. É saber se emocionar com o nascer e o pôr-do-sol, o desabrochar de uma flor, o sorriso de uma criança e, sobretudo, nutrir genuína gratidão pelo privilégio de viver.
Há pessoas que deixam de usufruir a felicidade por não a saberem sequer identificar. Contam, por exemplo, com uma família unida e amorosa; são cercadas de afeto de múltiplos amigos, mas não sabem dar valor a esse magno privilégio, alheias ao fato de que a maioria não conta com essa bênção. Apostam na infelicidade e findam por, de fato, serem infelizes.
Devemos ser pródigos em agradecimentos e parcimoniosos em reclamações. Caso contrário... Seremos rematados tolos de chutar nossa felicidade para um lugar em que jamais a conseguiremos alcançar. Ninguém, em lugar algum, é feliz o tempo todo. Isso não existe. Sempre haverá uma preocupação, uma angústia, um contratempo, um desgosto qualquer, pequeno ou grande, para nos atormentar. Isso, contudo, não pode influir em nosso humor, não pelo menos por muito tempo. A felicidade é constituída de “momentos”, mais ou menos duradouros, de acordo com nossas ações e, também, da nossa percepção.
Há pessoas que perdem não apenas um minuto, mas horas sem fim, dias, meses, anos, quando não a vida toda, acalentando mágoas, chateações e desejos de vingança, abdicando da possibilidade de serem felizes. Vale a pena abrir mão de tanto por tão pouco? Claro que não! Se há um tema que sempre vai gerar infinitas especulações, este é o da felicidade. Pessoas de todas as partes, profissões e condições sociais têm sua “receita” pessoal para serem felizes. Todas são válidas, pois a maioria é fruto de uma experiência própria. Nenhuma, porém, é absoluta. Também tenho a minha “fórmula” que, como as demais, é passível de contestação.
Creio que o caminho mais curto para a felicidade é sabermos valorizar o que temos e o que de bom nos acontece. É gozarmos de boa saúde, termos uma família amorosa e unida e uma infinidade de amigos, leais, solícitos e presentes. É conservarmos o bom-humor nas piores circunstâncias e encararmos a vida por uma ótica sempre otimista.
Tenhamos, pois, fé no futuro e façamos a nossa parte para tornar o mundo melhor, mais solidário e mais justo. Sejamos, sempre, a “cabeça” do corpo social, jamais a “cauda”. E ousemos exercitar nosso talento, não no sentido de buscar glória ou fortuna, mas de justificar a nossa existência. Não tenhamos, sobretudo, medo de sermos felizes. Só assim teremos condições de conquistar e, mais do que isso, de usufruir, desse tão procurado Santo Graal, que está ao alcance das nossas mãos, mesmo que não venhamos a nos dar conta disso. Simples assim!
Tuesday, August 21, 2007
REFLEXÃO DO DIA
Todos temos, em determinados momentos de nossas vidas, com intensidades variáveis, “lampejos” de sabedoria. Contudo, por negligência, falta de autoconfiança e/ou até mesmo distração, perdemos a oportunidade de nos tornarmos verdadeiramente sábios e de compartilharmos essa desejável condição com o mundo. Não raro achamos que o conhecimento das coisas e das pessoas vem sempre completo, acabado, prontinho para ser usufruído. Engano! Compete-nos expandi-los, aperfeiçoá-los, burilá-los, dar-lhes a nossa indispensável contribuição, com a marca da nossa personalidade. Henry David Thoreau, no ensaio “A vida sem princípio”, do seu livro “Desobedecendo”, nos alerta: “A sabedoria não chega aos espíritos em detalhes; ela viaja nos lampejos da luz celeste”. Esse detalhamento é o que nos compete fazer, mediante muito estudo, meditação, observação e autodisciplina. O resultado desse esforço, porém, é mais do que compensador.
Escritor que é sinônimo de "absurdo" - VI
Pedro J. Bondaczuk
(CONTINUAÇÃO)
GRITO DE LIBERDADE
Franz Kafka deu o “grito de liberdade” do pai dominador por volta de 1922, quando conheceu Dora Dyamant. Antes de conhecê-la, todavia, manteve profunda ligação sentimental, provavelmente platônica, com outra mulher, de rara inteligência, chamada Milena, com quem trocou vasta correspondência, que ascendeu a cerca de 300 cartas. Nelas, o escritor “abriu” sua alma e expôs, com clareza e precisão, o que o atormentava. Hoje, essas mensagens são consideradas documentos muito valiosos, reveladores da estranha e atormentada personalidade de Kafka.
Essas cartas foram publicadas, em forma de livro, após a morte do escritor. Aliás, foi Milena que traduziu seus textos para o idioma checo. Apesar de se tratar de figura marcante em sua vida, o relacionamento amoroso entre ambos não prosperou.
O romance com Dora, no entanto, foi duradouro e explosivo. Ocorreu quando Kafka já estava tuberculoso e a doença avançava com grande rapidez. Esta musa dos últimos dias do escritor era filha de proletários judeus poloneses. Para viver com Dora, Franz deixou Praga, com todas as suas lembranças e tristezas, e mudou-se para Berlim.
A tuberculose avançava e Kafka não se conformava com essa ironia do destino. Trabalhava furiosa e desesperadamente e queria, mais do que nunca, viver. Desejava, ardentemente, dar todo o amor que represara a vida toda para Dora. Mas a sua situação, tanto a de saúde, quanto a financeira e política, não era nada favorável.
Na Alemanha, derrotada na Primeira Guerra Mundial e submetida pelos vencedores a humilhantes e vexatórias condições, já se manifestavam os primeiros sinais de intolerância e de ódio racial, que iriam dar margem ao surgimento do nazismo e aos acontecimentos que levariam o país à ruína e a Europa à catástrofe. O inverno de 1923 para 1924 foi dos mais rigorosos dos últimos anos.
Franz Kafka chegou a passar fome e frio nesse período, o que só agravou seu estado de saúde, que já era dos mais precários. Seu tio, ao fazer-lhe uma visita, decidiu levá-lo de volta a Praga, mesmo contra a sua vontade, internando-o num sanatório de Kierling. Tarde demais.
Em 3 de junho de 1924, após expulsar do quarto a enfermeira e pedir morfina a um amigo, para aplacar o sofrimento, o escritor mais solitário e angustiado do século passado expirou, sem ter logrado vencer sua solidão...Tornou-se, em contrapartida, porta-voz do inconformismo, ácido crítico do absurdo do sistema que nos submete e nos tritura.
(Ensaio publicado na página 20, Especial, do Correio Popular, em 15 de abril de 1988).
(CONTINUAÇÃO)
GRITO DE LIBERDADE
Franz Kafka deu o “grito de liberdade” do pai dominador por volta de 1922, quando conheceu Dora Dyamant. Antes de conhecê-la, todavia, manteve profunda ligação sentimental, provavelmente platônica, com outra mulher, de rara inteligência, chamada Milena, com quem trocou vasta correspondência, que ascendeu a cerca de 300 cartas. Nelas, o escritor “abriu” sua alma e expôs, com clareza e precisão, o que o atormentava. Hoje, essas mensagens são consideradas documentos muito valiosos, reveladores da estranha e atormentada personalidade de Kafka.
Essas cartas foram publicadas, em forma de livro, após a morte do escritor. Aliás, foi Milena que traduziu seus textos para o idioma checo. Apesar de se tratar de figura marcante em sua vida, o relacionamento amoroso entre ambos não prosperou.
O romance com Dora, no entanto, foi duradouro e explosivo. Ocorreu quando Kafka já estava tuberculoso e a doença avançava com grande rapidez. Esta musa dos últimos dias do escritor era filha de proletários judeus poloneses. Para viver com Dora, Franz deixou Praga, com todas as suas lembranças e tristezas, e mudou-se para Berlim.
A tuberculose avançava e Kafka não se conformava com essa ironia do destino. Trabalhava furiosa e desesperadamente e queria, mais do que nunca, viver. Desejava, ardentemente, dar todo o amor que represara a vida toda para Dora. Mas a sua situação, tanto a de saúde, quanto a financeira e política, não era nada favorável.
Na Alemanha, derrotada na Primeira Guerra Mundial e submetida pelos vencedores a humilhantes e vexatórias condições, já se manifestavam os primeiros sinais de intolerância e de ódio racial, que iriam dar margem ao surgimento do nazismo e aos acontecimentos que levariam o país à ruína e a Europa à catástrofe. O inverno de 1923 para 1924 foi dos mais rigorosos dos últimos anos.
Franz Kafka chegou a passar fome e frio nesse período, o que só agravou seu estado de saúde, que já era dos mais precários. Seu tio, ao fazer-lhe uma visita, decidiu levá-lo de volta a Praga, mesmo contra a sua vontade, internando-o num sanatório de Kierling. Tarde demais.
Em 3 de junho de 1924, após expulsar do quarto a enfermeira e pedir morfina a um amigo, para aplacar o sofrimento, o escritor mais solitário e angustiado do século passado expirou, sem ter logrado vencer sua solidão...Tornou-se, em contrapartida, porta-voz do inconformismo, ácido crítico do absurdo do sistema que nos submete e nos tritura.
(Ensaio publicado na página 20, Especial, do Correio Popular, em 15 de abril de 1988).
Monday, August 20, 2007
TOQUE DE LETRA
Pedro J. Bondaczuk
(Fotos: Arquivo, site oficial da Ponte Preta, Weimer Carvalho e Marcos Arcoverde/VIPCOMM)
DUAS DECEPÇÕES NO FIM DO TURNO
A Ponte Preta encerrou o Primeiro Turno do Campeonato Brasileiro da Série B proporcionando duas decepções consecutivas à sua apaixonada e fiel torcida. A primeira foi na semana retrasada, véspera do 107º aniversário do clube, quando foi goleada pelo limitado Ceará, em Fortaleza, por 4 a 1. Fez, sobretudo, um segundo tempo horrível, desses para serem esquecidos, em que apresentou graves defeitos em todos os seus compartimentos. O resultado foi o que se viu. Até o excelente goleiro Denis falhou em um dos gols. A desculpa (válida) foi a de mudança brusca de clima. Afinal, a Ponte saiu de Florianópolis, com temperatura de dois graus centígrados e teve que encarar o sufocante calor da capital cearense, por volta de 35 graus. O que fazer? É a realidade de um país de dimensões continentais. Mas para a segunda decepção não há desculpas. A Ponte Preta jogou em casa, apoiada pela torcida, com o seu time titular, mas não saiu de um pífio empate, por 1 a 1, com um dos lanternas da competição, o Remo, do Pará. E deve se dar por satisfeita por não haver perdido o jogo. A torcida não agüentou mais esse fiasco e fez um justificado desabafo. Vaiou tanto o técnico Nelsinho Baptista (que fez três substituições equivocadas, se não desastrosas) e, principalmente, o jogador Roger. Curioso é que, salvo na estréia, quando esse atleta foi expulso, a Ponte não venceu um só jogo em que o atacante jogasse. Coincidência? Difícil! Aí tem coisa!
CAMPANHA DISCRETA
O Guarani faz campanha apenas discreta na segunda fase do Campeonato Brasileiro da Série C. Obteve uma vitória (dramática e de virada), contra o Vila Nova de Goiânia, no Brinco de Ouro, por 2 a 1; sofreu uma derrota, pelo mesmo placar, em Rio Claro, para os donos da casa e arrancou um empate, sem gols, em Catalão, com o Crac local. Tudo indica, porém, que vai dar para o gasto. É verdade que tem dois compromissos seguidos em Campinas, embora não se possa afirmar (nunca se pode antes do jogo acontecer) que fará os seis pontos. Se fizer, dará um passo decisivo para se classificar para a penúltima fase da competição. Caso contrário... O time oscila muito de uma partida para outra e até mesmo no correr de um mesmo jogo. Alterna momentos brilhantes, de alta técnica e eficiência, com instantes de sonolência e de falta de concentração. Embora muitos discordem, a grande estrela do Guarani não está no seu plantel, mas no banco de reservas. É o treinador José Luiz Carbone, um vencedor, tanto como atleta, quanto como técnico. O time não tem nenhum jogador que se destaque dos demais. É um plantel modesto, sem qualquer jogador desses que desequilibram, constituído por meros “operários da bola”, que, todavia, jogam com muita raça e amor à camisa. Será o suficiente para voltar à Série B? Só o tempo poderá dizer.
VAIAS IRRITAM NELSINHO
O treinador da Ponte Preta, Nelsinho Baptista, não escondeu de ninguém sua irritação com as vaias da torcida ao seu trabalho e, principalmente, à ridícula partida (mais uma vez) do meia Roger. Falou “cobras e lagartos” contra a torcida, na coletiva que deu após o jogo. Em princípio, sou contra esse tipo de manifestação, que só desestabiliza o time e não traz vantagem alguma para ninguém. Mas, confesso, também vaiei as três substituições, afoitas e desastrosas, do técnico. E vaiei mais ainda a pífia atuação do meia pontepretano. Não entendo a insistência de Nelsinho em relação a Roger. O jogador ainda não disse a que veio ao Moisés Lucarelli. Desde que retornou ao clube, só fez besteira. Além do que, desrespeitou a torcida, o que foi, provavelmente, a maior das tantas bobagens que cometeu. Roger está queimado com o torcedor. Não tem mais clima para vestir a camisa pontepretana. Se quiser fazer as pazes com a comunidade alvinegra, o caminho é muito simples: jogar. Tem que fazer gols. Precisa empenhar-se durante os jogos. Ninguém vaia, por exemplo, Alex Terra, mesmo quando joga mal. Afinal, o atacante disputou, apenas, um terço dos jogos e fez nove gols, com uma eficiência impressionante. Ninguém vaia Heverton, mesmo quando sua performance é apagada. Por que? Porque, além de cumprir seu papel, já fez oito gols no campeonato. Por que Roger não faz o mesmo? Arre! Se repetir o que fez desde que voltou ao Majestoso, continuarei vaiando o atleta (e a torcida, mais ainda), cada vez mais alto e com maior insistência. Isso, mesmo sendo contra esse tipo de protesto em relação a jogadores do meu clube de coração. Nelsinho, portanto, não tem porque ficar irritado. Tem é que aceitar humildemente as criticas e tomar decisões corretas. Se o fizer, será aplaudido de pé. Caso contrário...
CAMPINAS SOBE OUTRO DEGRAU
De degrau em degrau, o Campinas vem empreendendo magnífica recuperação no Campeonato Paulista da Série B. Com a vitória, domingo, no Cerecamp, sobre o Tupã, por 2 a 0, o time assumiu a segunda colocação e viu aumentadas suas chances de se classificar para a etapa decisiva da competição. Seu grande desafio nessa fase, porém, será domingo, quando enfrenta o “bicho-papão” do grupo, o Força Sindical da cidade de Caieiras, nos domínios do adversário. Uma vitória do Águia praticamente lhe garante a vaga. É verdade que, se perder, ainda terá chances. Mas será muito mais difícil, pois vai precisar torcer para que pelo menos outros dois times que estão no seu encalço também tropecem. O compromisso do próximo domingo, portanto, se constitui no jogo da vida do Campinas. O que não pode, sobretudo, é perder qualquer ponto em casa. E, se puder, precisa conquistar alguma vitória ou empate fora. Continuo confiante que, finalmente, a cidade terá três grandes times, em duas das principais divisões da Série A. Não nos decepcione, Águia guerreira!
VASCO CORRE POR FORA
A grande surpresa do Campeonato Brasileiro da Série A deste ano é o Vasco da Gama. Com um plantel relativamente modesto, o time vem fazendo uma campanha digna, muito diferente das de anos anteriores, quando se limitava a tentar escapar do rebaixamento. Com a vitória, ontem, em São Januário, por 2 a 0, sobre o América de Natal, por exemplo, o Vasco já é o terceiro colocado da competição. Atribuo 90% do sucesso desse tradicionalíssimo clube carioca a um treinador dos mais injustiçados do futebol brasileiro, que mostrou grande competência por toda a parte por que passou, sem que obtivesse o devido reconhecimento. Refiro-me a Celso Roth, que entre tantas outras façanhas, foi o responsável pela revelação de Robinho, no Santos, que hoje brilha com a camisa do Real Madri e da Seleção Brasileira. O treinador recuperou, por exemplo, para o futebol, o atacante Leandro Amaral, que vivia encostado nos clubes paulistas e que, no Vasco, não pára de fazer gols. Apesar da fama (injusta) de retranqueiro, a equipe cruzmaltina, sob a sua direção, mostra um grande poder ofensivo, sem se descuidar da defesa. Se o São Paulo bobear, portanto, o Vasco pode, não apenas incomodar, mas até, quem sabe, beliscar o título deste ano. Olho nele, portanto.
DEFESA INVULNERÁVEL
Se o São Paulo for o campeão brasileiro deste ano, o mérito maior, sem dúvida, será da sua excelente defesa. Findo o Primeiro Turno (conquistado pelo tricolor paulistano) e iniciado o segundo, o time sofreu, apenas, sete gols! Incrível! A defesa são-paulina, como se vê, é uma muralha. Ontem, em Goiânia, no empate sem gols com o Goiás, Rogério Ceni e os zagueiros garantiram o precioso ponto conquistado fora de casa. Não me recordo, na história do Campeonato Brasileiro, de nenhuma outra defesa que mostrasse tamanha eficiência. E o curioso é que entra jogador, sai jogador e a zaga não se desestabiliza. Rogério Ceni, disparado o melhor goleiro do País e um dos melhores do mundo (sem nenhum exagero), ainda se dá o luxo de fazer gols, ora de pênaltis, ora de faltas. Já ultrapassou, em muito, o recorde de Chilavert e dificilmente outro goleiro qualquer no mundo fará tantos gols como ele. Aliás, duvido que alguém alcance sequer a marca do falastrão paraguaio, quanto mais a do capitão tricolor.
RESPINGOS...
· Paulo César Carpeggiani continua “tirando água de pedra” do atual time corintiano. Depois de vencer Grêmio e Botafogo, o alvinegro de Parque São Jorge foi buscar um bom empate, por 2 a 2, em Caxias do Sul, com o Juventude.
· Em jogo emocionante, e de bom nível técnico, Palmeiras, finalmente, obteve uma vitória no Parque Antártica, onde sua performance não vem sendo das melhores. Derrotou o esforçado Flamengo por 2 a 1. Mas foi no sufoco.
· Cuidado com o Santos, de Wanderley Luxemburgo. De mansinho, de mansinho, vem acumulando vitórias e já está a simples três pontos da zona dos que vão se classificar para a Copa Libertadores da América de 2008. Sábado, a vítima do peixe foi o Sport Recife, do técnico Geninho, que perdeu, na Vila Belmiro, por 2 a 0.
· Os dois times do Paraná são fortes candidatos ao rebaixamento deste ano. Recorde-se que o campeão da temporada desse Estado foi um time do interior, o modesto Paranavaí, que já foi eliminado, e na primeira fase, do Campeonato Brasileiro da Série C.
· A Ponte Preta, de tanto a torcida pedir, trouxe um novo zagueiro, para reforçar seu plantel. Trata-se de André Gaúcho, que jogava no Ipatinga. Falta, agora, um armador, para substituir Heverton, quando este não puder jogar. O clube tem exatos 30 dias para inscrever reforços para o segundo turno do Campeonato Brasileiro da Série B. Vamos se mexer, Tiãozinho!!! O time ainda está muito longe de ser aquele que tanto queremos!
· E fim de papo por hoje. Entre em contato, para críticas e sugestões.
pedrojbk@hotmail.com
(Fotos: Arquivo, site oficial da Ponte Preta, Weimer Carvalho e Marcos Arcoverde/VIPCOMM)
DUAS DECEPÇÕES NO FIM DO TURNO
A Ponte Preta encerrou o Primeiro Turno do Campeonato Brasileiro da Série B proporcionando duas decepções consecutivas à sua apaixonada e fiel torcida. A primeira foi na semana retrasada, véspera do 107º aniversário do clube, quando foi goleada pelo limitado Ceará, em Fortaleza, por 4 a 1. Fez, sobretudo, um segundo tempo horrível, desses para serem esquecidos, em que apresentou graves defeitos em todos os seus compartimentos. O resultado foi o que se viu. Até o excelente goleiro Denis falhou em um dos gols. A desculpa (válida) foi a de mudança brusca de clima. Afinal, a Ponte saiu de Florianópolis, com temperatura de dois graus centígrados e teve que encarar o sufocante calor da capital cearense, por volta de 35 graus. O que fazer? É a realidade de um país de dimensões continentais. Mas para a segunda decepção não há desculpas. A Ponte Preta jogou em casa, apoiada pela torcida, com o seu time titular, mas não saiu de um pífio empate, por 1 a 1, com um dos lanternas da competição, o Remo, do Pará. E deve se dar por satisfeita por não haver perdido o jogo. A torcida não agüentou mais esse fiasco e fez um justificado desabafo. Vaiou tanto o técnico Nelsinho Baptista (que fez três substituições equivocadas, se não desastrosas) e, principalmente, o jogador Roger. Curioso é que, salvo na estréia, quando esse atleta foi expulso, a Ponte não venceu um só jogo em que o atacante jogasse. Coincidência? Difícil! Aí tem coisa!
CAMPANHA DISCRETA
O Guarani faz campanha apenas discreta na segunda fase do Campeonato Brasileiro da Série C. Obteve uma vitória (dramática e de virada), contra o Vila Nova de Goiânia, no Brinco de Ouro, por 2 a 1; sofreu uma derrota, pelo mesmo placar, em Rio Claro, para os donos da casa e arrancou um empate, sem gols, em Catalão, com o Crac local. Tudo indica, porém, que vai dar para o gasto. É verdade que tem dois compromissos seguidos em Campinas, embora não se possa afirmar (nunca se pode antes do jogo acontecer) que fará os seis pontos. Se fizer, dará um passo decisivo para se classificar para a penúltima fase da competição. Caso contrário... O time oscila muito de uma partida para outra e até mesmo no correr de um mesmo jogo. Alterna momentos brilhantes, de alta técnica e eficiência, com instantes de sonolência e de falta de concentração. Embora muitos discordem, a grande estrela do Guarani não está no seu plantel, mas no banco de reservas. É o treinador José Luiz Carbone, um vencedor, tanto como atleta, quanto como técnico. O time não tem nenhum jogador que se destaque dos demais. É um plantel modesto, sem qualquer jogador desses que desequilibram, constituído por meros “operários da bola”, que, todavia, jogam com muita raça e amor à camisa. Será o suficiente para voltar à Série B? Só o tempo poderá dizer.
VAIAS IRRITAM NELSINHO
O treinador da Ponte Preta, Nelsinho Baptista, não escondeu de ninguém sua irritação com as vaias da torcida ao seu trabalho e, principalmente, à ridícula partida (mais uma vez) do meia Roger. Falou “cobras e lagartos” contra a torcida, na coletiva que deu após o jogo. Em princípio, sou contra esse tipo de manifestação, que só desestabiliza o time e não traz vantagem alguma para ninguém. Mas, confesso, também vaiei as três substituições, afoitas e desastrosas, do técnico. E vaiei mais ainda a pífia atuação do meia pontepretano. Não entendo a insistência de Nelsinho em relação a Roger. O jogador ainda não disse a que veio ao Moisés Lucarelli. Desde que retornou ao clube, só fez besteira. Além do que, desrespeitou a torcida, o que foi, provavelmente, a maior das tantas bobagens que cometeu. Roger está queimado com o torcedor. Não tem mais clima para vestir a camisa pontepretana. Se quiser fazer as pazes com a comunidade alvinegra, o caminho é muito simples: jogar. Tem que fazer gols. Precisa empenhar-se durante os jogos. Ninguém vaia, por exemplo, Alex Terra, mesmo quando joga mal. Afinal, o atacante disputou, apenas, um terço dos jogos e fez nove gols, com uma eficiência impressionante. Ninguém vaia Heverton, mesmo quando sua performance é apagada. Por que? Porque, além de cumprir seu papel, já fez oito gols no campeonato. Por que Roger não faz o mesmo? Arre! Se repetir o que fez desde que voltou ao Majestoso, continuarei vaiando o atleta (e a torcida, mais ainda), cada vez mais alto e com maior insistência. Isso, mesmo sendo contra esse tipo de protesto em relação a jogadores do meu clube de coração. Nelsinho, portanto, não tem porque ficar irritado. Tem é que aceitar humildemente as criticas e tomar decisões corretas. Se o fizer, será aplaudido de pé. Caso contrário...
CAMPINAS SOBE OUTRO DEGRAU
De degrau em degrau, o Campinas vem empreendendo magnífica recuperação no Campeonato Paulista da Série B. Com a vitória, domingo, no Cerecamp, sobre o Tupã, por 2 a 0, o time assumiu a segunda colocação e viu aumentadas suas chances de se classificar para a etapa decisiva da competição. Seu grande desafio nessa fase, porém, será domingo, quando enfrenta o “bicho-papão” do grupo, o Força Sindical da cidade de Caieiras, nos domínios do adversário. Uma vitória do Águia praticamente lhe garante a vaga. É verdade que, se perder, ainda terá chances. Mas será muito mais difícil, pois vai precisar torcer para que pelo menos outros dois times que estão no seu encalço também tropecem. O compromisso do próximo domingo, portanto, se constitui no jogo da vida do Campinas. O que não pode, sobretudo, é perder qualquer ponto em casa. E, se puder, precisa conquistar alguma vitória ou empate fora. Continuo confiante que, finalmente, a cidade terá três grandes times, em duas das principais divisões da Série A. Não nos decepcione, Águia guerreira!
VASCO CORRE POR FORA
A grande surpresa do Campeonato Brasileiro da Série A deste ano é o Vasco da Gama. Com um plantel relativamente modesto, o time vem fazendo uma campanha digna, muito diferente das de anos anteriores, quando se limitava a tentar escapar do rebaixamento. Com a vitória, ontem, em São Januário, por 2 a 0, sobre o América de Natal, por exemplo, o Vasco já é o terceiro colocado da competição. Atribuo 90% do sucesso desse tradicionalíssimo clube carioca a um treinador dos mais injustiçados do futebol brasileiro, que mostrou grande competência por toda a parte por que passou, sem que obtivesse o devido reconhecimento. Refiro-me a Celso Roth, que entre tantas outras façanhas, foi o responsável pela revelação de Robinho, no Santos, que hoje brilha com a camisa do Real Madri e da Seleção Brasileira. O treinador recuperou, por exemplo, para o futebol, o atacante Leandro Amaral, que vivia encostado nos clubes paulistas e que, no Vasco, não pára de fazer gols. Apesar da fama (injusta) de retranqueiro, a equipe cruzmaltina, sob a sua direção, mostra um grande poder ofensivo, sem se descuidar da defesa. Se o São Paulo bobear, portanto, o Vasco pode, não apenas incomodar, mas até, quem sabe, beliscar o título deste ano. Olho nele, portanto.
DEFESA INVULNERÁVEL
Se o São Paulo for o campeão brasileiro deste ano, o mérito maior, sem dúvida, será da sua excelente defesa. Findo o Primeiro Turno (conquistado pelo tricolor paulistano) e iniciado o segundo, o time sofreu, apenas, sete gols! Incrível! A defesa são-paulina, como se vê, é uma muralha. Ontem, em Goiânia, no empate sem gols com o Goiás, Rogério Ceni e os zagueiros garantiram o precioso ponto conquistado fora de casa. Não me recordo, na história do Campeonato Brasileiro, de nenhuma outra defesa que mostrasse tamanha eficiência. E o curioso é que entra jogador, sai jogador e a zaga não se desestabiliza. Rogério Ceni, disparado o melhor goleiro do País e um dos melhores do mundo (sem nenhum exagero), ainda se dá o luxo de fazer gols, ora de pênaltis, ora de faltas. Já ultrapassou, em muito, o recorde de Chilavert e dificilmente outro goleiro qualquer no mundo fará tantos gols como ele. Aliás, duvido que alguém alcance sequer a marca do falastrão paraguaio, quanto mais a do capitão tricolor.
RESPINGOS...
· Paulo César Carpeggiani continua “tirando água de pedra” do atual time corintiano. Depois de vencer Grêmio e Botafogo, o alvinegro de Parque São Jorge foi buscar um bom empate, por 2 a 2, em Caxias do Sul, com o Juventude.
· Em jogo emocionante, e de bom nível técnico, Palmeiras, finalmente, obteve uma vitória no Parque Antártica, onde sua performance não vem sendo das melhores. Derrotou o esforçado Flamengo por 2 a 1. Mas foi no sufoco.
· Cuidado com o Santos, de Wanderley Luxemburgo. De mansinho, de mansinho, vem acumulando vitórias e já está a simples três pontos da zona dos que vão se classificar para a Copa Libertadores da América de 2008. Sábado, a vítima do peixe foi o Sport Recife, do técnico Geninho, que perdeu, na Vila Belmiro, por 2 a 0.
· Os dois times do Paraná são fortes candidatos ao rebaixamento deste ano. Recorde-se que o campeão da temporada desse Estado foi um time do interior, o modesto Paranavaí, que já foi eliminado, e na primeira fase, do Campeonato Brasileiro da Série C.
· A Ponte Preta, de tanto a torcida pedir, trouxe um novo zagueiro, para reforçar seu plantel. Trata-se de André Gaúcho, que jogava no Ipatinga. Falta, agora, um armador, para substituir Heverton, quando este não puder jogar. O clube tem exatos 30 dias para inscrever reforços para o segundo turno do Campeonato Brasileiro da Série B. Vamos se mexer, Tiãozinho!!! O time ainda está muito longe de ser aquele que tanto queremos!
· E fim de papo por hoje. Entre em contato, para críticas e sugestões.
pedrojbk@hotmail.com
REFLEXÃO DO DIA
Admiramos heróis e santos do passado, de épocas bastante remotas que entendemos tenham sido como gloriosas e inesquecíveis. Porém, não raro, nos sentimos diminuídos face à grandeza desses mitos. Tolice! Todos temos, adormecidas, as características que levaram esses vultos às grandes realizações. Basta, apenas, que as identifiquemos e desenvolvamos. Nosso potencial é grandioso e não ficamos devendo nada a ninguém, seja de que época for. Fernando Pessoa faz essa constatação nesses magníficos versos: “Todas as épocas me pertencem um momento/todas as almas um momento tiveram seu lugar em mim”. Mas, para agir como esses heróis e santos, que tanto reverenciamos (com justiça), teremos que agir como eles. Ou seja, devemos ser desprendidos, abnegados, solidários, altruístas e corajosos. Temos que ser construtivos e justificar nossa passagem pelo mundo. Afinal, viver é muito mais nobre, útil e agradável do que meramente sobreviver.
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