Sunday, March 15, 2009

REFLEXÃO DO DIA


Um dos princípios fundamentais do budismo diz que para evitarmos sofrimentos – causados, sobretudo, pela frustração – temos que eliminar os desejos. Se não todos, pelo menos a maior parte deles precisa ser eliminada. Quanto mais os eliminarmos, maiores serão as possibilidades de nos sentirmos felizes. Impossível? Não! Mas é extremamente difícil. Desejamos tanto o que pode ser alcançado, quanto (e principalmente) o que está absolutamente fora do nosso alcance. E este último tipo de desejo é que se torna a grande armadilha, que nos impede de encontrar (e de trilhar) o caminho da felicidade. Quantas vezes somos sumamente felizes e sequer percebemos! Se mantivéssemos essa situação ideal, se a usufruíssemos em sua plenitude e se não desejássemos nada, além dela, nossa vida transcorreria no que os poetas chamam de “mar de rosas”. Não é isso, porém, o que fazemos. Queremos mais, mais e mais, sempre mais, e nem tudo o que desejamos (diria a maioria) nos é conveniente, útil, saudável ou benigno. Em três tempos, a frustração, o ressentimento e a mágoa toldam-nos o céu que, nublado, não deixa que possamos vislumbrar o resplendor das estrelas. E, num piscar de olhos, deixamos que fuja de nossas mãos o pássaro esquivo da felicidade. O poeta Vicente de Carvalho disse isso com elegância, classe e beleza. Escreveu, no terceto com que encerra seu célebre soneto “Velho tema – I”: “Essa felicidade que supomos/árvore milagrosa que sonhamos/toda arreada de dourados pomos,//existe, sim; mas nós não a alcançamos/porque está sempre apenas onde a pomos/e nunca a pomos onde nós estamos”. E não é verdade?

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