Wednesday, December 06, 2006

Revolução silenciosa




Pedro J. Bondaczuk



O Brasil vive em plena efervescência revolucionária e, paradoxalmente, parcela expressiva da população sequer tomou ciência do que vem acontecendo. Só os participantes desse movimento que contraria os paradigmas históricos nacionais sabem o que ocorre. Os meios de comunicação são os culpados por esse desconhecimento. Não cumprem o seu verdadeiro papel de retratar a realidade e mantêm um suspeitíssimo silêncio (diria, sepulcral) a esse propósito. Não se trata, convém reconhecer, de uma revolução política, no seu sentido usual, embora no sentido lato, o que está ocorrendo tenha, de fato, essa característica. Ou seja, inova, altera paradigmas e atua no sentido da inclusão da maioria absoluta dos brasileiros, vítima secular de um mal-disfarçado “apartheid” social.
Esclareça-se que não se trata de nenhum movimento destinado, por exemplo, a derrubar, a poder de armas, o atual governo e nem de tentar a sua perpetuação. Pelo contrário. Seus participantes, na verdade, foram responsáveis diretos pelo fato do presidente Luís Inácio Lula da Silva haver conquistado, democraticamente, um segundo mandato nas urnas, contra tudo e contra todos, com votação consagradora.
Esses legítimos revolucionários contrariaram, dessa forma, os desejos da medíocre elite nacional e, principalmente, neutralizaram as insidiosas ações de sabotagem de seu preposto, a chamada “grande imprensa”. Esta, como é do conhecimento geral, está, virtualmente, nas mãos de somente quatro famílias. E essa mídia parcial, discriminatória e arrogante, que se auto-intitula, presunçosamente, de “Quarto Poder”, não deu tréguas, desde o primeiro dia de gestão, ao atual governo, criando factóides, distorcendo informações e exagerando notícias. Ou seja, fazendo tudo o que o bom jornalismo não recomenda e nunca faz e extrapolando, dessa maneira, o seu papel social.
O simples fato desse aparato de comunicação ter sido derrotado nas urnas pode ser encarado, por si só, como revolução. É absolutamente inédito na história do Brasil. Foi, sem dúvida, um passo à frente dado pelos “humilhados e ofendidos” em sua luta por justiça. Mas não é a isso que quero me referir.
A revolução a que me refiro é de natureza mais sutil, contudo mais profundo, ou seja, cultural, no sentido mais amplo do significado de cultura. Desenvolve-se nesses autênticos guetos a que a imensa maioria dos brasileiros está confinada: cortiços, favelas, quilombos e aldeias indígenas. Seus instrumentos de inserção social são a arte unida à educação, a cidadania ligada à economia solidária e a capacitação profissional vinculada à inclusão digital. A revolução a que me refiro tem um nome: Projeto Cultura Viva, coordenado pelo secretário Célio Turino, que apresenta um Brasil que as mídias se negam a divulgar.
Consiste de um conjunto vasto de ações, que não cabe, aqui, abordar. E os resultados são para lá de positivos, diria, surpreendentes, muito além das expectativas dos seus mentores. Claro que esse e outros projetos se inserem nas estratégias do ministro da Cultura, Gilberto Gil, para esse importante setor da vida nacional.
A ponta-de-lança desse amplo projeto são os chamados Pontos de Cultura, sobre os quais tive a oportunidade de traçar considerações, em textos anteriores. Eles já chegam a quase um milhar, em todo o território nacional, e a procura aumenta em progressão geométrica. A seleção das propostas é feita por edital público e os interessados têm que preencher uma série de condições.
Cada Ponto de Cultura aprovado recebe uma verba de R$ 185 mil, para ser aplicada conforme suas necessidades. Em alguns lugares, por exemplo, esse dinheiro pode ser utilizado para a adequação do espaço físico às atividades a serem desenvolvidas, em outros, para a aquisição de equipamentos, em outros, ainda, para a melhoria das estruturas, ou então, como na maioria, para o desenvolvimento de ações, cursos e oficinas.
O edital de 2004 redundou no recebimento, por parte do Ministério da Cultura, de 850 propostas e 220 delas foram selecionadas. O de 2005, resultou na inscrição de 2.300 projetos e, desses, 400 foram aprovados. Os Pontos de Cultura são interligados em rede e têm que prestar contas de como aplicam a verba que recebem do Ministério. Voltarei, com certeza, a abordar esse assunto.

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