Os nossos sonhos, desde os menores e mais triviais, aos grandiosos e que mais valorizamos, morrem, como as ondas do mar, que se desmancham nas areias das praias. Isso não é motivo, porém, para que não os tenhamos. O que não podemos é nos frustrar por não conseguir concretizá-los. Devemos ser como as ondas do mar. Se é verdade que morrem na praia e se desmancham na areia, o fato é que tornam a se reorganizar e vão e vêm, vão e vêm e vão e vêm, num moto-perpétuo, enquanto a Terra existir. Não deve ser motivo de frustração o fato das asas da alma serem tão curtas e frágeis e não conseguirem alcançar as estrelas. Amanhã, elas ainda estarão lá, luzi9ndo no firmamento, e depois de amanhã, e depois, e depois, por anos, décadas, séculos e milênios sem fim. Os sonhos são como as águas. Se estas forem estagnadas, “morrem”, ficam poluídas e deixam, portanto, de ser saudáveis. Todavia, se forem correntes, se puderem se renovar continuamente, se compuserem ribeirões, riachos, cascatas e grandes rios, estarão sempre eliminando impurezas e, por conseqüência, sendo saudáveis e vitais. Um dos versos do poema “Palavras ao mar”, de Vicente de Carvalho, ilustra a caráter essa renovação (das águas e dos sonhos). É o que diz: “Sei que a ventura existe,/sonho-a; sonhando a vejo, luminosa,/como dentro da noite amortalhado/vês longe o claro bando das estrelas;/em vão tento alcançá-la e as curtas asas/da alma entreabrindo, subo por instante./Ó mar! A minha vida é como as praias,/e os sonhos morrem como as ondas voltam!”. Morrem, mas podem renascer, sem dúvida, mais vigorosos e belos e em maior quantidade.
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