Amarga realidade
Pedro J. Bondaczuk
O grande problema do escritor no Brasil, entre tantos que ele tem que solucionar para fazer chegar seus livros às mãos do seu natural destinatário, o leitor, não é, como muitos pensam, conseguir uma editora. É verdade que isso, às vezes, é complicado, implica em muito esforço e redunda, não raro, em múltiplas frustrações, mas com muito empenho, e um pouquinho de sorte, ele consegue (claro, se a obra produzida tiver qualidade), superar esse obstáculo.
Se alguém se sente exausto após fazer cansativa romaria às editoras e acha que obteve sucesso e já pode se acomodar ao convencer alguma delas a publicar o que escreveu, que se prepare para um esforço “n” vezes maior. E, também, para frustrações muito mais severas do que eventualmente já conheceu. Publicado o livro, não termina a saga de quem busca, com afinco, chegar ao leitor potencial. Na verdade, ela mal começou.
A dificuldade maior é a divulgação. É conseguir informar o público que a obra foi publicada e interessá-lo em adquirir o produto, filho das suas entranhas. E isso é uma roleta-russa. Há ocasiões (raras) em que tudo é propício para o escritor. Ou seja, você conta com contatos “quentes” em jornais e revistas, consegue uma entrevista na televisão em programa de grande audiência (como o do Jô, na Rede Globo), e os parentes e amigos se mobilizam num grande boca a boca, para que o seu livro venda.
Isso aconteceu comigo quando lancei as duas publicações anteriores. Achei que ocorreria o mesmo agora, com “Cronos e Narciso” e “Lance fatal”. Enganei-me. Os ventos, agora, me são totalmente desfavoráveis e tudo o que deu certo antes, vem dando errado agora. Há quem ache que esses problemas ocorrem, apenas, com escritores novos, com “marinheiros de primeira viagem”. Quem pensa assim, engana-se.
Conheço escritores com assento em várias academias de letras, com livros anteriores bem vendidos e com críticas favoráveis, com farta coleção de prêmios literários conquistados que, subitamente, têm o dissabor de algum grande “encalhe”. Eu mesmo sou um deles. Como qualquer principiante, eles têm (e eu tenho) a porta batida no nariz nas redações de jornais, têm (e tenho) que aturar disfarçados risinhos de mofa de arrogantes editores e, não raro, sequer conseguem (ou consigo) a publicação de uma reles notinha de pé de página nas editorias de cultura. Ou seja, não conseguem (e não consigo) informar o público que seu (meu) livro existe, que é romance, ou de contos, ou de crônicas etc. e que versa sobre tais e tais assuntos. É como se a obra não existisse, nunca fosse escrita e muito menos publicada. Sem isso, todavia, como conseguiremos vender? Não conseguiremos!
Por que isso acontece? Essa dificuldade, ressalte-se, não tem nada a ver com a qualidade do livro. Se tivesse, o escritor sequer encontraria quem se dispusesse a publicá-lo. Por que – salvo em blogs pessoais, ou seja, próprios ou de amigos, ou em um ou outro eventual e raro site – nossos bons escritores têm tão pouca divulgação nos meios de comunicação? Eu, embora jornalista e editor de jornal, não sei! Você sabe?
Onde estaria a falha? Nos próprios escritores? Não, não e não! Nas editoras, que não divulgam adequadamente seus produtos? Com todo respeito, creio que nesse assunto elas deixam a desejar. Afinal, se os livros “encalharem”, terão que arcar com prejuízos financeiros, o que é desastroso. Mas vejo a falha maior na imprensa, que ainda não entendeu a relevância da literatura na vida cultural de um país. Não compreendeu que o livro é um produto nobre, de primeira necessidade para a mente e para o espírito, como o alimento é para o corpo. E que, portanto, é “notícia”, objeto de sua atividade.
Se não se desperta no público interesse sequer remotamente parecido com a importância que se dá a temas como esportes (notadamente futebol), política e economia, entre outras áreas, é porque esse assunto não é tratado com a freqüência e a competência que merece. O noticiário referente a livros existe, aqui e ali, mas é escasso, esporádico, cada vez mais raro e, sobretudo, mal-apresentado. O público não está, pois, condicionado a consumi-lo.
E por que trago este assunto à baila? Porque me interessa diretamente e não somente a mim, como também à maioria dos freqüentadores deste espaço, constituída por escritores. E, saibam ou ignorem, concordem ou não, queiram ou não queiram, o grande nó que prejudica a nossa atividade está na falta de divulgação, ou na divulgação escassa e insuficiente, do que produzimos. Está na dificuldade, quando não na impossibilidade, de informar, minimamente, nossos potenciais leitores da existência de nossas obras. De dizer-lhes que elas existem, que tratam de tais e tais assuntos, que estão à venda neste e naquele lugar.
Como as pessoas poderão ter acesso ao que escrevermos se sequer souberem da existência dos nossos livros? Não poderão! Trato deste delicado assunto com pleno conhecimento de causa, por experiência pessoal e não por “ouvir dizer”.
Superestimei a internet, achando que divulgando meus dois últimos lançamentos apenas nesse veículo, estaria garantindo, se não fartas, pelo menos razoáveis vendas. Equivoquei-me direitinho. Fiz dezenas, centenas, quiçá milhares de contatos eletrônicos, divulguei ad náusea meus livros em blogs e sites da rede mundial, coloquei algumas notas no Facebook e diariamente apelo aos meus seguidores no twitter, em vão.
“Cronos e Narciso” e “Lance fatal” estão sendo um desastroso fiasco de vendas. E não tenho problema algum em admitir isso publicamente – embora essa admissão arranhe meu ego e fira meu amor próprio – pois não costumo fugir da verdade, mesmo que esta me machuque e deprecie e muito menos tenho o costume de “dourar a pílula”.
Reitero que meus livros não vêm sendo alvos de críticas negativas (ainda bem). Aliás, sequer foram criticados. Estão sendo, isto sim, olimpicamente ignorados. Quase ninguém, a não ser eu, alguns supostos amigos e a editora que apostou neles sabemos da sua existência. E eu sou apenas um dos vários milhares de escritores país afora, que passa por essa lamentável e vexatória situação. E nem vejo luz no final do túnel.
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
Pedro J. Bondaczuk
O grande problema do escritor no Brasil, entre tantos que ele tem que solucionar para fazer chegar seus livros às mãos do seu natural destinatário, o leitor, não é, como muitos pensam, conseguir uma editora. É verdade que isso, às vezes, é complicado, implica em muito esforço e redunda, não raro, em múltiplas frustrações, mas com muito empenho, e um pouquinho de sorte, ele consegue (claro, se a obra produzida tiver qualidade), superar esse obstáculo.
Se alguém se sente exausto após fazer cansativa romaria às editoras e acha que obteve sucesso e já pode se acomodar ao convencer alguma delas a publicar o que escreveu, que se prepare para um esforço “n” vezes maior. E, também, para frustrações muito mais severas do que eventualmente já conheceu. Publicado o livro, não termina a saga de quem busca, com afinco, chegar ao leitor potencial. Na verdade, ela mal começou.
A dificuldade maior é a divulgação. É conseguir informar o público que a obra foi publicada e interessá-lo em adquirir o produto, filho das suas entranhas. E isso é uma roleta-russa. Há ocasiões (raras) em que tudo é propício para o escritor. Ou seja, você conta com contatos “quentes” em jornais e revistas, consegue uma entrevista na televisão em programa de grande audiência (como o do Jô, na Rede Globo), e os parentes e amigos se mobilizam num grande boca a boca, para que o seu livro venda.
Isso aconteceu comigo quando lancei as duas publicações anteriores. Achei que ocorreria o mesmo agora, com “Cronos e Narciso” e “Lance fatal”. Enganei-me. Os ventos, agora, me são totalmente desfavoráveis e tudo o que deu certo antes, vem dando errado agora. Há quem ache que esses problemas ocorrem, apenas, com escritores novos, com “marinheiros de primeira viagem”. Quem pensa assim, engana-se.
Conheço escritores com assento em várias academias de letras, com livros anteriores bem vendidos e com críticas favoráveis, com farta coleção de prêmios literários conquistados que, subitamente, têm o dissabor de algum grande “encalhe”. Eu mesmo sou um deles. Como qualquer principiante, eles têm (e eu tenho) a porta batida no nariz nas redações de jornais, têm (e tenho) que aturar disfarçados risinhos de mofa de arrogantes editores e, não raro, sequer conseguem (ou consigo) a publicação de uma reles notinha de pé de página nas editorias de cultura. Ou seja, não conseguem (e não consigo) informar o público que seu (meu) livro existe, que é romance, ou de contos, ou de crônicas etc. e que versa sobre tais e tais assuntos. É como se a obra não existisse, nunca fosse escrita e muito menos publicada. Sem isso, todavia, como conseguiremos vender? Não conseguiremos!
Por que isso acontece? Essa dificuldade, ressalte-se, não tem nada a ver com a qualidade do livro. Se tivesse, o escritor sequer encontraria quem se dispusesse a publicá-lo. Por que – salvo em blogs pessoais, ou seja, próprios ou de amigos, ou em um ou outro eventual e raro site – nossos bons escritores têm tão pouca divulgação nos meios de comunicação? Eu, embora jornalista e editor de jornal, não sei! Você sabe?
Onde estaria a falha? Nos próprios escritores? Não, não e não! Nas editoras, que não divulgam adequadamente seus produtos? Com todo respeito, creio que nesse assunto elas deixam a desejar. Afinal, se os livros “encalharem”, terão que arcar com prejuízos financeiros, o que é desastroso. Mas vejo a falha maior na imprensa, que ainda não entendeu a relevância da literatura na vida cultural de um país. Não compreendeu que o livro é um produto nobre, de primeira necessidade para a mente e para o espírito, como o alimento é para o corpo. E que, portanto, é “notícia”, objeto de sua atividade.
Se não se desperta no público interesse sequer remotamente parecido com a importância que se dá a temas como esportes (notadamente futebol), política e economia, entre outras áreas, é porque esse assunto não é tratado com a freqüência e a competência que merece. O noticiário referente a livros existe, aqui e ali, mas é escasso, esporádico, cada vez mais raro e, sobretudo, mal-apresentado. O público não está, pois, condicionado a consumi-lo.
E por que trago este assunto à baila? Porque me interessa diretamente e não somente a mim, como também à maioria dos freqüentadores deste espaço, constituída por escritores. E, saibam ou ignorem, concordem ou não, queiram ou não queiram, o grande nó que prejudica a nossa atividade está na falta de divulgação, ou na divulgação escassa e insuficiente, do que produzimos. Está na dificuldade, quando não na impossibilidade, de informar, minimamente, nossos potenciais leitores da existência de nossas obras. De dizer-lhes que elas existem, que tratam de tais e tais assuntos, que estão à venda neste e naquele lugar.
Como as pessoas poderão ter acesso ao que escrevermos se sequer souberem da existência dos nossos livros? Não poderão! Trato deste delicado assunto com pleno conhecimento de causa, por experiência pessoal e não por “ouvir dizer”.
Superestimei a internet, achando que divulgando meus dois últimos lançamentos apenas nesse veículo, estaria garantindo, se não fartas, pelo menos razoáveis vendas. Equivoquei-me direitinho. Fiz dezenas, centenas, quiçá milhares de contatos eletrônicos, divulguei ad náusea meus livros em blogs e sites da rede mundial, coloquei algumas notas no Facebook e diariamente apelo aos meus seguidores no twitter, em vão.
“Cronos e Narciso” e “Lance fatal” estão sendo um desastroso fiasco de vendas. E não tenho problema algum em admitir isso publicamente – embora essa admissão arranhe meu ego e fira meu amor próprio – pois não costumo fugir da verdade, mesmo que esta me machuque e deprecie e muito menos tenho o costume de “dourar a pílula”.
Reitero que meus livros não vêm sendo alvos de críticas negativas (ainda bem). Aliás, sequer foram criticados. Estão sendo, isto sim, olimpicamente ignorados. Quase ninguém, a não ser eu, alguns supostos amigos e a editora que apostou neles sabemos da sua existência. E eu sou apenas um dos vários milhares de escritores país afora, que passa por essa lamentável e vexatória situação. E nem vejo luz no final do túnel.
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