Thursday, October 20, 2011







TV e a formação da opinião nacional

Pedro J. Bondaczuk

A Rede Globo, mais uma vez, sai na frente de suas concorrentes, desta vez num assunto de suma importância para o País, como é o próximo pleito eleitoral, que vai se desenvolver no próximo dia 15 de novembro. A partir de 3 de agosto, em todos os domingos, sua equipe de jornalismo estará nas ruas, sentindo o clima de eleições de Norte a Sul do Brasil.

O leitor certamente está lembrado de que, além de todos os governadores estaduais, iremos declinar, nas urnas, o nome do nosso representante para a confecção da lei máxima que irá nos reger até o próximo milênio, ou seja, a nossa oitava Constituição. A feição dessa Carta Magna será determinada pelo perfil ideológico daqueles que elegermos. Não será prudente, portanto, votar apenas por "compadrismo", ou de olho em algum emprego público que determinado político estiver eventualmente oferecendo, ou até mesmo por vagas simpatias pessoais.

Já é tempo do brasileiro aprender a valorizar a sua opinião. De saber usar esse instrumento democrático tão precioso e que, de tempos em tempos, lhe é suprimido, que é o seu voto. É indispensável que cada um de nós comece a formar a sua chapa desde logo, para não ser iludido na última hora por pessoas bem-falantes, mas com a cabeça mais vazia do que bolso de pobre e que não expressam corretamente a nossa vontade. E é nesse ponto que entra a nossa crítica à televisão.

Talvez preocupados em demasia com o papel que a seleção brasileira faria na Copa do Mundo do México (que graça aos méritos pessoais do técnico e dos jogadores, e não dos políticos que a atrapalharam, sob o pretexto de "comandar", não foi dos piores), os programadores se esqueceram das eleições de 15 de novembro.

Quando as emissoras noticiaram alguma coisa, foi no sentido de mostrar as briguinhas paroquiais desses arremedos de partidos de que dispomos na atualidade. Com isso, passaram para o público a falsa impressão (consciente ou inconscientemente), de que a próxima consulta às urnas não seria nada mais do que mera formalidade, uma espécie de obrigação civil para se manter em dia com a lei, ao invés daquilo que ela realmente é, ou seja, um privilégio e um sagrado direito democrático, de cada cidadão.

De Constituinte, que é o tema mais importante dos últimos trinta anos, não se falou absolutamente nada, pelo menos não nos horários de maior audiência e considerados mais populares. Se alguém sair às ruas hoje para perguntar ao povo o que ela significa, pouca gente saberá dizer. Não porque os cidadãos sejam ignorantes, ou iletrados, ou tenham raciocínio curto. O que eles estão, na verdade, é muito mal informados. E a informação, como se sabe, é tarefa dos meios de comunicação, aliás, é o seu papel fundamental.

Entretanto, é melhor que se faça algo para esclarecer o eleitor, acerca da importância do próximo pleito, tarde, do que não se faça nunca. E nesse aspecto a Rede Globo está demonstrando mais agilidade do que as demais emissoras, pelo menos anunciando diariamente no ar esse seu trabalho de esclarecimento, que no ano passado foi da melhor qualidade possível.

As pesquisas de opinião, que vão fluir com maior freqüência, doravante, servirão, certamente, de termômetros para avaliar a "temperatura" de cada candidato. Mas é fundamental que esse programa não se limite somente a informar dados que poderão ser encontrados facilmente em qualquer outro lugar. É preciso que traga pessoas peritas no assunto, que se comuniquem bem, para explicar o "ABC" da Constituinte. Que se promova debates com postulantes à futura Assembléia, pertencentes a todo o espectro ideológico hoje existente no País, para que o público sinta o que poderá esperar dos futuros redatores da nossa Constituição.

Já é hora de acabarmos com a nossa proverbial alienação e de participarmos, com empenho e com sabedoria, da construção do nosso futuro. E a responsabilidade da televisão, como o veículo comunicativo de maior alcance nacional, é imensurável, no sentido de formar corretamente a opinião brasileira.

(Artigo publicado na página 10, Arte & Variedades, do Correio Popular, em 12 de julho de 1986)

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