Friday, April 02, 2010




Literatura de Páscoa

Pedro J. Bondaczuk
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A Páscoa é um tema dos mais explorados em literatura, mesmo não o sendo tanto quanto o Natal. É certo que a maioria dos escritores que discorrem a respeito o faz de olho em um público específico, o infanto-juvenil, com uma infinidade de histórias, que se multiplicam a cada ano, rendendo excelentes dividendos para seus autores e, principalmente, para os editores. São livros com vendas garantidas.
Na literatura infanto-juvenil, destaque-se, o personagem central é o coelhinho, presente em praticamente todas as histórias (e nas propagandas alusivas à data). E por que esse foco nesse frágil animal? Por uma razão bastante simples: por ele ser símbolo por excelência de fertilidade e, por conseqüência, de vida.
E é isso o que, no final das contas, a Páscoa – quer no seu aspecto sagrado, quer no profano – representa. Ou seja, a ressurreição, a reprodução da vida e a sua perpetuidade. Simboliza sua vitória sobre a morte (o que na prática, claro, é uma impossibilidade diria que absoluta).
Queiram ou não, admitam ou deixem de admitir, consciente ou inconscientemente, a imortalidade é a suprema aspiração de todas as pessoas. Quem não gostaria de ser sempre jovem e viver eternidade afora? Muitos dirão que não gostariam. Mentem e sabem perfeitamente disso.
Confesso que este é um tema que quase não explorei, nem em meus contos e nem em crônicas e ensaios. Limitei-me a compor um ou outro poema a respeito, mas nada que merecesse ampla divulgação por eventual originalidade. Por que não trato desse assunto com assiduidade? Não sei! Não é nada deliberado. Talvez seja por nunca ter idéias “brilhantes”, originais ou pelo menos razoáveis envolvendo essa festividade. Doravante, ficarei mais atento a ela.
Entre os vários escritores que incursionaram por este tema, destaco o pernambucano Osman Lins, com o conto “Domingo de Páscoa”. Aliás, esse foi seu derradeiro texto (ou pelo menos é tido como tal). Veio a público somente em 1996, dezoito anos após sua morte, ocorrida em 1978. Quem o publicou foi a revista “Travessia”, publicação da Universidade Federal de Santa Catarina, em seu número 33.
Até o surgimento do cristianismo, a Páscoa uma celebração exclusivamente judia. Destinava-se a lembrar como esse povo foi livrado de uma das sete pragas que se abateram sobre o Egito, império que os mantinha em cativeiro, sendo um momento decisivo na sua libertação.
Todavia, há quase dois mil anos, a festividade ganhou novo significado. Destina-se a recordar o martírio, crucificação e ressurreição de Jesus Cristo, fulcro da fé de cerca de um bilhão de pessoas mundo afora. Como a Páscoa dos judeus, portanto, embora com outra simbologia, reverencia a perpetuidade da vida. E é esse o aspecto que atrai as atenções dos escritores.
A teóloga Maria Clara Lucchetti Bingemer destaca a influência que o foco da fé de milhões de pessoas exerceu e vem exercendo (também) na Literatura: “Na literatura universal, há muitas vidas de Cristo célebres: a de René Barzin é uma. Há filmes também. Mas há versões mais atuais na literatura e no cinema que contam a vida de Jesus de maneira mais adaptada aos tempos modernos, que permitem às pessoas identificarem-se com Jesus como se fosse um contemporâneo seu. Por exemplo, Frei Beto tem uma vida de Jesus intitulada ‘Entre todos os homens’. Muito boa. Ele pôs o nome dos seus amigos nos personagens. Até eu sou personagem desse romance. No cinema temos o filme de Denys Arcand, ‘Jesus de Montreal’, que mostra Jesus entre um grupo de jovens no submundo de Montreal, Quebec. Ou ‘Godspell’, que conta a história de Jesus como se fosse uim hippie em meio a um grupo hippie dos anos 1960 em Nova York. Tudo isso só demonstra como dois mil anos depois esse galileu que marcou para sempre a história da humanidade continua atraindo a atenção para si. Mesmo quem não crê é obrigado a admitir: o mundo era um antes de Jesus Cristo e é outro depois dele”. Face a estas considerações, nada tenho a acrescentar. E precisa?!!!

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