Paixão por Brasília
Pedro J. Bondaczuk
As cidades podem nos despertar paixões, tanto ou mais do que pessoas? Entendo que sim! Sou apaixonado por vários dos lugares que morei, ou visitei ou onde sequer estive, mas que guardam determinada motivação (não importa qual) para que a tenha em alta estima. Sou apaixonado, por exemplo, por Horizontina, no Rio Grande do Sul. Esta paixão, todavia, tem explicação pra lá de válida a justificar esse sentimento. Afinal, foi meu berço natal, o lugar em que pela primeira vez vi a luz do mundo.
Outra cidade pela qual nutro carinho especialíssimo é o Rio de Janeiro. Residi, ali, por meros seis meses, mas as lembranças que trago dali são avassaladoras. O mesmo posso dizer de São Caetano do Sul, no ABC paulista, onde vivi os melhores anos da juventude.
Mas nenhuma dessas cidades supera, em meus sentimentos, a paixão que tenho por Campinas. A ex-Terra das Andorinhas acolheu-me de braços abertos há quase meio século. Sou campineiro não de nascimento, mas por razão ainda mais relevante para mim, ou seja, por “lei”, já que a Câmara Municipal daqui concedeu-me honroso (e inestimável) título de cidadania, há já dezesseis anos.
Mas as paixões não se distinguem, mas igualam-se. Dizem que sou volúvel ao me apaixonar, mas discordo. Seria caso deixasse de gostar das outras cidades, ao apaixonar-me por outras, o que não é o caso. Meu coração é imenso e comporta número incontável de paixões. Entre estas, por exemplo, devo citar Recife, quer por suas belezas e encantos, quer, e principalmente, pela generosidade do seu povo, que me recebeu de forma calorosa quando por lá passei.
Mas Brasília... Ah, Brasília, como é importante para mim! Nela, como ressaltei em texto anterior, há muito de suor, sacrifício, trabalho e esperança do meu falecido e saudoso pai. Tenho-a, pois, na mesma conta que tenho determinadas pessoas especiais, embora não se trate de gente, mas de cidade. Considero-a como irmã caçula, cujo nascimento testemunhei e que vi crescer, se desenvolver, tornar-se bela e atraente a olhares profanos.
A paixão por Brasília, porém, não é somente minha (e nem poderia ser). Por várias razões – sentimentais, familiares, profissionais e até literárias – milhares de pessoas, possivelmente milhões, são apaixonadas pela cidade. Muitas sequer confessam. Outras, nem mesmo sabem que nutrem sentimento tão forte. A maioria sequer nasceu ali. Mas a paixão existe e, quando menos se espera, se manifesta.
É o caso do professor, diplomata e escritor João Almino, natural de Mossoró, no Rio Grande do Norte, onde nasceu em 1950. Brasília, portanto, não é sua terra natal. Quando ele veio ao mundo, ainda estava apenas em vagas cogitações.
Todavia, esse intelectual elegeu a “Capital da Esperança” como cenário exclusivo de vários de seus livros. Almino, aliás, acaba de lançar novo romance, “O livro das emoções”, em que Brasília torna a ser enfocada e, como nas obras anteriores, como mais do que só palco do enredo, narrado, de forma deliciosa, por um fotógrafo cego, que faz as vezes de narrador da história.
Embora afirme que se tentasse fazer da sua vida, da sua experiência pessoal – “com suas horas absorvidas com o trabalho, a família e a própria escrita” – pano de fundo de seus livros, “os leitores morreriam de tédio”, sua trajetória, apenas como docente (sem contar outras atividades) desmente essa declaração.
Afinal, João Almino já foi professor de universidades importantes, como a Nacional do México, Berkeley e Stanford nos Estados Unidos, além, claro, da Nacional de Brasília (sem esquecer o Instituto Rio Branco, de formação dos nossos diplomatas).
O escritor potiguar poderia, como se vê, situar suas histórias em tantas e tantas cidades que há por aí, por onde já passou. Poderia..., mas optou por Brasília. E por que? Ele próprio responde em entrevista (que pode ser acessada pela internet): “Algumas das características de Brasília são estimulantes para a literatura: sua artificialidade, seu caráter universal – por ser fruto de um projeto modernista que transcende as fronteiras nacionais – e seu desenraizamento, sua desfamiliarização e seu estrangeirismo, que, no fundo, torna mais fácil elimninar osd estereótipos”.
Embora não confesse explicitamente, portanto, fica escancarado que o escritor potiguar (assim como eu) é apaixonado por nossa fantástica capital. Com uma diferença: já publicou quatro livros sobre Brasília, enquanto eu ensaio, timidamente, o primeiro, que nem tenho a menor previsão de quando (ou se) vai ficar pronto. Pode ser no final de 2010, ou no próximo ano, ou no próximo ainda, ou daqui a uma década, ou nunca sair da mera cogitação.
Brasília já rendeu a João Almino grandes satisfações literárias (mercê, claro, do seu inegável talento). O primeiro dos romances da trilogia (agora transformada em “quadrilogia”), por exemplo, “Idéias para onde passar o fim do mundo”, foi indicado ao Prêmio Jabuti. Ganhou, todavia, o Prêmio Candango de Literatura. “As cinco estações do amor”, por seu turno, valeu-lhe o prêmio “Casa de lãs Américas” de 2003.
Voltarei a tratar deste escritor e de sua obra na seqüência da série de textos que pretendo redigir enfocando a importância de Brasília, não somente como concretização de uma utopia nacional, mas como instigante tema literário. Aguardem.
Pedro J. Bondaczuk
As cidades podem nos despertar paixões, tanto ou mais do que pessoas? Entendo que sim! Sou apaixonado por vários dos lugares que morei, ou visitei ou onde sequer estive, mas que guardam determinada motivação (não importa qual) para que a tenha em alta estima. Sou apaixonado, por exemplo, por Horizontina, no Rio Grande do Sul. Esta paixão, todavia, tem explicação pra lá de válida a justificar esse sentimento. Afinal, foi meu berço natal, o lugar em que pela primeira vez vi a luz do mundo.
Outra cidade pela qual nutro carinho especialíssimo é o Rio de Janeiro. Residi, ali, por meros seis meses, mas as lembranças que trago dali são avassaladoras. O mesmo posso dizer de São Caetano do Sul, no ABC paulista, onde vivi os melhores anos da juventude.
Mas nenhuma dessas cidades supera, em meus sentimentos, a paixão que tenho por Campinas. A ex-Terra das Andorinhas acolheu-me de braços abertos há quase meio século. Sou campineiro não de nascimento, mas por razão ainda mais relevante para mim, ou seja, por “lei”, já que a Câmara Municipal daqui concedeu-me honroso (e inestimável) título de cidadania, há já dezesseis anos.
Mas as paixões não se distinguem, mas igualam-se. Dizem que sou volúvel ao me apaixonar, mas discordo. Seria caso deixasse de gostar das outras cidades, ao apaixonar-me por outras, o que não é o caso. Meu coração é imenso e comporta número incontável de paixões. Entre estas, por exemplo, devo citar Recife, quer por suas belezas e encantos, quer, e principalmente, pela generosidade do seu povo, que me recebeu de forma calorosa quando por lá passei.
Mas Brasília... Ah, Brasília, como é importante para mim! Nela, como ressaltei em texto anterior, há muito de suor, sacrifício, trabalho e esperança do meu falecido e saudoso pai. Tenho-a, pois, na mesma conta que tenho determinadas pessoas especiais, embora não se trate de gente, mas de cidade. Considero-a como irmã caçula, cujo nascimento testemunhei e que vi crescer, se desenvolver, tornar-se bela e atraente a olhares profanos.
A paixão por Brasília, porém, não é somente minha (e nem poderia ser). Por várias razões – sentimentais, familiares, profissionais e até literárias – milhares de pessoas, possivelmente milhões, são apaixonadas pela cidade. Muitas sequer confessam. Outras, nem mesmo sabem que nutrem sentimento tão forte. A maioria sequer nasceu ali. Mas a paixão existe e, quando menos se espera, se manifesta.
É o caso do professor, diplomata e escritor João Almino, natural de Mossoró, no Rio Grande do Norte, onde nasceu em 1950. Brasília, portanto, não é sua terra natal. Quando ele veio ao mundo, ainda estava apenas em vagas cogitações.
Todavia, esse intelectual elegeu a “Capital da Esperança” como cenário exclusivo de vários de seus livros. Almino, aliás, acaba de lançar novo romance, “O livro das emoções”, em que Brasília torna a ser enfocada e, como nas obras anteriores, como mais do que só palco do enredo, narrado, de forma deliciosa, por um fotógrafo cego, que faz as vezes de narrador da história.
Embora afirme que se tentasse fazer da sua vida, da sua experiência pessoal – “com suas horas absorvidas com o trabalho, a família e a própria escrita” – pano de fundo de seus livros, “os leitores morreriam de tédio”, sua trajetória, apenas como docente (sem contar outras atividades) desmente essa declaração.
Afinal, João Almino já foi professor de universidades importantes, como a Nacional do México, Berkeley e Stanford nos Estados Unidos, além, claro, da Nacional de Brasília (sem esquecer o Instituto Rio Branco, de formação dos nossos diplomatas).
O escritor potiguar poderia, como se vê, situar suas histórias em tantas e tantas cidades que há por aí, por onde já passou. Poderia..., mas optou por Brasília. E por que? Ele próprio responde em entrevista (que pode ser acessada pela internet): “Algumas das características de Brasília são estimulantes para a literatura: sua artificialidade, seu caráter universal – por ser fruto de um projeto modernista que transcende as fronteiras nacionais – e seu desenraizamento, sua desfamiliarização e seu estrangeirismo, que, no fundo, torna mais fácil elimninar osd estereótipos”.
Embora não confesse explicitamente, portanto, fica escancarado que o escritor potiguar (assim como eu) é apaixonado por nossa fantástica capital. Com uma diferença: já publicou quatro livros sobre Brasília, enquanto eu ensaio, timidamente, o primeiro, que nem tenho a menor previsão de quando (ou se) vai ficar pronto. Pode ser no final de 2010, ou no próximo ano, ou no próximo ainda, ou daqui a uma década, ou nunca sair da mera cogitação.
Brasília já rendeu a João Almino grandes satisfações literárias (mercê, claro, do seu inegável talento). O primeiro dos romances da trilogia (agora transformada em “quadrilogia”), por exemplo, “Idéias para onde passar o fim do mundo”, foi indicado ao Prêmio Jabuti. Ganhou, todavia, o Prêmio Candango de Literatura. “As cinco estações do amor”, por seu turno, valeu-lhe o prêmio “Casa de lãs Américas” de 2003.
Voltarei a tratar deste escritor e de sua obra na seqüência da série de textos que pretendo redigir enfocando a importância de Brasília, não somente como concretização de uma utopia nacional, mas como instigante tema literário. Aguardem.
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