Preferido de Obama
Pedro J. Bondaczuk
O escritor irlandês, Joseph O’Neil, está na crista da onda. Em recente entrevista à imprensa (em abril de 2011), o presidente norte-americano, Barack Obama, confidenciou que ele está entre os seus autores prediletos. Convenhamos, trata-se de enorme divulgação e não apenas nos Estados Unidos. Certamente, após essa revelação presidencial, muita gente, mundo afora, certamente está curiosa para saber porque o homem mais poderoso do mundo aprecia esse romancista, que até tem certa ligação, indireta, com o Brasil. Afinal, aprendeu o nosso idioma, o português, quando tinha, apenas, três anos de idade. Deve expressar-se muito bem, portanto, em nossa bela e expressiva língua.
Bem, é verdade que não a aprendeu em nosso país, onde nunca esteve. Nunca esteve, todavia, em breve estará entre nós, pois foi convidado (e aceitou o convite) para comparecer à próxima Bienal do Livro no Rio de Janeiro, onde com certeza será a principal ou uma das principais atrações. Mas o país em que Joseph O’Neil aprendeu português foi em Moçambique, com pronúncia, por sinal, bem diferente da nossa. Contudo, não deixa de ser o mesmo idioma nosso, com suas naturais variantes.
Esse aprendizado ocorreu em tenra idade. O escritor irlandês, diga-se de passagem, foi uma espécie de cigano, de “globe trotter” desde pequenininho. Se não, vejamos. Nasceu na Irlanda, em 1964 (tem, portanto, 47 anos, com “muita lenha para queimar”), como eu já disse. Foi, todavia, educado na Holanda. Mas não foi só. Registra, também, passagens pela África do Sul, por Moçambique, pelo Irã, Turquia, Inglaterra (viveu em Londres) e finalmente Estados Unidos, tendo fixado residência na Nova York pós-11 de setembro, onde vive e trabalha, em 1998. Como se vê, não exagero quando o comparo a um cigano.
Sobre como começou a falar nosso idioma – que, convenhamos, não é lá muito fácil de aprender, principalmente para as pessoas de fala inglesa, mas para todos os outros também – O’Neil explica como isso aconteceu: “Quando era criança, com dois ou três anos, vivia em Moçambique. Minha primeira piada foi em português. Minha mãe me colocou na cama, apagou a luz e disse que era hora de dormir. Eu disse ‘muito obrigado’. Foi minha primeira piada. Não é muito engraçada, mas é curiosa”. Aliás, convenhamos, não tem a mínima graça mesmo. Mas... deixa pra lá.
Uma das características mais mencionadas, pelos que o conhecem, da sua personalidade e de seu modo de ser, é o seu bom humor. Pontos para ele. Pessoas ranzinzas e mal humoradas são chatas de doer, por maior que seja sua eventual genialidade. Da minha parte, fujo de gente desse tipo. Acredito que vocês também fujam. Quem não fugiria? Mas o sortudo irlandês esbanja bom humor.
O livro de Joseph O’Neil que fascinou o presidente norte-americano é o romance “Terras baixas”, que está sendo lançado no Brasil. Com divulgação adequada, certamente fará, aqui, o mesmo sucesso que vem fazendo nos Estados Unidos. Ainda mais com uma recomendação como esta, ou seja, do próprio Barack Obama. Aliás, na terra de Tio Sam o interesse por essa história é tão grande, que ela já está sendo adaptada para o cinema por Sam Mendes. Era mais do que previsível que isso viesse a ocorrer.
E o que esse romance tem de tão especial para chamar a atenção, até, de um presidente norte-americano, uma pessoa tão ocupada com tantas e tamanhas responsabilidades? De acordo com os críticos (dos Estados Unidos e daqui), o livro de O’Neil “capta o espírito do tempo da Nova York pós-ataque de 11 de setembro de 2001”.
A história aborda a trajetória de dois imigrantes nesta que é uma das metrópoles mais complexas e cosmopolitas do mundo. Estes dois personagens, contudo, são absolutamente diferentes um do outro, e em tudo: um é branco, rico, de procedência européia e o outro é pobre e, conforme foi ressaltado por um crítico, “escuro como coca-cola”. Essa diferença racional e a forma com que o romancista lida com ela provavelmente foi uma das coisas que atraíram a atenção de Obama (embora eu não possa garantir, claro).
O romance é considerado, quase que consensualmente (e consenso, nestes assuntos, é praticamente impossível), um dos melhores tratando das reações e comportamentos dos novaiorquinos e dos que vivem nessa metrópole, vindos de todas as partes do mundo, no período pós-11 de setembro. Os que conhecem bem a cidade e sua gente garantem que eles são muito diferentes de antes da destruição das torres gêmeas do World Trade Center. É bom que se diga que praticamente todos os demais livros que trataram do tema se constituíram em fracassos editoriais. Por que? Sabe-se lá!
Mas o romance “Terras baixas” já nasceu para brilhar. Além de best-seller, conquistou um dos mais importantes e cobiçados prêmios literários dos Estados Unidos, o “PEN/Faulkner Award” de 2009. Não me surpreenderei nem um pouco se ganhar o Pulitzer nos próximos anos.
Agora, adaptado para o cinema, e ainda mais contando com essa espécie de aval do próprio presidente norte-americano, salvo engano, o potencial de sucesso de Joseph O’Neil e seu romance parece não ter limites. Quem me dera que a presidenta Dilma Roussef conhecesse os meus livros, os lesse e os apreciasse, manifestando, publicamente, essa apreciação. Sonhar, afinal de contas, não paga imposto (ainda). Êta irlandês sortudo que é este sujeito! Sortudo e talentoso, é claro.
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
Pedro J. Bondaczuk
O escritor irlandês, Joseph O’Neil, está na crista da onda. Em recente entrevista à imprensa (em abril de 2011), o presidente norte-americano, Barack Obama, confidenciou que ele está entre os seus autores prediletos. Convenhamos, trata-se de enorme divulgação e não apenas nos Estados Unidos. Certamente, após essa revelação presidencial, muita gente, mundo afora, certamente está curiosa para saber porque o homem mais poderoso do mundo aprecia esse romancista, que até tem certa ligação, indireta, com o Brasil. Afinal, aprendeu o nosso idioma, o português, quando tinha, apenas, três anos de idade. Deve expressar-se muito bem, portanto, em nossa bela e expressiva língua.
Bem, é verdade que não a aprendeu em nosso país, onde nunca esteve. Nunca esteve, todavia, em breve estará entre nós, pois foi convidado (e aceitou o convite) para comparecer à próxima Bienal do Livro no Rio de Janeiro, onde com certeza será a principal ou uma das principais atrações. Mas o país em que Joseph O’Neil aprendeu português foi em Moçambique, com pronúncia, por sinal, bem diferente da nossa. Contudo, não deixa de ser o mesmo idioma nosso, com suas naturais variantes.
Esse aprendizado ocorreu em tenra idade. O escritor irlandês, diga-se de passagem, foi uma espécie de cigano, de “globe trotter” desde pequenininho. Se não, vejamos. Nasceu na Irlanda, em 1964 (tem, portanto, 47 anos, com “muita lenha para queimar”), como eu já disse. Foi, todavia, educado na Holanda. Mas não foi só. Registra, também, passagens pela África do Sul, por Moçambique, pelo Irã, Turquia, Inglaterra (viveu em Londres) e finalmente Estados Unidos, tendo fixado residência na Nova York pós-11 de setembro, onde vive e trabalha, em 1998. Como se vê, não exagero quando o comparo a um cigano.
Sobre como começou a falar nosso idioma – que, convenhamos, não é lá muito fácil de aprender, principalmente para as pessoas de fala inglesa, mas para todos os outros também – O’Neil explica como isso aconteceu: “Quando era criança, com dois ou três anos, vivia em Moçambique. Minha primeira piada foi em português. Minha mãe me colocou na cama, apagou a luz e disse que era hora de dormir. Eu disse ‘muito obrigado’. Foi minha primeira piada. Não é muito engraçada, mas é curiosa”. Aliás, convenhamos, não tem a mínima graça mesmo. Mas... deixa pra lá.
Uma das características mais mencionadas, pelos que o conhecem, da sua personalidade e de seu modo de ser, é o seu bom humor. Pontos para ele. Pessoas ranzinzas e mal humoradas são chatas de doer, por maior que seja sua eventual genialidade. Da minha parte, fujo de gente desse tipo. Acredito que vocês também fujam. Quem não fugiria? Mas o sortudo irlandês esbanja bom humor.
O livro de Joseph O’Neil que fascinou o presidente norte-americano é o romance “Terras baixas”, que está sendo lançado no Brasil. Com divulgação adequada, certamente fará, aqui, o mesmo sucesso que vem fazendo nos Estados Unidos. Ainda mais com uma recomendação como esta, ou seja, do próprio Barack Obama. Aliás, na terra de Tio Sam o interesse por essa história é tão grande, que ela já está sendo adaptada para o cinema por Sam Mendes. Era mais do que previsível que isso viesse a ocorrer.
E o que esse romance tem de tão especial para chamar a atenção, até, de um presidente norte-americano, uma pessoa tão ocupada com tantas e tamanhas responsabilidades? De acordo com os críticos (dos Estados Unidos e daqui), o livro de O’Neil “capta o espírito do tempo da Nova York pós-ataque de 11 de setembro de 2001”.
A história aborda a trajetória de dois imigrantes nesta que é uma das metrópoles mais complexas e cosmopolitas do mundo. Estes dois personagens, contudo, são absolutamente diferentes um do outro, e em tudo: um é branco, rico, de procedência européia e o outro é pobre e, conforme foi ressaltado por um crítico, “escuro como coca-cola”. Essa diferença racional e a forma com que o romancista lida com ela provavelmente foi uma das coisas que atraíram a atenção de Obama (embora eu não possa garantir, claro).
O romance é considerado, quase que consensualmente (e consenso, nestes assuntos, é praticamente impossível), um dos melhores tratando das reações e comportamentos dos novaiorquinos e dos que vivem nessa metrópole, vindos de todas as partes do mundo, no período pós-11 de setembro. Os que conhecem bem a cidade e sua gente garantem que eles são muito diferentes de antes da destruição das torres gêmeas do World Trade Center. É bom que se diga que praticamente todos os demais livros que trataram do tema se constituíram em fracassos editoriais. Por que? Sabe-se lá!
Mas o romance “Terras baixas” já nasceu para brilhar. Além de best-seller, conquistou um dos mais importantes e cobiçados prêmios literários dos Estados Unidos, o “PEN/Faulkner Award” de 2009. Não me surpreenderei nem um pouco se ganhar o Pulitzer nos próximos anos.
Agora, adaptado para o cinema, e ainda mais contando com essa espécie de aval do próprio presidente norte-americano, salvo engano, o potencial de sucesso de Joseph O’Neil e seu romance parece não ter limites. Quem me dera que a presidenta Dilma Roussef conhecesse os meus livros, os lesse e os apreciasse, manifestando, publicamente, essa apreciação. Sonhar, afinal de contas, não paga imposto (ainda). Êta irlandês sortudo que é este sujeito! Sortudo e talentoso, é claro.
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