Sunday, March 08, 2009

DIRETO DO ARQUIVO


Kuwait na mira


Pedro J. Bondaczuk

A tensão entre os Estados Unidos e o Irã volta a se agravar, no Golfo Pérsico, após os dois ataques feitos pela Sexta Frota norte-americana na região contra um navio iraniano e contra duas plataformas petrolíferas desse país. A notícia dessas intempestivas ações pegou os observadores de surpresa, já que desde outubro passado os dois governos haviam reduzido as hostilidades a meras palavras.
Tudo parecia caminhar para uma normalização do tráfego comercial de navios na zona, embora o Iraque e a República Islâmica viessem alvejando petroleiros que prestavam serviços um ao outro, na tentativa mútua da imposição de bloqueios econômicos, como forma de levar a outra parte a parar com a guerra, que já está caminhando para o oitavo ano consecutivo.
Isto leva o crítico a concluir que os sucessos militares dos guardas revolucionários no front Norte iraquiano não são apenas propaganda. E também que Washington acredita nas acusações sucessivas, feitas, nos últimos dias, contra os persas, de que eles estariam por trás do seqüestro do Boeing 747 da Kuwait Airways, que já atinge a duas semanas, sem nenhuma perspectiva de solução.
Ficou mais do que evidente, desde o início da confrontação da República dirigida pelos aiatolás contra Bagdá, que o Ocidente considera uma tragédia uma eventual vitória de Teerã no conflito. Não que se esteja morrendo de amores pelo Iraque, um país marxista, mais chegado à União Soviética.
O yemor é pelo destino das monarquias moderadas do Golfo, que correriam sérios riscos de desestabilização, se isto ocorresse, o que romperia o equilíbrio atualmente existente (embora bastante frágil) nesta estratégica área do mundo, de onde sai a maior parte do petróleo consumido pelo Ocidente.
É quase certo que o Irã vá tentar responder a esta hostilidade de ontem. Provavelmente não contra a Marinha norte-americana. Certamente suas autoridades vão, como é de seu feitio, deitar falação contra Washington, ameaçar céus e terra, mas na prática, o alvo preferido deverá ser, mesmo, o Kuwait.
Os iranianos entendem que esse emirado é o grande culpado pelos problemas que vêm enfrentando há já algum tempo com a presença de uma espetacular frota naval em frente às suas costas. Portanto, à ira contra esse país, pelo seu apoio ao Iraque, somam-se todas as hostilidades dos Estados Unidos contra seus navios e plataformas.
Por essa razão, não será nada surpreendente se nas próximas horas algum bem kuwaitiano, ou mesmo seu território, sejam alvos de algum ataque do Irã. Mas tudo não deverá passar, como das outras vezes, de um mero incidente, logo absorvido e esquecido pelas partes, até que surja novo motivo para reacender as hostilidades. Isto já está virando rotina.

(Artigo publicado na página 18, Internacional, do Correio Popular, em 19 de abril de 1988)

No comments: