Projeções do futuro
Pedro J. Bondaczuk
O escritor tem, como principal “ferramenta” da sua atividade, a imaginação. Seu campo de atuação, ou seja, o espaço que pode explorar, é infinito. Não se restringe, apenas, a este nosso planeta. Há, até, um subgênero literário conhecido como ficção científica que, em praticamente noventa por cento dos casos, nada tem de ciência. Afinal, seus autores não são especializados nessa disciplina. Têm, quando muito, ligeiras noções dela, que utilizam até para dar certa verossimilhança aos seus enredos. Há exceções, claro, como é o caso de Isaac Asimov, cientista de renome e de prestígio e que resolveu abraçar a literatura. Estas, todavia, são raras.
A maior parte das projeções que esses escritores fazem do futuro nunca se realiza. Mas é interessante de se ler. Gosto do gênero ficção científica e não apenas eu, mas milhões e milhões de leitores, mundo afora, também o apreciam. Desde criança acompanho esse tipo de histórias. Muitos ousaram fazer previsões, digamos, “a sério”, abstraindo seu caráter ficcional. Nos anos 50, por exemplo, li várias delas, “descrevendo” a época em, que vivemos de forma ousada, mas totalmente diferente do que vemos por aí. Praticamente todas elas afirmavam, por exemplo, que após o ano 2000, as viagens espaciais seriam corriqueiras. Óbvio, não são. Ao contrário, até mesmo as outrora frequentes idas de astronautas à estação espacial internacional vão ficando cada vez mais raras. Questão de custos. A operação é muito cara e os resultados não compensam o investimento.
As várias histórias do gênero que li, e as declarações dos seus autores através da imprensa, previam que o homem chegaria, até o final do século XX e4 início do XXI a outros planetas, fora, inclusive, do nosso Sistema Solar, onde se depararia com civilizações em diferentes estágios de desenvolvimento. Algumas estariam muito mais avançadas do que nós. Outras, porém, viveriam em estado de barbárie, semelhante, ou pior, ao que nós, humanos, vivemos nos tempos em que nossos ancestrais habitavam as cavernas primitivas.
Hoje, sabe-se já não digo da dificuldade, mas da absoluta impossibilidade desses “tours” interplanetários. As distâncias são imensas e os meios de propulsão de nossas rústicas naves espaciais, necessários para que eles fossem minimamente possíveis são sumamente precários. Ademais, não há um único planeta no nosso Sistema Solar, nem mesmo Marte, em que o homem possa, já não digo construir colônias, mas passar reles horas sem que sua vida esteja em risco. Imaginem em sistemas de outras estrelas!
Essas histórias que li fizeram, também, previsões mais plausíveis, referindo-se especificamente ao nosso planeta. Praticamente todos previram cidades totalmente diferentes das que temos hoje, com prédios inteligentes (Já existem vários deles), veículos que dispensam condutores (também já os há), calçadas rolantes, edifícios-cidades de dimensões colossais, quer em altura, quer em largura, e vai por aí afora. Tudo isso ainda pode acontecer, é óbvio, embora não pareça provável. Esbarra, entre outras questões, em custos proibitivos.
Mas, o que o futuro nos reserva? Qualquer previsão que se faça nesse sentido, por mais plausível e provável que seja, será sempre ficcional. É impossível prever, com relativa exatidão, o que ainda não aconteceu. Por que? Ora, ora, ora. Não dá para se saber, sequer, se haverá algum futuro, algum amanhã. Mesmo previsões de curtíssimo prazo (para o final deste dia, por exemplo), têm baixa probabilidade de acerto. Estão condicionadas a circunstâncias de momento, que são ilógicas e aleatórias.
Pelo menos teoricamente, o futuro nos reserva o que soubermos construir, com nossos esforços e capacidades! Isso, se soubermos. Ou se pudermos. Muita coisa, no entanto, precisa mudar, quer política, quer moral, quer comportalmente, para que o homem não somente consiga sobreviver, e evitar o colapso do Planeta, mas construir uma sociedade que realmente funcione e valha a pena, sem as hediondas aberrações de hoje. É desnecessário enfatizar a necessidade, por exemplo, da humanidade banir as guerras, sejam quais forem os motivos ou os meios empregados, e ser mais justa, solidária e racional na partilha do patrimônio comum, que são os esgotáveis recursos da Terra, à beira da exaustão.
É urgente, e vital, entre outras coisas, que se detenha a acelerada e criminosa depredação da natureza, acabando com a poluição das fontes de água potável, tratando adequadamente do solo para que continue fértil e produtivo, para alimentar as possíveis (e prováveis) 17 bilhões de bocas que existirão até o final do século XXI.
O escritor norte-americano, John Updike (que morreu em 27 de janeiro de 2009, aos 76 anos de idade), também fez suas previsões, embora nada tenham a ver com ficção científica. Previu, por exemplo, no romance “O Encontro”: “Haverá ócio e não mais se desperdiçarão os recursos naturais. As cidades serão planejadas e limpas; extrair-se-á energia do átomo e alimento do mar. A Terra recuperará a sua crosta. O período da vida do ser humano será aumentado em função do dos animais, isto é, dez vezes o tempo de crescimento até atingir a maturidade”.
É possível tudo isso? Certamente é. Mas é provável? Não, não e não! Pessimismo a parte (e quem me conhece, sabe que não sou pessimista), não vislumbro a menor possibilidade dessa previsão se concretizar. John Updike previu mais o seguinte: “Talvez o dinheiro tenha também desaparecido. O Estado receberá a produção e dará o necessário. Imagine no que se tornaria este continente (América do Norte) --- as grandes cidades transformadas em coisas belas; a miséria, desaparecida; os rios, conservados; a beleza da paisagem, conservada. Em vez de sofrimento, será adorada a beleza. A arte já não refletirá luta, mas plenitude. Cada homem se conhecerá a si próprio, sem ilusões, com clareza, e é dentro dos limites desse autoconhecimento que construirá uma vida sã e útil. Trabalho e amor, parques, pomares. Vejam se me compreendem. Os fatores que durante séculos deformaram o pensamento do homem e lhe atrofiaram o corpo serão eliminados; o homem desenvolver-se-á como uma árvore, ao ar livre. Não haverá desperdício. Não haverá dor e, sobretudo, desperdício. E é este o céu que há de vir a esta Terra, e em breve”. Óbvio que tudo isso não passa de mais uma utopia, das tantas que existiram e existem, factível, porém improvável (para não dizer impossível).
Para quem não se lembra (ou não sabe), John Updike tornou-se mundialmente conhecido por sua série de novelas “Rabit”, iniciada em 1960, tratando da vida do jogador de basquetebol Harry “Rabit” Angstrom, que ele manteve por mais de trinta anos e que lhe valeu dois Prêmios Pùlitzer.
Mesmo com baixíssimo (diria, virtualmente4 nulo) índice de concretização, certamente milhares e milhares de escritores continuarão fazendo, mundo e tempo afora, suas previsões de futuro, assanhando a fantasia de milhões e milhões de leitores de todas as gerações (inclusive a minha, sem dúvida alguma). Afinal, a imaginação (felizmente para nós, que nos valemos dela para compor nossas obras literárias) não tem limites.
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
Pedro J. Bondaczuk
O escritor tem, como principal “ferramenta” da sua atividade, a imaginação. Seu campo de atuação, ou seja, o espaço que pode explorar, é infinito. Não se restringe, apenas, a este nosso planeta. Há, até, um subgênero literário conhecido como ficção científica que, em praticamente noventa por cento dos casos, nada tem de ciência. Afinal, seus autores não são especializados nessa disciplina. Têm, quando muito, ligeiras noções dela, que utilizam até para dar certa verossimilhança aos seus enredos. Há exceções, claro, como é o caso de Isaac Asimov, cientista de renome e de prestígio e que resolveu abraçar a literatura. Estas, todavia, são raras.
A maior parte das projeções que esses escritores fazem do futuro nunca se realiza. Mas é interessante de se ler. Gosto do gênero ficção científica e não apenas eu, mas milhões e milhões de leitores, mundo afora, também o apreciam. Desde criança acompanho esse tipo de histórias. Muitos ousaram fazer previsões, digamos, “a sério”, abstraindo seu caráter ficcional. Nos anos 50, por exemplo, li várias delas, “descrevendo” a época em, que vivemos de forma ousada, mas totalmente diferente do que vemos por aí. Praticamente todas elas afirmavam, por exemplo, que após o ano 2000, as viagens espaciais seriam corriqueiras. Óbvio, não são. Ao contrário, até mesmo as outrora frequentes idas de astronautas à estação espacial internacional vão ficando cada vez mais raras. Questão de custos. A operação é muito cara e os resultados não compensam o investimento.
As várias histórias do gênero que li, e as declarações dos seus autores através da imprensa, previam que o homem chegaria, até o final do século XX e4 início do XXI a outros planetas, fora, inclusive, do nosso Sistema Solar, onde se depararia com civilizações em diferentes estágios de desenvolvimento. Algumas estariam muito mais avançadas do que nós. Outras, porém, viveriam em estado de barbárie, semelhante, ou pior, ao que nós, humanos, vivemos nos tempos em que nossos ancestrais habitavam as cavernas primitivas.
Hoje, sabe-se já não digo da dificuldade, mas da absoluta impossibilidade desses “tours” interplanetários. As distâncias são imensas e os meios de propulsão de nossas rústicas naves espaciais, necessários para que eles fossem minimamente possíveis são sumamente precários. Ademais, não há um único planeta no nosso Sistema Solar, nem mesmo Marte, em que o homem possa, já não digo construir colônias, mas passar reles horas sem que sua vida esteja em risco. Imaginem em sistemas de outras estrelas!
Essas histórias que li fizeram, também, previsões mais plausíveis, referindo-se especificamente ao nosso planeta. Praticamente todos previram cidades totalmente diferentes das que temos hoje, com prédios inteligentes (Já existem vários deles), veículos que dispensam condutores (também já os há), calçadas rolantes, edifícios-cidades de dimensões colossais, quer em altura, quer em largura, e vai por aí afora. Tudo isso ainda pode acontecer, é óbvio, embora não pareça provável. Esbarra, entre outras questões, em custos proibitivos.
Mas, o que o futuro nos reserva? Qualquer previsão que se faça nesse sentido, por mais plausível e provável que seja, será sempre ficcional. É impossível prever, com relativa exatidão, o que ainda não aconteceu. Por que? Ora, ora, ora. Não dá para se saber, sequer, se haverá algum futuro, algum amanhã. Mesmo previsões de curtíssimo prazo (para o final deste dia, por exemplo), têm baixa probabilidade de acerto. Estão condicionadas a circunstâncias de momento, que são ilógicas e aleatórias.
Pelo menos teoricamente, o futuro nos reserva o que soubermos construir, com nossos esforços e capacidades! Isso, se soubermos. Ou se pudermos. Muita coisa, no entanto, precisa mudar, quer política, quer moral, quer comportalmente, para que o homem não somente consiga sobreviver, e evitar o colapso do Planeta, mas construir uma sociedade que realmente funcione e valha a pena, sem as hediondas aberrações de hoje. É desnecessário enfatizar a necessidade, por exemplo, da humanidade banir as guerras, sejam quais forem os motivos ou os meios empregados, e ser mais justa, solidária e racional na partilha do patrimônio comum, que são os esgotáveis recursos da Terra, à beira da exaustão.
É urgente, e vital, entre outras coisas, que se detenha a acelerada e criminosa depredação da natureza, acabando com a poluição das fontes de água potável, tratando adequadamente do solo para que continue fértil e produtivo, para alimentar as possíveis (e prováveis) 17 bilhões de bocas que existirão até o final do século XXI.
O escritor norte-americano, John Updike (que morreu em 27 de janeiro de 2009, aos 76 anos de idade), também fez suas previsões, embora nada tenham a ver com ficção científica. Previu, por exemplo, no romance “O Encontro”: “Haverá ócio e não mais se desperdiçarão os recursos naturais. As cidades serão planejadas e limpas; extrair-se-á energia do átomo e alimento do mar. A Terra recuperará a sua crosta. O período da vida do ser humano será aumentado em função do dos animais, isto é, dez vezes o tempo de crescimento até atingir a maturidade”.
É possível tudo isso? Certamente é. Mas é provável? Não, não e não! Pessimismo a parte (e quem me conhece, sabe que não sou pessimista), não vislumbro a menor possibilidade dessa previsão se concretizar. John Updike previu mais o seguinte: “Talvez o dinheiro tenha também desaparecido. O Estado receberá a produção e dará o necessário. Imagine no que se tornaria este continente (América do Norte) --- as grandes cidades transformadas em coisas belas; a miséria, desaparecida; os rios, conservados; a beleza da paisagem, conservada. Em vez de sofrimento, será adorada a beleza. A arte já não refletirá luta, mas plenitude. Cada homem se conhecerá a si próprio, sem ilusões, com clareza, e é dentro dos limites desse autoconhecimento que construirá uma vida sã e útil. Trabalho e amor, parques, pomares. Vejam se me compreendem. Os fatores que durante séculos deformaram o pensamento do homem e lhe atrofiaram o corpo serão eliminados; o homem desenvolver-se-á como uma árvore, ao ar livre. Não haverá desperdício. Não haverá dor e, sobretudo, desperdício. E é este o céu que há de vir a esta Terra, e em breve”. Óbvio que tudo isso não passa de mais uma utopia, das tantas que existiram e existem, factível, porém improvável (para não dizer impossível).
Para quem não se lembra (ou não sabe), John Updike tornou-se mundialmente conhecido por sua série de novelas “Rabit”, iniciada em 1960, tratando da vida do jogador de basquetebol Harry “Rabit” Angstrom, que ele manteve por mais de trinta anos e que lhe valeu dois Prêmios Pùlitzer.
Mesmo com baixíssimo (diria, virtualmente4 nulo) índice de concretização, certamente milhares e milhares de escritores continuarão fazendo, mundo e tempo afora, suas previsões de futuro, assanhando a fantasia de milhões e milhões de leitores de todas as gerações (inclusive a minha, sem dúvida alguma). Afinal, a imaginação (felizmente para nós, que nos valemos dela para compor nossas obras literárias) não tem limites.
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