Ameaça do 3º Mundo
Pedro J. Bondaczuk
O deslocamento da corrida armamentista nuclear, que acontece há já algum tempo, das superpotências para o Terceiro Mundo, não vem recebendo a devida atenção nem dos grandes estadistas mundiais e muito menos das organizações pacifistas, mas encerra, em si, um perigo imenso para a humanidade.
Árabes e judeus estão prestes a reproduzir, posto que em dimensões bem menores, o clima de guerra fria protagonizado pelas duas superpotências do Planeta desde 1945 até muito recentemente. Só que, ao contrário da União Soviética e Estados Unidos, que desenvolveram mecanismos eficientes, que impediram que o estado de beligerância latente se aquecesse ou viesse a ferver, levando de roldão a Terra inteira, essas duas comunidades, que sustentam milenar rivalidade (principalmente em torno de Jerusalém, cidade considerada santa por ambas) jamais tiveram o mesmo tirocínio.
Travaram, de 1948 para cá, três sangrentos conflitos militares e o clima de tensão existente no Oriente Médio leva à previsão de que um quarto estaria sendo fermentado. Várias fontes (ocidentais ou não) têm insinuado que o Estado judeu teria um arsenal nuclear de razoável porte, contendo entre 20 e 200 ogivas.
É impossível saber-se dessas coisas com mínima dose de certeza, visto tratar-se, evidentemente, de uma informação ultraconfidencial. Porém, uma série de indícios nos conduz ao temor de que as suspeitas a esse respeito sejam fundadas.
Por outro lado, o líder líbio, coronel Muammar Khaddaffy, nunca escondeu o empenho do seu governo para desenvolver a bomba atômica e, mais do que isso, foguetes que a transportem rumo ao Estado judeu. No sábado passado, por exemplo, ele foi bastante explícito a respeito, ao convocar seus cientistas para um esforço concentrado nessa direção.
O Iraque é outro integrante da comunidade árabe freqüentemente acusado de se empenhar na obtenção de armas nucleares. Seu presidente, Saddam Hussein, tem desmentido, com veemência, versões nesse sentido e acusa o Ocidente de mover campanha difamatória contra o seu país.
Todavia, nem por isso vem se mostrando cordato ou conciliador em relação a Israel. Pelo contrário, já ameaçou, há alguns meses, destruir metade do Estado judeu com armas químicas binárias, ameaça que, aliás, reiterou ontem, num congresso internacional realizado em Bagdá.
Fora os três países mencionados, há, ainda, a Índia e o Paquistão, inimigos inconciliáveis, cujas populações, somadas, orçam ao redor de um bilhão de pessoas, correndo na mesma direção. Ou seja, em busca dessa autêntica Caixa de Pandora que, a exemplo do receptáculo mitológico, contém, em seu interior, todos os males imagináveis. Guarda a semente da aniquilação da vida. É muito preocupante, portanto, esse deslocamento da corrida armamentista nuclear.
(Artigo publicado na página 14, Internacional, do Correio Popular, em 19 de junho de 1990)
Pedro J. Bondaczuk
O deslocamento da corrida armamentista nuclear, que acontece há já algum tempo, das superpotências para o Terceiro Mundo, não vem recebendo a devida atenção nem dos grandes estadistas mundiais e muito menos das organizações pacifistas, mas encerra, em si, um perigo imenso para a humanidade.
Árabes e judeus estão prestes a reproduzir, posto que em dimensões bem menores, o clima de guerra fria protagonizado pelas duas superpotências do Planeta desde 1945 até muito recentemente. Só que, ao contrário da União Soviética e Estados Unidos, que desenvolveram mecanismos eficientes, que impediram que o estado de beligerância latente se aquecesse ou viesse a ferver, levando de roldão a Terra inteira, essas duas comunidades, que sustentam milenar rivalidade (principalmente em torno de Jerusalém, cidade considerada santa por ambas) jamais tiveram o mesmo tirocínio.
Travaram, de 1948 para cá, três sangrentos conflitos militares e o clima de tensão existente no Oriente Médio leva à previsão de que um quarto estaria sendo fermentado. Várias fontes (ocidentais ou não) têm insinuado que o Estado judeu teria um arsenal nuclear de razoável porte, contendo entre 20 e 200 ogivas.
É impossível saber-se dessas coisas com mínima dose de certeza, visto tratar-se, evidentemente, de uma informação ultraconfidencial. Porém, uma série de indícios nos conduz ao temor de que as suspeitas a esse respeito sejam fundadas.
Por outro lado, o líder líbio, coronel Muammar Khaddaffy, nunca escondeu o empenho do seu governo para desenvolver a bomba atômica e, mais do que isso, foguetes que a transportem rumo ao Estado judeu. No sábado passado, por exemplo, ele foi bastante explícito a respeito, ao convocar seus cientistas para um esforço concentrado nessa direção.
O Iraque é outro integrante da comunidade árabe freqüentemente acusado de se empenhar na obtenção de armas nucleares. Seu presidente, Saddam Hussein, tem desmentido, com veemência, versões nesse sentido e acusa o Ocidente de mover campanha difamatória contra o seu país.
Todavia, nem por isso vem se mostrando cordato ou conciliador em relação a Israel. Pelo contrário, já ameaçou, há alguns meses, destruir metade do Estado judeu com armas químicas binárias, ameaça que, aliás, reiterou ontem, num congresso internacional realizado em Bagdá.
Fora os três países mencionados, há, ainda, a Índia e o Paquistão, inimigos inconciliáveis, cujas populações, somadas, orçam ao redor de um bilhão de pessoas, correndo na mesma direção. Ou seja, em busca dessa autêntica Caixa de Pandora que, a exemplo do receptáculo mitológico, contém, em seu interior, todos os males imagináveis. Guarda a semente da aniquilação da vida. É muito preocupante, portanto, esse deslocamento da corrida armamentista nuclear.
(Artigo publicado na página 14, Internacional, do Correio Popular, em 19 de junho de 1990)
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