Sunday, December 31, 2006

Deu empate no final


Pedro J. Bondaczuk

O ano pode ser comparado (em uma comparação grosseira) com uma partida de futebol. O tempo normal de duração de ambos é sempre igual (vamos esquecer os acréscimos dados pelos árbitros em alguns jogos). E salvo quando há um desnível técnico muito grande entre os adversários, o resultado definitivo só é possível de se conhecer ao seu término. Ou seja, após o apito final. Esqueçamos (para que a comparação seja válida) os anos bissextos (que não é o caso deste que termina nas próximas horas).
Fazendo as vezes de um comentarista esportivo, desses que falam, falam e falam, mas não dizem nada (e para ficar no espírito da comparação), devo confessar que no meu “jogo” pessoal de 2006, entre mortos e feridos, todos se salvaram. Ou seja, a partida terminou empatada. Nem fracassei por completo e muito menos consegui o sucesso que almejava. Creio que, neste aspecto, não sou diferente da grande maioria dos leitores.
Antes que algum chato – desses que fazem marcação cerrada e criticam tudo o que o cronista escreve (e o que não escreve), que são como os torcedores azedos que vaiam até minuto de silêncio – me pergunte qual a utilidade desta crônica, me antecipo e afirmo: provavelmente nenhuma (nunca se tem certeza). Ou, quem sabe, a mesmíssima de todos os outros textos do gênero. Talvez conduza o leitor à reflexão sobre a própria vida e possa, dessa forma, detectar a razão de ser tão do contra (quando o é, claro). Quem sabe sirva somente para o seu entretenimento, para “matar o tempo” (é possível). Ou (não se pode descartar), é possível que sua utilidade não passe de mero exercício de estilo (do autor, logicamente).
Faço essas considerações como resposta tardia a um determinado leitor, que fez uma observação do gênero a respeito da minha crônica “Trigal dourado” (texto que classificou de “piegas”) na qual narro uma lembrança da infância na fazenda de meu avô paterno, na minha Horizontina natal, na região das Missões do Rio Grande do Sul. Ao cabo de suas irônicas explanações, fez duas perguntas essenciais: “Para que servia aquela crônica?” E “a quem minhas reminiscências interessavam?” Se a moda pega... os escritores que escreveram (ou escrevem ou ainda vão escrever) livros memorialísticos (como Pedro Nava, entre outros) estão ou estarão todos perdidos! Serão todos considerados, liminarmente, “piegas” e seus livros haverão de mofar, “ad aeternum”, nas prateleiras das livrarias, para desespero das editoras.
Mas, voltemos ao assunto (ou falta dele, como queiram). Meu jogo pessoal de 2006 terminou empatado. Um gol a meu favor foi a caudalosa produção de crônicas, contos, poemas, ensaios e outros tipos de texto, espalhados internet afora, creio que com ótima aceitação, a julgar pela quantidade de convites que recebo quase que diariamente, de inúmeros sites, para escrever com exclusividade para eles. Mas, para empatar o jogo, sofri um frangaço. Não consegui convencer nenhuma editora a publicar qualquer dos meus 18 livros inéditos (ou, a sequer, ler um único dos originais). Continuo, pois, somente com os dois que lancei há já uma década, um dos quais esgotou seis edições de dois mil exemplares cada (nada mau, não é mesmo?).
Como jornalista, trabalhei como um burro de carga (como um “mouro”, como os portugueses costumam dizer). Foi outro gol, portanto, a meu favor. Mostra que fui muito requisitado, o que não deixa de ser positivo. Todavia, a contrapartida financeira... foi um deus-nos-acuda! Foi um desastre! Claro que nunca achei que ficaria rico ao optar por essa profissão. Mas também não julguei que ficaria tão pobre. Outro gol contra, portanto. E, novamente, a partida ficou empatada.
Como editor, fui convidado (e aceitei, obviamente) a editar o espaço “Literário” do Comunique-se, o que é, simultaneamente, uma grande honra e uma enorme responsabilidade. Não deixou de ser um reconhecimento profissional inestimável. Outro gol a meu favor, portanto. Todavia, para meu desespero, deixei escapar alguns erros de edição, o que me chateou sobremaneira, já que sou (doentiamente) perfeccionista. Claro que, felizmente, não foi nada sério. A maioria dessas falhas o leitor sequer notou. Mas elas ocorreram. Gol, portanto, contra e novo empate.
Recebi, da Câmara Municipal de Campinas, a maior comenda outorgada pelo Poder Público da cidade àqueles que deram sua contribuição para o desenvolvimento das artes no Município, ou seja, a Medalha Carlos Gomes. Esse foi um golaço de placa, como o feito pelo Pelé, pelo Santos, contra o Fluminense, no Maracanã, nos anos 60 (ou seria 70? Não importa!). Desempatei, pois, a partida. Quando achava, todavia, que o jogo estava ganho, novo revés. Não consegui convencer os editores do Correio Popular, jornal ao qual dediquei mais da metade da minha já longa vida profissional e do qual me desliguei em 1998, a me incluir no seu quadro de colunistas fixos. Novo frango, portanto, e bem no finalzinho da partida. E o jogo ficou, de novo, empatado.
Nas coisas mais banais – não exatamente pessoais, mas que envolvem as minhas preferências – ocorreu a mesmíssima coisa. A Seleção Brasileira, por exemplo, deu vexame na Copa do Mundo da Alemanha e perdeu para a França, que a eliminou da competição, de forma pífia, sem esboçar nenhuma reação. Foi um gol contra, é claro. Mas o menino Felipe Massa tornou a empatar o jogo, ao vencer, de maneira brilhante, de ponta a ponta, o Grande Prêmio do Brasil de Fórmula-1. Sofri, contudo, mais um frango (êta goleiro frangueiro!) com o rebaixamento do meu time de coração, a Ponte Preta, para a Série B do Campeonato Brasileiro. Essa doeu, e muito! Mas os meninos do vôlei salvaram, de novo, o resultado. Paparam, sem dar nenhuma chance para o azar, o Mundial do Japão.
E assim foi, o ano inteiro, numa sucessão estonteante de gols a favor e contra. Foi um permanente toma lá, dá cá. Euforias foram sucedidas por depressões, alegrias por tristezas, sucessos por fracassos. Como, aliás, todo o mundo. Como, sem dúvida, ocorreu com a maioria dos leitores. Preparo-me, agora, com a máxima concentração, para um novo “jogo”. O ano de 2007 já está às portas, cheio de promessas e de mistérios. O juiz está prestes a apitar a saída. Vamos, juntos, fazer uma corrente pra frente – como a de 1970, que resultou no tri-campeonato mundial do Brasil?! Ah, dessa vez a vitória não nos escapa! Haveremos de ganhar esta partida! Ou não?

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