Sunday, May 07, 2006

Aposta na versatilidade


Pedro J. Bondaczuk


A tendência à especialização profissional, sem o cultivo das potencialidades que todo o indivíduo possui (e que não se limita a um único campo de atividade), tem sido fonte constante de decepções e de prejuízos, nesta época de instabilidade econômica mundial. Em um mercado de trabalho em retração, com diversas funções deixando de existir, substituídas pelas máquinas, quem não tiver alternativas, não souber fazer bem várias coisas, de naturezas diversas, corre o risco de ficar para sempre desempregado. Ou, quando muito, de ter que se contentar com a alternativa do subemprego, o chamado "bico", a menos que passe por um processo de reciclagem, o que nem sempre é fácil, principalmente quando sob a pressão do desemprego .

A maioria das pessoas tem mais de um talento, muitas vezes até desconhecido, mas na maior parte dos casos, apenas adormecido. Alguns possuem dezenas, quiçá centenas deles. No entanto, nossa tendência é a de nos acomodarmos em determinada função, que estejamos exercendo profissionalmente, sem atentar para alternativas. Embora pareça mero clichê, a prática demonstra que, de fato, "o saber não ocupa lugar". Tudo o que fizermos para o nosso cultivo intelectual, vai resultar, um dia, (não importa quando) em nosso próprio benefício, senão prático, pelo menos psicológico, mediante a segurança advinda da certeza do conhecimento.

O ensaísta Stendhal constatou, em um de seus textos: "Enterrado vivo. Quantas precauções não se tomam contra semelhante perigo! Mas há almas enterradas vivas, corações enterrados vivos, inteligências enterradas vivas e quem se inquieta com isso?". Poucos... pouquíssimos...Anos atrás, era comum, por exemplo, haver médicos ecléticos em clínica geral, com conhecimentos para diagnosticar doenças em qualquer órgão. Hoje, o organismo foi "dividido em pedaços". O especialista em gastroenterologia pouco ou nada entende de urologia, ou de cardiologia, ou de pneumologia, etc. Isso se verifica em quase todas as profissões. A especialização exacerbada limita as alternativas profissionais, estreitando os horizontes mentais. A maioria, portanto, mantém a inteligência "enterrada viva"... E sequer se dá conta disso.

(Artigo divulgado na revista eletrônica "Barão Virtual", na Internet, na terceira semana de setembro de 1998)

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