Arafat tem sete vidas
Pedro J. Bondaczuk
O líder da OLP, Yasser Arafat, deu uma demonstração, ontem, em Amã, que politicamente é como o gato que, segundo a lenda, tem sete vidas. Poucos acreditavam que ele conseguiria quorum para realizar a 17ª reunião de trabalhos do Conselho Nacional Palestino, o Parlamento no exílio dessa nação sem território.
Desde a sua expulsão de Beirute, em 12 de agosto de 1982, após uma resistência heróica, quase suicida, de dois meses ao cerco das tropas israelenses (cujo assédio à capital libanesa começou a 14 de julho daquele ano), o comando desse homem de aspecto afável, mas de rija têmpera, de sangue frio e extremo realismo, passou a ser contestado por seus próprios homens.
A rebelião partiu de elementos extremistas, ligados à Síria, seguidores da orientação do presidente Hafez Assad, que não admitiram essa nova derrota palestina e muito menos a vexatória retirada de solo libanês. Arafat, diga-se de passagem, tem “know-how” de expulsões.
Em 17 de julho de 1970, por exemplo, teve que abandonar a Jordânia, após frustrada tentativa de depor o rei hachemita Hussein de seu trono, numa guerra civil sangrenta entre jordanianos e seus comandados, que durou praticamente um ano. Diversos palestinos, na ocasião, foram massacrados em acampamentos de refugiados.
O líder da OLP resolveu, então, mudar as bases de operação do seu grupo para território libanês, de onde poderia fustigar Israel. Não demorou muito, entretanto, envolveu-se em outro conflito. Os palestinos acabaram transformando-se nos pivôs de uma nova guerra civil (que ainda põe em perigo até mesmo a existência do Líbano como país independente), num incidente ocorrido em 13 de abril de 1975.
Na época, um ônibus foi atacado por milicianos falangistas libaneses, com saldo de 27 mortos. Acontece que essas vítimas eram todas palestinas. Daí em diante, o Líbano tornou-se autêntica “terra de ninguém”. Ou terra de todos os invasores.
Mas a OLP pagou um preço muito caro em vidas nesse conflito. Além dos mortos em combate, os palestinos sofreram massacres em seus acampamentos em duas oportunidades: em 1976, no campo de Tel-Al-Zaatar e em 1982, em Sabra e Chatila. Os últimos, ocorridos depois da segunda expulsão de Arafat de um país, no espaço de 12 anos.
Mas o terceiro “despejo” do líder palestino demoraria muito menos do que isso. Viria apenas um ano depois, em 1983, e seria mais vexatório. Partiria não mais de jordanianos, israelenses ou até de libaneses, mas de seus próprios seguidores. E viria como complemento de semanas de duríssimos combates, fazendo com que Arafat, sitiado na cidade de Tripoli, Norte do Líbano, cedesse às evidências e batesse mais uma vez em retirada, desta vez para a ilha de Chipre.
Desde a criação da OLP, em 1964, nunca sua liderança, portanto, foi posta em questão com tanta freqüência. Mas Yasser Arafat é como um jogador. Sabe que a derrota é decorrência natural de uma disputa, mas se dispõe a evitar que ela seja definitiva.
Só mostra suas cartas no momento certo e, com isso, surpreende, quase sempre, seus adversários. Foi o que voltou a fazer ontem, obtendo uma importante vitória, talvez a mais decisiva de toda a sua militância política.
(Artigo publicado na página 9, Internacional, do Correio Popular, em 23 de novembro de 1984).
Pedro J. Bondaczuk
O líder da OLP, Yasser Arafat, deu uma demonstração, ontem, em Amã, que politicamente é como o gato que, segundo a lenda, tem sete vidas. Poucos acreditavam que ele conseguiria quorum para realizar a 17ª reunião de trabalhos do Conselho Nacional Palestino, o Parlamento no exílio dessa nação sem território.
Desde a sua expulsão de Beirute, em 12 de agosto de 1982, após uma resistência heróica, quase suicida, de dois meses ao cerco das tropas israelenses (cujo assédio à capital libanesa começou a 14 de julho daquele ano), o comando desse homem de aspecto afável, mas de rija têmpera, de sangue frio e extremo realismo, passou a ser contestado por seus próprios homens.
A rebelião partiu de elementos extremistas, ligados à Síria, seguidores da orientação do presidente Hafez Assad, que não admitiram essa nova derrota palestina e muito menos a vexatória retirada de solo libanês. Arafat, diga-se de passagem, tem “know-how” de expulsões.
Em 17 de julho de 1970, por exemplo, teve que abandonar a Jordânia, após frustrada tentativa de depor o rei hachemita Hussein de seu trono, numa guerra civil sangrenta entre jordanianos e seus comandados, que durou praticamente um ano. Diversos palestinos, na ocasião, foram massacrados em acampamentos de refugiados.
O líder da OLP resolveu, então, mudar as bases de operação do seu grupo para território libanês, de onde poderia fustigar Israel. Não demorou muito, entretanto, envolveu-se em outro conflito. Os palestinos acabaram transformando-se nos pivôs de uma nova guerra civil (que ainda põe em perigo até mesmo a existência do Líbano como país independente), num incidente ocorrido em 13 de abril de 1975.
Na época, um ônibus foi atacado por milicianos falangistas libaneses, com saldo de 27 mortos. Acontece que essas vítimas eram todas palestinas. Daí em diante, o Líbano tornou-se autêntica “terra de ninguém”. Ou terra de todos os invasores.
Mas a OLP pagou um preço muito caro em vidas nesse conflito. Além dos mortos em combate, os palestinos sofreram massacres em seus acampamentos em duas oportunidades: em 1976, no campo de Tel-Al-Zaatar e em 1982, em Sabra e Chatila. Os últimos, ocorridos depois da segunda expulsão de Arafat de um país, no espaço de 12 anos.
Mas o terceiro “despejo” do líder palestino demoraria muito menos do que isso. Viria apenas um ano depois, em 1983, e seria mais vexatório. Partiria não mais de jordanianos, israelenses ou até de libaneses, mas de seus próprios seguidores. E viria como complemento de semanas de duríssimos combates, fazendo com que Arafat, sitiado na cidade de Tripoli, Norte do Líbano, cedesse às evidências e batesse mais uma vez em retirada, desta vez para a ilha de Chipre.
Desde a criação da OLP, em 1964, nunca sua liderança, portanto, foi posta em questão com tanta freqüência. Mas Yasser Arafat é como um jogador. Sabe que a derrota é decorrência natural de uma disputa, mas se dispõe a evitar que ela seja definitiva.
Só mostra suas cartas no momento certo e, com isso, surpreende, quase sempre, seus adversários. Foi o que voltou a fazer ontem, obtendo uma importante vitória, talvez a mais decisiva de toda a sua militância política.
(Artigo publicado na página 9, Internacional, do Correio Popular, em 23 de novembro de 1984).
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