Exemplos esquecidos

O brasileiro é injusto em relação aos seus verdadeiros heróis – e apesar do desencanto que predomina no País, há muitos nas ciências, nas artes, nos esportes e na cultura popular. Enquanto estão na ativa, são cercados de todas as atenções e honras. Tão logo, porém, cessam as atividades, são prontamente esquecidos e as novas gerações sequer tomam conhecimento da sua existência e exemplo. Um desses casos é o do doutor Euryclides de Jesus Zerbini, que em 26 de maio de 1968, realizou o 17° transplante de coração do mundo e o primeiro da América Latina.
Recordo-me do orgulho que senti, por ser brasileiro, quando li nos jornais que o cirurgião havia trocado o coração, com sucesso, de João “Boiadeiro” Ferreira Cunha. O leitor poderia argumentar que não se tratou de fato inédito, já que dois anos antes o sul-africano Christian Barnard havia surpreendido o mundo realizando aquilo que até então era julgado impossível. Puro engano.
Zerbini inovou, pois fez o primeiro transplante em que o órgão do doador foi transferido diretamente para o peito do receptor. Lembro-me que, na época, morava numa república, no Distrito de Barão Geraldo, em Campinas, e me preparava para cursar Medicina. Os caprichos da vida desviaram-me desse caminho e acabei parando no jornalismo. Mas desde então, e até hoje, a técnica, a disciplina, a perícia, o preparo e a ousadia desse cirurgião fizeram-no meu herói. O doutor Zerbini é e sempre será meu modelo a ser imitado.

(Capítulo do livro “Por uma nova utopia”, Pedro J. Bondaczuk, páginas 93 e 94, 1ª edição – 5 mil exemplares – fevereiro de 1998 – Editora M – São Paulo).