Li, recentemente, revelador artigo de Afonso Cautela, intitulado “Recuar um passo para avançar vinte”, publicado em 22 de maio de 1971 na coluna “Futuro”, da publicação “O Século Ilustrado” de Lisboa. O articulista, sem negar a realidade (que na época em que escreveu o texto nem era tão dramática como agora), manifesta crença na capacidade humana de alterar paradigmas e de encontrar, portanto, saídas, mesmo à beira do abismo (crença com a qual comungo). Inicia suas considerações assim: “Supõem alguns que falar do futuro é (apenas) prever, até às últimas conseqüências, o que vai ser esta civilização tecnológica (à qual por acaso pertencemos e é uma entre muitas das civilizações possíveis) e que nenhuma alternativa se apresenta, portanto, para substituir ou contrariar a lógica onde estamos embarcados, a ordem a que devemos obediência, a estrutura de que somos um mísero e intransponível parafuso. Como parafusos, nada nos pode tirar de onde estamos e há que seguir, na engrenagem, até à consumação dos anos, e – dizem os pessimistas – dos séculos”. Não há exagero e nem generalização nessas colocações. Toda lógica indica nessa direção. Mas não somos “parafusos”. E Cautela defende que podemos salvar o mundo, alterando os paradigmas. De fato, podemos.
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