Período desfavorável para ditadores
Pedro J. Bondaczuk
A atitude do presidente norte-americano George Bush, de atender o apelo da presidenta Corazón Aquino e enviar ajuda dos Estados Unidos para sufocar a sexta tentativa golpista contra o seu governo (novamente comandada pelo coronel Honório “Gringo” Honasan), mostra que os aventureiros e os caudilhos podem estar com seus dias contados no mundo todo. E já não era sem tempo.
Sem contar com ajuda externa, ditadores em potencial, que sonham com o poder pelo próprio poder, sem que tenham qualquer coisa a acrescentar às sociedades que pretendem submeter, não têm a mínima chance de sucesso. Já está na hora do Terceiro Mundo aprender a viver democraticamente. A criar instituições sólidas e a preserva-las a todo o transe.
Nos dois recentes episódios de rebeldia registrados no segundo semestre do corrente ano, Bush agiu com a mesma coerência. No Panamá, não interferiu para ajudar a derrubar o general Manuel Antonio Noriega, mesmo recebendo as mais ácidas críticas por isso. Afinal, golpe é golpe.
Ontem, o presidente norte-americano foi ainda mais longe. Impediu que um complô golpista conduzisse um aventureiro ao poder e complicasse ainda mais a já complicada situação das Filipinas. Como os ditadores dificilmente poderão contar, também, com o respaldo soviético para as suas aventuras, as perspectivas golpistas ficam muito mais restritas daqui para a frente.
Nas três Américas, atualmente, há somente três países vivendo sob ditaduras. Um deles, o Chile, pode deixar essa condição em março próximo, quando o sucessor do general Augusto Pinochet – certamente o democrata-cristão Patrício Aylwin, que pode liquidar as eleições presidenciais já no primeiro turno, que será levado a efeito no dia 14 deste mês – tomar posse no Palácio La Moneda.
O outro é o Haiti, onde o general Prosper Avril assegurou que haverá um pleito presidencial em novembro de 1990. O terceiro é Cuba. Do regime de Fidel Castro, todavia, nada pode ser dito, em termos de sucessão. Nenhum sinal indica que ele esteja disposto a ceder o lugar que ocupa há quase 40 anos a quem quer que seja, embora nada e ninguém sejam eternos.
Quem estiver, portanto, usando ameaças de golpe para viciar processos democráticos, que se detenha antes em analisar os acontecimentos dos últimos tempos. Seja, pelo menos, bem informado. Com isso, poderá constatar, até com certa facilidade, que o retrospecto não é – felizmente – nada favorável aos caudilhos.
Com sua atitude de ontem, impedindo a derrubada do governo de Corazón Aquino, Bush deu o recado mais claro já dado nos últimos anos aos oportunistas. Ou seja, de que pelo menos no seu mandato (e ele declarou isto num discurso feito em março passado), os ditadores viverão, sem dúvida alguma, tempos de “vacas magras”. Mais do que isso: esqueléticas.
(Artigo publicado na página 12, Internacional, do Correio Popular, em 2 de dezembro de 1989).
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
Pedro J. Bondaczuk
A atitude do presidente norte-americano George Bush, de atender o apelo da presidenta Corazón Aquino e enviar ajuda dos Estados Unidos para sufocar a sexta tentativa golpista contra o seu governo (novamente comandada pelo coronel Honório “Gringo” Honasan), mostra que os aventureiros e os caudilhos podem estar com seus dias contados no mundo todo. E já não era sem tempo.
Sem contar com ajuda externa, ditadores em potencial, que sonham com o poder pelo próprio poder, sem que tenham qualquer coisa a acrescentar às sociedades que pretendem submeter, não têm a mínima chance de sucesso. Já está na hora do Terceiro Mundo aprender a viver democraticamente. A criar instituições sólidas e a preserva-las a todo o transe.
Nos dois recentes episódios de rebeldia registrados no segundo semestre do corrente ano, Bush agiu com a mesma coerência. No Panamá, não interferiu para ajudar a derrubar o general Manuel Antonio Noriega, mesmo recebendo as mais ácidas críticas por isso. Afinal, golpe é golpe.
Ontem, o presidente norte-americano foi ainda mais longe. Impediu que um complô golpista conduzisse um aventureiro ao poder e complicasse ainda mais a já complicada situação das Filipinas. Como os ditadores dificilmente poderão contar, também, com o respaldo soviético para as suas aventuras, as perspectivas golpistas ficam muito mais restritas daqui para a frente.
Nas três Américas, atualmente, há somente três países vivendo sob ditaduras. Um deles, o Chile, pode deixar essa condição em março próximo, quando o sucessor do general Augusto Pinochet – certamente o democrata-cristão Patrício Aylwin, que pode liquidar as eleições presidenciais já no primeiro turno, que será levado a efeito no dia 14 deste mês – tomar posse no Palácio La Moneda.
O outro é o Haiti, onde o general Prosper Avril assegurou que haverá um pleito presidencial em novembro de 1990. O terceiro é Cuba. Do regime de Fidel Castro, todavia, nada pode ser dito, em termos de sucessão. Nenhum sinal indica que ele esteja disposto a ceder o lugar que ocupa há quase 40 anos a quem quer que seja, embora nada e ninguém sejam eternos.
Quem estiver, portanto, usando ameaças de golpe para viciar processos democráticos, que se detenha antes em analisar os acontecimentos dos últimos tempos. Seja, pelo menos, bem informado. Com isso, poderá constatar, até com certa facilidade, que o retrospecto não é – felizmente – nada favorável aos caudilhos.
Com sua atitude de ontem, impedindo a derrubada do governo de Corazón Aquino, Bush deu o recado mais claro já dado nos últimos anos aos oportunistas. Ou seja, de que pelo menos no seu mandato (e ele declarou isto num discurso feito em março passado), os ditadores viverão, sem dúvida alguma, tempos de “vacas magras”. Mais do que isso: esqueléticas.
(Artigo publicado na página 12, Internacional, do Correio Popular, em 2 de dezembro de 1989).
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