Formação da identidade
Pedro J. Bondaczuk
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A formação da identidade de uma pessoa, o que chamamos genericamente de “personalidade”, leva algum tempo para se manifestar e mais ainda para se consolidar. Imaginem a de uma cidade! Algumas levam séculos para se configurar e ainda assim estão em permanente mutação.
E Brasília, ao ensejo de completar 50 anos de existência, já tem a sua? Já dá para distinguir o brasiliense (não importa se nascido ali ou se emigrado de outras localidades, inclusive países), por exemplo, de um carioca, de um paulistano ou de um recifense? Atrevo-me a dizer que sim, o que não deixa de ser um fenômeno admirável, de mistura de etnias, costumes, culturas etc. que se fundiram (e se fundem), para formar tipos próprios.
Não conheço nada parecido, em termos de atração de pessoas dos mais diversos e longínquos recantos deste País continente, do que aquilo que aconteceu com Brasília. No curtíssimo espaço de tempo de meio século, de uma única geração (os que nasceram na cidade por ocasião da sua inauguração estão completando 50 anos agora e, provavelmente, muitos se tornando avós neste ano), portanto, nossa mágica Capital Federal saltou da condição de mero acampamento de operários, sem residentes fixos, para uma população de 2.606.885 habitantes, conforme informação do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística!
Não conheço nenhuma cidade no mundo, reitero, com crescimento populacional dessa ordem, tão acelerado, diria explosivo. Pode ser que exista. Se existir, o leitor poderá corrigir-me. Mas não creio que haja caso similar ou remotamente parecido em nenhum lugar do mundo.
A idéia de construir Brasília nasceu da visão de futuro de um homem notável, nem sempre devidamente reconhecido na história,: José Bonifácio de Andrada e Silva. Quando cogitou da sua construção, em pleno e então desértico planalto central, o Brasil ainda era colônia de Portugal. Mas o controvertido político – que foi escolhido como tutor de Dom Pedro II por seu pai, nosso primeiro imperador, com quem tinha sérias divergências, tão logo este abdicou do trono recém-conquistado e regressou a Portugal para disputar a coroa que julgava ser sua de direito – foi tão meticuloso em seu utópico projeto, que até o nome que a cidade ostenta foi um dos sugeridos por ele na ocasião.
Quem nos informa a respeito é o professor, diplomata e escritor João Almino, em detalhado ensaio, intitulado0 “O mito de Brasília na literatura”. Escreveu, em determinado trecho, a propósito: “Ainda antes da independência, em 1821, José Bonifácio de Andrada e Silva sugeriu, nas instruções dos deputados paulistas à Corte, que se levantasse ‘uma cidade central no interior do Brasil para assento da Corte ou da Regência’, acrescentando que poderia ser ‘na latitude pouco mais ou menos de 15 graus’, o que veio a coincidir com a futura localização de Brasília. No mesmo documento, Bonifácio propunha que a nova cidade tivesse a denominação de ‘Petrópolis, Brasília ou outra qualquer”. Nem é preciso dizer qual nome prevaleceu, não é mesmo?
É i8ncrível que, em tão pouco tempo, a nova capital federal tenha saltado de zero habitantes fixos para 2.606.885! Recorde-se que logo após a mudança da sede administrativa do Rio de Janeiro para o Planalto Central, os milhares de funcionários públicos federais “congestionavam” os céus todos os finais de semana, deixando Brasília às moscas. Odiavam a cidade, não tinham ali suas raízes e “fugiam” dela sempre que houvesse a mínima oportunidade ou pretexto.
Em meras cinco décadas, todavia, tudo mudou. Centenas de milhares de pessoas, que lá nasceram, têm ali suas raízes familiares, afetivas e culturais. Identificam-se plenamente com a cidade e não lhes passa nem remotamente pela cabeça irem viver em outro lugar.
Hoje, Brasília é a quarta maior cidade do País. As três que a superam, frise-se, contam com alguns séculos de existência. Ela, todavia... é a “caçulinha” das nossas metrópoles e ainda assim é uma das que proporcionam melhores condições de vida a seus habitantes (a despei8to de várias carências e problemas sociais).
O IBGE revela, por exemplo, que a cidade ostenta, hoje, o segundo maior PIB per capita entre todas as capitais brasileiras. É, portanto, outra das tantas conquistas dos que a construíram e adotaram por lar e, principalmente, dos que nasceram em Brasília e lhe deram, em tão pouco tempo, características e personalidade próprias, e únicas.
Pedro J. Bondaczuk
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A formação da identidade de uma pessoa, o que chamamos genericamente de “personalidade”, leva algum tempo para se manifestar e mais ainda para se consolidar. Imaginem a de uma cidade! Algumas levam séculos para se configurar e ainda assim estão em permanente mutação.
E Brasília, ao ensejo de completar 50 anos de existência, já tem a sua? Já dá para distinguir o brasiliense (não importa se nascido ali ou se emigrado de outras localidades, inclusive países), por exemplo, de um carioca, de um paulistano ou de um recifense? Atrevo-me a dizer que sim, o que não deixa de ser um fenômeno admirável, de mistura de etnias, costumes, culturas etc. que se fundiram (e se fundem), para formar tipos próprios.
Não conheço nada parecido, em termos de atração de pessoas dos mais diversos e longínquos recantos deste País continente, do que aquilo que aconteceu com Brasília. No curtíssimo espaço de tempo de meio século, de uma única geração (os que nasceram na cidade por ocasião da sua inauguração estão completando 50 anos agora e, provavelmente, muitos se tornando avós neste ano), portanto, nossa mágica Capital Federal saltou da condição de mero acampamento de operários, sem residentes fixos, para uma população de 2.606.885 habitantes, conforme informação do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística!
Não conheço nenhuma cidade no mundo, reitero, com crescimento populacional dessa ordem, tão acelerado, diria explosivo. Pode ser que exista. Se existir, o leitor poderá corrigir-me. Mas não creio que haja caso similar ou remotamente parecido em nenhum lugar do mundo.
A idéia de construir Brasília nasceu da visão de futuro de um homem notável, nem sempre devidamente reconhecido na história,: José Bonifácio de Andrada e Silva. Quando cogitou da sua construção, em pleno e então desértico planalto central, o Brasil ainda era colônia de Portugal. Mas o controvertido político – que foi escolhido como tutor de Dom Pedro II por seu pai, nosso primeiro imperador, com quem tinha sérias divergências, tão logo este abdicou do trono recém-conquistado e regressou a Portugal para disputar a coroa que julgava ser sua de direito – foi tão meticuloso em seu utópico projeto, que até o nome que a cidade ostenta foi um dos sugeridos por ele na ocasião.
Quem nos informa a respeito é o professor, diplomata e escritor João Almino, em detalhado ensaio, intitulado0 “O mito de Brasília na literatura”. Escreveu, em determinado trecho, a propósito: “Ainda antes da independência, em 1821, José Bonifácio de Andrada e Silva sugeriu, nas instruções dos deputados paulistas à Corte, que se levantasse ‘uma cidade central no interior do Brasil para assento da Corte ou da Regência’, acrescentando que poderia ser ‘na latitude pouco mais ou menos de 15 graus’, o que veio a coincidir com a futura localização de Brasília. No mesmo documento, Bonifácio propunha que a nova cidade tivesse a denominação de ‘Petrópolis, Brasília ou outra qualquer”. Nem é preciso dizer qual nome prevaleceu, não é mesmo?
É i8ncrível que, em tão pouco tempo, a nova capital federal tenha saltado de zero habitantes fixos para 2.606.885! Recorde-se que logo após a mudança da sede administrativa do Rio de Janeiro para o Planalto Central, os milhares de funcionários públicos federais “congestionavam” os céus todos os finais de semana, deixando Brasília às moscas. Odiavam a cidade, não tinham ali suas raízes e “fugiam” dela sempre que houvesse a mínima oportunidade ou pretexto.
Em meras cinco décadas, todavia, tudo mudou. Centenas de milhares de pessoas, que lá nasceram, têm ali suas raízes familiares, afetivas e culturais. Identificam-se plenamente com a cidade e não lhes passa nem remotamente pela cabeça irem viver em outro lugar.
Hoje, Brasília é a quarta maior cidade do País. As três que a superam, frise-se, contam com alguns séculos de existência. Ela, todavia... é a “caçulinha” das nossas metrópoles e ainda assim é uma das que proporcionam melhores condições de vida a seus habitantes (a despei8to de várias carências e problemas sociais).
O IBGE revela, por exemplo, que a cidade ostenta, hoje, o segundo maior PIB per capita entre todas as capitais brasileiras. É, portanto, outra das tantas conquistas dos que a construíram e adotaram por lar e, principalmente, dos que nasceram em Brasília e lhe deram, em tão pouco tempo, características e personalidade próprias, e únicas.
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