Hora de cair na realidade
Pedro J. Bondaczuk
As autoridades de Formosa estão dando um importante passo para permitir que as pessoas separadas há 38 anos de seus familiares pelos resultados da guerra civil, perdida para os maoistas, possam rever esses entes queridos, ao decidirem, finalmente, permitir que seus cidadãos possam viajar para a China continental. É verdade que se trata de um pequeno passo, mas já é um indício de que finalmente os quase 20 milhões de indivíduos, que resolveram resistir à ocupação marxista de seu país numa pequena ilha de 35.981 quilômetros quadrados, estão começando a cair na realidade.
Queiram ou não, a comunidade mundial os considera somente chineses rebeldes. Pelo menos desde 1971, quando foram expulsos das Nações Unidas, para que o "gigante amarelo" pudesse, afinal, ocupar o seu lugar.
Aliás, a ONU, durante 22 anos, tentou "esconder o sol com a peneira". Cometeu a imprudência de deixar a sociedade nacional mais populosa do Planeta fora do organismo, reconhecendo como representante desse povo, que é uma das mais antigas civilizações humanas, os habitantes da diminuta ilha de Taiwan (cujo significado é "Formosa"). Agiu como alguém que não admite a existência de um gigantesco elefante, que está prestes a pisoteá-lo, para enxergar a minúscula formiguinha, quase invisível em sua pequenez, a quem respeita por sua presumível força.
Os Estados Unidos, por uma questão ideológica, agiram da mesma forma até 1º de janeiro de 1979, quando reataram relações diplomáticas com Pequim, rompendo, por conseqüência, com Taipé. Isto é, projetaram no terreno da realidade aquilo que não passava de um mero desejo. É verdade que para efeito de consumo interno, Washington nunca admitiu uma ruptura com o regime nacionalista formosino. Mas na prática, ela de fato aconteceu. E a missão diplomática que a superpotência ocidental mantém na capital de Formosa não possui "status" de embaixada. É um simples escritório de negócios e nada mais. Aliás, para a população da ilha, impossibilitada de reaver toda a porção continental, como sempre sonhou, proceder a uma fusão com ela não seria um bom negócio.
Economicamente, sua sociedade é das mais prósperas da Ásia. Sua economia é sólida e sua renda per capita é exatamente dez vezes superior à chinesa (US$ 3.000 anuais contra US$ 300).
Politicamente, ambos os territórios estão submetidos a ditaduras (embora Taipé busque dar a impressão de democracia). Mas seus rumos ideológicos são diametralmente opostos. São os dois extremos de um leque: o esquerdo, na China e o direito, em Formosa. Mas nada impede que haja uma reaproximação, um entendimento civilizado, um contato sem atritos, ou pelo menos uma tentativa de convivência pacífica. É isso, ao que parece, que as duas partes estão, finalmente, conseguindo entender.
(Artigo publicado no Correio Popular em 15 de outubro de 1987).
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
Pedro J. Bondaczuk
As autoridades de Formosa estão dando um importante passo para permitir que as pessoas separadas há 38 anos de seus familiares pelos resultados da guerra civil, perdida para os maoistas, possam rever esses entes queridos, ao decidirem, finalmente, permitir que seus cidadãos possam viajar para a China continental. É verdade que se trata de um pequeno passo, mas já é um indício de que finalmente os quase 20 milhões de indivíduos, que resolveram resistir à ocupação marxista de seu país numa pequena ilha de 35.981 quilômetros quadrados, estão começando a cair na realidade.
Queiram ou não, a comunidade mundial os considera somente chineses rebeldes. Pelo menos desde 1971, quando foram expulsos das Nações Unidas, para que o "gigante amarelo" pudesse, afinal, ocupar o seu lugar.
Aliás, a ONU, durante 22 anos, tentou "esconder o sol com a peneira". Cometeu a imprudência de deixar a sociedade nacional mais populosa do Planeta fora do organismo, reconhecendo como representante desse povo, que é uma das mais antigas civilizações humanas, os habitantes da diminuta ilha de Taiwan (cujo significado é "Formosa"). Agiu como alguém que não admite a existência de um gigantesco elefante, que está prestes a pisoteá-lo, para enxergar a minúscula formiguinha, quase invisível em sua pequenez, a quem respeita por sua presumível força.
Os Estados Unidos, por uma questão ideológica, agiram da mesma forma até 1º de janeiro de 1979, quando reataram relações diplomáticas com Pequim, rompendo, por conseqüência, com Taipé. Isto é, projetaram no terreno da realidade aquilo que não passava de um mero desejo. É verdade que para efeito de consumo interno, Washington nunca admitiu uma ruptura com o regime nacionalista formosino. Mas na prática, ela de fato aconteceu. E a missão diplomática que a superpotência ocidental mantém na capital de Formosa não possui "status" de embaixada. É um simples escritório de negócios e nada mais. Aliás, para a população da ilha, impossibilitada de reaver toda a porção continental, como sempre sonhou, proceder a uma fusão com ela não seria um bom negócio.
Economicamente, sua sociedade é das mais prósperas da Ásia. Sua economia é sólida e sua renda per capita é exatamente dez vezes superior à chinesa (US$ 3.000 anuais contra US$ 300).
Politicamente, ambos os territórios estão submetidos a ditaduras (embora Taipé busque dar a impressão de democracia). Mas seus rumos ideológicos são diametralmente opostos. São os dois extremos de um leque: o esquerdo, na China e o direito, em Formosa. Mas nada impede que haja uma reaproximação, um entendimento civilizado, um contato sem atritos, ou pelo menos uma tentativa de convivência pacífica. É isso, ao que parece, que as duas partes estão, finalmente, conseguindo entender.
(Artigo publicado no Correio Popular em 15 de outubro de 1987).
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
No comments:
Post a Comment