Tuesday, May 17, 2011







Momo de corpo inteiro

Pedro J. Bondaczuk

As emissoras de televisão (ademais como todos os foliões), estão "esquentando os tamborins" para aderirem à folia carnavalesca. É evidente que não para brincar nos dias dedicados ao rei Momo. Mas para levar ao telespectador os aspectos mais interessantes, ou quiçá pitorescos, desse imenso espetáculo popular. A briga pela audiência, mais uma vez, deve ficar restrita a três emissoras. Pelo menos são aquelas que já estão anunciando a sua programação carnavalesca para os dias 8, 9, 10 e 11 do próximo mês. Globo, Manchete e Bandeirantes vão brigar pela preferência do público, com nítida vantagem para a primeira.

As transmissões desse espetáculo pela TV são relativamente recentes. Datam de 1973, quando foi mostrado ao telespectador paulista, pela primeira vez, um desfile de escolas de samba do Rio de Janeiro, então ainda realizado na Avenida Presidente Vargas. Na oportunidade ninguém sequer cogitava da existência de um "sambódromo". Até então, o Carnaval merecia apenas um registro jornalístico nos vários canais, que nunca ultrapassava a dois minutos. Era dado um balanço das ocorrências policiais, mostrava-se algum flagrante dos foliões, anunciava-se o vencedor na avenida e pronto. Quem quisesse saber mais teria que comprar revistas que se especializavam em reportagens fotográficas sobre o assunto.

Com a experiência de 1973, a Rede Globo percebeu que o maior festejo popular brasileiro era, também, um enorme filão de audiência. Afinal, nem todos podiam (como ainda não podem) se deslocar para a Cidade Maravilhosa e apreciar o extraordinário espetáculo de cores, luzes e sons que é esse democrático show que já foi classificado como a maior ópera do mundo: o desfile das escolas de samba. Ficava privado de ver a evolução dos passistas, da porta-bandeira e do mestre-sala, das baianas e principalmente das belíssimas mulatas, que dão o charme e o encanto à apresentação. Custou para que esse veículo de tamanha penetração percebesse aquilo que o público realmente gosta. Ainda bem que percebeu em tempo.

Durante dez anos, a Globo reinou absoluta nessa área. Os outros canais ou não mostravam nenhum interesse em veicular o Carnaval, que entendiam como algo monótono e sem graça para quem assiste, ou não dispunham de pessoal e recursos técnicos para uma cobertura de fôlego, como era exigida. Foi somente a partir de 1984 que a guerra pela transmissão foi deflagrada, com a inauguração da Manchete. E a "caçula" j´´a nasceu atrevida. Logo no seu primeiro ano de existência, conseguiu passar a gigante das redes para trás, obtendo exclusividade da Riotur para mostrar o espetáculo. Isso justamente quando se deu a inauguração do controvertido "sambódromo", elogiado por uns e criticado por tantos, que findou por fixar de vez os desfiles da Marquês de Sapucaí como obrigatórios no roteiro turístico do Rio de Janeiro.

A Rede Bandeirantes preferiu uma posição mais tradicional. Continua dando ainda o enfoque jornalístico aos festejos carnavalescos, embora esgotando todas as possibilidades, cobrindo o assunto da maneira mais completa que se possa imaginar. Delegacias de polícia, hospitais, aeroportos, estações ferroviárias e rodoviárias, estradas, clubes, desfiles populares, tudo, enfim, é abordado, com precisão e, principalmente, com o rigor que toda a notícia merece. Essa é uma postura da emissora e embora eu não concorde com ela, respeito o ponto de vista que ela tem.

A Rede Manchete, embora não possua o aparato da Rede Globo, e não atinja a tantas cidades quanto o maior de nossos canais, vem dando um tratamento melhor ao evento. Tanto é que desde o ano passado, promoveu um concurso, o "Festival Riotur de Música Carnavalesca", agora na segunda edição, destinado a renovar o repertório das composições carnavalescas. Aliás, neste aspecto, desde o aparecimento de "Máscara Negra", em 1986, não surgiu nada de novo que caísse na boca do povo. As marchinhas cantadas ainda hoje nos salões são sempre as mesmas e já tradicionais, indo desde "Mamãe eu Quero" até a supra referida. As novas que aparecem são de qualidade tão ruim que os próprios autores já não se lembram mais delas na Quarta-Feira de Cinzas.

Daí a validade do esforço da Riotur e da Rede Manchete. Pelo que pudemos apreciar, na penúltima eliminatória efetuada anteontem, a tentativa é louvável. Quem quiser conhecer as melhores músicas concorrentes, ainda terá tempo para isso, nos dias 30 de janeiro e 6 de fevereiro próximos. Com a promoção, a "caçula" pelo menos está antecipando o clima de Carnaval, prometendo, ainda, através de suas freqüentes chamadas no ar, 150 horas ininterruptas de transmissões da folia. Ela tem tudo para emplacar, já que conta com pessoal do ramo, boa parte oriundo da Rede Globo, onde adquiriu o "know-how" indispensável, que agora está colocando a serviço do novo canal.

Quem, por qualquer razão, não puder brincar, ou porque tenha um temperamento pacato, ou por razões familiares, ou por motivos de trabalho, terá a chance de escolher o aspecto que mais lhe interessar ver na festa de Momo. Se desejar saber das conseqüências do Carnaval na vida da população, bastará sintonizar na Rede Bandeirantes. Se preferir ligar-se à folia, a Manchete será, sem dúvida, a melhor escolha. E se desejar tudo isso ao mesmo tempo, inclusive com "flashes" do Brasil inteiro, a Globo continua sendo a grande opção.

(Comentário publicado na página 22, Arte&Variedades do Correio Popular, em 24 de janeiro de 1986)

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