Thursday, December 21, 2006
Festa das luzes
Pedro J. Bondaczuk
O Natal, cada vez mais, tanto no aspecto espiritual (neste, por sinal, menos), quanto no material, está se transformando em festa de luzes. É comum ver-se nas grandes cidades (e ultimamente também nas pequenas comunidades), casas, árvores e monumentos enfeitados por dezenas, centenas, quando não milhares de lâmpadas, dando um colorido festivo às ruas e avenidas.
Os espíritos desarmam-se. As pessoas dão, inclusive, uma trégua à violência, para celebrar a vida, que deveria ser celebrada e reverenciada o tempo todo, a cada segundo, sem interrupção. Mas a humanidade ainda está muito distante desse estágio de esclarecimento e de civilização. Para chegar lá, são necessárias décadas, séculos ou quiçá milênios de educação, de reflexão e de conscientização.
Para tanto, não se pode descuidar da instrução da geração que irá substituir a atual. Ronald Russel lembra: "A criança que vive com a verdade aprende a ser justa. A que vive com elogio aprende a dar valor. A que vive com a generosidade aprende a dividir".
Enquanto não se chega ao ponto ideal, resta se contentar com esses hiatos de tranqüilidade da época das festas de fim de ano, os enfatizando e estimulando para que se ampliem e se estendam por períodos cada vez maiores.
Há, inclusive, uma campanha em andamento nesse sentido: "Natal de paz e sem violência". Promoções como esta deveriam ser constantes, ininterruptas, permanentes e não se limitar apenas aos festejos natalinos, para enfatizar, sobretudo, o "milagre da vida". Este século, em seus estertores, caracteriza-se pela "apologia da morte".
Por que falamos em "celebração" do Natal e não em simples festa? Não seria a mesma coisa? Não! Leonardo Boff traça a diferença ao constatar: "Celebrar implica mais do que saber e refletir. Importa abrir o coração e se alegrar". E mesmo diante de tanta coisa errada que nos acontece no dia a dia, ou das quais tomamos conhecimento – pessoalmente, ou através da imprensa – existem inúmeros motivos para alegria (mais do que para a tristeza e a angústia), até mesmo para os doentes, os desesperados e os deserdados da sorte.
Basta olhar ao redor. Mesmo no mais intenso sofrimento físico ou moral, há o lenitivo da esperança. Até na mais profunda indigência, há a possibilidade de um amanhã diferente, de conquistas e de realizações. O lema da personagem Scarlet O'Hara, do filme "E o vento levou", é mais profundo e repleto de significado do que possa parecer: "Amanhã será outro dia". Basta analisar com isenção e sinceridade tudo o que nos acontece para percebermos que não somos tão infelizes.
Pierre L'Ermite lembra: "Irradiando sol sobre as grandes árvores da floresta, Deus não esquece a pequena flor que humildemente o contempla por entre as ervas do caminho". Não abandona o indigente, o encarcerado, o solitário, o doente ou o desesperado. Mas é necessário procurá-lo com fé e com o coração aberto. E não querer mais "coisas" do que sua capacidade pode conquistar.
"Conhecer" torna-se cada vez mais fácil e acessível, diante dos meios tecnológicos cada vez mais sofisticados de difusão de informações. Reflexão todos fazemos, embora a maioria sequer se dê conta. Abrir o coração, no entanto, é cada vez mais raro nestes tempos de angústia e solidão. Alegrar-se torna-se mais difícil para quem não sabe definir seus próprios limites.
Mas o caminho que conduz à alegria genuína é menos complicado do que se pensa. Basta saber valorizar os pequenos gestos, as minúsculas conquistas, as mínimas superações de dificuldades, que somadas representam imensas bênçãos, que raramente sabemos agradecer. Saint-Exupéry escreveu no "O Pequeno Príncipe" que "nada se iguala ao sabor do pão partilhado". E não somente deste, poderíamos acrescentar.
A partilha das nossas alegrias é como o milagre cristão da multiplicação. Quanto mais as repartimos, mais intensas elas se tornam. Já a divisão dos fracassos, dores e decepções tem resultados bastante diversos, diria diametralmente opostos: diluem-se, dissolvem-se, reduzem-se e acabam ficando quase imperceptíveis.
O gesto de iluminar a fachada da própria casa, ou as árvores da rua, ou os monumentos das praças, reflete em si um desejo (muitas vezes inconsciente) de partilhar a beleza, a esperança e a alegria; mas também a incerteza, o medo, a dor (física ou moral), a solidão e os problemas. Que o espírito de Natal ilumine também espiritualmente a nossa Campinas (autoridades e população) para que seja mais solidária e cordata e, por conseqüência, menos egoísta e violenta.
Que as luzes atinjam os políticos e os que ocupam posições de mando neste País para que usem os seus cargos para trabalhar pelo bem comum, iniciando uma meritória e incansável cruzada para o estreitamento (e se possível a anulação) do imenso abismo social que separa a minoria aquinhoada da imensa maioria dos excluídos do Brasil. Que transforme os egoístas, os violentos, os preconceituosos e os cínicos em indivíduos esclarecidos que resgatem esta geração e a transformem, de um magote de feras inconscientes em um sólido elo a mais na imensa corrente de razão da humanidade. Feliz Natal para todos!
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