Livros em série
Pedro J. Bondaczuk
Há escritores que se especializaram (e se consagraram) em escrever livros em série, com histórias diferentes, mas envolvendo sempre um mesmo personagem central. Claro que essa “figura” tem que ser, digamos, “carismática” e, principalmente, cair no gosto do leitor. Parece fácil, não é verdade? Contudo não é. Houvesse a facilidade que alguns supõem que haja, muitos romancistas, presumo que a maioria, optaria por esse procedimento.
É verdade que não são poucos os escritores que adotaram (e ainda adotam) essa linha temática, esse fio condutor. Posso citar, por exemplo, o caso de Sir Conan Doyle, com sua dupla tão conhecida (há quem ache, inclusive, que se tratem de personagens de carne e osso e não inventados pelo autor), Sherlock Holmes e Doutor Watson. Querem mais um, ou melhor, no caso mais uma? A grande dama dos contos policiais e de mistério, Agatha Christie, é exemplo característico disso, com o enigmático, baixinho, feioso, careca, mas eficiente detetive Hercule Poirot. Aliás, ela escreveu diversas séries e criou, portanto, vários personagens que “estrelaram” mais de uma aventura.
Seriam só esses dois a se valerem desse recurso. Longe disso. Citaria, nesse caso, um outro britânico, como os dois mencionados, que foi Ian Fleming, com seu dinâmico, elétrico e que muitas vezes descamba para o mágico (e até inverossímil) Agente 007. Limito-me a estes três, por serem, disparado, os mais conhecidos dos escritores que recorreram, com sucesso, a esse expediente, criando personagens que se tornaram “cults” e que engordaram, logicamente, suas respectivas contas bancárias.
Claro, se forçarmos a memória, lembraremos centenas de outros autores (provavelmente muito mais) que optaram por esse exercício e se deram bem. Para que o sucesso que alcançaram fosse viável, era indispensável que seus livros anteriores esgotassem várias edições. Se fossem fiascos, evidentemente, inviabilizariam a sequência. Sem o sucesso comercial, seria impossível não só transformar a história inicial em série, mas, provavelmente, publicar qualquer outra obra. Afinal, para o desgosto dos puristas, editar livros é um negócio (do ponto de vista de vendas) como outro qualquer. Requer rentabilidade e retorno do investimento. Ou não?!
No Brasil, o caso mais característico de enredos seriados foi o de Monteiro Lobato. E ele não criou apenas um personagem forte para viver “n” aventuras, mas vários, como Dona Benta, Tia Anastácia, Pedrinho, Narizinho, Visconde de Sabugosa, Marquês de Rabicó e, principalmente, sua grande estrela, a bonequinha de pano, falante (e põe falante nisso!) e cheia de artimanhas, que foi a Emília. Escreveu para crianças, mas conquistou todos os tipos de público. Pudera! Era um gênio literário.
Esse procedimento, ou seja, o de utilizar um (ou vários) personagens “fortes” em diversas histórias, implica em inúmeros riscos e requer, por conseqüência, toda a sorte de cautelas. O autor, por exemplo, tem que cuidar para não se contradizer. Ou seja, para não descrever, num livro, o tal personagem como sendo alto e em outro, como baixo. Ou loiro em um volume e mulato no outro. E vai por aí afora. E não só isso. Tem que cuidar para não se repetir.
Os livros em série mais em evidência, atualmente, são os da hiper, super, mega bem sucedida escritora britânica J. R. Rowling, com seu incrível e notável Harry Potter. Há já bom tempo essa coletânea de histórias se tornou obsessão, mania, febre , loucura virtualmente mundial, quer nas livrarias, quer nas telas do cinema.
A série da também inglesa, Stephenie Mayer, com seu séquito de vampiros, lobisomens e quetais, igualmente conquistou multidões, e também nos cinemas. O que acho desse tipo de literatura? Como entretenimento, aprovo-o plenamente. Divirto-me com livros com essas características. Já como fonte de idéias que me suscitem reflexões.... Bem, deixa pra lá!
Uma das estrelas em evidência dessa forma de ficção é uma norte-americana. Trata-se de Sara Shepard, que a exemplo dos outros escritores que mencionei, vem esgotando edições após edições com sua série “Pretty Little Liars” , vagamente centrada em sua experiência de vida, notadamente da sua juventude na Filadélfia. Os enredos centram-se nas aventuras de quatro adolescentes, que têm que driblar misteriosa perseguidora, conhecida como “A”. De fato, ela não ameaça a vida dos quatro jovens. Sua ameaça é a de revelar seus segredos mais sombrios que, se revelados, arruinariam suas reputações.
Dos dez livros da série, apenas os quatro primeiros já chegaram ao Brasil, ou seja “Maldosas”, “Impecáveis”, “Perfeitas” e “Inacreditáveis”. Curiosamente, como vocês certamente notaram, é que todos os títulos, de cada um dos quatro volumes, são constituídos por uma única palavra. E não somente os desses que foram traduzidos para o português, mas também os dos outros seis, que ainda não foram: “Wicked”, “”Killer”, Hearthless”, “Wanted”, “Twisted” e “Ruthless”.
Sara Shepard prepara-se para capitalizar, ainda mais, seu sucesso editorial, mas agora na televisão. No entanto, para isso, não irá adaptar sua tão bem sucedida série “Pretty Little Liars” para a telinha. Ela já prepara uma nova, intitulada “The lying game”. Seu plano é que esse seriado seja composto por apenas quatro volumes, mas todos a serem adaptados para a TV.
O enredo vai centrar-se em duas irmãs gêmeas, separadas na maternidade logo após o nascimento. O primeiro desses livros já está pronto e a história completa, em capítulos, será exibida pela Rede ABC. A estréia, inclusive, já tem data marcada: 15 de agosto de 2011. Será sucesso na certa. Isso é que é saber promover livros, o resto é conversa pra boi dormir.
A TV, certamente, divulgará ainda mais não apenas a série mostrada na telinha, mas também a anterior, “Pretty Little Liars”. E Sara está errada em proceder assim e fazer tamanho estardalhaço? Não, não e não! Claro que não! Afinal, quem foi que determinou que é proibido um escritor ganhar dinheiro (e, no caso, muito dinheiro) com o fruto do seu talento, do seu trabalho e da sua imaginação?!
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
Pedro J. Bondaczuk
Há escritores que se especializaram (e se consagraram) em escrever livros em série, com histórias diferentes, mas envolvendo sempre um mesmo personagem central. Claro que essa “figura” tem que ser, digamos, “carismática” e, principalmente, cair no gosto do leitor. Parece fácil, não é verdade? Contudo não é. Houvesse a facilidade que alguns supõem que haja, muitos romancistas, presumo que a maioria, optaria por esse procedimento.
É verdade que não são poucos os escritores que adotaram (e ainda adotam) essa linha temática, esse fio condutor. Posso citar, por exemplo, o caso de Sir Conan Doyle, com sua dupla tão conhecida (há quem ache, inclusive, que se tratem de personagens de carne e osso e não inventados pelo autor), Sherlock Holmes e Doutor Watson. Querem mais um, ou melhor, no caso mais uma? A grande dama dos contos policiais e de mistério, Agatha Christie, é exemplo característico disso, com o enigmático, baixinho, feioso, careca, mas eficiente detetive Hercule Poirot. Aliás, ela escreveu diversas séries e criou, portanto, vários personagens que “estrelaram” mais de uma aventura.
Seriam só esses dois a se valerem desse recurso. Longe disso. Citaria, nesse caso, um outro britânico, como os dois mencionados, que foi Ian Fleming, com seu dinâmico, elétrico e que muitas vezes descamba para o mágico (e até inverossímil) Agente 007. Limito-me a estes três, por serem, disparado, os mais conhecidos dos escritores que recorreram, com sucesso, a esse expediente, criando personagens que se tornaram “cults” e que engordaram, logicamente, suas respectivas contas bancárias.
Claro, se forçarmos a memória, lembraremos centenas de outros autores (provavelmente muito mais) que optaram por esse exercício e se deram bem. Para que o sucesso que alcançaram fosse viável, era indispensável que seus livros anteriores esgotassem várias edições. Se fossem fiascos, evidentemente, inviabilizariam a sequência. Sem o sucesso comercial, seria impossível não só transformar a história inicial em série, mas, provavelmente, publicar qualquer outra obra. Afinal, para o desgosto dos puristas, editar livros é um negócio (do ponto de vista de vendas) como outro qualquer. Requer rentabilidade e retorno do investimento. Ou não?!
No Brasil, o caso mais característico de enredos seriados foi o de Monteiro Lobato. E ele não criou apenas um personagem forte para viver “n” aventuras, mas vários, como Dona Benta, Tia Anastácia, Pedrinho, Narizinho, Visconde de Sabugosa, Marquês de Rabicó e, principalmente, sua grande estrela, a bonequinha de pano, falante (e põe falante nisso!) e cheia de artimanhas, que foi a Emília. Escreveu para crianças, mas conquistou todos os tipos de público. Pudera! Era um gênio literário.
Esse procedimento, ou seja, o de utilizar um (ou vários) personagens “fortes” em diversas histórias, implica em inúmeros riscos e requer, por conseqüência, toda a sorte de cautelas. O autor, por exemplo, tem que cuidar para não se contradizer. Ou seja, para não descrever, num livro, o tal personagem como sendo alto e em outro, como baixo. Ou loiro em um volume e mulato no outro. E vai por aí afora. E não só isso. Tem que cuidar para não se repetir.
Os livros em série mais em evidência, atualmente, são os da hiper, super, mega bem sucedida escritora britânica J. R. Rowling, com seu incrível e notável Harry Potter. Há já bom tempo essa coletânea de histórias se tornou obsessão, mania, febre , loucura virtualmente mundial, quer nas livrarias, quer nas telas do cinema.
A série da também inglesa, Stephenie Mayer, com seu séquito de vampiros, lobisomens e quetais, igualmente conquistou multidões, e também nos cinemas. O que acho desse tipo de literatura? Como entretenimento, aprovo-o plenamente. Divirto-me com livros com essas características. Já como fonte de idéias que me suscitem reflexões.... Bem, deixa pra lá!
Uma das estrelas em evidência dessa forma de ficção é uma norte-americana. Trata-se de Sara Shepard, que a exemplo dos outros escritores que mencionei, vem esgotando edições após edições com sua série “Pretty Little Liars” , vagamente centrada em sua experiência de vida, notadamente da sua juventude na Filadélfia. Os enredos centram-se nas aventuras de quatro adolescentes, que têm que driblar misteriosa perseguidora, conhecida como “A”. De fato, ela não ameaça a vida dos quatro jovens. Sua ameaça é a de revelar seus segredos mais sombrios que, se revelados, arruinariam suas reputações.
Dos dez livros da série, apenas os quatro primeiros já chegaram ao Brasil, ou seja “Maldosas”, “Impecáveis”, “Perfeitas” e “Inacreditáveis”. Curiosamente, como vocês certamente notaram, é que todos os títulos, de cada um dos quatro volumes, são constituídos por uma única palavra. E não somente os desses que foram traduzidos para o português, mas também os dos outros seis, que ainda não foram: “Wicked”, “”Killer”, Hearthless”, “Wanted”, “Twisted” e “Ruthless”.
Sara Shepard prepara-se para capitalizar, ainda mais, seu sucesso editorial, mas agora na televisão. No entanto, para isso, não irá adaptar sua tão bem sucedida série “Pretty Little Liars” para a telinha. Ela já prepara uma nova, intitulada “The lying game”. Seu plano é que esse seriado seja composto por apenas quatro volumes, mas todos a serem adaptados para a TV.
O enredo vai centrar-se em duas irmãs gêmeas, separadas na maternidade logo após o nascimento. O primeiro desses livros já está pronto e a história completa, em capítulos, será exibida pela Rede ABC. A estréia, inclusive, já tem data marcada: 15 de agosto de 2011. Será sucesso na certa. Isso é que é saber promover livros, o resto é conversa pra boi dormir.
A TV, certamente, divulgará ainda mais não apenas a série mostrada na telinha, mas também a anterior, “Pretty Little Liars”. E Sara está errada em proceder assim e fazer tamanho estardalhaço? Não, não e não! Claro que não! Afinal, quem foi que determinou que é proibido um escritor ganhar dinheiro (e, no caso, muito dinheiro) com o fruto do seu talento, do seu trabalho e da sua imaginação?!
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