Sunday, May 14, 2006

Desequilíbrio climático


Pedro J. Bondaczuk


A agressão do homem à natureza, neste último quarto de século, foi muito maior do que durante todo o período em que ele está sobre a face do Planeta. Os resultados, dramáticos, estão mais do que à vista, mas as pessoas não os vêem, ou fingem não os ver.
O clima global, de acordo com os cientistas, tende a sofrer profunda mudança, doravante, ameaçando não apenas os um milhão de espécies animais e vegetais, que deverão desaparecer, no máximo, em até uma década, mas o próprio ser humano. No terreno prático, ninguém sabe, com exatidão, quais serão as conseqüências que teremos face ao desequilíbrio ambiental que se acentua. Por exemplo, o que acontecerá conosco se a camada de ozônio que nos protege não for recomposta?
Esta é uma questão para nos preocuparmos agora, pois o rombo nessa capa protetora está se expandindo sem parar. Cientistas afirmam que ele já estaria sobre praticamente toda a região Sudeste do Brasil. Ou seja, sobre as nossas cabeças.
E sabe o leitor o que causa a erosão desse manto benfazejo? O reles produto contido em uma latinha de spray qualquer: clorofluorcarbono! Será que esse produto é tão importante, se não vital, que não possamos passar sem ele? Vale a pena arriscar o bem-estar, a saúde e, quem sabe, a própria vida, por algo tão banal e supérfluo? Tanto não é essencial, que o seu uso apenas se disseminou nas três últimas décadas.
É neste caso que se pode afirmar, com convicção (e em outros mais, do conhecimento geral) que a tecnologia vem prestando um desserviço a todos nós. Não é de se estranhar, por essa razão, a quantidade exagerada de catástrofes climáticas ocorridas neste tormentoso 1987.
Têm ocorrido furacões em zonas não propensas ao fenômeno, como o Sul da Europa; o inverno mais rigoroso que já castigou os europeus em pelo menos um século, responsável por mais de 200 mortes; um verão inusitadamente quente nesse mesmo continente, em especial na Grécia e na Itália, que já deixou duas mil vítimas fatais; secas catastróficas na Etiópia e na Índia, e vai por aí afora.
Seria tudo coincidência, como se procura insinuar? Seria alarmismo alertar para tamanho desequilíbrio climático? Ou essas ocorrências catastróficas seriam meras conseqüências da nefasta ação do homem sobre o meio ambiente, indiferente à própria sorte e à dos descendentes?
É indispensável que se crie uma consciência ecológica mundial. Mas que não seja associada, como ocorre agora, a nenhuma ideologia (em geral de esquerda), pois isto é estupidez. São assuntos que não se deve misturar. Confundi-los é querer criar uma cortina de fumaça, um criminoso disfarce, para o que não deve jamais ser escondido.
Temos que nos dar conta de que, quando uma única árvore, mesmo a que nos dá sombra no portão de nossa casa, é derrubada, estamos um passo mais próximos da desertificação e, provavelmente, da morte. Estamos contribuindo para um mundo cada vez mais cinzento, abafado e hostil, no qual, talvez, apenas as baratas e os escorpiões consigam sobreviver.

(Artigo publicado na página 10, Internacional, do Correio Popular, em 7 de novembro de 1987)

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