Saturday, October 22, 2011







Megalópolis

Pedro J. Bondaczuk

Caminho, sonâmbulo inconsciente
qual conspurcante zumbi
disforme, raquítico, trôpego,
por ruas desconhecidas
da cidade dos pesadelos.

Sombra entre esquivas sombras,
encasquetado, ensimesmado
e perdido na tarde suja
de intensíssimo calor
vago sem bússola nem mapa.

Arranha-céus monstruosos
abatem a luz antisséptica do sol
e desenham disformes silhuetas
em muros emporcalhados de negro
e arruinadas calçadas de pedra.

Vislumbro pedaços irregulares,
nesgas ínfimas de céu,
de azul profundo, azul intenso,
por entre rasgos assimétricos
no encardido, no roto manto
de nuvens acinzentadas, violáceas
e espessas de tóxicos humores.

Carros desalinham-se, irregulares,
imensas lesmas de metais.
deixando oxidantes rastros.
Arrastam-se, sonolentos e ruidosos
num alarido insano, ensurdecedor,
dissonantes trombetas de Jericó.

Megalópolis torturante, nauseabunda,
máquina de moer sonhos e vidas,
monstruosa devoradora de homens,
infame, faminta e gulosa canibal
que ilude, com suas miragens,
arapucas, ilusões, sortilégios
de fortunas, glória e poder,
os cúpidos, incautos e canalhas.

(Campinas, 21 de outubro de 2011)


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