Terror sobrepuja a tecnologia
Pedro J. Bondaczuk
As várias medidas, adotadas até hoje, pelas autoridades norte-americanas, para impedir que seus cidadãos e suas propriedades no Exterior sejam atingidos por ataques de grupos terroristas, têm fracassado sistematicamente. Oitenta por cento das ações extremistas verificadas em 1985 foram voltadas diretamente contra interesses dos Estados Unidos.
Num único caso, todavia, o do seqüestro do navio italiano Achille Lauro, os autores desses atos criminosos foram punidos. Assim mesmo, não integralmente, já que o cabeça do grupo que tomou o transatlântico de assalto, o palestino Mohammed Abbas, escapou impune.
No início do ano passado, falando numa cerimônia na Sociedade Norte-americana para a Segurança Industrial, na Virgínia, o secretário de Estado dos Estados Unidos, George Shultz, anunciou a criação de um novo órgão, diretamente ligado à sua pasta.
Tratava-se do Conselho Assessor para Questões de Segurança no Estrangeiro, com o qual a Casa Branca se aliava a empresas particulares com o objetivo de estabelecer formas de proteger bens e cidadãos de "Tio Sam" no Exterior, especialmente nas áreas mais propensas a sortidas criminosas dessa espécie.
Chegamos a um ponto tal no relacionamento internacional, do mundo precisar de um "policiamento", como ocorre nas grandes concentrações urbanas, para que o direito de ir e vir em segurança dos cidadãos possa ser respeitado. E esse poder de polícia, a exemplo do que acontece nas modernas metrópoles mundiais, está sendo entregue também à iniciativa privada.
A repressão ao terrorismo sofistica-se em seu arsenal logístico, com o auxílio dos mais modernos meios da informática. Conforme o próprio secretário de Estado disse, no ano passado, o governo dos Estados Unidos ampliou seu banco de dados "para manter informações biográficas sobre os terroristas individualmente e sobre os grupos a que pertencem, os tipos de armas que utilizam e seu modus operandi. Também desenvolvemos métodos de procedimento melhores e mais rápidos para que os nossos postos instalados nos mais diversos pontos reunam e nos transmitam informações sobre atividades extremistas".
Pelo que se pode observar, está montada, e muito bem, uma autêntica operação de guerra contra os guerrilheiros dos mais variados matizes e facções, ideológicos ou religiosos. Ainda assim, no confronto entre o terror e a repressão, o primeiro continua levando vantagem. Qual a razão?
Talvez a principal seja porque os Estados Unidos e, ademais, todos os outros países atingidos, venham se preocupando em combater somente os efeitos, não se importando sequer em conhecer as causas do fenômeno. Essas residem em atitudes politicamente erradas e moralmente condenáveis, que vêm sendo adotadas, especialmente no pós-guerra, contra Estados empobrecidos e sociedades atrasadas pelo menos dois séculos no tempo.
Governos inexpressivos e corruptos têm sido prestigiados e até defendidos a poder de armas pelas potências ocidentais, geralmente em detrimento das legítimas aspirações das populações que eles submetem a ferro e fogo.
O nacionalismo, cada vez mais, vem se transformando em algo anacrônico, ultrapassado, vencido. Todavia, há grupos que não se conformam com isso. Não vendo outra maneira de fazer vingar seu ideal senão com a destruição do atual sistema de disfarçado colonialismo, lançam mão do único expediente que conhecem: a violência, cega e irracional.
É verdade que o terrorismo não é um flagelo recente. Ao contrário, é um procedimento muito velho, quase tanto quanto a própria civilização. O assassinato de Júlio César, através de seu protegido Brutus, em 15 de março do ano de 44 Antes de Cristo, nada mais foi do que uma ação extremista. Assim como as várias outras mortes políticas registradas de diversos imperadores romanos.
Ao longo deste milênio, reis, príncipes e ministros tombaram sob o braço assassino de inconformistas violentos. Mas os meios então utilizados não atingiam a pessoas inocentes, desvinculadas dos alvos dos ataques. É verdade que a repressão se sofistica às últimas conseqüências.
Mas não é menos verdadeiro que o terror acompanha essa evolução, numa escalada diabólica. E até que seja vencido, isso se um dia for, haverá de causar muita carnificina e destruição. Afinal, foi um atentado que provocou a Primeira Guerra Mundial. Onde esse entrechoque de ódios pode nos conduzir?
(Artigo publicado na página 10, Internacional, do Correio Popular, em 21 de janeiro de 1986)
Pedro J. Bondaczuk
As várias medidas, adotadas até hoje, pelas autoridades norte-americanas, para impedir que seus cidadãos e suas propriedades no Exterior sejam atingidos por ataques de grupos terroristas, têm fracassado sistematicamente. Oitenta por cento das ações extremistas verificadas em 1985 foram voltadas diretamente contra interesses dos Estados Unidos.
Num único caso, todavia, o do seqüestro do navio italiano Achille Lauro, os autores desses atos criminosos foram punidos. Assim mesmo, não integralmente, já que o cabeça do grupo que tomou o transatlântico de assalto, o palestino Mohammed Abbas, escapou impune.
No início do ano passado, falando numa cerimônia na Sociedade Norte-americana para a Segurança Industrial, na Virgínia, o secretário de Estado dos Estados Unidos, George Shultz, anunciou a criação de um novo órgão, diretamente ligado à sua pasta.
Tratava-se do Conselho Assessor para Questões de Segurança no Estrangeiro, com o qual a Casa Branca se aliava a empresas particulares com o objetivo de estabelecer formas de proteger bens e cidadãos de "Tio Sam" no Exterior, especialmente nas áreas mais propensas a sortidas criminosas dessa espécie.
Chegamos a um ponto tal no relacionamento internacional, do mundo precisar de um "policiamento", como ocorre nas grandes concentrações urbanas, para que o direito de ir e vir em segurança dos cidadãos possa ser respeitado. E esse poder de polícia, a exemplo do que acontece nas modernas metrópoles mundiais, está sendo entregue também à iniciativa privada.
A repressão ao terrorismo sofistica-se em seu arsenal logístico, com o auxílio dos mais modernos meios da informática. Conforme o próprio secretário de Estado disse, no ano passado, o governo dos Estados Unidos ampliou seu banco de dados "para manter informações biográficas sobre os terroristas individualmente e sobre os grupos a que pertencem, os tipos de armas que utilizam e seu modus operandi. Também desenvolvemos métodos de procedimento melhores e mais rápidos para que os nossos postos instalados nos mais diversos pontos reunam e nos transmitam informações sobre atividades extremistas".
Pelo que se pode observar, está montada, e muito bem, uma autêntica operação de guerra contra os guerrilheiros dos mais variados matizes e facções, ideológicos ou religiosos. Ainda assim, no confronto entre o terror e a repressão, o primeiro continua levando vantagem. Qual a razão?
Talvez a principal seja porque os Estados Unidos e, ademais, todos os outros países atingidos, venham se preocupando em combater somente os efeitos, não se importando sequer em conhecer as causas do fenômeno. Essas residem em atitudes politicamente erradas e moralmente condenáveis, que vêm sendo adotadas, especialmente no pós-guerra, contra Estados empobrecidos e sociedades atrasadas pelo menos dois séculos no tempo.
Governos inexpressivos e corruptos têm sido prestigiados e até defendidos a poder de armas pelas potências ocidentais, geralmente em detrimento das legítimas aspirações das populações que eles submetem a ferro e fogo.
O nacionalismo, cada vez mais, vem se transformando em algo anacrônico, ultrapassado, vencido. Todavia, há grupos que não se conformam com isso. Não vendo outra maneira de fazer vingar seu ideal senão com a destruição do atual sistema de disfarçado colonialismo, lançam mão do único expediente que conhecem: a violência, cega e irracional.
É verdade que o terrorismo não é um flagelo recente. Ao contrário, é um procedimento muito velho, quase tanto quanto a própria civilização. O assassinato de Júlio César, através de seu protegido Brutus, em 15 de março do ano de 44 Antes de Cristo, nada mais foi do que uma ação extremista. Assim como as várias outras mortes políticas registradas de diversos imperadores romanos.
Ao longo deste milênio, reis, príncipes e ministros tombaram sob o braço assassino de inconformistas violentos. Mas os meios então utilizados não atingiam a pessoas inocentes, desvinculadas dos alvos dos ataques. É verdade que a repressão se sofistica às últimas conseqüências.
Mas não é menos verdadeiro que o terror acompanha essa evolução, numa escalada diabólica. E até que seja vencido, isso se um dia for, haverá de causar muita carnificina e destruição. Afinal, foi um atentado que provocou a Primeira Guerra Mundial. Onde esse entrechoque de ódios pode nos conduzir?
(Artigo publicado na página 10, Internacional, do Correio Popular, em 21 de janeiro de 1986)
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