Seres meteorológicos
Pedro J. Bondaczuk
O clima afeta diretamente cada um de nós e agimos e pensamos de maneiras diferentes no verão, outono, inverno e primavera. Somos, antes de tudo, seres meteorológicos. Escrevi a respeito em uma crônica já bem antiga, em que apresento argumentos que julgo serem sólidos para comprovar essa tese que, aliás, nem é minha, tanto meus, quanto de outros especialistas. Desconheço quem foi que levantou o tema pela primeira vez. E isso importa? Muda o rumo das coisas? Claro que não!
Simplesmente li essa constatação em algum lugar, raciocinei a respeito e concluí que faz sentido. Como? Simples, tomando a mim mesmo como parâmetro. Analisando sentimentos e reações meus em cada estação do ano. Auscultando as sensações táteis face a dias de intenso frio ou de escaldante calor, extremos que, por mais que tentemos minimizar, produzem efeitos peculiares em nosso corpo e, por conseqüência, na mente.
Sempre gostei do verão (nasci nele afinal), mas não dos tão calorentos quanto o atual. E nem tão chuvosos. Os dias de chuva, que caracterizam, notadamente, o mês de janeiro, deixam-me deprimido e triste. Gosto do sol, mas não quando causa tamanho calor que dificulta até a respiração. A depressão aumenta, evidentemente, face às notícias das tragédias causadas pelos temporais deste período, notadamente das que vêm ocorrendo na zona serrana do Rio de Janeiro, onde aconteceu o maior desastre climático da história do Brasil.
A tendência, diante do ocorrido, é a de procurar culpados, acusando autoridades por não haverem adotado medidas de cautela e até as vítimas, insinuando, nas entrelinhas, que elas seriam suicidas em potencial. De quem a culpa? De todos e de ninguém. No frigir dos ovos, é da humanidade, que desde o século XVIII, do início da tal “Revolução Industrial”, vem depredando, e depredando e depredando o Planeta, agindo como se, ao destruir este nosso frágil domo cósmico, tivéssemos outro, novinho em folha, à nossa espera, para nos abrigar. Obviamente, não temos.
Os estudiosos do clima, com base em estudos meticulosos, concluíram que 2010 foi o ano mais quente da história recente do Planeta. Isso diz alguma coisa? Aos alienados, aos burros e aos mesquinhos que reduzem tudo a cifrões sem pensar nas conseqüências, não diz absolutamente nada. Mas aos que têm mais do que dois neurônios funcionando, diz, e muito. Diz que é preciso mudar o atual estilo de vida caso desejemos garantir a sobrevivência da espécie. Que temos que atentar para a superpopulação e fazer alguma coisa para detê-la.
Isso seria lutar contra os instintos, notadamente o básico, de reprodução da espécie? Em parte sim. Mas com inteligência e autocontrole, é possível limitar a natalidade, sem, contudo, impedir a reprodução, ou seja, sem acabar com ela. Afinal de contas, raios, para quê nos serve nossa propalada inteligência, a tal da razão, se não para solucionar problemas como este?!
Meu poeta predileto, o saudoso amigo Mauro Sampaio, compôs excelente poema em que destaca de quem seria a culpa do atual desequilíbrio climático, causador de tragédias como a da zona serrana do Rio de Janeiro ou como as enchentes que assolam a Austrália. Seu título? “O homem”, e diz: “Quando toda a terra, de todos os continentes/for uma terra só, desolada e triste,/nessa tristeza e desolação única/estará estampada a certeza/de que por ela passou o homem!”. E já estamos quase chegando lá, infelizmente.
Voltando ao tema da influência do clima sobre nosso humor e raciocínio (pelo menos sobre o meu), fiz breve (mas meticulosa) análise sobre meus arquivos de textos literários e pude constatar que minha produção, em todos os anos, baixa sensivelmente, tanto em quantidade quanto em qualidade, no verão e, sobretudo, no inverno. Em contrapartida, cresce exponencialmente na primavera para “explodir”, em todos os aspectos, no outono. E esta é a estação mais amena, quase a ideal, pelo menos na região em que moro, ou seja, na desta metrópole interiorana que é Campinas. Seria apenas coincidência? Não creio!
Neste verão causticante e chuvoso, com tantas notícias ruins (e todos os anos é a mesma coisa, variando, apenas, em intensidade e no número de mortos e desabrigados), sou levado a fazer um esforço mental imenso para redigir um reles texto, como este. E, mesmo exibindo-o publicamente, neste oceano de informações que é a internet, desconfio se tratar de considerações pífias, cheias de falhas e contradições, que não condizem com o prestígio que conquistei. É nesta época que minha autoconfiança se evapora e resta a angústia de não escrever como gostaria e como sei fazer. Vários colegas já me confessaram que, nesta época, se sentem assim também. Muitos, é verdade, negaram que haja essa influência climática em sua produção. Pudera! Não produzem nada! Se escreveram dez textos em suas vidas foi muito. Enfim...
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
Pedro J. Bondaczuk
O clima afeta diretamente cada um de nós e agimos e pensamos de maneiras diferentes no verão, outono, inverno e primavera. Somos, antes de tudo, seres meteorológicos. Escrevi a respeito em uma crônica já bem antiga, em que apresento argumentos que julgo serem sólidos para comprovar essa tese que, aliás, nem é minha, tanto meus, quanto de outros especialistas. Desconheço quem foi que levantou o tema pela primeira vez. E isso importa? Muda o rumo das coisas? Claro que não!
Simplesmente li essa constatação em algum lugar, raciocinei a respeito e concluí que faz sentido. Como? Simples, tomando a mim mesmo como parâmetro. Analisando sentimentos e reações meus em cada estação do ano. Auscultando as sensações táteis face a dias de intenso frio ou de escaldante calor, extremos que, por mais que tentemos minimizar, produzem efeitos peculiares em nosso corpo e, por conseqüência, na mente.
Sempre gostei do verão (nasci nele afinal), mas não dos tão calorentos quanto o atual. E nem tão chuvosos. Os dias de chuva, que caracterizam, notadamente, o mês de janeiro, deixam-me deprimido e triste. Gosto do sol, mas não quando causa tamanho calor que dificulta até a respiração. A depressão aumenta, evidentemente, face às notícias das tragédias causadas pelos temporais deste período, notadamente das que vêm ocorrendo na zona serrana do Rio de Janeiro, onde aconteceu o maior desastre climático da história do Brasil.
A tendência, diante do ocorrido, é a de procurar culpados, acusando autoridades por não haverem adotado medidas de cautela e até as vítimas, insinuando, nas entrelinhas, que elas seriam suicidas em potencial. De quem a culpa? De todos e de ninguém. No frigir dos ovos, é da humanidade, que desde o século XVIII, do início da tal “Revolução Industrial”, vem depredando, e depredando e depredando o Planeta, agindo como se, ao destruir este nosso frágil domo cósmico, tivéssemos outro, novinho em folha, à nossa espera, para nos abrigar. Obviamente, não temos.
Os estudiosos do clima, com base em estudos meticulosos, concluíram que 2010 foi o ano mais quente da história recente do Planeta. Isso diz alguma coisa? Aos alienados, aos burros e aos mesquinhos que reduzem tudo a cifrões sem pensar nas conseqüências, não diz absolutamente nada. Mas aos que têm mais do que dois neurônios funcionando, diz, e muito. Diz que é preciso mudar o atual estilo de vida caso desejemos garantir a sobrevivência da espécie. Que temos que atentar para a superpopulação e fazer alguma coisa para detê-la.
Isso seria lutar contra os instintos, notadamente o básico, de reprodução da espécie? Em parte sim. Mas com inteligência e autocontrole, é possível limitar a natalidade, sem, contudo, impedir a reprodução, ou seja, sem acabar com ela. Afinal de contas, raios, para quê nos serve nossa propalada inteligência, a tal da razão, se não para solucionar problemas como este?!
Meu poeta predileto, o saudoso amigo Mauro Sampaio, compôs excelente poema em que destaca de quem seria a culpa do atual desequilíbrio climático, causador de tragédias como a da zona serrana do Rio de Janeiro ou como as enchentes que assolam a Austrália. Seu título? “O homem”, e diz: “Quando toda a terra, de todos os continentes/for uma terra só, desolada e triste,/nessa tristeza e desolação única/estará estampada a certeza/de que por ela passou o homem!”. E já estamos quase chegando lá, infelizmente.
Voltando ao tema da influência do clima sobre nosso humor e raciocínio (pelo menos sobre o meu), fiz breve (mas meticulosa) análise sobre meus arquivos de textos literários e pude constatar que minha produção, em todos os anos, baixa sensivelmente, tanto em quantidade quanto em qualidade, no verão e, sobretudo, no inverno. Em contrapartida, cresce exponencialmente na primavera para “explodir”, em todos os aspectos, no outono. E esta é a estação mais amena, quase a ideal, pelo menos na região em que moro, ou seja, na desta metrópole interiorana que é Campinas. Seria apenas coincidência? Não creio!
Neste verão causticante e chuvoso, com tantas notícias ruins (e todos os anos é a mesma coisa, variando, apenas, em intensidade e no número de mortos e desabrigados), sou levado a fazer um esforço mental imenso para redigir um reles texto, como este. E, mesmo exibindo-o publicamente, neste oceano de informações que é a internet, desconfio se tratar de considerações pífias, cheias de falhas e contradições, que não condizem com o prestígio que conquistei. É nesta época que minha autoconfiança se evapora e resta a angústia de não escrever como gostaria e como sei fazer. Vários colegas já me confessaram que, nesta época, se sentem assim também. Muitos, é verdade, negaram que haja essa influência climática em sua produção. Pudera! Não produzem nada! Se escreveram dez textos em suas vidas foi muito. Enfim...
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