Secular impasse
Pedro J. Bondaczuk
A questão do destino da Irlanda do Norte é, e ainda continuará sendo por muito tempo – até que alguma das partes deixe de lado sua intransigência e faça concessões – um problema, virtualmente, sem solução. O território, província da Grã-Bretanha, tem duas comunidades religiosas diferentes, os católicos e os anglicanos (por conseqüência, protestantes).
Ao contrário da parte Sul, que obteve sua independência em 1949, o catolicismo é minoria nessa região. E a maioria deseja continuar sendo britânica, ligada, por todos os laços possíveis, ao Reino Unido. Os que querem a separação, no entanto, não lutam pela autonomia política nacional. Desejam, simplesmente, anexar a Irlanda do Norte ao atual Eire, formando um só país, sob o signo e a bênção de Saint Patrick, o padroeiro irlandês.
É evidente que, se isso fosse feito, surgiria um novo problema, com as mesmas dimensões (ou de porte até mesmo maior) que o atual. Nessas circunstâncias, seriam os protestantes que se sentiriam no direito de, não somente protestar, como até de pegar em armas por aquilo que entendem ser o melhor para a sua comunidade.
Unidos ao território meridional, hoje uma República, eles veriam a situação atual invertida em relação aos católicos. Passariam a ser minoria, certamente tão discriminada quanto estes últimos o são no lado Norte da ilha. Por essa razão, há quase três décadas a violência predomina nas terras do Ulster (é assim que os britânicos denominam, oficialmente, essa província).
A luta é das mais cruéis e violentas, já que atinge pessoas inocentes, no geral, pois se caracteriza, fundamentalmente, por atentados terroristas. Até o primo da rainha Elizabeth II, lorde Mountbatten, foi colhido nessa loucura, que parece não ter fim, em 1979, quando perdeu a vida em conseqüência da explosão de uma bomba.
A primeira-ministra Margaret Thatcher escapou por pouco, em maio de 1985, de idêntico destino, quando o hotel em que estava hospedada, para uma convenção do Partido Conservador, foi alvo de um atentado do Exército Republicano Irlandês, cuja sigla é IRA, no exato dia em que completava 59 anos de idade.
Agora, depois da carnificina acontecida anteontem, em Eniskillen, durante cerimônia em memória dos britânicos mortos na Segunda Guerra Mundial (11 pessoas morreram e 63 saíram feridas), são os protestantes, liderados pelo truculento reverendo Ian Paisley, que desejam fazer justiça com as próprias mãos.
Mas este seria o pior dos expedientes para uma região onde a violência é corriqueira e o povo até já aprendeu a conviver com ela. Parece muito distante, portanto, qualquer vislumbre de solução para a questão da Irlanda do Norte, diante da intransigência e da falta de diálogo das partes em conflito.
(Artigo publicado na página 13, Internacional, do Correio Popular, em 10 de novembro de 1987)
Pedro J. Bondaczuk
A questão do destino da Irlanda do Norte é, e ainda continuará sendo por muito tempo – até que alguma das partes deixe de lado sua intransigência e faça concessões – um problema, virtualmente, sem solução. O território, província da Grã-Bretanha, tem duas comunidades religiosas diferentes, os católicos e os anglicanos (por conseqüência, protestantes).
Ao contrário da parte Sul, que obteve sua independência em 1949, o catolicismo é minoria nessa região. E a maioria deseja continuar sendo britânica, ligada, por todos os laços possíveis, ao Reino Unido. Os que querem a separação, no entanto, não lutam pela autonomia política nacional. Desejam, simplesmente, anexar a Irlanda do Norte ao atual Eire, formando um só país, sob o signo e a bênção de Saint Patrick, o padroeiro irlandês.
É evidente que, se isso fosse feito, surgiria um novo problema, com as mesmas dimensões (ou de porte até mesmo maior) que o atual. Nessas circunstâncias, seriam os protestantes que se sentiriam no direito de, não somente protestar, como até de pegar em armas por aquilo que entendem ser o melhor para a sua comunidade.
Unidos ao território meridional, hoje uma República, eles veriam a situação atual invertida em relação aos católicos. Passariam a ser minoria, certamente tão discriminada quanto estes últimos o são no lado Norte da ilha. Por essa razão, há quase três décadas a violência predomina nas terras do Ulster (é assim que os britânicos denominam, oficialmente, essa província).
A luta é das mais cruéis e violentas, já que atinge pessoas inocentes, no geral, pois se caracteriza, fundamentalmente, por atentados terroristas. Até o primo da rainha Elizabeth II, lorde Mountbatten, foi colhido nessa loucura, que parece não ter fim, em 1979, quando perdeu a vida em conseqüência da explosão de uma bomba.
A primeira-ministra Margaret Thatcher escapou por pouco, em maio de 1985, de idêntico destino, quando o hotel em que estava hospedada, para uma convenção do Partido Conservador, foi alvo de um atentado do Exército Republicano Irlandês, cuja sigla é IRA, no exato dia em que completava 59 anos de idade.
Agora, depois da carnificina acontecida anteontem, em Eniskillen, durante cerimônia em memória dos britânicos mortos na Segunda Guerra Mundial (11 pessoas morreram e 63 saíram feridas), são os protestantes, liderados pelo truculento reverendo Ian Paisley, que desejam fazer justiça com as próprias mãos.
Mas este seria o pior dos expedientes para uma região onde a violência é corriqueira e o povo até já aprendeu a conviver com ela. Parece muito distante, portanto, qualquer vislumbre de solução para a questão da Irlanda do Norte, diante da intransigência e da falta de diálogo das partes em conflito.
(Artigo publicado na página 13, Internacional, do Correio Popular, em 10 de novembro de 1987)
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