Pedro J. Bondaczuk
O psicanalista e escritor Hélio Pellegrino afirmou, certa feita, o seguinte, que se constitui no fundamento da própria psicanálise: “A vida é, afinal, luta renhida entre Eros e Thanatos”. Ou seja, temos dois instintos básicos, travando batalha decisivas em nosso interior, do nosso nascimento, até a morte: o de preservação da espécie (erótico, que nos propicia o amor) e o de destruição (própria e dos outros), o tânico.
Numa inteligente e provocativa crônica, intitulada “Apologia da dor de dente” (publicada em 23 de junho de 1983 no jornal “Folha de S. Paulo”) disse, também, algo que pode até ser sumamente polêmico (e que eu nunca havia atentado, mas com o que concordo plenamente): “O padecimento do corpo é um berro de Eros, contra as vilanias de Thanatos”.
É isso mesmo o que o leitor entendeu. A dor (física, mental e/ou psicológica) é provocada pelo amor, não pelo ódio, e age como uma espécie de alarme contra as investidas do nosso instinto de destruição (reitero, própria e dos outros). “Como pode um sentimento tão benigno e nobre provocar tantos sofrimentos?”, perguntará, certamente, o leitor, cético e crítico. Pois é, mas provoca. E exclusivamente para a nossa proteção, frise-se.
Entendo o amor apenas como um sentimento irrestrito, que envolva a totalidade de um homem e uma mulher: corpo, alma, pensamentos, sentimentos, ideais e tudo isso mutua e simultaneamente, sem nenhuma restrição ou pudor. É verdade que a palavra designa muitas outras emoções, a meu ver, de forma equivocada.
Quando há, por exemplo, apenas atração sexual entre dois parceiros, eles têm desejo, mas não se amam. Saciada a vontade, resta o vazio, quando não até repulsa entre ambos, até que voltem a se desejar fisicamente (quando voltam).
O simples afeto, sem atração carnal, é só amizade. A necessidade irresistível de um pelo outro, mas com a idéia de que o sexo tira a pureza do sentimento, é belo, é poético, mas não é amor. É platonismo. O poeta português, Alexandre O’Neill, até escreveu estes versos a propósito: “Na nossa carne estamos/sem destino, sem medo, sem pudor,/e trocamos – somos um? Somos dois? –/espírito e calor!//O amor é o amor – e depois?”
O amor próprio, por sua vez, desde que não se corrompa e não se transforme em megalomaníaca auto-idolatria, é essencial para que possamos amar o próximo. É um referencial de intensidade desse sentimento em relação aos que nos cercam. Quem não ama sequer a si jamais haverá de amar a quem quer que seja.
É aí que Eros está presente e atuante mais do que nunca. E é nestas circunstâncias que provoca mais dor, como aviso para nos precavermos contra as artimanhas de Tanatos. Nada é mais dolorido, por exemplo, do que o sentimento de rejeição, ou seja, do que o amor recusado por quem amamos. No entanto, é uma reação necessária para que venhamos a reagir e procurar alternativas que nos sejam benignas.
O indispensável é que sempre haja amor em nós. Não precisa ser louco. Não precisa ser apregoado aos quatro ventos, embora tenha que ser manifestado, com grandeza e com clareza, a quem seja seu destinatário. O Mestre dos Mestres recomendou: “Ame o próximo como a si mesmo”. Se o seu amor por você for pequeno, ou se nem ao menos existir, como você poderá amar alguém? Não poderá!.
Esse sentimento, tão nobre e desejável, às vezes nos apronta armadilhas que só nos conduzem à decepção e, consequentemente, à tremenda dor do amor próprio ferido. Há pessoas, por exemplo, que asseguram pensar em nós, mas seus atos desmentem tal afirmação. Garantem que nos amam, mas seus olhos, gestos e procedimentos mostram exatamente o contrário e não sentimos na pele a existência desse amor.
Pensamentos e palavras, via de regra, estão envoltos em falsidade e enganam mesmo os que os têm e as dizem. O que conta são atitudes, gestos, manifestações espontâneas e concretas. O amor não se traduz em palavras, mas em irrestrita entrega, em absoluta cumplicidade, em total fusão de sentimentos e aspirações.
Faço minhas as palavras de Mauro Sampaio, neste poema que é um apelo (meu apelo também), intitulado “Se pensares em mim”: “Se pensares em mim, já não o penses!/Que é pensamento vão o pensamento.//Olha! Se me quiseres,/repito, já não penses./Confessa com teus sentidos, confessa/ao meu sentido atento.//Não penses em mim,/que pensamento é falso./É sempre o obscuro momento/de um sonho,/que de sonhar se esquece!”.
Se o amor não for manifestado com todos os sentidos por quem assegura nos amar, mas apenas com simples palavras, será, certamente, outra artimanha de Thanatos, no intento de nos enredar e, quem sabe, destruir. Eros, porém, diligente, tentará nos avisar, para que venhamos a nos precaver. E com dor, muita dor, estejamos certos disso.
O psicanalista e escritor Hélio Pellegrino afirmou, certa feita, o seguinte, que se constitui no fundamento da própria psicanálise: “A vida é, afinal, luta renhida entre Eros e Thanatos”. Ou seja, temos dois instintos básicos, travando batalha decisivas em nosso interior, do nosso nascimento, até a morte: o de preservação da espécie (erótico, que nos propicia o amor) e o de destruição (própria e dos outros), o tânico.
Numa inteligente e provocativa crônica, intitulada “Apologia da dor de dente” (publicada em 23 de junho de 1983 no jornal “Folha de S. Paulo”) disse, também, algo que pode até ser sumamente polêmico (e que eu nunca havia atentado, mas com o que concordo plenamente): “O padecimento do corpo é um berro de Eros, contra as vilanias de Thanatos”.
É isso mesmo o que o leitor entendeu. A dor (física, mental e/ou psicológica) é provocada pelo amor, não pelo ódio, e age como uma espécie de alarme contra as investidas do nosso instinto de destruição (reitero, própria e dos outros). “Como pode um sentimento tão benigno e nobre provocar tantos sofrimentos?”, perguntará, certamente, o leitor, cético e crítico. Pois é, mas provoca. E exclusivamente para a nossa proteção, frise-se.
Entendo o amor apenas como um sentimento irrestrito, que envolva a totalidade de um homem e uma mulher: corpo, alma, pensamentos, sentimentos, ideais e tudo isso mutua e simultaneamente, sem nenhuma restrição ou pudor. É verdade que a palavra designa muitas outras emoções, a meu ver, de forma equivocada.
Quando há, por exemplo, apenas atração sexual entre dois parceiros, eles têm desejo, mas não se amam. Saciada a vontade, resta o vazio, quando não até repulsa entre ambos, até que voltem a se desejar fisicamente (quando voltam).
O simples afeto, sem atração carnal, é só amizade. A necessidade irresistível de um pelo outro, mas com a idéia de que o sexo tira a pureza do sentimento, é belo, é poético, mas não é amor. É platonismo. O poeta português, Alexandre O’Neill, até escreveu estes versos a propósito: “Na nossa carne estamos/sem destino, sem medo, sem pudor,/e trocamos – somos um? Somos dois? –/espírito e calor!//O amor é o amor – e depois?”
O amor próprio, por sua vez, desde que não se corrompa e não se transforme em megalomaníaca auto-idolatria, é essencial para que possamos amar o próximo. É um referencial de intensidade desse sentimento em relação aos que nos cercam. Quem não ama sequer a si jamais haverá de amar a quem quer que seja.
É aí que Eros está presente e atuante mais do que nunca. E é nestas circunstâncias que provoca mais dor, como aviso para nos precavermos contra as artimanhas de Tanatos. Nada é mais dolorido, por exemplo, do que o sentimento de rejeição, ou seja, do que o amor recusado por quem amamos. No entanto, é uma reação necessária para que venhamos a reagir e procurar alternativas que nos sejam benignas.
O indispensável é que sempre haja amor em nós. Não precisa ser louco. Não precisa ser apregoado aos quatro ventos, embora tenha que ser manifestado, com grandeza e com clareza, a quem seja seu destinatário. O Mestre dos Mestres recomendou: “Ame o próximo como a si mesmo”. Se o seu amor por você for pequeno, ou se nem ao menos existir, como você poderá amar alguém? Não poderá!.
Esse sentimento, tão nobre e desejável, às vezes nos apronta armadilhas que só nos conduzem à decepção e, consequentemente, à tremenda dor do amor próprio ferido. Há pessoas, por exemplo, que asseguram pensar em nós, mas seus atos desmentem tal afirmação. Garantem que nos amam, mas seus olhos, gestos e procedimentos mostram exatamente o contrário e não sentimos na pele a existência desse amor.
Pensamentos e palavras, via de regra, estão envoltos em falsidade e enganam mesmo os que os têm e as dizem. O que conta são atitudes, gestos, manifestações espontâneas e concretas. O amor não se traduz em palavras, mas em irrestrita entrega, em absoluta cumplicidade, em total fusão de sentimentos e aspirações.
Faço minhas as palavras de Mauro Sampaio, neste poema que é um apelo (meu apelo também), intitulado “Se pensares em mim”: “Se pensares em mim, já não o penses!/Que é pensamento vão o pensamento.//Olha! Se me quiseres,/repito, já não penses./Confessa com teus sentidos, confessa/ao meu sentido atento.//Não penses em mim,/que pensamento é falso./É sempre o obscuro momento/de um sonho,/que de sonhar se esquece!”.
Se o amor não for manifestado com todos os sentidos por quem assegura nos amar, mas apenas com simples palavras, será, certamente, outra artimanha de Thanatos, no intento de nos enredar e, quem sabe, destruir. Eros, porém, diligente, tentará nos avisar, para que venhamos a nos precaver. E com dor, muita dor, estejamos certos disso.
No comments:
Post a Comment