Thursday, May 04, 2006

Sucesso e oportunidade


Pedro J. Bondaczuk


O sucesso ou o fracasso de uma empreitada, qualquer que seja a sua natureza – de caráter profissional, artístico ou social –, estão condicionados a uma série de fatores, alguns subjetivos e outros objetivos. Nem sempre uma pessoa competente e bem preparada é bem-sucedida naquilo que faz. Às vezes, falta-lhe garra. Ou, na pior das hipóteses, carece de vontade.
No outro extremo temos reconhecidos medíocres, rematados "picaretas" – o tipo de gente chamado de "pára-quedista", por entrar sem preparo algum em determinada profissão que não exija conhecimento técnico específico, na pura base da aventura ou da curiosidade (isto é, que "cai" no cargo) –, ocupando funções que não lhes caberiam pelo critério da competência e da experiência. Galgam, em pouco tempo, vários escalões, até chegarem ao topo da carreira. Por que isso acontece?
Para uma pessoa ser vencedora, não bastam, simplesmente, o conhecimento, o treinamento e o preparo intelectual. E nem outras tantas virtudes, como interesse, assiduidade, esforço, etc. Muito menos basta inteligência. A premissa básica para se chegar ao sucesso é a oportunidade. De nada vale, por exemplo, o indivíduo ser uma sumidade em determinada área, saber tudo a respeito dessa atividade, se não lhe forem dadas chances de mostrar seu valor. Há muito talento escondido por aí, em um mundo repleto de medíocres.
Se não houver quem se interesse pelo seu talento, por sua técnica ou por sua criatividade, todo o seu empenho em se preparar para o exercício de uma profissão, ou de uma arte, ou de um simples estudo, será em vão. Pode até trazer-lhe satisfação íntima. Esta, no entanto, será estéril. Não dará nenhum fruto. Estará, invariavelmente, acompanhada pela frustração, diretamente proporcional ao esforço despendido. Vai faltar o efeito prático para esse talento se realizar. Ou seja, o reconhecimento, em geral traduzido pela remuneração financeira.
Há uma expressão popular, muito em voga, que acentua que "a oportunidade é como o único fio de cabelo na cabeça de um careca". Se este não for agarrado com firmeza (ou se não suportar a pressão e vier a se romper), não haverá outro para agarrar. Ou seja, quase sempre na vida as chances, que tanto procuramos para realizar os nossos sonhos e ideais, costumam ser únicas, ou pelo menos bastante restritas. E quase sempre surgem ao sabor do acaso, quando menos esperamos. Do seu aproveitamento (ou não) depende a alegria da vitória ou a frustração do fracasso.
De que me vale, por exemplo, ser um brilhante físico nuclear, com sólidos conhecimentos teóricos, e enorme senso prático, se não houver quem se interesse pelo meu concurso? Ou que serventia terá para mim ser um artista de extrema sensibilidade, criador de obras originais e maravilhosas, se não puder mostrar esses trabalhos ao público? Não se tratam, frise-se, de situações hipotéticas. Inúmeros talentos foram, são e serão desperdiçados ao longo do tempo por simples falta de oportunidade.
Raramente são os melhores, em suas respectivas áreas de conhecimento ou profissões, que ocupam as posições de relevância ou melhores remuneradas. E os critérios de escolha (quando existem), quase nunca são seguidos com rigor. Fatores altamente subjetivos, como aparência, comunicabilidade e simpatia, entre outros, têm grande importância nos processos de seleção.
Por isso, quem almeja o sucesso (e são raros os que não se preocupam com ele), não pode, jamais, deixar escorrer por entre os dedos, como finos grãos de areia, qualquer oportunidade, por mínima que seja, ou mais banal que pareça. Pelo contrário, deve estar predisposto a ela. Precisa, sempre que possível, dar uma providencial "mãozinha" ao acaso. Uma das formas de fazer isso é lutar contra a tendência natural que temos à acomodação. Nosso aperfeiçoamento mental, cultural, espiritual ou técnico deve ser permanente, contínuo, obsessivo até. E mesmo assim, essa busca pela excelência não se constitui em garantia, em salvo conduto à certeza de que chegaremos ao nosso objetivo. Apenas nos predispõe ao aproveitamento de eventuais oportunidades, se estas aparecerem.
Uma carreira artística, acadêmica ou profissional, embora pareça longa (muitas vezes interminável), é extremamente limitada no tempo. E, tal limite, nunca sabemos localizar onde está. Pode ser no segundo seguinte, dada, inclusive, a nossa própria efemeridade, nosso encontro com a morte, ou dentro de cinqüenta anos ou mais, não importa. O fato é que sempre chega uma hora em que somos forçados a parar, a ceder lugar para substitutos, melhores ou piores do que nós, não importa. Ninguém é insubstituível. Como se vê, é muito tênue (diria sutil) a linha que separa o sucesso do fracasso. Há quem faça tudo certo, seja preparado, dedicado, obstinado e competente e ainda assim não logre êxito. Falta-lhe quem lhe dê a oportunidade de mostrar o que é e o que faz. E isso é fundamental.

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