Friday, May 19, 2006
Cultivo da consciência
Pedro J. Bondaczuk
A consciência, maravilhosa faculdade de que os seres humanos são dotados (fundamento da razão), pode e precisa ser cultivada. A melhor forma de exercer esse cultivo é através da meditação: sobre o concreto ou abstrato, sobre o trivial ou o transcendental, sobre a vida ou a morte.
Uma das leis da natureza é que o exercício continuado de qualquer órgão ou de todo o organismo desenvolve as aptidões (físicas e mentais), enquanto a falta de uso as atrofia. Sigismund Freud revelou que nossa mente tem três substratos, que podem se intercomunicar eventualmente, mas que se constituem, virtualmente, em compartimentos estanques: consciente, inconsciente e subconsciente.
Na verdade, são complementares. E o conjunto constitui a nossa individualidade. Permite que absorvamos e incorporemos à nossa personalidade o que vemos, o que ouvimos, o que lemos ou o que sentimos, mesmo que não venhamos a nos aperceber. Uns fazem bom uso desse acervo e se destacam. Outros deixam que ele mofe, embolore, crie pó.
Muitas dessas informações que captamos permanecem por anos no subconsciente, até que aflorem, subitamente, sem aviso prévio, à consciência. As sensações e emoções, por seu turno, ficam "arquivadas" no inconsciente e cobram o seu preço, quando são ruins, podendo deflagrar doenças (físicas ou mentais) muitas vezes incuráveis em nosso organismo, quando não letais.
É comum dizer-se de pessoas maldosas, que utilizam todo o seu tempo para lesar ou aborrecer outras, ou para agredir os mais fracos, ou para burlar as leis e as normas morais e que não se arrependem (pelo menos externamente) dos seus atos, que elas "não têm consciência". Não é verdade. Possuir, certamente, elas possuem. O que não fazem é atender os seus ditames. Por pior que seja, rufião, assassino, ladrão, ou tenha o defeito que tiver, esse indivíduo desajustado sabe o mal que está praticando, embora tente se justificar diante de si e dos outros. Eles são, na verdade, os personagens preferenciais do nosso trabalho cotidiano no jornalismo. Conhecemo-los bem, ou, pelo menos, deveríamos conhecer.
Quando essas pessoas são punidas, o que acontece com grande freqüência, afirmam que foram injustiçadas. Culpam os pais, as más companhias, a sociedade etc. por sua estupidez. Mas no íntimo, no fundo da sua mente, sabem que são sociopatas, quando não psicopatas. O desajustado está consciente do seu desajuste. O que não tem é vontade, ou competência, ou ambos para se ajustar. É um indivíduo que não cultivou a pequena consciência que tem e esta se atrofiou.
O artista, em especial o poeta, desenvolve com anos de exercício a aptidão de explorar sutilmente o subconsciente à cata de emoções que lhe sirvam de matéria-prima para maravilhosas obras de arte. Sons, imagens, odores, sensações agradáveis ditadas pelos cinco sentidos, são transformados por esses criadores (que valorizam e dão nobreza à vida humana) em melodias, telas, esculturas, palavras que formam metáforas bem ajustadas e harmoniosas. Com o talento de que são dotados, nos transmitem suas emoções, às quais agregamos as nossas, ditadas por nossa própria experiência pessoal.
Todos somos, em princípio, senhores da nossa trajetória pelo mundo. Ocorre que muitos abrem mão dessa prerrogativa, por não saberem fazer uso da consciência de que são dotados. Permitem que ela se atrofie, se esclerose, beire a necrose. São guiados, não guiam. São conduzidos, não conduzem. São influenciados, não influenciam. De tanto fazer concessões, abrem mão da vida, em seu sentido mais elevado: o da dignidade.
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