Tempo e espaço

Pedro J. Bondaczuk

Sonho com uma terra distante,
talvez até inexistente,
em algum recanto da Terra,
um cantinho particular,
que seja só meu:
Feito só para mim!
Feito só por mim!
Feito só de mim!

Sonho com tempo indefinido,
tempo dos confins do Tempo,
precioso e particular
e que seja apenas meu:
Que me lembre!
Que me exalte!
Que me construa!
Que me consuma!

Sonho com um mundo só meu.
Sonho com um tempo só meu
onde eu tenha liberdade:
para pensar o que quero,
para fazer o que gosto,
para viver ao meu modo,
para amar quem escolher
e para morrer comigo,
incrustado em mim,
sepultado em mim,
imerso em mim,
em minha torre de marfim
que fica no fundo do mar.

Sonho que quando eu morrer
retorne ao anonimato do nada:
Que ninguém saiba de mim!
Que ninguém se lembre de mim!
Que ninguém chore por mim!
Que ninguém sinta a ausência
da minha insólita figura!
Ninguém saiba o que pensei,
ninguém leia o que escrevi,
ninguém me cave sepultura!

Pois sonho um dia partir,
sozinho, calado, vazio,
para um mundo só meu,
num tempo só meu
e com morte só minha!

(Poema composto em Campinas, em 19 de novembro de 1968).