Thursday, March 12, 2009

REFLEXÃO DO DIA


Costuma-se atribuir, via de regra, valor muito alto à sabedoria e, em contrapartida, desdenhar de quem ignora fatos e informações, como se se tratasse de fera bronca, despida de razão e de importância. Há vários fatos a se considerar nessa questão. Primeiro: é preciso definir com exatidão quem é sábio e por que. É o sujeito bem-informado? É o que conhece um pouco de tudo, de matemática, física, filosofia, direito etc.? Ou é a pessoa que tem noção dos valores, de virtudes e de moral e põe esses conceitos em prática? Segundo ponto a considerar: o que se entende por ignorante? É o iletrado, que não teve acesso aos bancos escolares? Ou é quem aprendeu tudo o que os mestres tinham a lhe ensinar, mas não sabe o que fazer com esse conhecimento? O terceiro ponto a se ressaltar é: o verdadeiro sábio nunca desdenha de ninguém, qualquer que seja seu grau de conhecimento. Vê em todo o ser humano, analfabeto ou não, uma fonte inesgotável de conhecimento e de experiência e busca usufruir plenamente dela. Costuma-se rotular quem não conhece determinado assunto de ignorante. Por esse critério, porém, todos os seres humanos, sem exceções, não importa seu grau de leitura e de informação, o são. Afinal, não existe, nunca existiu e certamente jamais existirá quem conheça tudo de tudo. O pseudo-ignorante, que admite que nada sabe, é muito mais sábio do que o doutor em não sei quantas disciplinas, com pós-graduação, mestrado e doutorado nisso e mais aquilo, e que, por essa razão, pensa que “sabe tudo”. O ensaísta norte-americano Henry David Thoreau constatou, no memorável ensaio “Caminhando”, do seu livro “Desobedecendo”, o seguinte, a propósito: “A ignorância às vezes é não apenas útil, mas linda; a chamada sabedoria é freqüentemente pior do que inútil, além de horrorosa. Com quem você preferiria lidar – com o homem que nada sabe de um assunto e – o que é raríssimo – sabe que nada sabe, ou com o outro que de fato sabe alguma coisa do assunto, mas pensa que sabe tudo?” Eu preferiria, sem pestanejar, conviver com o primeiro. No meu entendimento, este sim é que é o sábio. Já o segundo... Quando muito, é, meramente, arrogante, prepotente e, sobretudo, chato..

1 comment:

otanunes said...

gostei de sua análise sobre o sábio. Aproveito para convidá-lo a visitar meu blog Beco das Crônicas, no endereço
www.historinhasdootavio.blogspot.com.

Muito obrigado
Otávio Nunes
jornalista e cronista de SP