Para uma vida imersa na beleza, a despeito da miséria e dos cenários horrendos do cotidiano, é necessário que as pessoas cultivem, desde tenra infância, até por instinto, o senso estético. Se puderem criar obras belas e harmoniosas, que encantem a vista e alegrem o coração, tanto melhor. Caso contrário, apenas a capacidade de identificá-las (e valorizá-las) e usufruí-las já transforma (para melhor) a vida de qualquer um. Curiosamente, nos lugares mais sombrios e desoladores, emergem, com freqüência, refinados artistas, que captam beleza até no próprio ar e a transmitem por palavras, cores e sons. Um dos versos do poema “Retrato”, de Cecília Meirelles, diz a propósito: “Meus pés vão pisando a terra/que é a imagem da minha vida:/tão vazia, mas tão bela,/tão certa, mas tão perdida!”. Algumas raras vezes uma obra de arte que produzimos supera, em grandeza e transcendência, em muito o que somos. Adquire um toque de magia, de perpetuidade, de eternidade até, enquanto nós não passamos de frágeis animais, efêmeros, ignorantes, sumamente imperfeitos e, sobretudo, transitórios.
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