Wednesday, May 25, 2011







Prática que aproxima da perfeição

Pedro J. Bondaczuk


A prática, o exercício constante e o treinamento, enfim, tendem a nos aproximar da perfeição, seja qual for a atividade a que nos reportemos. Só não nos faz perfeitos pelo fato dessa condição ser interdita ao ser humano. Isso também vale, logicamente, quando se trata de literatura. Quanto mais você escreve, atentando para os erros que comete e os corrigindo na sequência, melhor haverá de escrever. Claro, se você tiver talento para tal. Se contar com mensagens inteligentes e válidas a transmitir. Em suma, se tiver conteúdo. A forma de dizer as coisas, ou seja, o “como”, dá para se melhorar com o treinamento. Já o conteúdo, o “o quê” expressar, depende de sua inteligência, grau cultural e capacidade de observação.

Sou favorável à produção diária, mas diária mesmo sem comportar exceções (ou seja, sem pausas em finais de semana ou em feriados), de textos literários. Claro que você não irá produzir obras-primas todos os dias, por mais coisas que você tenha a expressar e por mais próximo da perfeição que seja seu estilo. Perfeito, esteja certo, você nunca será. Sempre haverá pontos, por mínimos que sejam, a melhorar.

Parece uma tarefa fácil escrever todos os dias, notadamente para os apaixonados por literatura. Creiam-me, não é. Não são todos os dias que conseguimos o grau de concentração requerido para a redação de textos sequer razoáveis, quanto mais excelentes. Essa qualidade uniforme pode, sim, ser atingida, mas em patamar médio. E isso requer treino, muito treino, além de muita força de vontade, de muita autodisciplina.

Haverá dias em que você acordará eufórico e terá que fazer esforço imenso para não passar essa euforia para seu texto que, para ter conteúdo razoavelmente aproveitável, terá que se caracterizar pelo equilíbrio e pela sobriedade. O diametralmente oposto também ocorre com freqüência. Ou seja, você desperta deprimido, ou irritado, ou preocupado e, por mais autocontrole que você tenha, dificilmente conseguirá filtrar essas emoções exacerbadas e impedir que elas contaminem seu texto. Certamente, de uma forma ou de outra, contaminarão.

Mas quem ama, de verdade, a literatura e tem muito o que dizer, deve persistir, persistir e persistir. Persistência é a palavra-chave, o gatilho, o mantra dos vencedores. Persistência e autodisciplina. Reitero, não serão todos os dias que você irá produzir textos geniais, por maior que seja o seu preparo, quer técnico, quer cultural e, sobretudo, literário. Se conseguir, todavia, ao longo do mês produzir, digamos, três textos de razoáveis para bons, certamente estará no lucro. Haverá dias em que as idéias surgirão aos borbotões e as palavras brotarão do seu cérebro com espontaneidade. Mas o oposto (e temo que mais vezes) também, com certeza, ocorrerá. Ou seja, aqueles momentos em que terá que pensar muito para encontrar as expressões adequadas para expressar o que pretende. Ou, o que é pior, faltar-lhe-á clareza nos conceitos de que quer tratar. São os dias que o redator caracteriza como de “falta de inspiração. Acredite, estes serão muitos e bem mais freqüentes do que aqueles em que se sentirá plenamente “inspirado”.

Quer um conselho, caro aspirante a escritor? Não se fie tanto nessa tal de “inspiração”. Aposte, isto sim, na “transpiração”. Ou seja, no trabalho árduo, praticamente braçal, concentrando o máximo de atenção na revisão final do texto que vier a produzir. Não me refiro, sequer, à correção de eventuais erros de grafia, concordância ou regência. Cometê-los, em textos literários, é heresia! Pressupõe-se que, em sendo escritor, você domine a sua ferramenta de trabalho, ou seja, a gramática do seu idioma.

A revisão a que me refiro, pois, é a de conteúdo. É no sentido de evitar incoerências e contradições, defeitos que arruínam bons textos e para os quais nem sempre atentamos. Deveríamos atentar. Haverá dias em que suas crônicas, ou seus poemas ou seus contos (não importa o gênero) sairão praticamente prontos do cérebro, cabendo-lhe, apenas, a tarefa de acertar uma coisinha aqui e outra ali. Ou seja, você conseguirá produzir um bom texto em pouco tempo. Mas não se empolgue. Esses momentos ideais, como é de se esperar, são raros. São exceções. A regra é ter que trabalhar bastante no que escreve, notadamente no sentido de cortar excessos vocabulares, o grande defeito da maioria dos redatores.

Escreva, escreva bastante. Exercite a magia do texto todos os dias, principalmente naqueles em que não tiver a menor vontade de escrever. Como em tudo na vida, em literatura, também, a prática aproxima-o da perfeição. É verdade que você jamais chegará a ela, pois é interdita a nós, falíveis humanos. Ainda assim, compete-nos tentar, e tentar e tentar chegar a ela.

A exemplo dos músculos, o cérebro também precisa de estímulos, de ginástica, de exercícios para funcionar melhor. É uma regra da natureza. O uso desenvolve e a falta dele atrofia, e tanto o corpo, quanto a mente. Quanto mais o nosso centro de comando vier a ser exigido, mais ampliará seu alcance e, principalmente, sua capacidade de retenção e elaboração de informações. Pensar é um ato saudável.

Victor Hugo escreveu: "Todo o segredo dos grandes corações está nesta palavra: 'perseverar'. A constância diz que espécie de homem há dentro de nós, qual é a nossa personalidade, a dimensão da nossa coragem. Os constantes são os sublimes. Quem é apenas bravo tem só um assomo, quem é apenas valente tem só um temperamento, quem é apenas corajoso tem só uma virtude; o tenaz, porém, tem a grandeza". Tenacidade é sinônimo de persistência. Só ela conduz ao verdadeiro heroísmo. E este consiste em vencermos nossas deficiências e em conquistarmos os nossos sonhos... Persistir, persistir e persistir. Este é o segredo dos vencedores. E, no nosso caso, é o segredo dos escritores que se tornam imortais.

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