Tuesday, May 17, 2011







Incentivo à leitura

Pedro J. Bondaczuk

O brasileiro lê pouco. Esta é uma afirmação até acaciana, de tão óbvia que é. Chegar a esta constatação, portanto, não é difícil, complicado e nem importante. O que importa é buscar caminhos e alternativas para despertar nas pessoas (o máximo possível delas) o gosto pela leitura. Sugestões há muitas, às dezenas, às centenas, aos milhares, a maioria, no entanto, inviável por uma ou outra razão.
Como profissional do texto, que ganha o pão nosso de cada dia escrevendo, é claro que tenho grande interesse pessoal em que essa situação mude (para melhor, óbvio) e que o brasileiro passe a ler, se não compulsivamente (como eu e a maioria dos meus amigos fazemos), pelo menos moderadamente. Digamos: que leiam pelo menos um livro por mês, o que já estará de bom tamanho. Hoje, a média nacional de leitura está muitíssimo aquém disso. E, convenhamos, não é muito.Se formarem o hábito de leitura, as pessoas logo tomarão gosto e perceberão que não se trata de nenhum sacrifício, mas de inigualável prazer.
A iniciativa maior deveria partir das escolas. Deveria... mas não parte. Defendo, também, participação mais decisiva das editoras na promoção de seus lançamentos. Elas são sumamente tímidas nesse aspecto (quando não omissas). Esquecem-se da força do marketing na atual sociedade de consumo. Por que não divulgar os principais livros lançados como se divulgam, por exemplo, dentifrícios, sabonetes, produtos de limpeza ou equipamentos eletrônicos? Afinal, trata-se de um “produto” de primeira (diria, primeiríssima) necessidade num mundo e numa era que se pretende sejam o ápice da civilização.
Sei que muitos “puristas”, que na verdade são uns acomodados, e ranzinzas que somente sabem fazer críticas (o que qualquer idiota saberia fazer também), mas sem jamais apontar a mínima solução, vão torcer o nariz a esta minha sugestão. E por que não? Se a propaganda consegue induzir até esquimó a adquirir geladeira, por que não induziria multidões da analfabetos funcionais a desejarem abrir mão dessa condição e adquirir o hábito de leitura? Por que não? Digam-me, mas apresentando argumentos.
Claro que não proponho nada como o que está ocorrendo na Espanha – procedimento que já está chegando ao Brasil. Sabem o que está virando moda por lá, no sentido de facilitar os que gostam de ler? Estão imprimindo trechos e mais trechos de clássicos da literatura em rolos de papel higiênico! Isso mesmo! Vocês estão rindo? Não é brincadeira minha, não, e a “mania” já está se espalhando por outros países da Europa.
Escatologia à parte, convenhamos, não há aquele leitor, habitual ou ocasional, que nunca tenha lido jornal, revistas ou até mesmo livros no banheiro. O tal “catecismo” pornográfico não vale. Há tempos, é leitura predileta de garotões recém ingressados na puberdade. O banheiro é uma sala de leitura por excelência, em que nos sentimos relaxados e ficamos mais atentos ao que lemos. Para falar a verdade, porém, eu não me sentiria confortável de saber que meus livros estariam sendo editados neste formato: no de rolos de papel higiênico. Quem quiser lê-los no banheiro, que esteja à vontade. Não me oponho e nem me ofendo. Mas no formato convencional. Tudo bem, pode até ser bobagem minha. Provavelmente, é excesso de escrúpulo. Mas...
O sujeito que teve esta idéia, no entanto, está faturando os “tufos”. O produtor desse papel higiênico cultural (ou literário?) garantiu que, depois da própria Espanha, o país em que seu produto está fazendo maior sucesso, é o Brasil. Pode?!!! Não digo que o que está faltando por aqui é mais divulgação, além de iniciativas ousadas, como esta?!! O número de pedidos de importadoras brasileiras é enorme e não pára de crescer. Tanto que, a empresa autora da iniciativa, passou a imprimir rolos com trechos de obras dos brasileiros Mário de Andrade e Carlos Drummond de Andrade. E em português, logicamente.
Cada unidade, com imposto e tudo, custa, no Brasil, R$ 9,40. Acho caro. Há livros, impressos em papel reciclado, que custam a metade disso. E por que não vendem? Creio que seja porque ninguém os divulga. Tomamos conhecimento dessas iniciativas (isso quando tomamos) por mero acaso. Assim, não dá mesmo! É remar contra a maré ou contra a mais poderosa das correntezas.
E os rolos de papel higiênico literário vendem muito? A julgar pela informação do fabricante, a venda é razoável (poderia ser maior). São vendidas, em média, 200 unidades por dia. O produto, no entanto, não está exposto em gôndolas de supermercados (se estivesse, tenho certeza de que venderia até cem vezes mais). As encomendas dos interessados são todas feitas por e-mail. Quer dizer que, quem não tem computador, fica sem o seu rolinho de papel higiênico, com poemas de Carlos Drummond de Andrade ou trechos do Macunaíma, do outro Andrade, o paulista, o Mário?
O que diriam os dois escritores, se estivessem vivos, dessa forma de popularizar seus textos? Gostariam? Achariam ruim? Processariam o fabricante? É impossível de afirmar qualquer coisa. A variedade, por enquanto, ainda é pequena. Na versão espanhola, por exemplo, os rolos de papel higiênico literários trazem trechos de livros de Federico Garcia Llorca, Pablo Neruda e Luís Vaz de Camões.
Fica a pergunta que não quer calar: por que só poesia vem sendo impressa nesse tipo de “mídia”, nem um pouco nobre? Seria algum tipo de insinuação? Seria preconceito? Se for, é de muito mau gosto. Por favor, nem pensem em imprimir “Lance fatal” e “Cronos e Narciso” em rolos de papel higiênico. A menos, claro, que me dêem substancial porcentagem de participação nos lucros. Afinal... Ninguém é de ferro, não é fato?



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