A melhor maneira de nos livrarmos de mágoas e dores emocionais é fazermos delas temas para uma obra de arte: um poema, uma canção, uma crônica, ou seja lá o que for. Além de acalmar as emoções, se o que fizermos tiver valor artístico, pode, de quebra, ainda render algum dinheirinho, o que não é nada mau, concordam? É aquela história que o povão, em sua instintiva sabedoria, tanto conhece: se lhe atirarem um limão azedo, faça dele uma deliciosa limonada. As mais sensíveis composições do cancioneiro popular em todo o mundo nasceram de amores fracassados, de ciúmes avassaladores e da chamada “dor de cotovelo”. Só os masoquistas gostam de ficar remoendo o que os faz sofrer, sem que tenham uma só válvula de escape para esse acúmulo de pressão emocional. Vocês já notaram, por exemplo, o quanto alivia o fato de desabafarmos com alguém quando nos sentimos arrasados com a perda de um amor, ou com a traição de um amigo ou com qualquer outra decepção sentimental? Esses desabafos, porém, também podem ser feitos com arte que, além de não amolarem ninguém, tendem a encantar quem tiver contato com as obras que forem produzidas nestas circunstâncias. Os melhores poemas de amor, por exemplo, foram escritos quando o poeta se sentia amargurado e triste com o abandono da amada. São desse tipo estes versos de encerramento do poema “Canção”, do poeta paulista, de Caçapava, Ubiratan Rosa: “Não, não; não quero chorar,/vou compor uma canção.../Canta sempre, eternamente,/canta tolo coração...//Canta a dor que te dói tanto,/canta a dor que te consome./e ao cantares do teu canto,/coração, sossega e dorme...”
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