Letras que já têm história
Pedro J. Bondaczuk
Dá para se dizer que alguém, ou algum lugar, com cinqüenta anos de existência, já têm história? ´Depende! Há pessoas com vidas tão medíocres e cinzentas, com circunstâncias tão monótonas e tediosas, que poderiam viver mil anos que não teriam o que contar. Ou que, pelo menos, não saberiam fazer isso. Em contrapartida, há crianças sumamente precoces, que em idade em que sequer se desenvolveram plenamente, já têm um rosário de realizações a ostentar. Exemplo? Amadeus Wolfgang Mozart. Com apenas quatro anos, idade em que muita criança sequer largou da chupeta, já era músico excepcional e até compositor.
Há cidades com milênios de existência que só sabemos que existem quando vemos seus nomes nos mapas dos respectivos países. Até têm suas histórias, lendas e tradições, mas estas são tão inexpressivas, que sequer extrapolam seus limites geográficos. Em contrapartida, há outras que, com menos de uma década de existência, conseguem projeção, se não mundial ou nacional, pelo menos regional, pelo talento e operosidade dos seus habitantes.
Cinqüenta anos, portanto, podem ser como uma piscada de olhos, algo medido em milésimos de segundos, para os medíocres e uma eternidade, com uma infinidade de histórias, lendas, tradições e, sobretudo de realizações, para os criativos, operosos, imaginativos e construtores do progresso.
Este último, é o caso de Brasília. Ao ensejo em que completa seu cinqüentenário, tem uma história, às vezes exemplar, outras reprováveis, mas ainda assim memorável a ostentar. Em seus vastos gramados, avenidas e superquadras, desenrolaram-se comédias e tragédias, dramas e conquistas, atos heróicos e vexatórios. Nomes como os de seus pioneiros, Juscelino Kubitschek de Oliveira, que acreditou que mera utopia poderia se fazer concreta, Lúcio Costa e Oscar Niemeyer, que a projetaram materialmente, Bernardo Sayão, que deu a vida por esse sonho e, principalmente, os “candangos”, que a erigiram com seus músculos, suor e lágrimas, têm que ser (e de fato são) reverenciados.
Em relação a estes últimos, ocorreu um fato curioso, mas que lhes fez justiça. A expressão, originalmente, tinha conotação pejorativa, para caracterizar pessoas anônimas, sem eira e nem beira, aventureiras, vindas de não se sabe onde. Hoje, no entanto, a expressão “candango” soa como elogio e é pronunciada com imenso respeito e indisfarçável ternura.
Bem, já vimos que Brasília, a despeito de ter apenas meio século de existência, já tem história. E sua literatura, também tem? Se a resposta for positiva, porque os escritores brasilienses (quer os que adotaram a cidade como sua, quer os que lá nasceram) não são conhecidos nacionalmente, salvo raras e honrosas exceções? Isso se deve, no meu entender, não à sua eventual menos-importância ou desimportância, mas à brutal desinformação que há, país afora, das verdadeiras potencialidades e riquezas (materiais, culturais e espirituais) do Brasil. O brasileiro, de maneira geral, não conhece o seu país. Conhece, apenas (e olhem lá!) a região em que vive.
Uma das referências para um estudo mais detalhado da literatura de Brasília é, sem dúvida, o livro de Luiz Carlos Guimarães da Costa, “História da Literatura brasiliense”, lançado há já bom tempo pela Thesaurus Editora. A obra é uma comprovação de que, cinqüenta anos de produção, sem dúvida, é tempo mais do que suficiente para se reunir um acervo considerável de bons textos de ótimos escritores que estão a requerer maior visibilidade. E todos versam, de uma forma ou de outra, sobre nossa futurista e magnífica Capital Federal.
Creio que, nesta série de considerações, com as quais pretendo render humílima homenagem aos cinqüenta anos dessa cidade já impregnada no imaginário nacional, pude trazer à tona um pouco do que se fez e do que se faz por lá, em termos de produção literária. É pouco o que consegui reunir, até aqui, a respeito? Pouquíssimo! Vejo a questão à distância, o quê, se me faculta o fator da isenção em meus julgamentos e análises, faz com que eu esbarre na carência de fontes ao meu dispor. Estas existem, e são muitas, mas o que fazer, e como, para chegar até elas?
Todavia meus textos, mesmo não passando de reles pingo de água na imensidão do oceano, são mais, muito mais do que se divulgou e se divulga, pelo menos além fronteiras do Planalto Central, sobre a rica e magnética literatura “de” ou “sobre” Brasília em âmbito nacional.
Mas para que vocês percebam o quanto é grande a produção literária brasiliense, basta enfatizar que somente o pouco que escrevi a respeito (pouquíssimo e reitero que não passa de reles pingo de água na imensidão do oceano), já daria para compor um livro. Não foi esse o meu propósito.
As informações foram chegando às minhas mãos; fui comentando sobre esses livros a que tive acesso, sem método, até, pois no calor das edições diárias, portanto sem muito (a rigor nenhum) tempo para reflexão, e eis que está traçado um painel, mesmo que mínimo, a respeito.
Luiz Carlos Guimarães da Costa, de 62 anos, a exemplo de tantos “adventícios”, não é natural de Brasília. Nasceu em Londrina, no Paraná, e foi criado no interior paulista. É, além de engenheiro aeronáutico, jornalista e mestre em ciências. Reside em Brasília há 23 anos, desde 1987. É familiarizado com pesquisas, com dados objetivos, com cifras etc., como funcionário do IPEA, órgão do Ministério do Planejamento.
Apaixonado pela cidade e por sua literatura, dedicou dois anos de muito trabalho à produção dessa importante obra de referência. Para que o leitor tenha uma idéia do teor do livro, peço licença para reproduzir trecho de um texto a respeito, publicado no site “Nós Revista” (www.nosrevista.com.br), em 14 de agosto de 2006, cujo autor não foi identificado: “’A História da Literatura Brasiliense’ está indissoluvelmente ligada à hitória da construção e evolução da nova capital. Atrás do sonho de JK de interiorizar o desenvolvimento do oeste, já durante as obras, a partir de 1957, escritores como José Godoy Garcia (um dos maiores poetas goianos), Antonio Carlos Osório (primeiro advogado em atividade em Brasília) e Clemente Luiz (pioneiro cronista das obras da Rádio Nacional) aqui chegaram antes da inauguração de Brasília, Foram sucedidos por diversos homens de letras do mesmo quilate a partir de 1960. Ciro dos Anjos, José Santiago Naud, Almeida Fischer, Alphonsus de Guimaraens Filho, Anderson Braga Horta, Afonso Felix de Sousa, Joanyr de Oliveira e muitos outros. Eles iniciaram a base para a literatura de Brasília.
Sobre as pesquisas de Luiz Carlos Guimarães da Costa, para a redação do seu livro, o referido texto informa: “Para começar a estruturar o registro desta história, ainda breve (menos de meio século), porém muito rica em quantidade e em qualidade, foram identificadas e analisadas 14 antologias de contos, uma de crônicas e 40 de poesia, a grande maioria publicada em Brasília (apenas duas antologias de poesias foram publicadas no Rio de Janeiro, porém com inúmeros poetas residentes em Brasília). Foram levantados também os documentos históricos sobre a literatura brasiliense existentes nas diversas bibliotecas, especialmente da ANE – Associação Nacional de Escritores e dessas duas fontes foram construídos arquivos de identificação dos escritores vindos das mais variadas partes do país, mas de alguma forma ligados a Brasília”.
Como se vê, essa cidade, ora cinqüentenária, não é somente aquela “ilha da fantasia” que está na cabeça de muitos brasileiros (temo que da maioria), pelas falcatruas, negociatas e atos de corrupção que ocorrem em seus domínios, praticados por políticos sem estrutura ou estofo moral para exercer tão nobre missão. Tem rica história, sim senhores, de superação, trabalho e grandeza e seus escritores e sua literatura não ficam nada a dever a ninguém, se é que não superam os dos centros mais badalados do País.
Pedro J. Bondaczuk
Dá para se dizer que alguém, ou algum lugar, com cinqüenta anos de existência, já têm história? ´Depende! Há pessoas com vidas tão medíocres e cinzentas, com circunstâncias tão monótonas e tediosas, que poderiam viver mil anos que não teriam o que contar. Ou que, pelo menos, não saberiam fazer isso. Em contrapartida, há crianças sumamente precoces, que em idade em que sequer se desenvolveram plenamente, já têm um rosário de realizações a ostentar. Exemplo? Amadeus Wolfgang Mozart. Com apenas quatro anos, idade em que muita criança sequer largou da chupeta, já era músico excepcional e até compositor.
Há cidades com milênios de existência que só sabemos que existem quando vemos seus nomes nos mapas dos respectivos países. Até têm suas histórias, lendas e tradições, mas estas são tão inexpressivas, que sequer extrapolam seus limites geográficos. Em contrapartida, há outras que, com menos de uma década de existência, conseguem projeção, se não mundial ou nacional, pelo menos regional, pelo talento e operosidade dos seus habitantes.
Cinqüenta anos, portanto, podem ser como uma piscada de olhos, algo medido em milésimos de segundos, para os medíocres e uma eternidade, com uma infinidade de histórias, lendas, tradições e, sobretudo de realizações, para os criativos, operosos, imaginativos e construtores do progresso.
Este último, é o caso de Brasília. Ao ensejo em que completa seu cinqüentenário, tem uma história, às vezes exemplar, outras reprováveis, mas ainda assim memorável a ostentar. Em seus vastos gramados, avenidas e superquadras, desenrolaram-se comédias e tragédias, dramas e conquistas, atos heróicos e vexatórios. Nomes como os de seus pioneiros, Juscelino Kubitschek de Oliveira, que acreditou que mera utopia poderia se fazer concreta, Lúcio Costa e Oscar Niemeyer, que a projetaram materialmente, Bernardo Sayão, que deu a vida por esse sonho e, principalmente, os “candangos”, que a erigiram com seus músculos, suor e lágrimas, têm que ser (e de fato são) reverenciados.
Em relação a estes últimos, ocorreu um fato curioso, mas que lhes fez justiça. A expressão, originalmente, tinha conotação pejorativa, para caracterizar pessoas anônimas, sem eira e nem beira, aventureiras, vindas de não se sabe onde. Hoje, no entanto, a expressão “candango” soa como elogio e é pronunciada com imenso respeito e indisfarçável ternura.
Bem, já vimos que Brasília, a despeito de ter apenas meio século de existência, já tem história. E sua literatura, também tem? Se a resposta for positiva, porque os escritores brasilienses (quer os que adotaram a cidade como sua, quer os que lá nasceram) não são conhecidos nacionalmente, salvo raras e honrosas exceções? Isso se deve, no meu entender, não à sua eventual menos-importância ou desimportância, mas à brutal desinformação que há, país afora, das verdadeiras potencialidades e riquezas (materiais, culturais e espirituais) do Brasil. O brasileiro, de maneira geral, não conhece o seu país. Conhece, apenas (e olhem lá!) a região em que vive.
Uma das referências para um estudo mais detalhado da literatura de Brasília é, sem dúvida, o livro de Luiz Carlos Guimarães da Costa, “História da Literatura brasiliense”, lançado há já bom tempo pela Thesaurus Editora. A obra é uma comprovação de que, cinqüenta anos de produção, sem dúvida, é tempo mais do que suficiente para se reunir um acervo considerável de bons textos de ótimos escritores que estão a requerer maior visibilidade. E todos versam, de uma forma ou de outra, sobre nossa futurista e magnífica Capital Federal.
Creio que, nesta série de considerações, com as quais pretendo render humílima homenagem aos cinqüenta anos dessa cidade já impregnada no imaginário nacional, pude trazer à tona um pouco do que se fez e do que se faz por lá, em termos de produção literária. É pouco o que consegui reunir, até aqui, a respeito? Pouquíssimo! Vejo a questão à distância, o quê, se me faculta o fator da isenção em meus julgamentos e análises, faz com que eu esbarre na carência de fontes ao meu dispor. Estas existem, e são muitas, mas o que fazer, e como, para chegar até elas?
Todavia meus textos, mesmo não passando de reles pingo de água na imensidão do oceano, são mais, muito mais do que se divulgou e se divulga, pelo menos além fronteiras do Planalto Central, sobre a rica e magnética literatura “de” ou “sobre” Brasília em âmbito nacional.
Mas para que vocês percebam o quanto é grande a produção literária brasiliense, basta enfatizar que somente o pouco que escrevi a respeito (pouquíssimo e reitero que não passa de reles pingo de água na imensidão do oceano), já daria para compor um livro. Não foi esse o meu propósito.
As informações foram chegando às minhas mãos; fui comentando sobre esses livros a que tive acesso, sem método, até, pois no calor das edições diárias, portanto sem muito (a rigor nenhum) tempo para reflexão, e eis que está traçado um painel, mesmo que mínimo, a respeito.
Luiz Carlos Guimarães da Costa, de 62 anos, a exemplo de tantos “adventícios”, não é natural de Brasília. Nasceu em Londrina, no Paraná, e foi criado no interior paulista. É, além de engenheiro aeronáutico, jornalista e mestre em ciências. Reside em Brasília há 23 anos, desde 1987. É familiarizado com pesquisas, com dados objetivos, com cifras etc., como funcionário do IPEA, órgão do Ministério do Planejamento.
Apaixonado pela cidade e por sua literatura, dedicou dois anos de muito trabalho à produção dessa importante obra de referência. Para que o leitor tenha uma idéia do teor do livro, peço licença para reproduzir trecho de um texto a respeito, publicado no site “Nós Revista” (www.nosrevista.com.br), em 14 de agosto de 2006, cujo autor não foi identificado: “’A História da Literatura Brasiliense’ está indissoluvelmente ligada à hitória da construção e evolução da nova capital. Atrás do sonho de JK de interiorizar o desenvolvimento do oeste, já durante as obras, a partir de 1957, escritores como José Godoy Garcia (um dos maiores poetas goianos), Antonio Carlos Osório (primeiro advogado em atividade em Brasília) e Clemente Luiz (pioneiro cronista das obras da Rádio Nacional) aqui chegaram antes da inauguração de Brasília, Foram sucedidos por diversos homens de letras do mesmo quilate a partir de 1960. Ciro dos Anjos, José Santiago Naud, Almeida Fischer, Alphonsus de Guimaraens Filho, Anderson Braga Horta, Afonso Felix de Sousa, Joanyr de Oliveira e muitos outros. Eles iniciaram a base para a literatura de Brasília.
Sobre as pesquisas de Luiz Carlos Guimarães da Costa, para a redação do seu livro, o referido texto informa: “Para começar a estruturar o registro desta história, ainda breve (menos de meio século), porém muito rica em quantidade e em qualidade, foram identificadas e analisadas 14 antologias de contos, uma de crônicas e 40 de poesia, a grande maioria publicada em Brasília (apenas duas antologias de poesias foram publicadas no Rio de Janeiro, porém com inúmeros poetas residentes em Brasília). Foram levantados também os documentos históricos sobre a literatura brasiliense existentes nas diversas bibliotecas, especialmente da ANE – Associação Nacional de Escritores e dessas duas fontes foram construídos arquivos de identificação dos escritores vindos das mais variadas partes do país, mas de alguma forma ligados a Brasília”.
Como se vê, essa cidade, ora cinqüentenária, não é somente aquela “ilha da fantasia” que está na cabeça de muitos brasileiros (temo que da maioria), pelas falcatruas, negociatas e atos de corrupção que ocorrem em seus domínios, praticados por políticos sem estrutura ou estofo moral para exercer tão nobre missão. Tem rica história, sim senhores, de superação, trabalho e grandeza e seus escritores e sua literatura não ficam nada a dever a ninguém, se é que não superam os dos centros mais badalados do País.
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