Wednesday, March 04, 2009

Os verdadeiros males


Pedro J. Bondaczuk

Quais são os verdadeiros males que nos afligem, os inevitáveis, que existem desde o surgimento do homem e que sempre existirão no mundo (a menos que haja outra vida, imaterial e eterna, como preconizam as religiões e que é fulcro da nossa fé)?
De acordo com a escritora Marguerite Yourcenar, com a qual concordo, são “a morte, a velhice, as doenças incuráveis, o amor não correspondido, a amizade recusada ou traída, a mediocridade de uma vida menos vasta que os nossos projetos e mais enevoada que os nossos sonhos”.
Há outros males, sem dúvida, mas perfeitamente evitáveis, que podem ser eliminados da Terra com uma educação generalizada, universal e correta, com o cultivo de valores, com a consciência da necessidade da solidariedade em relação aos mais frágeis, com o irrestrito respeito aos direitos alheios, com o cuidado à natureza e ao Planeta em que habitamos e, sobretudo, com a substituição do insensato egoísmo pelo absoluto altruísmo.
Tudo isso é possível? Potencialmente, sim! Mas na prática... Por enquanto, não há a menor indicação de que esses males teoricamente sanáveis estejam prestes a ser erradicados. Muito pelo contrário! Esperamos (insensatamente), por exemplo, “milagres” da natureza, por não entendermos que suas leis são exatas, precisas e irrevogáveis.
Agredimos o tempo todo o meio ambiente, poluímos o ar e as águas, arrasamos com florestas, multiplicamos desertos, desperdiçamos em um único ano (quando não menos) recursos que deveriam ser utilizados em um milênio e acreditamos, tolamente, que tudo irá se regenerar e que, portanto, as agressões que praticamos não terão qualquer conseqüência, permanecerão impunes e nada acontecerá à nave Terra.
Trágico engano! Não é assim que as coisas funcionam. Pior do que acontece entre os homens, a violação das leis da natureza jamais ficam impunes. A justiça humana ainda admite atenuantes aos delitos cometidos. Já a natural é inflexível, imutável e implacável, posto que inconsciente e, por isso, insensível.
Marguerite Yourcenar aponta o “amor não correspondido” como um dos verdadeiros males, e coloca-o na categoria dos que não se podem evitar. Claro, concordo. Avalio o sofrimento de quem se sente preterido justo pela pessoa que sente ser o seu complemento. Nesses casos, só lhe resta dar tempo ao tempo e ter a ventura de encontrar a amada que lhe atenda os anseios e expectativas e que, principalmente, sinta a mesma coisa por si.
Todavia, quem ama e tem a ventura de ser correspondido deve estar sempre atento e cuidar com o máximo zelo desse amor. Precisa acautelar-se com o que (e como) diz, o que faz ou o que deixa de fazer. Trata-se de um sentimento, sobretudo, paradoxal: encerra a máxima força que trazemos em nós e, no entanto, tem a fragilidade de um cristal. Uma vez quebrado, não há como reparar. E o arrependimento, quando surge... é tardio.
Zelo e devoção são as atitudes mais sensatas face à pessoa amada. E, sobretudo, constância. Uma palavra mal colocada, ou mal-interpretada, pode pôr tudo a perder. Um ato impensado, então, é muito pior. Exagero? Não queira testar se isso é verdade ou não.
O escritor Inácio Dantas faz a seguinte recomendação aos amantes (provavelmente, baseado em experiência própria): “Cuide de quem ama com zelo e devoção. Pode ser uma eternidade para encontrar um grande amor, mas pode ser um segundo o tempo para perdê-lo”. Não é temerário, portanto, correr tamanho (e desnecessário) risco? Claro que sim!
Quanto aos outros males apontados como sendo sem solução por Marguerite Yourcenar, como “a morte, a velhice, as doenças incuráveis, a amizade recusada ou traída, a mediocridade de uma vida menos vasta que os nossos projetos e mais enevoada que os nossos sonhos”, concordo com a escritora, embora tenha esperanças que alguns deles (se não todos) venham a ter solução um dia.
Sonho, por exemplo, que todas as moléstias hoje sem cura venham, com os avanços da Medicina, a ter cura. Que ninguém recuse amizade a quem a procura com sinceridade e muito menos a traia. Que nossos projetos sejam todos do tamanho da nossa vida e que esta não seja coberta de névoa, mas luminosa e cálida, como um belo dia de sol. Por enquanto, porém...tudo isso não passa de mero desejo, de utopia, de simples idealizações. Um dia... quem sabe?

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