Sob o influxo das águas
Pedro J. Bondaczuk
O mar sempre foi, é e certamente continuará sendo farta fonte de inspiração para escritores de todos os gêneros, quer de ficção (romances, novelas, contos e enredos de cinema), quer de não-ficção (crônicas, poemas, ensaios etc.). E não é para menos. Dois terços do nosso planeta são constituídos de água. Sua parte sólida é, proporcionalmente, pequena e, ademais, mal-aproveitada. Nosso corpo, que aparenta uma solidez que na verdade não possui, é formado, em cerca de 80%, por essa vitalíssima substância, tão pouco valorizada, mas indispensável à vida.
Aliás, sob pena de ser repetitivo (Já escrevi isso “n” vezes, mas nunca é demais reiterar), nosso Planeta, por aquilo de que é formado, convenhamos, tem nome inadequado: Terra! Deveria chamar-se, logicamente, "Água"! Afinal, como ressaltei, dois terços de sua superfície são formados por essa incrível substância, originada pela reação química de dois gases e que, no entanto, assume as três formas da natureza, dependendo das condições de temperatura: sólida, líquida ou gasosa.
O terço restante do Planeta é 24% inabitável, por ser constituído de regiões rochosas e desertos arenosos, bem como de solos cobertos de gelo. Desse terço, portanto, restam apenas 76% de solos utilizáveis para o homem habitar, construir suas cidades, arar e semear e assim obter os alimentos necessários à sobrevivência.
A Terra tem, para que vocês tenham uma idéia da inadequação do seu nome, estimados um sextilhão e quatrocentos e trinta quintilhões de quilos de água! Ou seja, um vírgula quarenta e três vezes dez elevado à vigésima primeira potência de quilos. Nesta altura vocês, certamente, deverão estar espantados quando se diz que essa substância pode vir a faltar algum dia, diante dessa colossal quantidade. Mas poderá, estejam certos. Aliás, já está faltando em muitas partes. Pelo menos a água potável, que representa, apenas, 2,3% do total dessa substância, é muito mais escassa do que muitos supõem. Os restantes 97,7% estão nos mares e oceanos.
Por milênios, essa vastíssima porção aquosa impediu que pessoas se deslocassem de uma parte a outra da Terra. Atravessar os mares, até há pouco tempo, era uma aventura para poucos. Para pessoas destemidas e resistentes, ou malucas, como já chegaram a ser encaradas. Por isso, não é de se estranhar que haja tantos livros, tantos romances tendo mares e oceanos por cenário.
Ainda hoje, não se pode afirmar que as travessias marítimas sejam absolutamente seguras, a despeito da evolução tecnológica nesse meio de transporte. Volta e meia temos notícias de naufrágios de transatlânticos moderníssimos, ou de iates ou, pior, de superpetroleiros aparentemente imunes às grandes tempestades. Neste último caso, há a agravante da poluição dessa já tão poluída porção aquosa do Planeta.
Entre as histórias envolvendo mares, as que mais instigaram a imaginação dos escritores (e, claro, dos seus leitores) foram as referentes a piratas. Mesmo atualmente, elas ainda excitam milhões de pessoas mundo afora, notadamente os mais jovens, ávidos por aventuras. Ademais, a pirataria, posto que não tão divulgada quanto, por exemplo, nos séculos XV, XVI e XVII, ainda existe, em especial no Oceano Índico. E livros continuam sendo escritos, abordando as estripulias dessas hienas dos mares.
Mas as histórias de piratas não são as únicas, as exclusivas que têm por cenário, por palco em que se desenvolvem dramas e tragédias, os mares e oceanos mundo afora. Por exemplo, as grandes batalhas navais ocorridas durante a Segunda Guerra Mundial – que mesmo tendo acabado há 66 anos, continuam gerando enredos e mais enredos desse período – são temas recorrentes de escritores de vários países, notadamente dos Estados Unidos.
Há romances marinhos que se tornaram clássicos da literatura mundial. Não vou enumerá-los, porquanto, certamente, não há leitor bem informado que não conheça vários deles. Citarei, apenas, a título de exemplo, os que me vêm à memória sem que precise pensar muito. Cito, entre estes, um livro que me empolgou na juventude – e certamente empolga a garotada de hoje – “A ilha do tesouro”, de Robert Louis Stevenson. De tanto ler versões dessa história (inclusive em revistas de quadrinhos) e de assistir filmes a respeito (até de desenhos animados), conheço o enredo de trás para a frente. Qualquer garoto esperto, bem informado, e que goste de ler, também conhece e, provavelmente, melhor do que eu. Portanto, esse meu conhecimento não representa vantagem alguma em relação a ninguém.
Outro romance marinho, que já foi, até, tema de importantes teses acadêmicas, é “Moby Dick”, de Hermann Melville. A luta entre o homem e esse terrível cachalote é de tirar o fôlego. Vem tirando o dos leitores há gerações. Nessa mesma linha, cito essa obra-prima da literatura mundial, que é “O velho e o mar”, de Ernest Hemmingway. É um dos livros que mais me marcaram, pelo suspense que envolve esse “combate” entre o homem e o peixe, que teima em resistir, defendendo com denodo a própria vida.
Já histórias, envolvendo tubarões, foram, há não muito, verdadeira febre entre o público. Isso aconteceu, principalmente, por “culpa” de Hollywood, por causa dos vários filmes rodados em que este voraz ser marinho aterrorizou determinados mares e algumas cidades costeiras.
Dias desses, reorganizando minha caótica e farta biblioteca, localizei um livro que há anos acreditava perdido. Há pelo menos meio século, o romance em questão está esquecido no Brasil. Li-o quando tinha doze anos de idade, em meados dos anos 50 do século XX, quando essa obra era muito popular. Trata-se de “A hiena dos mares (dois anos ao pé do mastro)”, do britânico Richard H. Dana.
Seu enredo aborda, basicamente, o tratamento cruel que era dispensado aos marinheiros de um navio britânico, principalmente dos castigos físicos que lhes eram infligidos para prevenir (ou para punir) motins. Essas pessoas, geralmente, eram fugitivos da justiça ou prisioneiros libertados para trabalhar em embarcações mercantes, ou pesqueiras, onde não poderiam incomodar mais a sociedade com seus delitos. E não incomodavam mesmo. Mas eram tratados como escravos, ou até de forma pior.
Esse livro é muito antigo. Foi publicado, originalmente, na Inglaterra, em 1909. Fazia parte da coleção “Clássicos de Harvard”, com obras marcantes, de escritores que hoje são mitos da literatura mundial. Fiquei frustrado, contudo, por não encontrar referências sobre Richard H. Dana, nem mesmo na internet. Ainda assim, esse livrinho, de páginas já amareladas pelo tempo, suscitou-me estas descompromissadas divagações, que creio válidas. E, claro, aproveitei a ocasião para reler o romance, cujo enredo o tempo (sempre ele!) já havia se encarregado de apagar da minha memória. Se encontrarem-no, eventualmente, em algum sebo, leiam-no também. Vale a pena.
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
Pedro J. Bondaczuk
O mar sempre foi, é e certamente continuará sendo farta fonte de inspiração para escritores de todos os gêneros, quer de ficção (romances, novelas, contos e enredos de cinema), quer de não-ficção (crônicas, poemas, ensaios etc.). E não é para menos. Dois terços do nosso planeta são constituídos de água. Sua parte sólida é, proporcionalmente, pequena e, ademais, mal-aproveitada. Nosso corpo, que aparenta uma solidez que na verdade não possui, é formado, em cerca de 80%, por essa vitalíssima substância, tão pouco valorizada, mas indispensável à vida.
Aliás, sob pena de ser repetitivo (Já escrevi isso “n” vezes, mas nunca é demais reiterar), nosso Planeta, por aquilo de que é formado, convenhamos, tem nome inadequado: Terra! Deveria chamar-se, logicamente, "Água"! Afinal, como ressaltei, dois terços de sua superfície são formados por essa incrível substância, originada pela reação química de dois gases e que, no entanto, assume as três formas da natureza, dependendo das condições de temperatura: sólida, líquida ou gasosa.
O terço restante do Planeta é 24% inabitável, por ser constituído de regiões rochosas e desertos arenosos, bem como de solos cobertos de gelo. Desse terço, portanto, restam apenas 76% de solos utilizáveis para o homem habitar, construir suas cidades, arar e semear e assim obter os alimentos necessários à sobrevivência.
A Terra tem, para que vocês tenham uma idéia da inadequação do seu nome, estimados um sextilhão e quatrocentos e trinta quintilhões de quilos de água! Ou seja, um vírgula quarenta e três vezes dez elevado à vigésima primeira potência de quilos. Nesta altura vocês, certamente, deverão estar espantados quando se diz que essa substância pode vir a faltar algum dia, diante dessa colossal quantidade. Mas poderá, estejam certos. Aliás, já está faltando em muitas partes. Pelo menos a água potável, que representa, apenas, 2,3% do total dessa substância, é muito mais escassa do que muitos supõem. Os restantes 97,7% estão nos mares e oceanos.
Por milênios, essa vastíssima porção aquosa impediu que pessoas se deslocassem de uma parte a outra da Terra. Atravessar os mares, até há pouco tempo, era uma aventura para poucos. Para pessoas destemidas e resistentes, ou malucas, como já chegaram a ser encaradas. Por isso, não é de se estranhar que haja tantos livros, tantos romances tendo mares e oceanos por cenário.
Ainda hoje, não se pode afirmar que as travessias marítimas sejam absolutamente seguras, a despeito da evolução tecnológica nesse meio de transporte. Volta e meia temos notícias de naufrágios de transatlânticos moderníssimos, ou de iates ou, pior, de superpetroleiros aparentemente imunes às grandes tempestades. Neste último caso, há a agravante da poluição dessa já tão poluída porção aquosa do Planeta.
Entre as histórias envolvendo mares, as que mais instigaram a imaginação dos escritores (e, claro, dos seus leitores) foram as referentes a piratas. Mesmo atualmente, elas ainda excitam milhões de pessoas mundo afora, notadamente os mais jovens, ávidos por aventuras. Ademais, a pirataria, posto que não tão divulgada quanto, por exemplo, nos séculos XV, XVI e XVII, ainda existe, em especial no Oceano Índico. E livros continuam sendo escritos, abordando as estripulias dessas hienas dos mares.
Mas as histórias de piratas não são as únicas, as exclusivas que têm por cenário, por palco em que se desenvolvem dramas e tragédias, os mares e oceanos mundo afora. Por exemplo, as grandes batalhas navais ocorridas durante a Segunda Guerra Mundial – que mesmo tendo acabado há 66 anos, continuam gerando enredos e mais enredos desse período – são temas recorrentes de escritores de vários países, notadamente dos Estados Unidos.
Há romances marinhos que se tornaram clássicos da literatura mundial. Não vou enumerá-los, porquanto, certamente, não há leitor bem informado que não conheça vários deles. Citarei, apenas, a título de exemplo, os que me vêm à memória sem que precise pensar muito. Cito, entre estes, um livro que me empolgou na juventude – e certamente empolga a garotada de hoje – “A ilha do tesouro”, de Robert Louis Stevenson. De tanto ler versões dessa história (inclusive em revistas de quadrinhos) e de assistir filmes a respeito (até de desenhos animados), conheço o enredo de trás para a frente. Qualquer garoto esperto, bem informado, e que goste de ler, também conhece e, provavelmente, melhor do que eu. Portanto, esse meu conhecimento não representa vantagem alguma em relação a ninguém.
Outro romance marinho, que já foi, até, tema de importantes teses acadêmicas, é “Moby Dick”, de Hermann Melville. A luta entre o homem e esse terrível cachalote é de tirar o fôlego. Vem tirando o dos leitores há gerações. Nessa mesma linha, cito essa obra-prima da literatura mundial, que é “O velho e o mar”, de Ernest Hemmingway. É um dos livros que mais me marcaram, pelo suspense que envolve esse “combate” entre o homem e o peixe, que teima em resistir, defendendo com denodo a própria vida.
Já histórias, envolvendo tubarões, foram, há não muito, verdadeira febre entre o público. Isso aconteceu, principalmente, por “culpa” de Hollywood, por causa dos vários filmes rodados em que este voraz ser marinho aterrorizou determinados mares e algumas cidades costeiras.
Dias desses, reorganizando minha caótica e farta biblioteca, localizei um livro que há anos acreditava perdido. Há pelo menos meio século, o romance em questão está esquecido no Brasil. Li-o quando tinha doze anos de idade, em meados dos anos 50 do século XX, quando essa obra era muito popular. Trata-se de “A hiena dos mares (dois anos ao pé do mastro)”, do britânico Richard H. Dana.
Seu enredo aborda, basicamente, o tratamento cruel que era dispensado aos marinheiros de um navio britânico, principalmente dos castigos físicos que lhes eram infligidos para prevenir (ou para punir) motins. Essas pessoas, geralmente, eram fugitivos da justiça ou prisioneiros libertados para trabalhar em embarcações mercantes, ou pesqueiras, onde não poderiam incomodar mais a sociedade com seus delitos. E não incomodavam mesmo. Mas eram tratados como escravos, ou até de forma pior.
Esse livro é muito antigo. Foi publicado, originalmente, na Inglaterra, em 1909. Fazia parte da coleção “Clássicos de Harvard”, com obras marcantes, de escritores que hoje são mitos da literatura mundial. Fiquei frustrado, contudo, por não encontrar referências sobre Richard H. Dana, nem mesmo na internet. Ainda assim, esse livrinho, de páginas já amareladas pelo tempo, suscitou-me estas descompromissadas divagações, que creio válidas. E, claro, aproveitei a ocasião para reler o romance, cujo enredo o tempo (sempre ele!) já havia se encarregado de apagar da minha memória. Se encontrarem-no, eventualmente, em algum sebo, leiam-no também. Vale a pena.
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