Saturday, December 02, 2006

Um passo, simples passo


Pedro J. Bondaczuk

É um passo. Simples passo
ritmado, ao compasso
deste meu coração.
É só um passo. Simples passo
na vida, no espaço,
que a separa da minha mão.

Se irei ou não irei
ainda não sei!
Não sei não...
Pois um passo, simples passo
a separa da minha mão.

Perdido, compelido,
empurrado e atraído,
luto comigo, em vão.
Pois um passo, simples passo,
a separa da minha mão.

Rosa de vento,
atento colibri de cristal
me impelem, me compelem
a lhe rogar seu perdão.
Pois um passo, simples passo,
a separa da minha mão.

Meu verso atropelado, todo errado,
abalroa a pomba de marfim,
que voa, e que revoa,
e que exausta vai ao chão.
Mas um passo, simples passo,
a separa da minha mão.

O dia convoca a noite
e o do vento açoite
me põe fora de ação,
e esta lua,
branca e nua,
me espia no caramanchão,
e os choupos se balançam,
e vibra o salgueiro chorão,
e os rumores campesinos
se transformam em canção
e o Destino (Ah! Destino!)
força-me a uma opção
(ostensiva coação!)
pois um passo, simples passo,
separa meu olhar baço
e este meu corpo lasso
deste simplérrimo traço
onde está a minha ilusão!

Retorno à realidade?
Mas, o quê é real?!
Golpeio, rude, o sonho?
Assassino a quimera,
neste compasso de espera,
nesta cruel indecisão
e me entrego à pantera
feroz do que é palpável?

"Ser ou não ser",
eis a hamletiana questão!
O que fazer
desta insólita visão
se um passo, simples passo
a separa da minha mão?

(Poema composto em Campinas, em 23 de junho de 1968).

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