Monday, December 18, 2006
O barraco
III- O BARRACO
(Continuação)
O barraco em que o casal morava era alugado. Pertencia a um homem que viera há três anos do Paraná . Antes, os dois haviam morado em outra favela, nas proximidades do Aeroporto de Viracopos. Mas lá era muito longe para se vir à cidade. Além disso, os moradores eram muito mais pobres do que os do Jardim São Marcos. A criminalidade era muito maior e Maria temia que José se envolvesse em alguma briga e acabasse sendo morto a tiros ou facadas. "Ele é muito ciumento", confidenciava às vizinhas.
O barraco em que moravam agora pertencia ao "seu" Maximiano, que ergueu aquela instável e miserável moradia com as próprias mãos, em terreno que ninguém sabia (e nem se interessava em saber) quem era o dono. O proprietário havia se mudado para um conjunto da Cohab, no Distrito Industrial, e vinha, religiosamente, em todo o dia 10 de cada mês, ao São Marcos, para receber o aluguel.
A "casa", se é que poderia ser chamada dessa forma, era toda de tábuas de caixotes, como as demais da favela. Resumia-se a dois minúsculos cômodos, escuros e mal ventilados, com piso de terra socada. O teto era coberto com pedaços de telhas de "brasilit", sobre os quais foram postos tijolos de cimento, para evitar que o vento descobrisse a instável habitação em dias de temporal. Era praticamente geminada a outros barracos, à esquerda e à direita. No interior, dava para ouvir tudo o que os vizinhos conversavam, suas brigas, fofocas e até os ruídos de suas transas. Privacidade era coisa que ninguém conhecia por lá.
Mas o casal dava-se bem com todos, até com os traficantes e foragidos da polícia. Não se metia na vida alheia e era deixado em paz pelos outros. Os dois sonhavam morar em um lugar melhor, mas sabiam que por enquanto não havia qualquer chance disso ocorrer. "Sonhar não paga imposto", Maria costumava dizer, sorrindo, acrescentando: "ainda!".
José pagava duzentos cruzeiros por mês, a título de aluguel, o que considerava um assalto, mas se submetia, por não ter condições de alugar coisa melhor. A principal dificuldade é que ninguém se disporia a ser seu fiador junto a qualquer imobiliária da cidade. Além do que, essa quantia era o máximo que podia gastar. E mesmo essa irrisória importância pesava muito em seu miserável orçamento, embora até o sétimo mês de gravidez, Maria houvesse contribuído com seu quinhão nos ganhos e nos gastos da casa.
(Continua)
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