Saturday, December 16, 2006
Noite dos fantasmas
Pedro J. Bondaczuk
Ouço ao longe sons de passos furtivos,
incertos, trôpegos, ecoando na calçada.
É noite...Noite escura dos fantasmas
dos trânsfugas e solitários,
em que todas minhas saudades
conspiram contra a mental sanidade.
Ao longe, um cão uiva para a lua,
profética lamúria,
lamento instintivo e ancestral.
Um bêbado tangencia o horizonte,
em uma coreografia caótica,
dança incoerente, patético balé.
Na semi-obscuridade do quarto,
mariposas orbitam o poeirento lume,
projetando sombras bailarinas
nas paredes nuas, manchadas de solidão:
vida louca, alma vadia, fugaz ilusão...
A memória resgata a crônica do ontem,
perdida nos meandros do passado;
mortos queridos, amores extintos,
amigos distantes, respeitáveis inimigos.
Conclave imaginário de fantasmas...
Pontas de cigarros erigem pirâmide
desordenada no cinzeiro de vidro
(ou seria de alabastro? ou de cristal?).
Fumaça azulada desenha incerto
itinerário ao redor da suja lâmpada.
Estou só no quarto...("sozinho na América",
diria, dramático, o poeta de Itabira),
nesta noite, modorrenta e triste, dos insones.
(Poema composto em Campinas, em 23 de junho de 1999)
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